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De paraíso a novela da Globo não tem nada!

Folhetim não reproduz fielmente a época em que se passa.

Por: Jeferson Cardoso

Gael (Sérgio Guize) e Clara (Bianca Bin). Foto: Globo

É um pouco complicado, para mim, falar sobre O Outro Lado do Paraíso. Tenho medo de ser indelicado e injusto com os profissionais. Porém, tenho que ser sincero. A partir do momento que eu não puder expressar o que, de fato, eu penso, o Blog Curtas & Quentes deixará de existir. O que não será o caso, pois serei sincero. 

Essa novela, criada de repente, aprovada sem sinopse, é boa. Está distante de ser surpreendente, mas é legal. Tem uns defeitinhos, mas, se souber voar, é tolerável. Apesar de ser muito superficial e nada convencer – até o momento –, Walcyr Carrasco apresenta, a passos lentos, uma história que, de começo, parece ser boba (muito simples), mas que se desenha para um novelo mexicano, mas bem mexicano. 

Infelizmente, os primeiros capítulos deixaram a desejar. Não sei em que Planeta o autor estava quando escreveu o início de O Outro Lado do Paraíso. Talvez, estava mirando o horário de Malhação e, sem querer, acabou acertando – ou melhor dizendo – usurpando o lugar de outra. Tudo bem que não podemos esperar muito de uma novela aprovada sem sinopse. Só que esta, na minha concepção, deixa a desejar, com falta de ganchos; diálogos superficiais; cenas de pouco poder de convencimento (mas de boas atuações); e o pior: erros precários de produção/cenografia e contextualização. 

Você se pergunta: “ele aponta vários defeitos, e acha a novela boa?”. Respondo: “Sim!!!”. E explico. Lamento, profundamente (sendo exagerado), a forma como a novela está sendo apresentada (conduzida). Penso que dez capítulos seriam o suficiente para a primeira fase. Entretanto, eu entendi a proposta do autor. Ele quis fazer duas novelas em uma. A primeira novela (parte 1) está detalhando, passo a passo, as histórias de duas personagens, de perfis interessantes: Clara e Elizabeth. Para nós, que acompanhamos uma novela elétrica como A Força do Querer, é broxante dar de cara com uma narrativa mais lenta, que mais parece folhetim dos anos 80. Só que isso, na minha humilde opinião, não é ponto negativo. E nem vejo como um retrocesso. Pelo contrário, a ideia é interessante. Poderia ser mais envolvente, obviamente, se fosse de menor duração. Walcyr Carrasco está sendo cauteloso. Ele vem com temas polêmicos. As personagens, primeiramente, precisam de torcidas para não serem rejeitadas. Gloria Perez fez isso com Bibi, que só foi despontar no segundo mês de A Força do Querer. Posso estar equivocado, mas acredito que Clara e Elizabeth serão a salvação da segunda fase (segunda novela) de O Outro Lado do Paraíso. As vinganças dessas personagens devem surpreender. No final, todos compreenderão porque o autor optou por ser detalhista na primeira fase. Elas serão tão queridas, que o público vai ter pouca paciência com os núcleos paralelos.

A paixão repentina dos protagonistas. Foto: Reprodução/Globo

Gosto de Walcyr Carrasco. As melhores novelas das seis (pra mim, obviamente) foram escritas por ele. Os textos dele são até “amigáveis” para o horário das 18h, mas para às 21h... Para não perder o respeito, são: superficiais, não passam a verdade. A baixa qualidade dos diálogos está sendo o problema desta novela. Os atores até se esforçam. Bianca Bin, atriz genial, às vezes, está sendo prejudicada com falas bem didáticas. 

Alguns atores (ainda) não encontram o tom certo ideal para suas personagens. Guizé, algumas vezes, parece está homenageando o Tonho da Lua; Rafael Cardoso e Marieta Severo os mesmos trejeitos e vozes de sempre. O primeiro parece está sem vontade. Já a segunda, acho que esperava dar vida à uma personagem mais firme. Deve ficar marcada apenas pela cena de reconciliação entre mãe e filha. É melhor eu ficar calado. 

Como é uma novela sem sinopse, vai ser difícil apontar quais os ajustes serão feitos. Acredito que várias personagens terão seus perfis modificados, como Lívia (Grazi Massafera), Renato (Rafael Cardoso), Gael (Sérgio Guizé) e Sophia (Marieta Severo). Sabe as quatro estações num só dia? É assim que vocês observarão esses quatros papéis ao longo da novela. Cada mês, uma personalidade diferente. É característica de Walcyr Carrasco quando não consegue passar para o público a mensagem ou quando o ator/atriz não corresponde. Também acho que algumas abordagens serão condensadas/contidas porque outras irão sobressair/despontar. 

Mesmo constrangido com os diálogos de alguns personagens, o que mais tem me tirado do sério são as falsas campanhas. Em alguns momentos, sinto que há incentivo à violência contra mulher; e também às brincadeiras tipo bullying. Estela (Juliana Caldas), aceita gozação de qualquer um, menos de sua mãe. Fala sério!! Gael espanca a mulher e praticamente ganha um troféu. Numa cena, Nádia (Eliane Giardini) soltou: “marido só bate quando a gente merece”. Misericórdia!!! Numa outra, a mãe incentivando o filho, diz: "sou contra bater em mulher, mas estamos falando de muito dinheiro. Faça o que for preciso.". Jesus!!! Que campanha é essa? Está repreendido!. 

Diálogos didáticos dominam as cenas. Foto: Divulgação/Globo

Por fim, a produção/cenografia não conseguiu ser fiel à época em que a novela passa. Como haverá uma passagem de tempo, de no mínimo dez anos, conclui-se que a primeira fase está ocorrendo no início da década de 2000. Nessa época, que eu saiba, não haviam celulares e notebooks modernos. No Jalapão, se hoje é raríssimo o sinal de celular, imagina você, anos atrás. Daí a Clara aparece em cena dizendo que gostaria de ter um aparelho para ligar para o avô. Só rindo! As imagens da capital do Tocantins, Palmas, são dos dias atuais. Que mico!!!!

O nome que a Globo escolheu para a novela de Walcyr Carrasco, por ora, é a única coisa que mais se aproxima da realidade. Com mãe que destrata filha; marido que bate em mulher; sogra que interna nora em sanatório; esposa - que se sente infeliz - no direito de ter um amante, é, de fato, o inferno. 

É isso. Estão voando, digo, gostando da novela? Quais os pós e contras? Do que Walcyr Carrasco será capaz para não perder público para Apocalipse (se é que isso pode ser uma ameaça, mas existe a possibilidade)? Falando em ibope: com 31 pontos, O Outro Lado do Paraíso vai bem. O “problema” é se empacar nisso. Daqui a pouco, o bom vira razoável. E o razoável pode ficar... À espera dos próximos capítulos.

Obrigado pela atenção, e até o nosso próximo encontro. ;)


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