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Didatismo atrapalha narrativa de O Outro Lado do Paraíso

Novela das nove da Globo não agrada a maioria.

Por: Jeferson Cardoso

Clara (Bianca Bin). Foto: Reprodução/TV Globo

Há praticamente um mês no ar, O Outro Lado do Paraíso ainda não agrada a maioria, mas não é ruim. Walcyr Carrasco tem uma proposta boa, porém mal executada/apresentada. Preocupado em ser didático (além da conta), o autor se esqueceu da impaciência do público. A primeira fase é extensa; o texto – além de ser repetitivo – é didático e, às vezes, contém termos desnecessários, para não dizer desrespeitosos, como: “monstrengo” e “negrinha”; as falas das personagens são frias, secas, jogadas ao vento; os acontecimentos são irreais, muitas coisas não convencem; há uma carga muito negativa no ar: de ódio, racismo, preconceito... 

Gloria Pires, ótima em cena, infelizmente não tem sorte. A personagem dela não tem vida. É fraquinha, depressiva. E mais: o sofrimento da Elizabeth/Duda é de pouco convencimento. Ainda não sei se o erro é na apresentação da personagem ou se trata de um papel irrelevante, na história. Como se trata de uma obra aberta, e ainda sem sinopse, é impossível achar alguma coisa. No entanto, os rumos de Elizabeth – aparentemente - parecem nada agradáveis. É tenso.

O drama de Elizabeth (Gloria Pires). Foto: Reprodução/Globo

Com imagem negativa da novela, a direção decidiu fazer ajustes. Desde o início desta semana, cenas de violência estão sendo suprimidas. As mudanças pontuais, por ora, não tem a ver com o resultado do grupo de discussão que apontou a ausência da alegria e a falta de personagens positivos. No momento, o objetivo é dar agilidade e "antecipar a passagem de tempo e a consequente virada da história". As alterações nos perfis das personagens ainda acontecerão. Serão os próximos passos.

Você deve estar se perguntando: se a audiência é razoavelmente boa, na casa dos 30 pontos, por que a Globo está fazendo ajustes? Minha opinião: porque é notável a insatisfação do público. Se não colocar a novela nos eixos - o mais cedo possível - a tendência é que perca público ou fique estagnada numa faixa que hoje é considerada boa, porém se chegar ao fim com isso [30 pontos] passará a ser uma decepção ou fiasco, depende do ponto de vista de cada um. Se você se der por conta que a novela das sete [Pega Pega] tem quase 30 pontos de média geral... Bom, deixa o Ibope para lá, voltemos para a narrativa [história]...

Vejo que muitas pessoas estão criando uma expectativa muito grande na vingança de Clara (Bianca Bin). Acham que isso será de imediato. E mais: pensam que ela se tornará uma vilã. Doce ilusão. A frustração com a primeira fase é grande, entendo. Mas daí acreditar que a novela ficará frenética (do nada), e que a mocinha vai virar bandida. Oi? Gente, O Outro Lado do Paraíso é uma novela, onde mocinha é mocinha. E são, no mínimo, 170 capítulos. 

Conheço bem o estilo de Walcyr. Ele usará o filho da Clara como desculpa para que a mocinha não faça “maldade” com seus inimigos. Já imagino até os diálogos. Será algo do tipo: “não vou fazer isso porque vai prejudicar o meu filho amado, que tanto amo”. Hahahahahaha!. Clara, provavelmente, após herdar uma herança – e ficar milionária (já vi isso numa outra novela de mesmo autor), deve ficar rondado a mansão onde mora o seu filho.... O problema é: o público terá paciência para aguardar a cena em que a mocinha maltratará a vilã - como se fosse uma empregada – em novela isso é humilhação (já reparou)?. Minha resposta é: sim, desde que os desdobramentos sejam interessantes, envolventes. 

Não consigo gostar de vilãs como a Sophia (Marieta Severo). É o mesmo problema que tive com Magnólia (Vera Holtz), em A Lei do Amor. São caricatas, insossas [que não tem muita graça], e de intérpretes que sempre dão o mesmo tom as suas personagens. Pra mim, são papéis ultrapassados. Nem os vilões da década de 80 eram tão previsíveis e tampouco cometiam atitudes tolas.

Por outro lado, apesar da carga dramática, estou gostando da Lívia. No meu ponto de vista, o único acerto desta primeira fase. Grazi Massafera, talentosíssima, passa emoção em cena. A obsessão dela pelo filho da Clara é o alicerce de toda a sinopse. Já fico imaginando a cena da Lívia ajudando a desmascarar a sua mãe. 

Grazi Massafera. Foto: TV Globo

No segundo ciclo de ajustes, acredito que muitas personagens irão sumir ou perder função. Não boto fé em Renato como vilão (se é que vai virar mesmo). Samuel (Eriberto Leão), o homossexual enrustido, um retrocesso da abordagem de A Força do Querer, é uma vergonha. O que é aquele chocalho? Algumas abordagens, como pedofilia, também poderá ficará de lado. Para mostrar de forma fria e seca, apenas didática, é melhor esquecer.  

Que O Outro Lado do Paraíso não teria uma vida fácil, era previsível. Afinal, é complicado substituir um fenômeno atípico. O que ninguém esperava é que Walcyr fosse pesar na mão. Incomoda-me um pouco o sentimento de verdade, mas a falta de humor: nunca! Comédia, na dose certa, é bom. Só que tenho pavor do humor pastelão na faixa das 21h. Amor à Vida foi um pesadelo horrível. 

Logicamente, Walcyr Carrasco deve apostar no humor. É a zona de conforto dele. É uma alternativa segura, apesar de eu achar que a parte de humor dele não ser a ideal para o horário. O público final, no entanto, gosta. 

Ouço vozes.... #Deboche... Vejo um problema. Se tomar o caminho do humor, em quem apostar? Desta vez, no núcleo principal, não há um ator para esta finalidade. Algo me diz que vai sobrar para o Samuel. Só que Eriberto Leão.... bom deixa para lá. Rsrsrsrsrs. 

Resumindo: apesar da minha insatisfação com a vilã e com o texto didático, gosto da proposta de Outro Lado do Paraíso. Não sei se amanhã mudarei de opinião, mas, hoje, considero-a uma novela razoável. Que fique boa. Amém.

O que gosto: atuações de Lima Duarte, Grazi Massafera, Bianca Bin e Fernanda Montenegro

O que não gosto: da música de abertura; atuações de Marieta Severo, Sérgio Guizé, Rafael Cardoso e da Juliana Caldas (fraquinha, fraquinha).

Estreia

Na próxima terça, 21/11, certamente, a maioria dos noveleiros irá espiar a estreia de Apocalipse, aposta da Record TV. As chamadas estão interessantes, mas mostram pouca coisa da trama em si. Tenho a leve impressão de que a “imagem de seriado” (acinzentada) causará estranheza; e que a história terá uma aceitação melhor entre os jovens. Infelizmente, será uma novela bem pesada, diabólica. Estou fora [estou sendo sincero], mas darei uma chance para o episódio de apresentação.

Para o primeiro capítulo, serei cauteloso. A minha aposta é de 12 ou 13 pontos de média. Agora, se começar com 10 pontos, é sinal de rejeição imediata. 

É isso. Estão gostando de O Outro Lado do Paraíso? Será que os ajustes irão beneficiar ou desconfigurar a proposta inicial? E para a estreia de Apocalipse, qual a aposta de audiência? 

Abraços e até o nosso próximo encontro. ;)


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