A volta do realismo fantástico à faixa das 21h.
Por: Jeferson Cardoso
João Emanuel Carneiro prometeu muita coisa em Segundo Sol, mas a novela que terminou na sexta (09/11), certamente, frustrou não só os fãs que admiravam o autor como também a grande maioria do público que acompanhou o folhetim.
Inicialmente, lá no lançamento de Segundo Sol, o autor concedeu algumas entrevistas. Em uma delas, no Gshow, ele prometeu algumas coisas que não saíram do papel, tal como uma “linda história com a redenção do Roberval”. Já a Globo, nas chamadas, vendeu uma novela com um cantor de axé como protagonista. Beto Falcão, defendido muito bem pelo excelente ator Emílio Dantas, em alguns momentos, virou figurante. A história dele, na verdade, só teve função na primeira fase da trama. Na segunda fase, o público não acreditou na narrativa que João Emanuel Carneiro apresentou. Ele queria que, em pleno século 21, os telespectadores acreditassem que os moradores de Salvador venerassem um cantor de axé fracassado, de shows vazios. A família do cantorzinho ficou rica com direitos autorais de músicas, após uma falsa morte... Não convenceu, JEC teve que mudar. E quando precisa mexer, fugir da premissa, da ideia original, o bicho pega. O roteirista já confessou que não sabe fazer ajustes. De fato, vimos isto em A Regra do Jogo e nos convencemos, de forma absurda, com Segundo Sol.
Nas alterações, JEC destruiu alguns personagens, como Rosa (Letícia Colin) e Laureta (Adriana Esteves). Segundo Sol, de apenas 155 capítulos, andou em círculos durante todo o seu percurso. Acredito que o principal motivo disto foi o fato de ter pouquíssimas tramas paralelas, núcleos que o dramaturgo também não sabe desenvolver. JEC é muito bom nas tramas principais, que são ágeis, já os papéis secundários são chatos e, às vezes, irritantes. É assim desde a sua primeira novela (Da Cor do Pecado).
Na reta final, JEC, que já não tinha mais o que apresentar, uma vez que já estava sem criatividade, pensou num papel para Renata Sorrah brilhar com uma ótima atuação. Uma pena que a personagem concedida à ela foi muito ruizinho, fraquinho, sem sentindo na trama. Ficou duas semanas dando vida à uma doida, engraçadinha e bobinha ao mesmo, mas que não serviu para absolutamente nada. Apenas para que o autor pudesse empurrar para a última semana os desfechos de Laureta, Karola e Remy. A personagem de Sorrah foi tão tosco que teve um final ridículo. Foi criado sem planejamento. Por que o autor não fez o reencontro da louca com o pai de Laureta, Nestor (Francisco Cuoco)? Porque não estava no script, foi pensado em cima da hora. Simples. A história de Laureta, após o capítulo 100, foi para o fundo do poço.
Infelizmente, Segundo Sol foi uma frustração. Não sei se foi melhor ou pior do que A Regra do Jogo. As das foram ruins, de certo que sim.
JEC precisa descansar, tirar alguns anos de férias. Ou pedir ao seu padrinho, Silvio de Abreu, para que seja remanejado para as superséries, na faixa das 23h. Desanimado e sem criatividade, pode ter certeza que ele não agradaria nem ao público da faixa das 19h.
Lá no início, JEC também prometeu que Segundo Sol seria uma novela mais humana e solar. No ar, vimos uma trama pesada, violenta, de xingamentos, gritarias. E parecia que recebia orientações de Walcyr Carrasco porque os personagens a cada semana mudavam de personalidade. Rosa um dia era santa, no outro bandida, no outro mulher da vida... Citarei apenas ela como exemplo, do contrário esse post ficaria gigante uma vez que estou falando de uma novela de personagens inconsistentes.
Talvez, chateado com as críticas, JEC resolveu que Rosa terminaria com Valentim (Danilo Mesquita). Ela ficou 155 capítulos sofrendo por Ícaro (Chay Suede). Pode isto? Sim, ele é o autor e faz o que bem quiser. Dane-se a coerência, coisa que Segundo Sol nunca teve.
Segundo Sol foi uma novela de boas atuações, porém de personagens horríveis. Até um determinado momento, por volta do capítulo 30, o texto era bom, depois perdeu a qualidade. Na época, fui um dos primeiros a observar isto e compartilhei do meu pensamento aqui. Para esta novela dou uma nota 6. Só não vai levar um 5 porque até o capítulo 100 admirei Laureta. Amava esta personagem. Uma pena que se perdeu. É triste. Frustrante.
Finalizando, preciso destacar as ótimas atuações e dedicações de Deborah Secco e Armando Babaioff. Seus personagens foram desastres, mas os intérpretes arrasaram em cena.
A volta do realismo fantástico!
Agora, falarei um pouco sobre a expectativa por O Sétimo Guardião. Serei cauteloso, até mesmo porque sei pouco da história. As chamadas não falam das tramas paralelas e não explica, muito bem, a história principal. Sabe-se apenas que um dos guardiões irá morrer e outro terá que substituí-lo. No caso, o Léon, o Gato misterioso, escolheu Gabriel (Bruno Gagliasso). Com base, apenas nisto, não posso criar uma grande expectativa.
Porém, devo acreditar que Aguinaldo Silva venha com uma novela ágil, como Império e com personagens carismáticos, engraçados, divertidos e com uma história otimista, para cima.
Aguinaldo Silva (o MAGO) é o meu autor favorito, mas nem por isso sou obrigado a venerá-lo. O que, pra mim, de fato importa é a história apresentada. Eu sou fã, mas sou telespectador e não funcionário ou filho dele para acatar tudo o que ele faz. A ele, sou grato por tudo que já fez na dramaturgia, com exceção de Suave Veneno e Fina Estampa (do meio para o fim foi horrível).
O meu medo é de que aconteça o mesmo que aconteceu com os fãs de JEC. O da frustração. No entanto, eu confio no talento de Aguinaldo Silva. Ele é um autor que não se acomoda. Império, para mim, foi inacreditável. A narrativa, tipo filme, surpreendeu-me. Obviamente que não foi uma novela redonda, mas ali conheci um outro Aguinaldo, de texto de primeira qualidade, criativo, e com uma novela com uma pegada de série, sem perder sua essência de uma novela. A história do Comendador foi conduzida, do início ao fim, de uma forma brilhante.
Espero que O Sétimo Guardião tenha a mesma agilidade de Império e que Aguinaldo Silva esteja inspirado e disposto a dar a todos, sem exceção, o destaque merecido. O elenco é de primeira. Torço para que também tenha poucos personagens chatos. Em Império não suportava Xana (Ailton Graça).
Pelas chamadas, acredito que o primeiro capítulo de O Sétimo Guardião será bem interessante. Aliás, Aguinaldo Silva escreve muito bem os primeiros capítulos de suas novelas. Ele apresenta bem os personagens e, normalmente, prende a atenção do telespectador de imediato.
Fiquei muito feliz quando soube que Aguinaldo voltaria para o realismo fantástico. Não vejo isto como retorno ao comodismo, pelo contrário. Ele, espertíssimo, viu que o saudosismo ou referências que remetem coisas do passado estão em alta. Hoje, as novelas não tem a mesma dinâmica das exibidas há 10 anos, por exemplo. Uma novela, com realismo fantástico e ritmo de seriado, tem tudo para marcar época. Também pode ser que não dê certo, porém só sabe se arriscar.
Sei que algumas pessoas não curtiram o remake de Saramandaia. Porém, o realismo fantástico de Aguinaldo, pelo menos no meu ponto de vista, não tem nada a ver com os de Dias Gomes.
Em O Sétimo Guardião, por mais que seja ambientada em uma cidade fictícia, Aguinaldo, certamente, irá apostar em todos os elementos presentes em obras realistas e com temas bem atuais. Vai ser interessante acompanhar uma novela que fará referências as outras (como Fera Ferida, Pedra Sobre Pedra e A Indomada). Talvez, acompanharemos um remake com um pouco de cada. Em Pedra Sobre Pedra, uma borboleta virava um homem. Em Sétimo será um Gato.
Estou animado, esperançoso, pronto para dar boas risadas com as rixas entre as beatas e as quengas. E preparado para aplaudir Lília Cabral, uma atriz extraordinária. E adorei a química entre Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa.
No quesito ibope, O Sétimo Guardião, na estreia, talvez, atingirá um índice inferior em relação ao lançamento de sua antecessora. O Sétimo terá que convencer o público que se decepcionou com Segundo Sol. Talvez isto não aconteça de imediato. Porém, se Aguinaldo apresentar, de cara, uma história impactante e interessante pode ser que consiga, no primeiro mês, ficar na casa dos 30 a 32 pontos de médias semanais. Abaixo disto, é “sinal amarelo” ou “sinal de algo não deu certo”.
Se fizer por merecer, torcerei para que O Sétimo Guardião seja um sucesso. No momento, não sei nem quanto “chutar” para a estreia. O importante mesmo é se manter estável para conseguir ter uma boa média final.
Na audiência, pode ser que O Sétimo Guardião, devido ao período em que será exibida, pegando um feriado na semana de estreia, Natal, Ano Novo e o Carnaval, fique com uma média inferior ao de Segundo Sol (33,5 pontos). Tudo pode acontecer. Walcyr Carrasco, com O Outro Lado Paraíso, pegando os mesmos feriados, conseguiu saltar de 28 pontos para incríveis 38,5 (de janeiro em diante).
A minha preocupação, como telespectador, a princípio, é que os primeiros capítulos de O Sétimo Guardião sejam ótimos e de qualidade. Poderá até acabar, em maio ou junho, com média inferior ao de Segundo Sol, desde que tenha um roteiro, texto e qualidade superiores. Espero gostar da novela e vive-la intensamente. Amém!.
É isso. Gostaram do último capítulo de Segundo Sol? Porque João Emanuel Carneiro perdeu a mão e não manteve a qualidade da novela até o fim? Ele merece um terceira chance, na faixa das 19h ou às 23h? E o que esperam de O Sétimo Guardião? A audiência será superior ao de Segundo Sol? Quais as apostas para a média do primeiro capítulo? Gostam de obras com realismo fantástico?
Obrigado pela atenção e até o nosso próximo encontro. ;)