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Novela Barriga de Aluguel completa 25 anos

Trama escrita por Glória Perez conquistou o Brasil.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Em 20 de agosto de 1990 ia ao ar as 18 h pela Rede Globo de Televisão, o primeiro capítulo de Barriga de Aluguel, trama de duas mães envoltas em dilemas morais, científicos e éticos em relação a uma criança. A trama começa quando a bem-sucedida jogadora de vôlei Ana (Cassia Kis Magro) e seu marido Zeca (Victor Fasano), que vivem aparentemente um casamento perfeito, resolvem ter um filho, o que não é possível, já que Ana é incapaz de reter o feto.

Paralelo a isso, Clara (Cláudia Abreu) é uma moça pobre que trabalha de dia como balconista e a noite como dançarina no Copacabana Café. Ela se apaixona por Tadeu (Jairo Mattos), um médico com poucos recursos que acaba contando a ela sobre “barriga de aluguel”, onde alguém empresta sua barriga para uma gestação, em troca de uma quantia em dinheiro (o que era possível na época). Disposta a conseguir uma pequena fortuna e mudar de vida, Clara resolve “alugar” sua barriga e é nesse instante que sua vida se cruza com a de Ana e Zeca.

Clara resolve encarar sua gestação como um negócio e esconde de todos o que fez. Enquanto a dançarina do Copacabana Café vê sua gestação evoluir, mas tendo que lutar contra seus sentimentos maternos, já que não é um filho seu e terá que entregar a criança assim que ela nasça; Ana se sente frustrada pois não sente as mudanças que uma gravidez causa em uma mulher. Criando um paralelo entre o que é ser mãe e seu turbilhão de emoções.

A gestação de Clara também cria conflitos no hospital onde é feito a inseminação. Dr. Álvaro Baroni (Adriano Reys), um médico inescrupuloso é quem cuida da gestação de Clara, sob o olhar atento de Miss Brown (Beatriz Segall), uma cientista a frente do seu tempo, que fica maravilhada com a inseminação artificial, sem pensar no lado comercial e financeiro, como faz Baroni. Miss Brown e Baroni vivem entrando em conflito com Dr. Molina (Mario Lago), um médico solitário que é contra a inseminação e que pensa seriamente nas melhorias que poderia fazer pela saúde pública. Com esse núcleo, a autora debateu o descaso com a saúde no Brasil.

A trama sofre uma reviravolta quando o segredo de Clara é revelado: A jovem é expulsa de casa por seu pai Ezequiel (Leonardo Villar), um religioso fanático que mora com Raquel (Sura Berditchevsky), uma filha que se dedica somente a ele, esquecendo de viver a própria vida. Raquel é como uma mãe para Clara. Sem ter onde morar, a jovem vai morar com Yara (Lady Francisco), uma ex – prostituta, que tem medo de envelhecer. Como se não bastasse isso, a jovem termina seu namoro com o caminhoneiro João (Humberto Martins), um caminhoneiro rude, eternamente apaixonado por ela. Com isso, o caminhoneiro se casa com Ritinha (Denise Fraga), melhor amiga de Clara e apaixonada por João, mas os dois são infelizes. No fim, Ritinha se encanta por outro caminhoneiro, Jonas (Victor Branco), e os dois terminam felizes.

Apesar de casado, João não deixa de estar sempre presente para ajudar Clara, que está cada vez mais envolvida com a gestação e disposta a não entregar a criança. Como se não bastasse isso, Zeca se aproxima de Clara e se vê dividido entre ela e Ana.

Com o nascimento da criança, Ana e Clara começam a disputar o menino e levando a questão até o público: Quem é a mãe da criança? O óvulo ou o útero? Ana ou Clara? O ponto alto da trama foi quando Clara foge com o menino e ajuda de João. Mesmo assim, a amiga de Yara é obrigada a retornar e lutar pela guarda da criança na justiça. A luta pela guarda da criança é decidido em três instâncias: Na primeira, Clara fica com a criança, mas Ana recorre e fica com a guarda do menino. Antes da terceira audiência, Ana e Clara se encontram na praia e chegam a conclusão de que terão que arrumar uma solução além de qualquer decisão judicial. As duas caminham de mãos dadas com o menino em uma cena emocionante, sobre o FIM.

Entre as tramas paralelas estava a de Baroni, que é casado com Aída (Reneé de Vielmond), mas mantêm um caso com Luísa (Nicole Puzzi). Ele ama as duas, mas Luísa espera que ele a assuma. Já Aída ao descobrir o caso de Baroni com Luísa, dá um jeito de separar os dois. Dona de um controle emocional muito grande, Aída ainda tem que lidar com as investidas de Tadeu, namorado de sua filha Laura (Teresa Seiblitz).

Aída bem que tenta controlar seu envolvimento com Tadeu, mas acaba grávida dele depois que ele rompe com Laura. Nesse ínterim, Luísa descobre tudo sobre Tadeu e Aída e revela toda a verdade. Desmoralizada, ainda ganha o ódio de Laura, que faz tudo para se vingar da mãe, inclusive tirando seu dinheiro.

Para se vingar de Luísa que a desmascarou, Aída atropela a rival, tenta suicídio ao bater o carro contra um poste, o que a faz perder o bebê. Na reta final, Laura e Aída fazem as pazes. Já Luísa tenta matar Baroni quando descobre que ele tem outras amantes e acaba presa.

A história de Barriga de Aluguel, havia surgido em 1985, quando a autora Glória Perez havia lido um artigo científico sobre o tema. A autora chegou a ir a São Paulo acompanhar o processo de inseminação artificial, onde conheceu o processo todo. De volta ao Rio de Janeiro, Glória escreveu a sinopse, mas não foi aprovada. A autora viria a escrever novela 5 anos depois, após uma breve passagem pela TV Manchete, onde escreveu Carmen.

Sob o olhar do cenógrafo Luiz Antonio Caligiuri foram criados 82 ambientes, além ser erguido no bairro de Guaratiba, o bairro cenográfico da trama.

Destaque para as interpretações de Mario Lago, Beatriz Segal, Lady Francisco, Leonardo Villar, Cassia Kis Magro e Victor Fasano. Destaque também para Eri Johnson e seu Lulu com seu celebre bordão: Fui.

Quem roubou a cena mesmo foi Humberto Martins e Cláudia Abreu por sua heroína Clara, consagrando a atriz.

Para saber a opinião do público, Glória Perez colocou uma atriz indo as ruas se passando por uma repórter, para saber quem era a mãe da criança. Com isso a autora conseguia saber por quem era a torcida e assim fazia a cada semana o público torcer por uma das mães. Apesar disso, a torcida maior era por Clara, dado a cultura de que mãe é quem carrega o bebê no ventre.

Barriga de Aluguel debateu os limites da ciência através de Clara e Ana, a saúde pública com Molina e a questão dos dançarinos no Brasil, através dos personagens do Copacabana Café. A atriz Marilu Bueno voltava como Sulamita, seu personagem da novela Partido Alto. Os personagens Dr. Molina e Miss Brown de Barriga de Aluguel voltariam ao ar em O Clone, em uma discussão sobre clonagem humana.

A abertura da novela criada por Hans Donner reproduzia um parto e tinha como tema a música Aguenta Coração interpretada por José Augusto. A trilha sonora nacional e internacional foram estampadas por Cassia Kis Magro e Cláudia Abreu, que davam vidas as mães Ana e Clara. O álbum nacional tinha as seguintes músicas: Aguenta Coração/José Augusto, O Amor não é um filme (Jezebel)/Dalto, Nuvem de Lágrimas/ Fafá de Belém e Chitãozinho e Xororó, Vida Real (Dejame ir)/ Djavan, Feira de Acari/ M.C Batata, Machuca e Faz Feliz (Song For You Far Away)/Biafra, Copacabana/A Caverna, Joguei Tudo Com Você/ Adriana, Eu Acredito/Gal Costa, Sobre o Tempo/ Nenhum de Nós, Horas Perdidas (Three Coins In The Fountain)/Rosemary, Sonho Encantado/ Yahoo, Ssell/Julinho Teixeira e Samba Point/A Caverna.

A trilha internacional com atriz Cláudia Abreu na capa tinha os sucessos: Cinema/ Ice MC, I'll Never Fall In Love Again/ Deacon Blue, Get A Life/ Soul ll Soul, Love Don1t Live Here Anymore/ Double Trouble, Now That You're Gone/ In Dex, Sweet Love/ Leo Robinson, Rock And Roll Is Back Again In Town/ Johnny Jo &The Rockers, Heart Like A Wheel / The Human League, I Don1t Know Anybody Else/ Black Box, If Wishes Come True/ Sweet Sensation, Sense Of Purpose/ Pretenders, Begin The Beguine/Dionne Warwick, Lonely Is The Night/Air Supply e My Brother, My Friend/Eddy Benedict.

Barriga de Aluguel inicialmente teria 189 capítulos, mas foi esticada em mais 54 capítulos devido ao atraso na produção de Salomé, a substituta do horário. A trama já foi vendida para mais de 30 países e ganhou duas reprises: entre julho e novembro de 1993 no Vale a Pena Ver De Novo e entre dezembro de 2011 e novembro de 2012 no Canal Viva.

Escrita por Glória Perez com colaboração de Leila Miccolis, com direção de Wolf Maya, Ignácio Coqueiro e Sílvio Francisco, direção executiva de Ruy Matos e supervisão de Daniel Filho, Barriga de Aluguel foi ao ar de 20/08/1990 a 01/06/1991 as 18h em 243 capítulos. Bem escrita, a trama é saudosa e ousada para a época por debater um assunto tão delicado e por ter um final em aberto. Criativa e com ingredientes de um bom folhetim, Barriga de Aluguel chega aos 25 anos deixando saudades e merecendo um lançamento em DVD pela Globo Marcas. É emoção garantida.


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