Por: Nelson Gonçalves Junior E-mail para contato: [email protected]
A mesmice das telenovelas brasileiras já virou comentário padrão entre os especialistas no assunto. Reclama-se dos temas repetitivos, dos personagens que soam caricatos e falsos. Reclama-se que não se faz mais novela como antigamente.
Agora pensemos, por exemplo, em "Fina Estampa", o maior sucesso do momento. Temos os personagens de Marcelo Serrado e Christiane Torloni, dois dos principais destaques, como extremamente estereotipados e inverossímeis. E mesmo assim, o Ibope do folhetim é absurdamente alto.
Ou seja, o telespectador gosta mesmo é de uma boa história, não importando se ela é real ou absurda. Ele quer torcer pelo mocinho, xingar o vilão e assim por diante. Isso que realmente lhe interessa.
Se os críticos fossem tão corretos assim, "A Vida da Gente", trama das 18 horas, seria recorde absoluto de audiência na Tv Globo, afinal é uma novela amplamente elogiada pela mídia, mas que não vê esse fato traduzido em Ibope.
E qual a explicação para tal situação, se é uma história envolvente, com boas atuações e um roteiro dos melhores que já se viu na TV brasileira dos últimos tempos?
Talvez um dos problemas nem seja com "A Vida da Gente", mas sim com a mudança no cotidiano do brasileiro. Agora, trabalhamos até mais tarde, ganhamos melhor e saímos mais para passear. Logo a chance de estarmos em frente a telinha no início da noite é muito menor.
Notem que apesar dos baixos índices do folhetim global, não vemos o Ibope da concorrência disparar. Ou seja, não há migração de audiência para outros canais, mas simplesmente o telespectador está fazendo outra coisa no horário.
Evidentemente que não é somente por isso que a trama das 18 horas não emplacou. É necessário considerar também que apesar de sensível, o texto de "A Vida da Gente" é rebuscado e um pouco lento em seu andamento, o que fatalmente espanta espectadores, acostumados com textos facilmente digeríveis e ágeis das demais novelas.
Precisamos pensar em televisão como um todo, pois muitos fatores influenciam o que acontece nela. A única certeza é que a vida da gente, cada vez mais, interfere no andamento da vida dela: a TV brasileira.