A TV adotou o modelo de politicamente correto em nome da família brasileira, mas esqueceu de avisar a si própria.
Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]
Fato: Há muito tempo a TV brasileira peca pela falta de criatividade. Novelas com temas repetitivos, jornalísticos sensacionalistas, programas dominicais apelativos, humorísticos sem graça e a certeza de que estamos assistindo a uma programação dos anos de 1990. Nessa semana, não sei se todos sabem, mas o psicanalista Francisco Daudt foi desligado do programa Encontro com Fátima Bernardes por não ter uma conduta condizente com a linha editorial do matinal da Globo. Mas ai você pensa: E eu com isso? Eu não assisto a esse programa. Não me importa... Mas deveria importar. A TV passa por uma onda de politicamente correto, que alguns dizem ser em nome da audiência, do público, mas tudo não passa de balela, papo furado.
O Encontro que tenta se mostrar atual, nada mais é do que uma reciclagem dos programas apresentados por Silvia Poppovic nos anos 90, só que sem sabor. O psicanalista era o diferencial do programa que se tornou mais do mesmo com sua ausência. Daqui a pouco estou vendo a Márcia Goldsmith assumindo o programa e dizendo “mexeu com você, mexeu comigo”.
É muito estranho um profissional não poder dar sua opinião, mesmo que controversa ao tema discutido e logo depois imagens de crimes bárbaros sendo exibidos em pleno horário do almoço. Tem que ter estômago forte ou morbidez para aguentar crimes e sangue em meio a uma garfada no bife.
Há anos existe a classificação indicativa, mas pra que? A mesma censura que proíbe cenas de sexo e violência nos filmes da Sessão da Tarde e Vale a Pena Ver de Novo (Da-lhe Cobras e Lagartos que tem mais cortes e recortes que vestido de festa junina), libera imagens para programas como Balanço Geral , Cidade Alerta e Brasil Urgente. Vai me dizer que há diferença de gêneros, sim existem, mas bom senso e coerência também.
Na busca do politicamente correto certas coisas foram cortadas de nossa grade diária, de nossas novelas, mas nos anos 80/90 cenas de sexo eram mostradas com tanta sutileza e bom gosto que o público nem levava a sério. Hoje qualquer peitinho é duramente criticado, mas a imagem dilacerante de um corpo esticado na rua não. As crianças de hoje não tem programas na TV aberta e nem ligam, eles tem seu lugar na TV paga.
Conclusão, o politicamente correto tem transformado a TV aberta em algo extremamente chato, não é a toa que os telespectadores fogem para a TV paga, internet e outras mídias. Na base do que é certo para ser exibido para o horário nada é condizente. Existe público para todo tipo de programa, mas será que ele é exibido no horário adequado? Pelo menos a Rede TV! entendeu e colocou o Teste de Fidelidade para depois das 22h de domingo. Assim é mais fácil perder para o péssimo humor do Pânico.
TV é aquilo que o público quer ver, mas a maneira como é mostrado faz toda a diferença. Usar o politicamente correto, o que é certo não tem sido a maneira mais eficaz de fazer TV, em nome das necessidades do público tem casar com bom senso. Alegar que mostra a verdade em nome do que seria uma forma correta de informar o telespectador nada mais é do que uma forma gratuita de lutar pela audiência. Enquanto isso, o politicamente incorreto é a cartilha usada pelas emissoras. Por favor, façam o que pregam.