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Verdades Secretas prova que há espaço para obras adultas na TV

Verdades Secretas prova que há espaço para obras adultas na TV

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Quando foi noticiado que Walcyr Carrasco escreveria uma trama para as 23h e que ela não seria um remake, como aconteceu com as outras novelas do horário, muita gente virou a cara esperando que Verdades Secretas tivesse elementos de suas novelas de época das 18h (o humor inocente ou algo a lá pastelão) ou que fosse algo como Amor à Vida, a última novela do autor para 21h, mas Walcyr surpreendeu os críticos mais afiados, com uma trama humana e envolvente.

Apesar de ser exibida as 23h, quando a tradicional família brasileira já está dormindo, ou deveria estar, Verdades Secretas tem um típico folhetim, tendo uma trama principal que poderia ter sido tirada de algum conto de fadas, mas o autor vai mais além e mostra que a realidade e sua marca marcante, a dureza, tem espaço garantido em sua trama.

Angel, ou Arletinha (bem defendida por Camila Queiroz), é a típica jovem que se muda para a casa da avó em meio a separação de seus pais. Ela sonha em ser modelo, encontra com o que era pra ser o principe encantado (que tira sua virgindade, mas depois a rejeita), mas descobre que a realidade não permite espaços para sonhos sem alicerces. Entre perder o que seria sua inocência e descobrir que o lado feio de seu sonho envolve o dinheiro fácil, Angel logo descobriu o book rosa e se prostituiu sem receios. É errado? Não. Construída sem medo de ousar, Verdades Secretas logo mostrou que o mundo é agil: pegar ou largar. E Angel pegou e se apaixonou pelo seu cliente, Alex (Rodrigo Lombardi), mas sabemos que a história não acaba assim.

Walcyr aposta em reviravoltas simples, mas de vital importância para a trama, ao contar o sonho da Cinderela Angel e sua paixão por Alex, que mistura paixão e crueldade, em um jogo onde se piscar o olho você pode perder o principal: a emoção. Com uma direção segura e uma edição caprichada, Verdades Secretas apresenta temas pesados como o submundo da moda, as drogas, a prostituição, mas o melhor, sem rotular ninguém. Há bondade e maldade em cada um.

Depois de alguns mimimis desnecessários de agências de modelos, que não gostaram de ver estampado na TV a realidade sobre o book rosa, a trama parece passar incólume aos que adoram boicotar ou causar polêmica. Pena que no horario das 21h, Alice (Sophie Charlotte) teve sua trama alterada, assim como a essência da maioria dos personagens.

Outro ponto forte de Verdades Secretas é o tom exato entre o texto e a interpretação. Longe de obras, onde o naturalismo se remete a falar o texto como nós, Verdades Secretas apresenta personagens que falam palavrão sem soar feio ou errado e até frases marcantes e de efeito ganham um ar de realidade deliberadamente crua, mas sem ser feia. O glamour do mundo da moda talvez ajude nisso.

Certa vez, Walcyr Carrasco disse que poderia se tocar em qualquer assunto em qualquer horário, mas que era necessário encontrar o tom exato, e o tom de Verdades Secretas é isso: humano, o que nos leva a pensar que talvez seja esse o grande triunfo da obra: humanizar dramas antes visto somente em revistas e outras mídias, onde rótulos permeiam o nosso imaginário (quem nunca pensou errado de quem se prostitui, sem conhecer seus motivos, que atire a primeira pedra). Sem criticar, taxar ou levantar bandeiras, Verdades Secretas é uma novela humana, bem real, mas bonita exatamente por isso, por saber que o ser humano carrega emoções dentro de si e que elas são os melhores ingredientes de um excelente folhetim. Para quem duvida ou não gosta, a resposta é uma só: Love you, love you, love you...


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