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Familiaridade: O ingrediente que falta às novelas atuais

Tramas apresentam personagens e situações longe da realidade dos brasileiros.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Venho acompanhando, há algum tempo, o sucesso que A Gata Comeu, Pai Herói e Torre de Babel tem feito no canal Viva. Não cabe aqui comparar emissoras, nem as épocas que foram produzidas, mas sim o que faz desses produtos um grande atrativo para os noveleiros, que as preferem e assistem diariamente em contrapartida as atuais.

Tirando o saudosismo de lado, há um grande abismo entre as tramas antigas e as atuais. Enquanto as atuais prezam pelo elenco (nem sempre eficiente), pelos cenários requintados, pela tecnologia de ponta para efeitos visuais, filtros e mais filtros em suas produções (sem falar em uma direção de apenas três planos), as novelas antigas prezam exclusivamente pelo bom texto e talento de atores. Se você prestar bem atenção, são esses dois fatores que faziam o grande sucesso dessas novelas.

A evolução das tramas seja artística ou tecnicamente sempre se fez necessária e sempre será, mas então me veio a questão? Por que as novelas atuais não nos cativam como antigamente? Resposta simples: falta familiaridade.

Que a internet, TV paga e outros meios influenciaram nosso modo de ver, isso ninguém discute mais, porque isso se chamava variedade/opções. A questão é: Por que vou assistir uma novela que não tem nada a ver comigo? Que não me apresenta nada novo. Mais do mesmo, que já sei onde vai dar e que não tem nenhum personagem parecido comigo.

Hoje os personagens são um amontoado de pessoas num lugar, mas sem nenhum laço emocional. Quer um exemplo? A família Leitão de A Lei do Amor é um deles. Pedro (Reynaldo Gianechini), seus irmãos, sobrinhos e outros que ali residem parecem apenas conhecidos que habitam o mesmo espaço. Se fosse uma república seria mais coerente.

Falta laços maiores, uma sensibilidade que permite só no olhar do personagem saber toda alegria ou tristeza que ele está passando. Falta simpatia entre os personagens, falta carisma. Parece que representa a vida com exatidão, onde todos estão ocupados com a própria vida medíocre, sem tempo para ir além.

Não é uma crítica a nossa realidade, mas a falta de vínculos entre os personagens. No afã de contar várias histórias e debater vários assuntos de nossa sociedade atual, são só histórias soltas que não nos cativam pelos personagens fracos.

Seria a solução contar histórias simples, repletas de sentimentos que nem sempre valorizamos? Não sei, ninguém tem a receita para um folhetim de sucesso estrondoso, mas acredito que colocar um pouco mais de emoção em cenas e colocar os personagens para falar e se comportar como pessoas como a gente possa ser uma forma de conquistar o telespectador a longo prazo.

No momento há somente duas opções de novelas no ar: as que são de época ou fantasia e que assumem claramente isso apelando para uma realidade diferente da nossa ou aquelas que querem ser realistas, mas não apresentam algo que chegue próximo disso. Claro que há exceções, como a bem estruturada Rock Story, mas nas demais falta o principal: alguém para quem realmente torcer e amar, talvez alguém humano como a gente.


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