Quem mexeu na minha novela?

O que é mais importante? Dinheiro ou criatividade?

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Quando me sentei na frente do computador para escrever a crítica dessa semana não tinha nada definido em minha mente. Queria falar de algo que o público que vê TV pudesse comentar, criticar, discordar e no final das contas, me chamou a atenção os comentários do Diego (obrigado pela pauta) em minha última postagem.

Como telespectador, e com apenas 19 anos, ele citou as novelas dos anos 80, 90 e algumas dos anos 2000, com saudade, nostalgia, de ver e acompanhar uma novela como antes, aquela sensação de fim de copa do mundo em determinado momento da trama. E não é que ele tem razão?

Seu fosse enumerar aqui as novelas que o público saudosista quer ver com certeza não faltariam as seguintes obras: O Astro, Tieta, O Salvador da Pátria, O Clone, Por Amor, Amor com Amor se paga, A Viagem, Mulheres de Areia, Rainha da Sucata, Vale Tudo, Direito de Amar (que é a obra dessa semana da coluna Baú da TV), Fera Radical, entre outras que se eu fosse citar aqui não caberiam no post. E daí me peguei pensando: Porque não se fazem mais novelas como antigamente?

Será que nossos autores estão passando por uma fase de bloqueio e não estão conseguindo criar nada de original? Acredito que não, o que falta é espaço para ousadia. Isso mesmo, ousadia, você não leu errado. Se ainda há dúvidas em sua cabeça, vamos as questões:

Nas últimas três novelas das 6, quais eram as mocinhas? Havia diferenças entre elas?

RESPOSTA: Não, Amélia (Joia Rara), Esther (Grazi Massafera) e Laura (Lado a Lado) eram mulheres frágeis esperando o ataque de seus inimigos e aos choros, sempre, que é para tentar garantir a audiência.

Questão 2: O que Tieta, Porcina (Roque Santeiro) e Helena (Por Amor) tem em comum?

RESPOSTA: Elas são humanas. A primeira seduziu o sobrinho e voltou para se vingar da cidade que a julgou no passado. A segunda fingiu ser viúva para se dar bem e fazia os homens de gato e sapato, na tentativa de manter o poder. Já a terceira, brilhantemente interpretada por Regina Duarte, teve a capacidade de trocar o filho vivo pelo filho morto de Eduarda, a própria filha, além de enganar os demais personagens, tudo sem remorso acreditando estar certa.

Se pararem para analisar com atenção, as heroínas de hoje em dia não erram, vivem em um estado absurdo de burrice e vegetação, que as mulheres não se identificam nelas. Você mulher que está lendo, responda com sinceridade, você é mais Maria do Carmo (Susana Vieira) de Senhora do Destino ou Paloma (Paolla Oliveira) de Amor à Vida? Acredito que fiquem com a primeira.

Além de personagens transgressores, onde estão as histórias interessantes? Cadê? Tieta, de Aguinaldo Silva, revolucionou ao mostrar uma tia que se envolve com o sobrinho seminarista. Asa Branca de Roque Santeiro foi um micro cosmos do Brasil em mudança, cansado dos desmandos de quem tem mais dinheiro. Enfim, as novelas de antigamente, como diria minha mãe, ousavam para driblar a censura e levar ao público a história que queriam. Agora, no que se diz ser democracia, as novelas estão mais feijão com arroz do que nunca, claro que sem sal. Parece que é mais seguro apostar em uma história pronta que pode ser modificada aqui ou ali. Deve ser por isso que há tantas tramas iguais, filho ambicioso que despreza a mãe pobre, apesar de ser uma história universal, para mim já chegou ao limite.

O comodismo na hora de escrever ou produzir parece que tomou conta. Hey, vamos apostar no que deu certo, essa parece ser a nova ordem nas novelas. Algum duvida? Em Família, atual novela das 9 - com certeza - revisitaremos algumas histórias do próprio autor. Não se impressionem se aparecer um bêbado como a Santana (Vera Holtz) de Mulheres Apaixonadas, um filho que rejeita o pai/mãe como Paulinha (Roberta Gualda) da mesma novela. Filha que dá em cima do namorado da mãe então nem se fala, basta aguardar.

O que dá certo, sempre, nada mais é do que um padrão já estipulado, seja de audiência que mantém os anunciantes, seja da mesma história que vemos na TV. O público quer emoções novas, inovação de tramas, mas enquanto isso não acontecem, só podemos lembrar das ótimas novelas do passado e relembrar. Nisso, quem ganha é o Viva, sempre trazendo os sucessos do passado, mas enquanto estamos aguardando... Então criadores estamos prontos para sermos surpreendidos e comentar como nunca. Se for algo novo pode ter certeza, nossa audiência será sua.

Comentários (14) Postar Comentário

Maikel Abernathy
Maikel Abernathy comentou:

Olá, meu nome é Michael. Acompanho o portal a alguns meses já, mas essa postagem me fez querer comentar sr\'

Você falou em inovar, correto, neste ponto eu concordo com você. Mas 'Além do Horizonte' fez isso e o que rolou? Um fracasso. Aqui no blog mesmo, há inúmeras pessoas que criticam a novela e a chamam de ruim. E eu nem acho ela ruim. Conversando com um amigo meu, que estuda teatro, ele me falou que a novela não ta dando resultado justamente porque tentou inovar, deixou de ser a mesma coisa, já que as pessoas muitas vezes querem o modelo pronto, de mocinhas bobas e românticas e de mocinhos que não tomam atitude alguma.

Acho que o maior problema não é tentar inovar, é saber se a inovação será bem aceita. Além do Horizonte é uma grata surpresa (ao menos pra mim), aonde trás um roteiro diferente do atual, mas que agora está sendo estragado porque a globo está fazendo reajustes na trama (dando foco ao romance) para dar o antigo modelo de costume das pessoas.

Yuri Ferrer
Yuri Ferrer respondeu:

Michael, o problema é o seguinte: Além do Horizonte não tem a cara de novela das sete que é voltada para o público jovem, apostando em comédia. Além do Horizonte é pra ser série ao maior estilo Lost. A internet ajudaria e muito na divulgação de Além do Horizonte, mas Globo simplesmente ignorou. Quem manda hoje em dia é a internet e se Globo não começar por lá, irá perder.

Layon
Layon comentou:

A censura implacável do politicamente correto pode influir muito na escolha dos autores e acredito que certas estripulias dos autores afugentaram seu público-alvo e fiel: as donas-de-casa.

Davi
Davi comentou:

Além do Horizonte é uma ótima novela,conseguiram inovar e trazer de volta os ganchos ao final de cada capítulo, não é novela com humor pastelão típica do horário das 19 hs...
Porém as pessoas dizem, eu assisto e não entendo,óbvio essa novela tem que pensar um pouquinho, mas o brasileiro quer algo pronto e sem sal...

Pau
Pau comentou:

Concordo totalmente com vc, exceto por uma coisa, eu não sei se as pessoas querem inovação e transgressão, talvez nas histórias, mas definitivamente não em mocinhas. E eu não sei porque se em outras décadas.
Agora vc colocar de exemplo Paloma, última mocinha das 9, vc acredita que o público teria aceitado se ela teria reagido como qualquer ser humano no lugar e enviado de Bruno e Ninho para a cadeia, um por ficar com sua filha e outro para seqüestrá-la?, se ele tivesse tentado se vingar de Félix, e fazê-lo pagar com dor, ou pelo menos fazer justiça a pagar por seus crimes?. Se em vez de ter a certeza de seu amor por Bruno, ter duvidado ou qualquer outra coisa longe modelo mocinha, as pessoas que criticaram tanto por chata, não teriam aceitado.
Mas a verdade, eu gostaria de uma mocinha assim, ou como o personagem de Caua em amores roubados, versão feminina, o mau e mocinha ao mesmo tempo.
E para responder a sua pergunta, honestamente, sou mais Paloma mas
sem cegueira e perdão.

Vlad
Vlad comentou:

Os tempos passam e as pessoas mudam !!!! Nada mais que isso. Veja Manoel Carlos, ... continua fazendo a mesma novela.. Aguinaldo Silva, idem Gilberto Braga , idem.. ( por incrivel que parece ivani Riveiro e Janete Clair eram as autoras que faziam novelas diferentes) . S e os autores continuam fazendo o mesmo tipo de novela, entao sao as pessoas que assistem que mudaram!!!!

Jhon Hugo
Jhon Hugo respondeu:

Vlad amigo vc disse tudo.Eu sempre cito o caso de Janete Clair e Ivani Ribeiro.O que tem haver O Astro com Irmãos Coragens?E O Semideus com Selva de Pedra?Sétimo Sentido com Eu Prometo.O que tem haver A Gata Comeu com Mulheres de Areia?Achei infeliz o Manoel Carlos dizer: \"Não sei escrever outros estilos de novelas!\".Me desculpem,mas quem só sabe escrever um estilo não é um autor.

Luiz Junior
Luiz Junior comentou:

Manoel Carlos se mantém na sua linha de historia, em por amor ele já falava de alcoolismo,dr dramas de mães e filhas, enfim de relações familiares que vemos sempre, o que se renova são as tramas que cercam essas famílias, mas o que talvez a diferencie em família seja a escolha certa de alguns atores e o não gigantismo do elenco e a aparente grande historia, q em algumas tramas me lembra Baila Comigo, o namorado que volta depois de anos,a possível paternidade desse namorado, afinal não se afirmou q Luiza é filha de Laerte, o marido passivo,que era o Dr Plinio, os grandes encontros, como o de Helena passando enfrente ao carro de Laerte.Acho que o que falta não é a criatividade e sim as cenas mais longas,os diálogos mais humanos,a historia levada as ultimas consequências,e não a necessidade de se ter 100 atores no elenco se contar tanta historia que se confunde e faz com que algumas sejam abandonadas no meio do caminho e esquecidas no final,Avenida Brasil tinha poucos personagens,e esta aí sendo vista por inúmeros países, e fazendo sucesso, o mesmo digo de a favorita,quanto a repetição, cada autor tem seu estilo,Manoel Carlos,Aguinaldo Silva,Gloria Perez,JEC,quem não tem saudades de Waicyr as seis da tarde,Carlos Lombardi as sete; na minha humilde opinião,Em família sera melhor que viver a vida, o que falta é um pouco de humor, e quanto ás proximas há que se pensar nisso,ter uma grande história e poucas gente pra contar, como Janete Clair,Ivany Ribeiro,assuntos sempre vão se repetir, mas o mais importante é o contesto,como o parkinson em Senhora do destino, tratado com extrema delicadeza por Aguinaldo Silva, mas dentro do contexto da trama, não uma história isolada.Sempre teremos alcoólatras,pais e filhos em conflito,roubos, falsos amigos,e vai por aí a fora;porém tudo tem que estar no contexto da historia.

Clayton Avelino
Clayton Avelino respondeu:

"Acho que o que falta não é a criatividade e sim as cenas mais longas,os diálogos mais humanos,a historia levada as ultimas consequências,e não a necessidade de se ter 100 atores no elenco se contar tanta historia que se confunde e faz com que algumas sejam abandonadas no meio do caminho e esquecidas no final.\" Concordo plenamente com você, estou gostando muito de \"Em Família\", - apesar de ser a última novela de Maneco e ter tramas recicladas - sinto falta de um desenrolar mais denso que Manoel Carlos faz, e não tenho visto isso.

Pedro dos Santos
Pedro dos Santos comentou:

Para eles é mais fácil colocar inúmeros assassinatos, vilãs caricatas e cenas impactantes, do que contar uma boa história, em busca da audiência, eles se esquecem até da coerência e da qualidade da história.
Falta ousadia, mexer com os padrões da sociedade, com aquela historinha tradicional da mocinha que leva o tapa na cara e fica quieta. Me diz, que mulher é assim hoje em dia? NENHUMA.
Também falta inovação. Os autores do horário das 9, por exemplo, pelo menos nos anos 2000, repetiram as suas tramas, só trocaram os nomes e alguns núcleos. Alguns reciclaram coisas dos anos 90, por exemplo, Agnaldo vem aí com uma Pedra Sobre Pedra e Fera Ferida requentadas. Ou o JEC, que repetiu a mesma cena da vilã sendo jogada no lixo em suas duas primeiras novelas e reutilizou esse cenário em Avenida Brasil - sem contar que a espinha dorsal de A Favorita, é a mesma de Avenida Brasil, Nina, Flora, Carminha e Donatela apenas trocaram de lugar.

Abreu Júnior
Abreu Júnior comentou:

Concordo em partes. É certo que vivemos um período de depressão na criatividade sim, mas acredito também que toda inovação deve conservar o estilo clássico. Para mim, telenovela é um estilo próprio, onde tem como espinha dorsal o romance, e uma grande história, embora apareçam uma se sobressaindo á outra ou não.

Ás 21h, temos autores com mais de 40 anos de carreira e quase 30 novelas no currículo, alguns, com mais de 80 de idade. É nítido que seu estilo de escrever vire rotina durante tanto tempo, é triste dizer isso, mas o velho sempre tem que dar espaço ao novo, estes participaram do auge da telenovela brasileira, e abrem espaço pra novas maneiras de pensar, como vemos a mudança que está havendo no horário. Acredito que principalmente ás 21h, o público adora a veia dorsal clássica: A família, a vilã, os amores e a história central que arrepia e movimenta a trama.

Ás 19h, o fato do fracasso de Além do Horizonte não se reflete ao tema, e sim no horário em que o tema está sendo exibido. Quem procura novela das 19h, procura novela parar rir, uma novela leve, romântica e divertida. E o fato é que a novela não transita para nenhum dos três horários, talvez, como uma série ás 23h.

Ás 18h o problema é mais sério. Vivemos uma fase de completo ostracismo. Temos por lá os piores autores, e os bons ainda não descobriram que um dos segredos do sucesso é a simplicidade. E tem como você inovar e fazer uma história de arrepiar a espinha com simplicidade. Ducca e Thelma são excelente, mas entraram nesse barco de fazer tudo de forma grandiosa, inédita, se tivessem simplificado um pouco mais a história, teriam feito sucesso. De que adianta um bom elenco numa novela das 6 que além de ser curta, não tem sequer espaço pra aparecer? Espero que com a volta do Senhor das seis, o horário volte a ter a identidade que perdeu durante este tempo.

Abraço.

Luiz
Luiz comentou:

Concordo com o maikel , além do horizonte nao é ruim nao! O povo é que quer novelas que nao precisem usar o cérebro!

Juliano
Juliano comentou:

Nós vivemos em outros tempos. A internet revolucionou o mundo. Vivemos num mundo de aqui e agora. Tudo precisa ser praticamente pra ontem. A questão não eh se a novela é clichê ou não. Tem que ser bem contada, bem amarrada e sem muita enrolação. Atualmente queremos agilidade em tudo, isso inclui tb o que assistimos na tv.

Na novela anterior Amor A Vida.. o autor até tentou agilizar, mas ao mesmo tempo que agilizava a trama, tendo ótimos ganchos, cenas bombásticas ele pecava na qualidade do texto e na direção. Até a interpretação de atores veteranos estavam comprometidas visto a qualidade inferior do texto.

Avenida Brasil (na minha opinião a última novela que realmente gostei, as outras posteriores não gostei e quase nenhuma me agrada se não for do João Emanuel Carneiro) teve êxito, devido ao ótimo texto unido com ótima direção (fato que contribui e muito para encobrir uma atuação ruim de algum ator), atuações ótimas, história ótima, com fundamentação para as vinganças e etc. O JEC é um modelo de autor atual a ser seguido, me desculpe mas autores antigos que fizeram muito sucesso no passado NÃO VÃO repetir o sucesso nos dias de hj se não mudarem o seu estilo de escrever. Eles tem q se atualizar. Estão ai os últimos exemplos de novela das 9 (Gloria Peres, Manoel Carlos e Walcyr Carrasco) , novelas que infelizmente não deram certo. Foram muito criticadas e com razão.

Bom esta é minha ligeira opinião sobre o assunto abordado.
Juliano - 30 anos - ator