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Perigosas Peruas: A evolução feminina no horário das 19h completa 25 anos

Trama apresentava uma disputa entre duas amigas de infância pelo mesmo homem e pelo amor de uma filha.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

01 de janeiro de 1958. Nesse dia nascem Cidinha (Vera Fischer) e Leda (Sílvia Pfeifer), no mesmo hospital e praticamente na mesma hora. A situação peculiar faz com que as duas cresçam juntas e se tornem melhores amigas. As duas chegam a escolher a mesma profissão: jornalismo.

A amizade entre as grandes amigas começa a ruir quando ambas conhecem o charmoso Belo (Mário Gomes) e se envolvem com ele, sem que uma saiba do envolvimento da outra. A amizade se desfaz quando uma descobre o envolvimento da outra com Belo e exigem que ele escolha uma. O galã acaba com escolher Cidinha, que estava grávida dele.

A situação se complica quando Leda revela estar grávida de Belo e acaba tendo a criança no mesmo dia que Cidinha e no mesmo hospital. Para piorar, a filha de Cidinha nasce morta e Belo troca a criança pela filha de Leda. A partir disso, a vida de Cidinha e Leda tomam um novo rumo.

Foto: Divulgação/Globo

1992: Cidinha é uma dona de casa atrapalhada que se esforça para fazer o melhor para sua família, mas nem sempre consegue. Ela tem três filhos com Belo, inclusive Tuca (Natália Lage), a filha de Leda. É uma mulher que praticamente se anulou para ser esposa e mãe, sem vontade de própria. Por outro lado, Leda se tornou uma jornalista renomada no exterior, que não pensa em casar ou ter filhos, já que sofreu um grande trauma quando supostamente perdeu a filha.

Leda se tornou uma mulher sofisticada, culta e com o trabalho reconhecido, mas que sente falta de viver um amor de verdade. No fundo, Cidinha e Leda sentem um pouco de inveja da vida que a ex- amiga leva e gostariam que tudo fosse um pouco diferente.

De volta ao Brasil, Leda vai investigar crimes envolvendo a família Torremolinos, que vive de contrabando. O que ela não sabe é que Belo, seu grande amor do passado leva uma vida dupla e trabalha para Dom Franco (Cassiano Gabus Mendes), que o ajudou no passado com a troca das crianças.

Dom Franco é o patriarca da família Torremolinos e vive fazendo estripulias em sua cadeira de rodas. Tem dois filhos: Cervantes (John Hebert) que não tem aptidão para controlar os negócios da família e Hector (Guilherme Karan), que faz de tudo para tomar o poder. Entre o núcleo da família está Jaú (Alexandre Frota), policial disfarçado que tenta conseguir informações a respeito dos esquemas da família, mas que se vê envolvido com a filha de Cervantes: Manuela (Cláudia Lira) e com Leda.

Com o passar dos capítulos, a verdade a respeito da verdadeira mãe de Tuca vem a tona e os papéis se invertem, com Leda aprendendo a lidar com problemas domésticos e Cidinha tenta recuperar sua carreira. Separada de Belo, Cidinha se envolve com Paulinho Pamonha (Tato Gabus), um policial desacreditado que sofre nas mãos da esposa Caroline (Françoise Forton), uma mulher ambiciosa disposta a tudo para subir na vida.

Caroline é irmã de Téia (Bianca Byington), uma mulher metida e dominadora que vive batendo no marido Téio (Rômulo Arantes), que é um policial fortão que se faz de machão no trabalho, mas que em casa é submisso a esposa.

No último capítulo da trama, após engravidar Cidinha e Leda, Belo acaba ficando com Cidinha enquanto que Leda fica com um homem que é a cara de Belo. A sequência final da trama é entre Cidinha e Leda onde elas comentam as dificuldades de ser mãe, profissional e esposa em um mundo que exige tudo isso delas.

Perigosas Peruas foi uma novela ao estilo de Carlos Lombardi: repleta de cenas de ação e humor. Na ocasião, o autor alegou que o mote central surgiu da vontade de falar sobre as dificuldades das mulheres que tem que se desdobrar para ser boa mãe, boa esposa e boa profissional no mercado de trabalho. Em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, Lombardi conta como surgiu a ideia para trama: “ A novela nasceu durante um jogo de tranca da minha mulher com as amigas, na minha casa. Num sábado a tarde, várias amigas da minha mulher apareceram, e elas tinham muita coisa para conversar… Elas não tinham concentração nenhuma no jogo, porque uma ficava falando com a outra. E eu fui ouvindo… Percebi que havia me casado com uma mulher pertencente a uma geração - talvez a primeira - criada para cumprir dois papéis: o de mulher com bom desempenho profissional e o de esposa e mãe dedicada”.

Assim como já havia feito com Tony Ramos em Bebê a Bordo, onde deu ao ator a chance de fazer algo novo, Carlos Lombardi ofereceu a Vera Fisher a chance de viver um personagem bem diferente dos já feitos por ela: uma dona de casa atrapalhada: “Lembro que em determinado momento nós tínhamos três opções completamente dispares. Acabou prevalecendo a opção do meio e Cidinha e Leda foram interpretadas por Vera Fischer e Sílvia Pfeifer… Se não me engano, uma das outras duplas era Regina Duarte e Marieta Severo. Não dava para ser Regina e Vera ou Marieta e Sílvia. Adorei trabalhar com a Vera e a partir dali, sempre fiz questão de escalar um ator estrela, com carreira sólida e tentar proporcionar a ele a chance de fazer algo diferente”.

Destaque para as interpretações de Tato Gabus, Natália Lage, Nair Bello (que vive chamando Bello de “sor da minha praia”), Bianca Byington, Rômulo Arantes, Beth Goulart, Guilherme Karan, Silvia Pfeifer, Mario Lago e Vera Fischer, que defendeu muito bem sua personagem. Destaque para a cena do striptease de Cidinha.

Apesar de creditado na abertura como responsável pela supervisão de Perigosas Peruas, Lauro César Muniz pouco colaborou com a trama, já que teve que se ausentar por problemas pessoais. O autor Cassiano Gabus Mendes também participou da novela como Dom Franco Torremolinos, o chefe do clã, que foi livremente inspirado no filme O Poderoso Chefão, de Francis Ford Copola. Na trama, o personagem de Cassiano morria após um ataque de risos. Fabiana Scaranzi, que anos depois viria a se tornar apresentadora, trabalhou na trama como atriz. Ela dava vida à policial Joana.

Foto: Divulgação/Globo

A figurinista da trama, Sônia Soares exagerou nas cores para criar as roupas que ambientavam os anos 70, onde Leda e Cidinha conhecem Belo. Para realçar a sofisticação de Leda, a figurinista pediu ao joalheiro Antônio Bernardo que criasse peças para a personagem. Já para a personagem Cidinha, Sônia usou muitas roupas estampadas e coloridas. Os óculos de armação colorida ajudavam a caracterizar a personagem e tornaram sua marca registrada.

Houve mudanças na sinopse original: a tentativa de suicídio de Tuca (Natália Lage), que foi cortada pela direção da emissora e a morte de Belo, que acabou não acontecendo, devido à popularidade do personagem.

Para a abertura de 70 segundos foram utilizadas mais de 400 ilustrações, que foram feitas por Miguel Paiva.

Perigosas Peruas foi cotada para substituir Mico Preto, mas a trama foi adiada e só foi ao ar após Vamp.

Ao ser questionado sobre sua avaliação final sobre Perigosas Peruas, Carlos Lombardi respondeu: “Uma novela que foi bem, apesar de termos encarado um problema na época de estreia. O Povo Na TV estava estourando no SBT. Foi uma das primeiras vezes que vimos como era difícil concorrer com esse tipo de programa apelativo, que explora o crime, a tragédia e outras coisas inacreditáveis. Mas a direção da Globo foi calma o suficiente para lidar com isso e no segundo mês de exibição, a novela pegou. O público entendeu muito bem a minha tese”.

A novela teve duas trilhas sonoras, as habituais nacional e internacional, que eram estampadas por Jaú (Alexandre Frota) e Belo (Mario Gomes). A música de abertura foi composta por Boni (então vice-presidente da Rede Globo), Nelson Motta, Renato Ladeira, Roberto Lly e Julinho Teixeira. A música foi interpretada pelas Frenéticas. Além disso, o álbum nacional contou com grandes sucessos daquele ano, entre eles Eu Te Amo, na voz de Zezé Di Camargo e Luciano.

A trilha nacional contou com as seguintes músicas: Perigosas Peruas/ Frenéticas, Eu Não Sei Dançar/ Marina, Sábado/ Os Paralamas do Sucesso, Será/ Simone, Tô Indo Embora/ Sandra de Sá, Coisas da Paixão/ Emílio Santiago, Torremolinos/ Nova Era, Eu Te Amo/ Zezé Di Camargo e Luciano, Situação Magica/Instrumental, Fêmea/ Fábio Jr., Glória/ Sílvia Patrícia, Sentado a Beira do Caminho/ Erasmo Carlos, Profissional da Noite/ Rômulo Arantes, Baila Baila Manuela/ Espirito Cigano, Saga/Nova Era, Esse Mundo/Vange Leonel e Ritmo Quente/ Instrumental.

Com músicas selecionadas por Sérgio Motta, a trilha sonora internacional de Perigosas Peruas contou com as seguintes músicas: All Together Now/ The Farm, Spending My Time/ Roxette, I’m Too Sexy/ Right Said Fred, Senza Una Donna/ Zucchero featuring Paul Young, Change / Lisa Stansfield, I Just Wanna Have You/ Megabeat, Give It Away/ Red Hot Chilli Peppers, Milonga/Júlio Iglesias, Slipping Away/ Information Society, Get Ready For This/ 2 Unlimited, Tears In Heaven/ Eric Clapton, Hold On My Heart/ Genesis, Just You And Me/ Gary Thorts e Innocence/ Deborah Blando.

Perigosas Peruas teve 172 capítulos exibidos originalmente entre 10/02 e 29/08/1992. Foi escrita por Carlos Lombardi com colaboração de Maurício Arruda. A trama foi dirigida por Jodele Larcher, Flávio Colatrello e Roberto Talma. Divertida e ágil, Perigosas Peruas apresenta uma visão bem humorada do papel da mulher na sociedade, que não mudou muito nesses 25 anos. Vale muito pela trama, pelo debate sobre a mulher e principalmente pelo humor de Carlos Lombardi, tão em falta em nossa TV. Rir sobre algo importante não é desmerecimento e sim uma maneira inteligente de apresentar um tema e em Perigosas Peruas isso é feito com maestria. Esperamos por uma reexibição.


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