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E se Vitória fosse exibida na Globo?

Trama de Cristianne Fridman poderia ser um sucesso estrondoso se fosse produzida por uma emissora mais competente.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Trama de Cristianne Fridman poderia ser um sucesso estrondoso se fosse produzida por uma emissora mais competente.

Muito se falou nessas última duas semanas a respeito de Felizes para Sempre?, de Euclydes Marinho, em especial a excelente forma física de Paolla Oliveira, mas na verdade o que seria da minissérie dirigida por Fernando Meirelles sem o grande apelo sexual que movia a trama? Indiferente de gostar ou não da obra, vale ressaltar o texto da obra e o final surpreendente.

Se o sucesso de Felizes para Sempre? é marcado pelas cenas sensuais, o que dizer de Vitória, novela da Record que não consegue chegar ao telespectador médio. Não, não que a trama de Cristianne Fridman seja um primor, pelo contrário, começou bem próxima de Maria do Bairro, mas agora é um novelão de deixar outras novelas da Globo no chinelo. Vitória peca pela própria emissora em que é exibida.

Mal, mas muito mal divulgada, Vitória parece mais um tapa buraco na emissora que não valoriza seu próprio produto. Mas isso vem acontecendo há anos, desde que o canal dos bispos percebeu que é melhor investir em sangue de verdade, ao invés do cenográfico. Vitória, agora, tem um texto marcado pela grife Fridman, que mescla temas da nossa atualidade e polêmicos.

A trama dos neonazistas é um prato cheio para se discutir os próprios preconceitos. Os neonazistas, Paulão (Marco Pitombo) e Priscila, vivida muitíssimo bem por Juliana Silveira, é tudo que qualquer pessoa quer ser: bonitos e ricos. Mas será que a beleza compensa o caráter? Fridman constrói a trama sem rodeios e medos que qualquer autor poderia ter ao tocar em tal assunto. Sem demora, os preconceituosos, já investiram contra a protagonista insossa Diana (Thais Melchior), contra a mãe da neonazista, contra gays e nordestinos sem um pingo de pudor. Até ataque a ônibus de migrantes já teve. Esse núcleo é assim, realidade extrema, mas bem produzida para a TV.

Vitória tem de tudo para conquistar o telespectador: um romance conturbado por um falso incesto, um vilão obcecado bem construído por Gabriel Gracindo e núcleos paralelos bem construídos e delimitados. Entre essas tramas vale ressaltar a sutileza e a maneira como tem sido construída a trama de Zuzu (Lucinha Lins) e o mal de Alzheimer. Sem apelar para o lado emocional, transformando os portadores da síndrome em vitimas, Fridman tem trazido dramas reais, construídos de maneira sutil e sincera. É uma trama que vale a pena acompanhar.

Bem escrita, com boa parte do elenco afiado com seus personagens e uma direção segura, Vitória é uma trama ágil, contemporânea, que deveria ser exibida em outro horário e não competir com Império, atual folhetim da Vênus Platinada. A trama merecia melhor atenção do público, que deveria saber que há uma opção para quem quer algo diferenciado, mas que não foge do folhetim tradicional.

Se fosse na Globo, talvez a trama tivesse um reconhecimento do público, não que a Globo seja a única emissora capaz de produzir algo bom, mas duvido que algo tão bem feito ficasse em um horário tão ingrato. Mas Vitória está na Record e o que podemos esperar é que trama continue a nos surpreender. Biscoito fino reconhecemos de longe.


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