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Novela das 21h: rejeição à Globo ou às abordagens polêmicas?

Com temáticas pesadas, emissora perde público no horário nobre.

Por: Jeferson Cardoso

Alexandre Nero em cena de A Regra do Jogo

Fazer análise de uma novela, com apenas seis capítulos, é complicado. Ainda mais quando não tudo está explicado. A Regra do Jogo é novela, mas tem jeito de seriado. Vou tentar, sem generalizar, pontuar os altos e baixos da novela de João Emanuel Carneiro.

O primeiro capítulo me impressionou pela qualidade de produção, com uma fotografia diferenciada, e também pela narrativa e boa apresentação dos personagens. Parecia estar assistindo a um filme. Em poucos minutos, já estava viajando na história apresentada e curtindo as interpretações de Alexandre Nero, Vanessa Giácomo e Cássia Kiss. A impressão do capítulo de estreia superou à expectativa. Fiquei animado, ansioso para o próximo.

O segundo capítulo foi ainda melhor, com ótimas cenas protagonizadas por Alexandre Nero e Cassia Kiss. Neste capítulo, João Emanuel começou a mostrar que A Regra do Jogo está mais para A Favorita do que para Avenida. Na verdade, se prestar bem atenção, é uma mistura das três últimas novelas dele. A presença marcante, obviamente, é o exagero. Enfim, enquanto Djanira (Cassia Kiss) - com seu sotaque carregado - arrancava os pulsos no hospital; implorava o perdão do filho; e, após uma cirurgia, saia caminhando tranquilamente pelos corredores do hospital;  do outro lado apresentava-se Nelita (Bárbara Paz), a bipolar capaz de ficar nua e declamar frases absurdas perante os filhos. Pode ser uma doença, mas é difícil torcer para uma personagem apresentada assim. Paralelo a isso, Atena (Giovanna Antonelli) tentava fazer graça, ou melhor, aplicar golpe na amiga. As sequências das cenas desta personagem foram surreais e de mau gosto. Uma personagem caricata, de interpretação exagerada, que não teve muita função neste início de novela.

Cássia Kiss e Alexandre Nero em cenas melodramáticas

Fui para o terceiro capítulo convicto que A Regra do Jogo não é uma novela para se levar a sério. É para viajar, voar. Pronto, compreendido isso, comecei a me divertir. A trama central da novela é boa, mas é confusa. As paralelas são legais, mas o autor não é muito bom de comédia.  Adorei a família maluca,  aquela onde a empregada se mete na vida dos patrões porque não recebe o salário (hahahaha!). De engraçado só isso, já que Atena, por ora, com suas caras e bocas, é um desastre.

Na minha concepção, João Emanuel Carneiro precisa explicar melhor a trama central. Entendi que o foco da novela é a ambiguidade, que vamos ter que ficar julgando os personagens o tempo todo, mas tem que ter um limite. Romero, por exemplo, é um personagem complexo, mas só vamos acreditar na história dele se soubermos os dois lados. Não tem como defender um papel mal explicado. Tudo bem que o autor esteja contando a história em pedacinhos e não deixou claro ainda quem é o grande vilão da história [parece ser o Orlando (Eduardo Moscovis)]. O que, na minha opinião, é um erro.

Resumindo: A Regra do Jogo é ágil, dramática, exagerada, e consegue entreter. É uma boa novela e, mesmo com algumas falhas [na minha visão] tem tudo [ainda acredito] para ser a melhor de João Emanuel Carneiro. Fiquei decepcionado com algumas coisas, como a música de abertura - principalmente aquele "o sooooolllllll" das vinhetas de intervalos; do sotaque de Cássia Kiss; do exagero de Giovanna Antonelli; dos diálogos de algumas cenas (bem fraquinho, lembrando Cobras & Lagartos); também não curti as atuações de Marcelo Novaes e Bárbara Paz, que não foram criativos na concepção de seus personagens. Do Marcelo, vejo os mesmos trejeitos de Raí (Quatro por Quatro) e Timóteo (Chocolate com Pimenta); da Bárbara não preciso nem comentar. Sua Nelita, para vingar, terá que se tornar uma mocinha clássica. Das coisas boas, destaco as atuações de Vanessa Giácomo, Alexandre Nero, Cássia Kiss, Marco Pigossi e Marcos Caruso. Confesso que estou surpreso com a direção de Amora Mautner, mas ela vacilou na trilha sonora, coisa que Ricardo Waddington fazia com capricho.

No começo é assim mesmo, sempre reclamamos de algo. Daqui a pouco, acostuma-se com o universo proposto pelo autor e com os personagens e, no fim, aclama-se. Espera-se.

Sobre os números de audiência, é preciso respirar fundo, analisar bem, e aceitar a realidade.  A princípio, a culpa é de Babilônia. Até quando? A Globo, na minha humilde opinião, é a maior responsável pela "rejeição" e crise que vive. A culpa pode não ser da novela em questão. Posso estar enganado, mas percebo que o telespectador não vê mais a Globo como a melhor do gênero. Não sei o motivo, mas há uma resistência. Nos últimos anos, os autores da Globo têm apostado em temáticas pesadas, coisa que a Record vinha fazendo muito bem. Não é novidade, é algo já batido. Percebendo isso, a Globo voltou a apostar em novelas tradicionais, como Império, I Love Paraisópolis, Sete Vidas, Além do Tempo e Alto Astral. A Record também descobriu o interesse do público pelas histórias da bíblia. É um novo tempo, o público [muito chato e exigente] não é acomodado e já não tem mais paciência para bobagens. 

Desta vez João Emanuel Carneiro não teve a sorte de substituir Aguinaldo Silva, um dos autores mais populares do Brasil, e precisará driblar a forte concorrência [Os Dez Mandamentos e Carrossel] e também uma resistência de migração de público para a Globo. É estranho ver uma novela das nove com picos de apenas 32/34 pontos. Se há seis meses, com Império, os índices ultrapassavam facilmente os 40 pontos. A queda drástica da Globo foi em nível nacional. Em Porto Alegre, onde dava 50, hoje marca 28. Em Minas Gerais, onde dava 40, hoje marca 20. Em alguns estados, Os Dez Mandamentos é líder - com ampla vantagem. É uma rejeição assustadora. A culpada, insistem os revoltados, é de Gilberto Braga. Será?

A primeira semana de A Regra do Jogo alcançou 27,5 pontos de média em São Paulo. Se comparada com a média da antecessora, fez uma boa estreia. Mas Babilônia já foi, é passado. É um fracasso, não tem que servir como referência. Esses 27 pontos são ruins porque a Globo queria mais, tanto queria que fugiu da concorrência. A emissora cometeu um "suicídio" não estreando A Regra do Jogo no horário tradicional, às 21h20, batendo de frente Os Dez Mandamentos. O certo seria tirar público da trama bíblica, mas fizeram o contrário. Acostumaram eles a assistirem aos Dez Mandamentos, com a esperança de migração. Doce ilusão.

Para piorar a situação, quem dita a regra do horário de exibição de A Regra do Jogo é a Rede Record. Na semana passada, fugindo das pragas do Egito, a Globo transformou A Regra do Jogo em novela das dez. Que absurdo! Não há santo que faça milagre, nessa faixa horária o share (número de televisores ligados) cai drasticamente.

Gostei da primeira semana de A Regra do Jogo, mas em termo de audiência não acredito numa reação. Deve subir, mas não como muitos esperam. Se conseguir fixar nos 30/32 pontos dirão que JEC salvou o horário.

Aos que esperam pelo fim de Os Dez Mandamentos, lembro que ainda restam dois meses. E mais: quem garante que Escrava Mãe não será um fenômeno? Eu, particularmente, não sou fã de novelas bíblicas, e estou curioso pela nova versão da história dos escravos. A Record, certamente, lançará Escrava Mãe junto com os últimos capítulos de Os Dez Mandamentos. A dobradinha pode complicar ainda mais a vida da Globo [ou não]. É, meus queridos, e não se esqueçam do horário de verão e das festas de fim de ano.

No fim, deve JEC sair vitorioso. Acredito que ele, mesmo com obstáculos,  fechará com uma média superior a de Babilônia. Gosto da frase, que uso desde Amor à Vida: "O fracasso de hoje é o sucesso de amanhã". Manoel Carlos manda lembranças. #Deboche

Esqueçam os números, e vivam a Regra do Jogo. A agilidade desta novela fará falta daqui a alguns meses. Fica a dica.

É boa, mas...

Os Dez Mandamentos, de fato, é um novelão. É bem produzida e tem uma fotografia linda. Alexandre Avancini comprova que é o melhor diretor deste país. Não sou telespectador assíduo, vejo de vez em quando, mas sempre que vejo prende a minha atenção.  A narrativa é excelente, mas o texto, alguns diálogos.... #prefiroNãoComentar

É difícil

Não sei como a Globo fará para manter o É de Casa no ar. É muito fraco, fraquíssimo. O engraçado é que resolveram juntar os apresentadores que não deram certo em outros programas. Deu no que deu.

Dizem que é um programa para atrair anunciantes. Só que para isso é preciso dar audiência. É preciso mudar o formato enquanto há tempo. O telespectador não é bobo. Encontro, com Fátima Bernardes, é um exemplo de mudanças que deu certo, após um começo turbulento, e mesmo assim "pena" para vencer os desenhos do SBT.  

Obrigado, VIVA!

A reprise de Cambalacho é o melhor presente do Viva para os noveleiros de plantão. É um novelão. Quando assisto a um clássico assim, até compreendo a falta de interesse do telespectador com as novelas atuais.

Salvem o Video Show!

Sou fã do Vídeo Show, mas não consigo defender o atual formato. Os quadros, alguns são legais, mas Monica Iozzi e Otaviano Costa, na apresentação, é um pesadelo. Não parece o Zorra Total. O constrangimento é pior. Gente, salvem o programa!

Nada contra Iozzi e Otaviano. São excelentes profissionais fazendo papéis de bobos. O Vídeo Show não é programa de humor. Se antes não tinha identidade...

Estão curtindo A Regra do Jogo? Quais os pós e contras dos primeiros capítulos? João Emanuel Carneiro driblará a concorrência [ou "rejeição" à Globo]?

Obrigado pela atenção e até o nosso próximo encontro. Abs.


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