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UGA UGA: A novela que não está no gibi

Repleta de emoção, a trama cativou o público pelo seu texto ágil, bom humor e muita ação.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

No dia 08 de maio de 2000 ia ao ar o primeiro capítulo da divertida e romântica Uga Uga, trama de Carlos Lombardi que tinha como mote central a história de homens a voltas com suas origens. De um lado o jovem Tatuapu criado desde pequeno por índios após eles terem dizimado sua família. Do outro lado está o sargento Baldochi (Humberto Martins) que após se envolver com criminosos é obrigado a forjar a própria morte.

Tatuapu é neto de Nikos Karabastos (Lima Duarte), dono da fábrica de brinquedos Tróia e que tenta reencontrar o neto a todo custo. Nikos tem como fiel escudeiro Anisio (Tato Gabus), uma espécie de mordomo. Mas a busca de Nikos vai contra a vontade de sua cunhada Santa (Vera holtz) que faz de tudo para que não encontre o índio desaparecido. Santa sempre tem ao seu lado o filho Rolando (Heitor Martinez) que fazem de tudo para que Nikos morra e assim se tornem herdeiros.

Longe do avó, Tatuapu, que na verdade se chama Adriano, foi criado por Pajé (Roberto Bonfim) e com ele mora em uma aldeia que fica escondida de todos. O caminho de Tatuapu logo cruza com o de Baldochi que finge ser o simplório professor Bento após ter forjado a própria morte para impedir que Turco (Luiz Guilherme) fizesse mal a sua família.

Humberto Martins em cena da novela. Foto: Divulgação

Baldochi simulou a morte no dia de seu casamento com Maria João (Vivianne Pasmanter), uma moça que endureceu e que ganha a vida como mecânica. A jovem adora os livros de Luana Love, que na verdade são escritos por Baldochi enquanto ele vive escondido. Após a morte de seu amado, Maria João endureceu e se veste como homem, mas nem por isso deixa de despertar a paixão do feirante Beterraba (Marcelo Novaes).

No mesmo bairro de Maria João, mora Pierina (Nair Bello), mãe de Baldochi, uma senhora ranzinza que trata o filho Casemiro, vulgo Van Damme (Marcos Pasquim) como uma criança de 7 anos, o impedindo de realizar seus sonhos entre eles o de ser salva vidas.

Quando as vidas de Tatuapu e Baldochi se cruzam, os dois se tornam grandes amigos e acabam entrando na mira de perigosos bandidos. Os dois chegam a se esconder na aldeia, mas ao descobrir que o amigo é procurado por seu avô, o amado de Maria João resolve levá-lo para o Rio de Janeiro.

Na civilização, Tatuapu é vítima constante das armações de Santa e Rolando, que tentam se livrar dele, mas o índio loiro sempre sai ileso. O neto de Nikos que sempre fora visto como feio na tribo por ser diferente deles, ao chegar na cidade acaba despertando a atenção das mulheres, entre elas a ingênua Tatiana (Danielle Winits), mas não dá certo, pois ela se envolve com Van Damme.

Tatuapu ainda se apaixona pela rebelde Biona (Mariana Ximenes), prima de Tatiana, que tem o péssimo hábito de deixar os noivos plantados no altar, mas é com Gui (Nivea Stellman) que ele decide construir uma vida. Já Santa e Rolando terminam a trama como muambeiros.

De volta a sua cidade natal, Baldochi observa a família e se reaproxima deles. Aos poucos ele revela toda a verdade e passa por todo tipo de percalço para estar com aqueles que ama. O amado de Maria João consegue se livrar de seus perseguidores e tenta reconstruir sua vida.

No dia de seu casamento com Baldochi, Maria João leva um tiro de Turco e vai parar no hospital. O vilão ainda faz de tudo para pegar o irmão do sargento, mas não consegue. Os dois se enfrentam, mas Turco acaba morrendo e a polícia chega bem na hora acreditando que Baldochi o matou. Desesperado, o filho de Pierina foge, sofre um acidente e é dado como morto. Nas cenas finais, Baldochi reaparece e explica o que houve. A trama termina com uma bela cena apaixonada entre os dois, se banhando numa cachoeira.

O mote central da trama, a do índio, surgiu quando o autor leu em um jornal a notícia de que um posseiro havia se envolvido em uma disputa de terras com uma tribo de índios. O conflito resumou em uma ataque que acabou com sua família. O homem conseguiu salvar os dois filhos mais velhos, mas o menor foi levado com os índios. Na ocasião, ele pedia ajuda as autoridades para encontrar o filho que havia sido visto. Clássicos da literatura como O Livro das Selvas de Rudyard Kipling e Tarzan, O Filho das Selvas de Edgar Rice Burroughs também serviram como referências.

Carlos Lombardi desde o início queria que Tatuapu fosse loiro, para distingui-lo de um índio real. Para não ligar o personagem a nenhuma tribo de índios brasileiros, o autor resolveu criar uma língua imaginária própria baseada no som do idioma falado no Taiti. Ao ser escolhido para dar vida ao personagem Tatuapu, Claúdio Heinrich passou uma semana convivendo com índios da tribo Uailapiti, no Xingu. Em cena, o ator usava somente uma tanga e tinha o corpo coberto de urucum.

A trama teve imagens gravadas nas cidades de Angra dos Reis, Ferreiros, Lumiar, Miguel Pereira e Xerém, além do Rio de Janeiro nos bairros de Joá, Copacabana e Santa Teresa, que chegou a ter um trecho reproduzido na cidade cenográfica no Projac. A aldeia indígena da trama era na mesma cidade cenográfica da minissérie A Muralha, exibida no inicio do ano 2000. Destaque para criação da gruta subterrânea que dava acesso à aldeia de Tatuapu, tudo sob a tutela de Mario Monteiro.

Marília Carneiro, figurinista da trama, se inspirou na própria filha que retornava da Bahia para criar o figurino de Bionda, que usava muito tererê, brincos e colares. O tererê poderia ser usado na cabeça, braço, pescoço, se tornando um acessório que ditou moda. Calças de cintura baixa, cintos dos anos 1970 muito brilho durante o dia também compunha a maioria dos figurinos das personagens.

A produção trama pesquisou durante três meses e visitou as tribos do Xingu para obter o máximo possível sobre o tema, que deram inspiração na hora de criar a tribo fictícia. A equipe ainda também foi responsável por encontrar animais como jacaré e araras que faziam parte da tribo. A maior dificuldade encontrada pela equipe foi produzir o casamento de Bionda no início da trama em Angra dos Reis, já que o local estava abandonado e eles tiveram que decorar todo o ambiente. A equipe de efeitos especiais trabalhou em ritmo frenético devido a enorme quantidade de cenas de que necessitavam de auxílio dos efeitos. Nas primeiras semanas foram aproximadamente 150 situações.

Criado pelo artista plástico Gustavo Garnier, assistente de Hans Donner, a abertura de Uga Uga simulava uma revista em quadrinhos, que fundia imagens e ilustrações. Os desenhos foram feitos a mão com cores fortes e a movimentação foi registrado por uma câmera virtual. Em seguida, as imagens eram transferidas para o computador, onde eram inseridos os créditos. Antes de cada inserção comercial, a imagem era congelada e ganhava uma ilustração. A abertura lembrava a de outra trama: Sem Lenço Sem Documento, só que em vez de quadrinhos as imagens eram de uma fotonovela.

Apesar de seu sucesso, Uga Uga foi alvo de reclamações a respeito de torsos nus, apelo sexual e violência. A Rede Globo chegou a ser advertida pelo Ministério da Justiça sobre o excesso de cenas violentas e capítulos tiveram que ser reeditados. Assim como Laços de Família, exibida as 21h que enfrentou problemas relacionados a participação de atores mirins, Uga Uga também passou pelo mesmo percalço, mas sem grandes modificações em sua trama. Na ocasião da exibição da trama, a
Comissão da Conferência e Marcha dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil enviou uma carta-protesto à Comissão dos Direitos Humanos criticando como a cultura indígena era apresentada na trama.

Humberto Martins e Marcos Pasquim. Foto: Divulgação/Globo

Destaque para a interpretação de Vivianne Pasmanter (Maria João), Cláudio Heinrich (Tatuapú), Vera Holtz (Santa), Betty Lago (Brigitte/Alice), Tato Gabus (Anisio), Mariana Ximenes (Bionda), Nair Bello (Pierina) e Lima Duarte (Nikos), que não fazia comédia há algum tempo. Devido ao sucesso da trama foram lançados os bonecos de Bionda e Tatuapú.

A trama contou com duas trilhas sonoras, as tradicionais Nacional e Internacional, sendo que a nacional era estampada com um trecho da abertura da novela e a internacional pelo índio Tatuapú (Cláudio Heinrich). O álbum nacional continha as seguintes músicas: Vira Lata De Raça/ Ney Matogrosso, Metamorfose Ambulante/ Primo Johnny, Kotahitanga (Union)/ Hinewehi Mohi, Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim/ Ivete Sangalo, Aquela/ Raimundos, Fogueira/ Sandra de Sá, Tô Sem Grana/ Elétrika, Vem/ Patrícia Coelho, Deixa O Amor Acontecer/ Roupa Nova, Não Tô Entendendo/ P.O. Box, Uma Antiga Manhã/ Marina Lima, Feelings / Morris Albert, Killing Me Softly/ Milton Nascimento, Minha Timidez/ Fat Family e Amar, Amar/ João Bosco.

A trilha internacional com 16 músicas tinha as seguintes faixas: I Turn To You/ Christina Aguillera,You Sang To Me/ Marc Anthony, Hold Me Tight/ Michael Allen, Kayomani/ Kundalini Rising,I Try/ Macy Gray, Back At One/ Brian McKnight, Loven' You/ Fernanda, Are You Still Having Fun?/ Eagle-Eye Cherry, Northern Star/ Melanie C, Thank You For Loving Me/ Bon Jovi, I’ll Be Holding On/ Roméo, Breatheless/ The Corrs, I Wanna Be With You/ Mandy Moore, Back For Good/ Giselle Haller, Where Are You/ Bosson e Anithuing You Want/ Bengaloo.

Uga Uga foi vendida para inúmeros países, tendo grande aceitação principalmente na América Latina, em Portugal e nos Estados Unidos, onde foi veiculado pela Telemundo, se tornando um sucesso entre o público hispânico. Cláudio Heinrich, Humberto Martins e Vivianne Pasmanter participaram de ações promocionais em Nova York, Miami e Los Angeles, divulgando a trama.

Exibida de 08/05/2000 até 19/01/2001 em 221 capítulos as 19h, Uga Uga foi uma novela de Carlos Lombardi com colaboração de Margareth Boury e Tiago Santiago. A direção ficou a cargo de João Camargo, Ary Coslov, Alexandre Avancini e Wolf Maya

Ágil e bem-humorada, Uga Uga é uma das melhores novelas de Carlos Lombardi, com tramas bem construídas e divertidas, o que acabou revitalizando o horário das 19h dos anos 2000, que até então estava carente de boas histórias. Merece ser vista, lembrada, pois rir sempre é o melhor remédio.  


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