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A Regra do Jogo escancara a fragilidade do telespectador

Tramas diferentes apontam a complexidade por trás dos telespectadores e o reflexo causado na audiência.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Extra, Extra, foi noticiado com alarde, durante toda essa semana, a vitória de Os Dez Mandamentos em números de ibope em relação A Regra do Jogo, trama que foi amplamente vendida como “do mesmo autor de Avenida Brasil” no intuito de reconquistar boa parte do público perdido com o equívoco que foi Babilônia.

Indiferente de quem ganhou em decimais, ou repercussão no Twitter, o atual momento de novelas em todas as emissoras mostra a complexidade do telespectador e a façanha gigantesca que os autores fazem para manter seu público fiel todos os dias. Se a trama escrita por João Emanuel Carneiro passa por momentos difíceis em relação ao ibope, o mesmo não pode ser dito de seu texto, cada vez mais caprichado e com atuações dignas do grandioso e talentoso elenco que a trama tem. Enquanto a trama das nove apresenta um texto inteligente, mas que peca por não mostrar qual é o assunto principal (afinal, qual a história de Romero, Atena e Tóia? Onde elas se encontram? Qual é o foco?) o texto de Os Dez Mandamentos bebe nas referências dos clichês já batidos de nossa TV, apelando para dramas e pragas para fisgar o público, que já conhece aquela história desde os tempo de criança, onde frequentavam catequese e não quer ser surpreendido.

A prova de que o público não busca nada original está também nas tramas da Globo, se o público até gostou dos conflitos modernos expostos por Lícia Manzo em Sete Vidas, ele tem gostado mais ainda dos apresentados em Além do Tempo, atual novela das 6, que tem conquistado audiência com uma trama repleta de elementos já conhecidos do velho público e com personagens que são a personificação do bem e do mal. Dubiedade jamais. E só constatando: até a trilha sonora da trama escrita por Elizabeth Jihn é repleta de músicas que já foram parte de trilhas de outras novelas anteriores.

Se o clichê talvez possa não ser o motivo para a audiência abaixo do esperado de A Regra do Jogo, talvez um dos temas seja. A trama das 9 já é a terceira esse ano a ter uma favela como local central. A ousadia com que está sendo contada talvez seja o diferencial da trama, mas Verdades Secretas também tem uma ousadia enorme que permite que os personagens se aproximem da realidade do telespectador ao colocar um texto cru, sincero, mas bonito na voz dos atores. Afinal talvez seja esse o grande erro de A Regra do Jogo, falta ser crível.

Mas o que A Regra do Jogo mais evidencia é que não há uma tendência para garantir audiência. Se em Avenida Brasil, o autor queria construir um microcosmo do Brasil ao localizar a trama no fictício bairro do Divino e com isso coincidiu com a solidificação de uma nova classe C, A Regra do Jogo peca por não saber em quem apostar. Uma trama adulta e inteligente demais pode não ser o ideal para esse momento em que o telespectador mediano atravessa e com isso a audiência não responda. O que o telespectador quer? Nem ele sabe. Fica mais fácil embarcar em tramas de época quando é clichê e você sabe onde vai dar. Enquanto isso temos a sensação de que nada é relativamente bom. Quer ter mais uma certeza que as tramas apontam para o clichê: Romantismo de época (as 18h com Além do Tempo), Humor (as 19h com I Love Paraisópolis), Ousadia e trama adulta que o horário permite (com Verdades Secretas as 23h), Clichê e horário alternativo (Dez Mandamentos) e Infantil (Cúmplices de Um Resgate no SBT). Tudo já está previamente estipulado na mente do telespectador mediano e quando ele encontra algo novo e que não corresponde ao que ele quer ele foge. Não é falta de ousadia, não é desmerecimento de outros trabalhos, é constatação. Quando nem a economia é estável, porque a audiência seria? E quando isso acontece, o telespectador volta para o que parece seguro, o habitual clichê, onde sabe no que vai dar.

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Até breve.


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