Por: Nelson Gonçalves Junior E-mail para contato: [email protected]
Nas últimas semanas, temos visto a indefinição em relação à venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir do ano de 2012.
Após o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica - definir que a TV Globo deveria perder a preferência e o monopólio no processo de venda, era esperado um grande edital em que as principais redes de TV ofereceriam muito dinheiro para o Clube dos 13, entidade que representava os grandes times do país.
A Globo sabia muito bem que, entrar em uma disputa direta com a Record seria ruim, pois a emissora dos bispos iria inflacionar o mercado, mais uma vez, como já fez em oportunidades anteriores. Ao mesmo tempo, os diretores globais notaram um detalhe muito interessante: o Cade proibiu a negociação direta do Clube dos 13 com a Globo, porém não proibiu uma negociação individual de um clube com uma emissora.
Ou seja: implodir o Clube dos 13 seria a melhor forma de garantir a compra dos direitos por um preço menor, afinal a negociação individual acaba mais barata e não tem tantos riscos de perder para a concorrência. Enfim, sem se aprofundar no mérito de qual lado tem o direito jurídico de concorrer, vencer ou questões afins, é necessário esclarecer alguns pontos:
1) Era mais do que esperado que o CADE fosse liberar a negociação direta entre um clube e uma emissora de TV. Isso é o princípio básico do mercado. Se eu quero vender o meu produto, no caso a transmissão de jogos de futebol, para o canal X ou Y, o problema é única e exclusivamente meu. E se eu quiser vender por 10 reais ou por 10 milhões, também é problema meu.
2) A Record novamente fez muito barulho, pra nada. Ao sair da licitação do Clube dos 13 a poucos minutos das aberturas dos envelopes, e ainda iniciar negociação com os times, via imprensa, acabou perdendo a pouca credibilidade que tinha na disputa.
3) A Redetv foi esperta. Mesmo sabendo que são mínimas as chances de transmitir sozinha o Brasileirão, o fato de ter vencido a licitação do Clube dos 13, gera uma pressão em todos os envolvidos. Pela ética, foi a vencedora. E isso pesa. Mas pesa também o fato de ser a menor e mais instável emissora entre todas envolvidas na disputa.
4) A Globo foi a Globo de sempre. Aproveitou-se dos erros das demais e abusou do seu poder econômico, político e cultural para levar vantagem e fazer o que bem entender.
5) É hipocrisia falar que o mais importante é o interesse do torcedor. Ninguém pensa nisso além do próprio torcedor. O que vale é o dinheiro envolvido, é a exposição da marca na transmissão e na repercussão do evento.
Então se o passado da Record condena e o futuro da Redetv preocupa, fica fácil entender porque clubes e patrocinadores ainda preferem manter seus jogos na TV Globo. Sem competência, fica difícil vencer a líder. Isso é regra pura na gestão de qualquer empresa moderna: amadorismo leva à derrota.
E mais, como fazer o mercado acreditar que um jogo será bem vendido em outra emissora, se elas já se atrapalham desde a compra dos direitos de transmissão? Que empresa vai querer patrocinar um evento que a intenção é concorrer direto com a novela das 9 da Globo, principal produto da TV Brasileira? Qual o peso de não ter o seu campeonato divulgado massivamente nos programas da Globo? São muitas dúvidas sem respostas firmes.
E o monopólio da Globo tem tudo para continuar até 2015. Quem sabe até lá, a concorrência não aprenda com os erros de hoje.