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Você escolhe o final... Você Decide!

Na década de 90, a televisão entrou na era da interatividade com o telespectador.

Por: Jonathan Pereira - Contato: [email protected]

Na década de 90, a televisão entrou na era da interatividade com o telespectador. Se antes o público participava apenas falando ao vivo por telefone com o apresentador -  algo trazido do rádio e que se perpetua até hoje, como no “Bom Dia e Cia” -,  criou-se um programa no qual ele poderia escolher o final. Assim nascia, 8 de abril de 1992, o “Você Decide”.

A grande novidade foi ao ar uma vez por semana até 2000. As pessoas se mobilizavam com os temas - no início polêmicos  - e iam para as praças assistir em telões instalados pela Globo em diversas cidades. Nos dois primeiros anos, Virgínia Novick e Cristina Prochaska eram as repórteres encarregadas de entrar ao vivo e ouvir algumas dessas opiniões, antes dos intervalos comerciais. A tarefa passou para repórteres do jornalismo até ser extinta, em 1996.

A interação era feita por telefone, gratuitamente, através de números 0800. No estúdio, um apresentador explicava a história e, entre painéis que computavam os telefonemas, incentivava-os a interagir. “Aqui, você escolhe o final. Você Decide”, era a frase repetida por vários que ocuparam o posto.

O primeiro foi Antônio Fagundes, recém-saído da novela “O Dono do Mundo”. Em seguida outros medalhões da emissora como Walmor Chagas, Tony Ramos, Raul Cortez e Lima Duarte estavam presentes, ao vivo.

Durante boa parte desses oito anos havia a opção entre o SIM e o NÃO. Em 1997 foram criados três finais possíveis para cada episódio e um narrador conduzia os acontecimentos. Depois voltou a ter duas opções.

Em 1998 Celso Freitas, que já havia apresentado o “Globo Repórter” e o “Fantástico”, foi deslocado para comandar o “Você Decide” – que no ano seguinte, já fragilizado para encarar a concorrência, passou a ir ao ar às 23h, após o “Zorra Total” por breves meses e, em seguida, após o Linha Direta, que ocupava o horário das 22h.

O programa parecia já estar chegando ao fim pela precariedade dos enredos a serem decididos quando o jornalista foi substituído por Luciano Szafir, dando mais um ano de fôlego para a atração, muito pelos ternos justos que usava. Mas foi apenas uma sobrevida, já que sairia do ar em agosto de 2000, com a desculpa de adequar a grade ao horário político.

Temas como aborto, drogas, violência contra a mulher, adoção, eutanásia e corrupção eram imperdíveis para os telespectadores nos primeiros anos.  Inicialmente a exibição era às quartas depois da novela das 20h – naquele tempo ela terminava 21h35 e não havia transmissão de futebol. Depois passeou pela grade, indo ao ar às quintas, sábados ou terças, conforme o ano.

Os mais antigos afirmam que o “Você Decide” é uma espécie de “filho” do “Caso Especial”, presença constante nos anos 70 na programação e que foi diminuindo de frequência durante a década de 80. O “Caso” também apresentava uma história que se resolvia num dia, mas o final já estava definido.

A cada semana o elenco do programa mudava. Quando os assuntos a serem decididos ficaram mais supérfluos e desinteressantes, experimentou-se fazer alguns com continuidade. Quem chegou mais longe foi “Transas de Família”, com Maria Zilda, José de Abreu e Estelita Bell, em 2000, com 5 episódios. Quase virou série, mas o projeto não foi adiante. No ano seguinte a emissora preferiu apostar no remake de “A Grande Família”.

Um dos pontos positivos foi dar aos atores a chance de fazerem obras curtas e não ficarem meses presos aos mesmos personagens. Além da oportunidade para os “encostados” na Globo numa época em que a Record ainda não contratava como hoje, permitia também que alguns cantores protagonizassem histórias, como Netinho de Paula.

Sucesso, o formato foi vendido para mais de 60 países de todo o mundo. Na onda da interatividade, foi criada em 1996 a sessão “Intercine”, na qual era possível escolher, também por telefone, que filme assistir, entre duas opções. No ar inicialmente às 22h30, foi sendo jogada para cada vez mais tarde – depois do “Jornal da Globo” e, em sua última fase, após o “Programa do Jô”, por volta das 2h, até ser extinta em 2011.

Menos de 11 meses depois de sair do ar, a Globo surpreendeu reprisando o “Você Decide” no lugar das novelas do “Vale a Pena Ver de Novo”, em julho de 2001. Desta vez a apresentação ficou por conta de Susana Werner e os telespectadores podiam opinar pela internet.

A audiência, que já não era boa com a reprise de “Roque Santeiro”, despencou, o que fez com que apenas 15 episódios fossem levados novamente ao ar, cujos finais escolhidos foram os mesmos da primeira vez. “A Gata Comeu” foi escalada para a primeira re-reprise da sessão, cumprindo a missão de recuperar o Ibope e cativando um público que não pôde assisti-la em 1985 e 1989. O fracasso fez a emissora abandonar a ideia de revezar novelas com outros formatos na sessão vespertina.

Como tudo vai e volta na TV – vide as “Pegadinhas” e “Testes de Fidelidade” - é impossível dizer se, repaginado para se adequar às novas tecnologias, esse formato vingaria novamente, já que cada vez menos as pessoas param em frente ao aparelho para ver uma atração em um horário determinado.  A longo prazo, quando o politicamente correto dar uma trégua para que assuntos polêmicos sejam tratados, quem sabe...


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