Trama escrita por Teixeira Filho é uma das melhores tramas das 18h.
Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]
Baseado no romance homônimo de Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra é ambientada na cidade de São Paulo na década de 1940, mais precisamente no ano de 1947, e conta a história de Laura (Eva Wilma), uma mulher arrojada, a frente de seu tempo, fortemente ligada a pintura e a música, mas que encontra em seu marido, o milionário e autoritário Natércio Prado (Adriano Reys), seu maior algoz. No passado, Natércio havia prometido a Laura, que poderia continuar se dedicando as artes depois de casada, mas depois da união, ele a quer só para si e cuidando de afazeres domésticos.
Laura teve três filhas: Otávia (Priscila Camargo), uma jovem que tem os mesmos interesses que a mãe e que por ter presenciado muitas brigas entre os pais não acredita em casamento; Bruna (Silvia Salgado) que tem o maior respeito pelo pai e que o defende de todas as formas possíveis e Virgínia (Lucélia Santos), uma jovem meiga porem determinada.
Devido à crise em seu casamento com Natércio, Laura acaba por sofrer um trauma e seu marido acaba por interná-la em um manicômio estadual. Ao saber disso, Daniel (Armando Bogus), seu médico que acredita que a doença de Laura seja física e não mental, a tira da instituição e a leva para morar com ele. No passado, o médico havia cuidado da mãe de Otávia e se apaixonado por ela. O que Daniel não sabe é que é o pai de Virgínia, enquanto que Natércio desconfia disso e trata a caçula com desprezo.
Ao saber que Laura está internada em um manicômio, Daniel a tira de lá e a leva para morar em sua humilde residência na Vila Mariana. Com isso, Laura se separa de Natércio e a família fica dividida, já que Bruna e Otávia ficam com o pai e Virgínia com a mãe.
Na Vila Mariana, Virgínia conhece seu vizinho Eduardo (Marcelo Picchi), que se apaixona por ela. O rapaz também desperta o interesse de Margarida (Alzira de Andrade), uma professora primária que é melhor amiga de Virgínia e que sempre a apoia.
Apesar de dar uma vida modesta a filha e querer que ela usufrua os mesmos privilégios das irmãs, Laura sofre quando é obrigada a deixar que Virgínia volte a morar junto com Natércio, após mais um golpe do vilão.
Na mansão, Virgínia enfrenta a distância de Natércio, o desprezo de Bruna e o ódio da governanta Frau Herta (Norma Blum), uma mulher intransigente e autoritária que tem verdadeira devoção pelo patrão e que faz de tudo para infernizar a vida da jovem.
Virgínia também volta a se envolver com Luís Carlos (Roberto Pirillo), seu antigo namorado de infância. Luís Carlos é filho do conservador Cicero Cassini (Castro Blota), um novo rico que não é bem visto pela sociedade e que é sócio de Natércio.
Cicero é casado com Celina, que é mais conhecida por Lili (Ana Lucia Torre), e além de Luis Carlos, ainda é pai de Leticia (Monica Torres), uma jovem que não se liga a nenhum rapaz, com pensamentos e ideais a frente de seu tempo e que se dedica a natação. Entre idas e vindas, a trama termina como o título sugere, com crianças brincando de roda.
Depois de inúmeros sucessos na TV Tupi e TV Excelsior, onde escreveu O Direito de Nascer, Ídolo de Pano, A Pequena Órfã, entre outros, Teixeira Filho estreava na Rede Globo adaptando o livro homônimo de Lygia Fagundes Telles para a TV.
Ciranda de Pedra é considerada uma das melhores adaptações para as 18h. O autor conseguiu discutir temas difíceis para o horário devido a Censura vigente. Entre eles adultério, separação e homossexualidade feminina (mesmo que de maneira sutil).
Os anos de 1940, dificilmente retratados em obras para a TV, contou com um texto primoroso de Teixeira Filha e com um trabalho de pesquisa feita por Ana Maria Magalhães e Glória Perez. Com isso, a produção da trama pode reconstituir com riqueza de detalhes a década na cidade de São Paulo. A reconstituição é considerada uma das melhores até hoje.
A cenografia de Ciranda de Pedra ficou a cargo de Mario Monteiro e Leila Moreira, que reproduziram com exatidão a São Paulo de 1947. As gravações em externas foram realizadas na cidade de Petrópolis e no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Nesses locais eram gravadas as cenas do jardim de Natércio Prado e da Vila Mariana.
A figurinista Maria Lúcia Areal desenvolveu as vestimentas dos personagens mostrando um ar neo –romântico do pós-guerra, onde vestidos mais justos e redes nos penteados faziam parte do guarda roupa dos personagens.
Destaque para a interpretação de Lucélia Santos por sua meiga Virgínia, para Adriano Reys em um personagem aparentemente feito para ele e para Armando Bogus e seu romântico Dr. Daniel. Apesar de um elenco afiado, quem roubou a cena mesmo foi Eva Wilma e sua sensível Laura, a atriz imprimiu um ar de candura a personagem. Outra que também brilhou em Ciranda de Pedra foi Norma Blum ao dar vida a autoritária Frau Herta.
Lúcelia Santos foi chamada para interpretar Virgínia, na mesma época em que gravava o filme Luz Del Fuego, de David Naves. Na ocasião, a atriz disse que sofreu para criar as duas personagens, já que uma tinha uma vida repleta de escândalos e a outra era mais recatada e meiga. A atriz recebeu inúmeros elogios de público e crítica.
Ciranda de Pedra foi vendida para aproximadamente 40 países e teve somente uma reexibição em 1983, as 10 da manhã dentro do programa TV Mulher.
A trama teve somente um álbum que compunha a trilha sonora. A capa era um trecho da abertura da novela e continha as seguintes músicas: Monalisa/ Sandra Sá, Eu Vou Ter Sempre Você (You’ll Never Know)/ Antônio Marcos,Dez Anos (Diez Años)/ Gal Costa,Frenesi/ Maria Creuza, The Trolley Song/ João Gilberto, Céu Cor-de-Rosa (Indian Summer) / Quarteto Em Cy, Coquetel Para Dois (Cocktail for Two)/ Ronnie Von, Trevo de Quatro Folhas/ Nara Leão, Serenata Ao Luar (Moonlight Serenade)/ Pholhas, Quantas Quantas São (Jingle Jangle Jingle)/ Santa Cruz, Serenata/ Cauby Peixoto e Dançando com Lágrimas nos Olhos (Dancing with Tears in My Eyes)/ Altemar Dutra.
Ciranda de Pedra voltaria a ganhar uma nova versão em 2008, dessa vez escrita por Alcides Nogueira. Apesar de muitos afirmarem ser um remake da obra de Teixeira Filho, o autor afirmou que tem como base somente o livro de Lygia Fagundes Telles, com isso forma criadas outras tramas.
Apesar de abordar temas pesados, Ciranda Pedra é uma excelente novela, repleta de elementos folhetinescos que agradariam o telespectador. Os atores responderam a altura a responsabilidade de dar vida a personagens tão complexos e bem construídos. A trama foi exibida de 18/05/1981 a 14/11/1981 as 18h em um total de 155 capítulos, que foram escritos por Teixeira Filho e dirigidos por Reynaldo Boury e Wolf Maya, sob a supervisão de Herval Rossano. Merece reprise no Viva, em qualquer horário.