Por: O pernambucano Aguinaldo Silva nunca havia pensado em ser dramaturgo. Os dez anos como editor das seções de polícia e cidade do jornal O Globo (1968 a 1978), porém, despertaram no jornalista uma vontade de escrever de maneira diferenciada sobre aquele uni
Novela de: Aguinaldo Silva
Escrita com: Maria Elisa Berredo, Patrícia Moretzsohn e Nelson Nadotti
Colaboradores: Meg Santos, Rodrigo Ribeiro, Maurício Gyboski e Brunno Pires
Direção de: Ary Coslov, Cláudio Boekel, Marcelo Travesso, Marco Rodrigo e Marcus Figueiredo
Direção geral e núcleo de: Wolf Maya
O pernambucano Aguinaldo Silva nunca havia pensado em ser dramaturgo. Os dez anos como editor das seções de polícia e cidade do jornal O Globo (1968 a 1978), porém, despertaram no jornalista uma vontade de escrever de maneira diferenciada sobre aquele universo. Foi assim que surgiu o seriado ‘Plantão de Polícia’, de 1979, marcando a estreia do autor na televisão e revelando um novo olhar sobre a sociedade e uma visão mais humanizada sobre quem estava à margem dela.
Alguns seriados depois, Aguinaldo escreveu a primeira minissérie da televisão brasileira, "Lampião e Maria Bonita" (1982). Foi o início de uma série de trabalhos, como "Bandidos da Falange"(1983), "Padre Cícero"(1984) e "Riacho Doce" (1990), que retratavam, de forma inédita, temas mais urbanos, regionalistas e religiosos.
A partir de 1984, o autor inicia uma trajetória de sucesso no horário nobre com suas tele novelas. Aguinaldo é o único autor cujas obras sempre foram exibidas nesta faixa. Conhecido também por trabalhar com o realismo fantástico, o pernambucano foi o criador de novelas como "Pedra sobre Pedra"(1992), "Fera Ferida" (1993) e "A Indomada" (1997). Em 2004, Aguinaldo Silva traz novamente à tona temas urbanos e populares com "Senhora do Destino" e, em 2007, com "Duas Caras".
Confira a entrevista autor concedida à assessoria de imprensa da Globo:
Como você definiria a novela?
"Fina Estampa" é um folhetim clássico, com todas as características do gênero, só que modernizadas, adaptadas para a época em que vivemos. É uma novela com tramas fortes que se cruzam, de personagens muito reais e envolvidos com questões inerentes ao ser humano. É uma novela popular, urbana e profundamente brasileira.
O que a trama quer passar para o público?
A novela vai deixar uma pergunta no ar: o que vale mais nas pessoas, a aparência ou o caráter? Griselda é de um caráter inquestionável que percebe que está se transformando com o dinheiro. Num mundo onde o culto ao corpo e a beleza física é uma verdadeira mania, as tramas de “Fina Estampa”, de um modo ou outro, têm a árdua tarefa de questionar essa opção.
Por que ambientar a trama na Barra da Tijuca?
Sei que existe, na parte mais tradicional do Rio de Janeiro, certo distanciamento com o bairro. A Barra é mesmo bem diferente do resto da cidade, exceto na área do Jardim Oceânico, que é um bairro como outro qualquer. Eu quero mostrar que a Barra, com suas características sociais tão distintas, é tão carioca quanto qualquer outro bairro. E é muito bonita e atraente.
Griselda é um personagem muito peculiar e inusitado na televisão. Sua criação foi baseada em alguém da vida real?
Sim, como todos os meus personagens. Eu conheci uma mulher igual a ela, uma faz-tudo, no bairro de Santa Teresa, onde morei na década de 70. Ela era viúva, portuguesa como Griselda e um tanto masculinizada. Então, eu ficava pensando como seria se ela passasse por uma transformação que a fizesse voltar a se preocupar mais com a aparência. A personagem e sua história estavam no meu passado. Só tive que ir lá resgatá-las.
E o que você pode dizer sobre a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni)?
Gosto quando o vilão ou a vilã são mais humanizados. Tereza Cristina realmente achará que tem motivos para agir como age. Para ela, são atitudes justas e inquestionáveis. Isso a tornará mais humana, mais suave.
Na maioria das tramas de ‘Fina Estampa’, as relações de maternidade são muito fortes. Por que tratar desse assunto?
Para mim, a família é a base de tudo e, nesse tempo de crise de valores, é sempre nela que devemos buscar apoio. As relações de família - e dentro delas, as de maternidade - é que tornaram possível o progresso do homem e dão real valor à história humana. A origem da civilização está lá e eu sempre procuro mostrar isso em minhas obras.
Como a novela vai entrar na questão da violência doméstica através da história de Celeste (Dirá Paes)?
De um modo mais polêmico. Por que Celeste não denuncia Baltazar para a polícia? Isso, em casos de violência doméstica, é comum e é hora de se discutir por que, num mundo onde as mulheres já têm voz, isso ainda acontece. Por que determinadas mulheres, por questões emocionais, simplesmente não conseguem se livrar disso.
Meu nome é Griselda da Silva Pereira (Lília Cabral), mas aqui no Quebra-Mar, no Jardim Oceânico, onde moro, todo mundo me conhece como “Marido de Aluguel”. Bom, não só aqui, mas em boa parte da Barra da Tijuca e do Itanhangá.
É que depois que meu marido morreu, eu precisei me virar pra manter a casa e a família e acabei virando especialista em pequenos consertos: troco torneira, conserto telhado, mudo interruptor de luz, faço de tudo. Qualquer coisa que precisar, é só chamar! Coloco meu macacão, pego minha caixa de ferramentas e rapidinho chego aí de bicicleta. Modéstia à parte, sou boa no que faço e quebro o galho de mulheres que não têm os maridos sempre em casa. Há quase 20 anos, repito o mesmo todos os dias: após deixar o café prontinho para os meus filhos, vou à luta bem cedo, pois já tenho clientela fixa e meu dia é cheio!
Por causa desse meu jeitão assim mais prático, ganhei apelidos na vizinhança e ouço piadinhas todos os dias. Sei que as minhas clientes admiram minha força e coragem, mas os homens aqui da região têm inveja de mim. Me chamam de “mulher macho” e Pereirão, mas eu não ligo. Tenho mais o que fazer e já estou acostumada com a vida dura.
Vim de Portugal aos cinco anos com meus pais. Aos 15, já estava casada, grávida e tive que assumir muitas responsabilidades ainda menina. Casei com um filho de portugueses, o José Pereira (José Mayer). Pereirinha, como o chamavam, era pescador e chegado à bebida. Acho até que foi ele quem deu um empurrãozinho para o meu trabalho por que nunca estava em casa quando eu precisava que consertasse alguma coisa. Até que um dia desapareceu no mar e nunca encontraram seu corpo. Meus filhos que me perdoem, mas foi até um alívio me livrar daquele encosto.
Nunca me casei de novo. Tem até um português, o Guaracy (Paulo Rocha), dono do bar “Tupinambar”, que não desiste de mim. Vive tentando me agradar. Mas eu não quero nada com homem, não. Estou muito bem assim e não tenho tempo pra perder. Eles dão muito trabalho. Olha só a coitada da minha amiga Celeste (Dira Paes)! Ela vive sofrendo nas mãos do Baltazar (Alexandre Nero) e não faz nada. Quem faz sou eu que, vira e mexe, tenho que lembrá-lo que não se maltrata mulher.
Do falecido, só ficaram dívidas e meus três queridos filhos: Joaquim José (Malvino Salvador), José Antenor (Caio Castro) e Maria Amália (Sophie Charlotte). A casa onde moramos é pequena, mas com jeitinho cabemos todos, inclusive, meu neto Quinzinho (Gabriel Pelícia). Vivemos aqui há muito tempo, mas a casa não é nossa. É de um empresário chinês rico e muito misterioso, com quem Pereirinha andava metido antes de sumir.
O curioso é que ele nunca nos cobrou aluguel. Emprestou a casa e só pediu que a mantivéssemos como está, sem reformar nada. Só faço mesmo obras de manutenção. Morro de medo de que ele reapareça, em algum momento, e venha pedir a casa de volta. Se Nossa Senhora de Fátima permitir, um dia eu ganho na loteria, compro uma pra gente e me livro dessa preocupação. Jogo toda semana há anos.
Eu sou assim mesmo, vivo para a minha família. Meu filho mais velho, Quinzé (Malvino Salvador), voltou a morar comigo depois que a esposa dele, mãe de Quinzinho, abandonou a família pra viver lá no exterior com um lutador de Vale-Tudo, o Wallace (Dudu Azevedo). Teodora (Carolina Dieckmann) nunca foi fácil mesmo, nunca priorizou a família. Renegar um filho assim, ainda criança, é crueldade. Por isso que eu dou todo o amor do mundo para o meu neto. E me encho de orgulho quando vejo em Quinzé um pai tão dedicado.
Mas meu filho ficou sem chão. Vive amargurado, pra baixo. Acho que ainda gosta da Teodora. Quinzé trabalha lá no “Tupinambar” como ajudante do Guaracy (Paulo Rocha). Tem lá seus romances, mas nada sério. Deus queira que essa Teodora nunca mais apareça.
Maria Amália (Sophie Charlotte), minha caçula, é diferente. Muito responsável e equilibrada, nunca tive que me preocupar com ela. Sei que puxou a mim: tem caráter e é muito trabalhadora. Ela vende os cosméticos naturais que Dona Zilá (Rosa Marya Collin), uma senhora muito querida aqui da região, faz manualmente. Amália diz que vende um perfume afrodisíaco e que Dona Zilá não revela sua fórmula para ninguém. Um mistério! Parece que esses cremes funcionam mesmo, mas eu nunca experimentei. Isso não é pra mim. Amália não concorda muito com meu comportamento e vive tentando me deixar mais feminina, mas eu sei que me ama assim do jeito que eu sou.
Minha filha namora o Rafa (Marco Pigossi), um rapaz bem bonito, que trabalha em uma loja e oficina de motos aqui no Jardim Oceânico. Mas alguma coisa me diz que Amália ainda vai sofrer muito com esse rapaz, coitada. Acho que aquele ali parece ser o que não é. E coração de mãe não se engana!
José Antenor (Caio Castro), meu filho do meio, cursa Medicina, graças a uma bolsa que eu consegui na Universidade Pessoa de Moraes. Ele sonha em ser cirurgião plástico e, para isso, se esforça mesmo. Sua prioridade são os estudos. Acho até que Antenor se reserva demais e quase não fica com a família. Às vezes, ele tem uma atitude grosseira até. Diz em alto e bom som que quer mudar de vida, ser rico, que não entende nossa atitude. Esse daí puxou ao pai. Nós dois já tivemos algumas boas discussões por causa dessa ambição exagerada dele.
Antenor é apaixonado por uma moça, a Patrícia (Adriana Birolli), que também estuda na universidade e é de família de classe alta. Sua casa é enorme, fica num condomínio de luxo aqui da Barra da Tijuca. Fiz vários consertos lá e no restaurante do pai dela, o senhor Renê (Dalton Vigh), sem nem saber que ele era sogro do meu filho. Por que se vocês acham que foi o Antenor quem me contou tudo isso, se enganam. Ele não comenta com ninguém lá em casa sobre sua vida. Só fiquei sabendo disso tudo depois de ter passado a situação mais humilhante e decepcionante da minha vida. Tinha tanto orgulho do Antenor, mas meu próprio filho acabou me pregando uma peça.
Aconteceu lá na casa de dona Tereza Cristina (Christiane Torloni), mãe da Patrícia. Eu tinha consertado o fusível das luzes do jardim, que estava queimado, e deixei tudo bem direitinho. Mas, uns dias depois, a madame me liga histérica, dizendo que meu serviço tinha ficado uma porcaria e que as luzes estavam queimadas de novo. Como assim meu serviço ficou uma porcaria? Eu sempre verifico tudo muito bem! Fui correndo pra casa dela. Além de não querer deixá-la na mão no meio de uma festa, não podia deixar ninguém falar mal do meu serviço assim, não.
Parece que Nossa Senhora de Fátima estava me empurrando para aquela casa. Para eu abrir meus olhos. Quem diria que a festa de dona Tereza Cristina era justamente para celebrar o noivado da filha dela com o meu, José Antenor?! Enquanto eu consertava mais uma vez aquele bendito fusível, Crodoaldo (Marcelo Serrado), o mordomo da casa, me acompanhava e não parava de falar da festa de noivado de Patrícia.
E fui ficando cada vez mais curiosa depois que avistei ali, parado perto do jardim, um carrão que tinha visto nesse mesmo dia, mais cedo. Meus filhos acharam que eu tinha me confundido, mas eu sabia que tinha visto o José Antenor dirigindo esse mesmo carro ali na Avenida Sernambetiba. Quando Crodoaldo me disse que o nome do noivo era Antenor, eu não tive mais dúvidas. Fui pro meio do jardim, mais perto da casa, e vi meu próprio filho apresentando uma vigarista como mãe. Uma tal Gisela Pereira (Ângela Vieira), criadora de gado do Mato Grosso do Sul, fina e rica. Olha, naquele momento, eu tive certeza de uma coisa: podia reparar tudo nessa vida, menos o meu coração despedaçado de mãe.
Porque me renegar desse jeito? Porque sentir tanta vergonha de mim, de nossa origem humilde? A ponto de apresentar outra pessoa como mãe! Eu nunca deixei faltar nada para os meus filhos. Sempre ralei dia e noite pra manter aquela casa, para comprar os iogurtes que ele tanto gosta. Para que tanta ambição, minha Nossa Senhora? Foi uma dor e uma humilhação tão profundas que eu não sei nem explicar. Até Crodoaldo notou que eu comecei a chorar.
Tinha decidido sair quietinha por aquele portão, sem falar nada. Ah, mas quando pensei em tudo o que fiz por ele, foi subindo uma raiva, uma vontade de dar uma surra naquele menino... E foi o que eu fiz! Entrei naquela sala, gritando aos quatro ventos que a mãe verdadeira daquele mentiroso era eu. No início, ninguém entendeu nada. Custaram a acreditar que uma mulher como eu, assim meio rude, pudesse ser mãe do Antenor. Mas a impostora, aquela atriz barata que ele contratou, logo se entregou. E eu aproveitei pra descarregar tudo o que estava engasgado na minha garganta.
Só que dona Tereza Cristina achou que eu fazia parte daquela mentirada toda, que estávamos tentando dar um golpe na família dela. Enxotou a gente de lá. Imagina... eu sou humilde, mas sou muito honesta, viu?! Antenor não quis nem falar comigo. Entrou naquele carrão e saiu a toda. De qualquer maneira, o estrago estava feito. Não tive forças pra mais nada: sentei no meio fio e desandei a chorar. Seu Renê (Dalton Vigh) até que ficou muito sensibilizado comigo e veio me estender a mão.
Mas quer saber? Aquele mal agradecido do Antenor não brinca mais comigo, não. E chega de ficar falando de quem não merece nem uma lágrima minha. Até porque Dona Tereza Cristina não vai perder a chance de dar a versão dela, né? E gente rica sempre tem a razão...
Lilia Cabral - Griselda Da Silva Pereira (Pereirão)
Christiane Torloni - Tereza Cristina Siqueira De Velmont
Dalton Vigh - Renê Velmont
José Mayer - Pereirinha
Carolina Dieckmann - Teodora
Malvino Salvador - Joaquim José Da Silva Pereira (Quinzé)
Caio Castro - José Antenor Da Silva Pereira
Adriana Birolli - Patrícia Siqueira De Velmont
Paulo Rocha - Guaracy
Dan Stulbach - Paulo Siqueira
Júlia Lemmertz - Esther Wolkoff Siqueira
Eva Wilma - Tia Íris Siqueira
Marcelo Serrado - Crodoaldo Valério
Renata Sorrah - Danielle Fraser
Arlete Salles - Vilma Moreira Prado
Sophie Charlotte - Maria Amália Da Silva Pereira
Marco Pigossi - Rafael
Milena Toscano - Vanessa
Dira Paes - Celeste
Alexandre Nero - Baltazar
Dudu Azevedo - Wallace
Wolf Maya - Álvaro
Totia Meirelles - Zambezi
Carlos Casagrande - Juan Guilherme
Tânia Khalil - Letícia Moreira Prado
Suzana Pires - Marcela Coutinho
Juliana Knust - Zuleika (Zuzu)
Eri Johnson - Gigante
Júlio Rocha - Enzo
Cris Vianna - Dagmar
Guilherme Leicam - Fábio
Rafael Zulu - Edivaldo
Carlos Machado - Ferdinand
Alexandre Liuzzi - Andrade
David Lucas - Renê De Siqueira Velmont Júnior
Guilherme Boury - Daniel
Guida Vianna - Isolina
Carol Macedo - Solange
Alexandra Martins - Márcia
Luma Costa - Nanda
Joana Lerner - Luana
Rodrigo Simas - Leandro
Sandro Pedroso - Mandrake
Ricardo Blat - Severino
Fábio Keldani - Victor
Marcelo Brou - Pezão
Rosamarya Collin - Dona Zilá
Vítor Lucas - Leonardo
Josie Pessoa - Ellen
Bianca Salgueiro - Carolina Moreira Prado
Ítalo Guerra - Reinaldo
Christian Monassa - Max
Joe Ribeiro - Joel (Joe Maluco)
Igor Marques - Caco
Diego Estteve - Reis (Funcionário do Le Velmont)
Eduardo Spinetti - Lírio (Funcionário do Le Velmont)
Gabriel Pelícia - Quinzinho Pereira (Filho de Quinzé E Teodora)
E
Ângela Vieira - Mirna Bello
Ah, mas tenho mesmo. Eu, Tereza Cristina Siqueira de Velmont (Christiane Torloni), sempre tenho razão. E, diante dos fatos, como não ter?! Estava na cara daqueles dois que tudo era uma farsa, um golpe para arruinar minha família. Depois que tudo se acalmou, eu consegui entender melhor por que aquela criatura grotesca, essa tal de Griselda (Lília Cabral), estava tão infiltrada em minha casa e no restaurante. Não há como negar que ela também estava envolvida.
Renê (Dalton Vigh), meu marido, insistia para eu ter calma, mas numa hora dessas?! Não quis saber de explicações de ninguém. Coloquei mãe e filho para fora. Foi um episódio lamentável! Aquele moleque do Antenor (Caio Castro)! Eu sempre desconfiei dele. Desde o início, não entendia por que tanta pressa para noivar. Aquilo não me parecia muito certo.
Mas a Patrícia (Adriana Birolli), minha filha, nunca me escutou. Para falar a verdade, ela nunca me escuta. Em beleza e elegância, é uma legítima Velmont. Mas em personalidade é muito diferente de mim. Além de pensarmos de maneira oposta, falta-lhe explosão, glamour. Ela puxou bem mais ao pai, realmente. É mais passiva, acredita nas pessoas, não tem malícia. Imagine que estuda Psicologia e não seleciona bem as suas amizades. Já disse que essas amigas dela não são boa influência, mas Patrícia gosta de bradar aos quatro cantos que não é uma “patricinha” e que mantém os pés no chão. Para que manter os pés no chão, se ela pode ter o céu?!
Nós duas discutimos bastante. Mas, pelo menos com ela, eu ainda consigo falar. Do Renê Junior (David Lucas), meu filho caçula, eu não posso dizer o mesmo. Ele vive trancado no quarto na frente daquele computador. Diz que está estudando, mas eu tenho minhas dúvidas. Fico em cima, afinal sou mãe e esses adolescentes não sabem o que fazem. Já disse pra ele que de mim ninguém esconde nada.
Renê Junior tem ótima relação com o pai. Os dois sempre conversam. Eu acho ótimo porque, apesar de mimar um pouco meu caçula, não tenho muita paciência para essas questões masculinas. Eu já me ocupo bastante com todo o trabalho que dá manter essa casa funcionando perfeitamente. Ou vocês acham que é fácil lidar com subalternos?
Marilda (Katia Moraes), a doméstica aqui de casa, se finge de invisível sempre que me vê. Não faz nada direito. Baltazar (Alexandre Nero), o motorista, chegou aqui em casa outro dia com o rosto todo roxo. Deve ter apanhado na rua e estava irreconhecível. Agora, imaginem! Eu, Tereza Cristina Siqueira de Velmont, andando pela cidade com aquele monstro?
Já o Crô (Marcelo Serrado), apesar de ser uma tartaruga, é a única pessoa aqui em casa que me entende e resolve as coisas. Ele é uma espécie de mordomo, escudeiro, cabeleireiro particular. Uma dedicação total, 24 horas por dia. Acho que o sonho dele era ser eu, porque vive me colocando uns apelidos tão enaltecedores... Crô é uma figura rara: fala pelos cotovelos, acha lindo aquele topete, aquela calça justa. Vive tão grudado em mim que, às vezes, dá nervoso. Só desgruda para passear na praia com meus cachorrinhos Doce e Cabana. Eu não vivo sem ele, mas não admito isso de jeito nenhum!
Crô andou me pedindo umas horas livres pela manhã. Eu desconfio que ele esteja namorando e não queira me falar. Qualquer dia desses, eu pergunto à Vanessa (Milena Toscano), a sobrinha dele. Por falar nela, é outra com quem tenho que abrir o olho. A menina até que é bonita, um pouco moderninha demais pro meu gosto, mas, a pedido do Crô, eu decidi ajudá-la financeiramente com a mensalidade da faculdade. Só acho que ela está se infiltrando demais na minha família. Primeiro a amizade com Patrícia, e agora esse trabalho de hostess no restaurante do Renê.
Quer dizer, do Renê não, né? O restaurante é meu! Foi um presente ao meu marido, que é um excelentechef de cozinha. Quando nos conhecemos, Renê pertencia a uma família falida. Eu tinha que fazer alguma coisa para lhe dar um pouco mais de status. Então tive a ideia do “Le Velmont”, um restaurante sofisticadíssimo e muito bem conceituado na cidade. Renê leva a fama, mas quem pagou por tudo aquilo fui eu.
Meu marido é lindo, de uma masculinidade impressionante. É o meu porto seguro, apesar de ser diferente de mim. É mais pacífico, muito tranquilo e tem uma mania irritante de ser o bom samaritano. Tenho que admitir que Renê tem um dom para atrair as pessoas. É simpático, sorri pra todo mundo, quer sempre ajudar. Às vezes, até passa dos limites. Mas eu amo esse homem enlouquecidamente!
O “Le Velmont” foi uma das poucas coisas que fiz com a herança que recebi. Meus pais morreram quando eu tinha 18 anos. Eu e meu irmão Paulo (Dan Stulbach) ficamos com todo o patrimônio da família. Ele, muito cedo, resolveu abrir uma grife de moda praia com sua esposa Esther (Julia Lemmertz), que é estilista. Ainda bem que hoje é uma grife conhecida até na Ásia. Já eu, decidi levar a vida que realmente mereço: muitos vestidos, viagens, jantares e spas. Tive um trabalhão para despachar a chata da Tia Íris (Eva Wilma) pra Nova Iorque e controlar minha casa como eu queria, mas eu consegui.
Então, agora, depois disso tudo, de todo o meu esforço pra manter nosso nome, a honra da nossa família, as minhas mordomias, chegam um tal Antenor e uma tal Griselda, essa duplinha de vigaristas chinfrim querendo se meter comigo? E eu ainda tenho que ser benevolente com aquela faz-tudo? Renê teve pena de todo mundo, menos de mim. Foi procurar aquelazinha, achando que a pobre coitada não tinha culpa de nada e estava sendo tão enganada quanto nós. Mas era só o que me faltava! Renê e eu chegamos a discutir, mas eu me prometi que não ia deixar ninguém se meter no meu casamento.
Quer saber? Em uma coisa eu tenho que concordar com aquela mulher de bigodes: chega de falar de quem não merece!
O bairro carioca da Barra da Tijuca, pouco retratado nas telenovelas brasileiras, reina absoluto como cenário de ‘Fina Estampa’. O lugar concentra todos os núcleos da trama e é o verdadeiro elo entre os personagens. Para dar mais veracidade à trama, o autor Aguinaldo Silva fez questão de utilizar os nomes reais das regiões do bairro.
Griselda (Lília Cabral) e sua família dão vida ao Quebra-Mar, conhecida por ser a primeira área construída da Barra da Tijuca. A antiga vila de pescadores mantém ares de comunidade por suas ruas estreitas e casas humildes. Quase embaixo da Estrada Lagoa-Barra, a residência dos Pereira beira o Canal de Marapendi, garantindo linda vista aos moradores.
Ao lado, o Jardim Oceânico é outra importante locação da obra. Nos seus acolhedores prédios de três andares, moram as famílias de Vilma (Arlete Salles) e de Juan Guilherme (Carlos Casagrande). Mas é na principal rua da área, a Olegário Maciel, que a novela mostra toda sua movimentação. No quarteirão da Igreja São Francisco de Paula, estão o bar “Tupinambar”, do português Guaracy (Paulo Rocha), a oficina “Fashion Moto” e a casa lotérica, onde Griselda (Lília Cabral) aposta diariamente.
Caminhando pela rua, chega-se ao calçadão da praia e ao “Quiosque do Álvaro” (Wolf Maya), próximo ao badalado quiosque do falecido esportista Pepê. Na areia, encontram-se a rede de futevôlei de Ferdinand (Carlos Machado) e o local onde a surfista Nanda (Luma Costa) guarda seu material de kitesurf. Tudo para mostrar o estilo de vida ao ar livre que leva o morador da Barra da Tijuca.
E é também a orla, na Avenida Sernambetiba, o local onde Crô (Marcelo Serrado) exerce uma de suas funções: passear com os cachorros da patroa. Por ali, já aparecem as suntuosas entradas dos condomínios de luxo da Barra da Tijuca. E só do outro lado do Canal de Marapendi é que se pode avistar a Favela da Muzema, na área do Itanhangá.
"Fina Estampa" tem como questão central o valor do caráter e da aparência. Inspirados neste tema, os diretores de arte Hans Donner e Roberto Stein propuseram um jogo de espelhos para a vinheta de abertura.
- Queremos trabalhar realidade versus reflexo - disse Roberto.
Hans Donner conta que o projeto é semelhante ao da novela Brilhante, exibida pela Rede Globo em 1981.
- Na abertura de Brilhante, coloquei um gato e uma mulher em uma sala só de espelhos. O projeto da abertura de Fina Estampa lembra um pouco: aqui usamos espelhos, faixas brancas e uma luz, também branca, forte - revela.
A direção de fotografia é de Affonso Beato. Durante as gravações, Affonso instruiu e estimulou as modelos para a proposta da vinheta.
- Queixo erguido, busto para frente e olhar determinado. Marque presença! Ao mesmo tempo, procure o seu reflexo e encontre-se.
- É um desafio incrível! A câmera que está filmando tem que ficar praticamente invisível. O diferencial desta abertura é que não é tudo reflexo. Há realidades, descobertas e semelhanças - finaliza Hans Donner.
Para o especial, O Planeta TV! capturou imagens da chamada de elenco do folhetim:
Um simples encontro, um esbarrão ou uma carona podem mudar a vida de muita gente e despertar sentimentos até então esquecidos. Parece que Paulo Buarque (Dan Stulbach) pressente algo quando se recusa a compartilhar um taxi aéreo com Danielle Fraser (Renata Sorrah). É sua mulher, Esther Wolkoff (Julia Lemmertz), quem o convence da gentileza.
Em agradecimento, Dra. Danielle Fraser se apresenta: médica especialista em fertilidade dirigida, viúva, sem filhos, completamente dedicada à sua renomada clínica, que cuida de mulheres com dificuldades para engravidar. A caminho de sua casa em Itaipava, Esther mal consegue acreditar que aquela mulher pode realizar seu sonho de ser mãe, uma vontade reprimida por 20 anos, depois que Paulo descobriu ser estéril.
Na época, o problema de Paulo doeu muito nos dois e, diante do sofrimento do marido, Esther (Julia Lemmertz) decidiu não tocar mais no assunto. Afinal, eles já tinham anos de um casamento intenso e se sentiam apaixonados como no primeiro dia em que se viram. Um filho, por melhor que fosse, não faria falta. Eles se bastariam como família. Para conseguir acreditar nisso, os dois mergulharam de cabeça no trabalho e trataram de fazer crescer o negócio do casal.
Ao contrário da irmã Tereza Cristina (Christiane Torloni), Paulo investiu a herança dos pais e, graças a muita cumplicidade e esforço conjunto, transformou, com a esposa, a “Fio Carioca” em uma marca de moda praia internacionalmente conhecida e o escritório na Barra da Tijuca em referência de design e funcionalismo. Os anos de desfiles, tecidos, modelagens e pesquisas consagraram Esther como estilista renomada e Paulo (Dan Stulbach) como poderoso homem de negócios. O sucesso e a fama lhes trouxeram muitos benefícios, mas não passaram uma borracha no difícil episódio pelo qual passaram.
Agora, anos mais tarde, o encontro com Danielle (Renata Sorrah) mexe não só com a curiosidade e esperança de Esther, que passa a visitar a médica periodicamente, mas principalmente com a insegurança de Paulo. O amor pela mulher é tamanho que fica difícil aceitar que outro homem dê a ela, mesmo que por fertilização in vitro, o que ele não foi capaz de dar. Depois de muita reflexão, porém, Paulo aprova o tratamento certo de que Esther não tem condições de engravidar.
Durante todo o processo, Danielle e Esther estreitam laços e Paulo começa a descobrir sentimentos nocivos e a tomar atitudes prejudiciais à relação do casal. Se Esther confidenciou segredos a uma desconhecida, por que ele também não pode envolver uma terceira pessoa no casamento? Será que vale mesmo a pena, depois de anos, tornar o assunto público e derrubar a imagem do casal perfeito?