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Um ano sem Chico Anysio: as mil faces do humorista!

Por: Jonathan Pereira - Contato: [email protected]

Há um ano, o Brasil perdia um dos principais nomes do humor. Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, ou simplesmente Chico Anysio, morreu às vésperas de fazer 81 anos. O "Baú" estreia essa nova fase do "Planeta TV" homenageando esse grande humorista.

Fazer o público rir durante 6 décadas não é uma tarefa fácil. Para isso ele criou mais de 200 personagens ao longo da carreira, revelando ainda sua versatilidade como ator: para cada um, fazia voz e usava um figurino diferente. Homens, mulheres, gays, tudo o humorista interpretava de forma tão convincente que, por alguns instantes, fazia-nos acreditar que o personagem tinha vida própria - como o professor Raimundo, por exemplo, que surgiu ainda no rádio em 1952 e até hoje está no imaginário popular.

Chegar ao estrelato não foi fácil. Chico deixou Maranguape (CE) aos 7 anos com a família, que foi tentar a sorte no Rio de Janeiro. Estudou para se tornar advogado, mas o talento para o humor e a necessidade de ganhar dinheiro falaram mais alto. Ele venceu os concursos de calouros promovidos por rádios do Rio e de São Paulo, a ponto de não ser mais aceito nas inscrições porque ganhava sempre!

No teste para a rádio Guanabara, aos 17 anos, ficou em segundo lugar, atrás de outro contemporâneo que também entraria para a história: Silvio Santos. Para se ter ideia do time que se formava lá pelos anos 40, entre os que disputavam as vagas para radionovelas também estava Fernanda Montenegro.

Ainda no rádio, morou 1 ano e meio em Recife mas voltou ao Rio, onde escreveu e dirigiu vários programas. Não demorou para ter sua própria atração, rebatizada rapidamente de "Só Tantã" para "Chico Anysio Show" - afinal era ele a grande estrela - ainda no fim da década de 50, na extinta TV Rio. A essência de seus programas de sucesso foi praticamente a mesma, mudando apenas de nome ao longo dos anos, como "Chico City", "Chico Especial" e "Chico Total".

Antes de se tornar contratado da Globo, em 1969, Chico passou pelas TVs Excelsior, Tupi e Record. "Chico City" (1973-1980) talvez tenha representado sua fase áurea na televisão, com vários personagens que estão até hoje na memória do público mais velho: Alberto Roberto, Pantaleão, Gastão, o Véio Zuza e Bozó, só para citar alguns. Salomé surgiu um pouco depois, ligando para o então presidente João Figueiredo. Ela foi ressuscitada há alguns anos no "Zorra Total", em um de seus últimos trabalhos.

A "Escolinha do Professor Raimundo" começou com apenas três alunos no rádio. Na TV, deixou de ser um quadro do "Chico Anysio Show" para ocupar os finais de tarde no começo dos anos 90, no horário que hoje "Malhação" vai ao ar, além das noites de sábado. Desde que deixou seus fãs órfãos, em 1995 – houve uma 'ressurreição' em 2001, às 17h -, outras emissoras passaram a utilizar a fórmula até hoje, empregando assim alguns ex-alunos. Porém, falta a quem assiste o diferencial: a presença do professor Raimundo com seus bordões: "E o salário, ó" e "É vapt-vupt!".
 
A 'Escolinha' deu uma alavancada ou reaqueceu a carreira de Orlando Drummond (Seu Peru), Costinha, Brandão Filho (Sandoval Quaresma), Castrinho, Cláudia Jimenez (Dona Cacilda), Grande Otelo (Eustáquio), Tom Cavalcante (João Canabrava), Lúcio Mauro (Aldemar Vigário), Pedro Bismarck (Nerso da Capitinga) e  Rogério Cardoso (Rolando Lero).

Algumas atrações feitas para Chico não deram certo e por isso ficaram menos de um ano no ar, caso de "O Belo e as Feras" (1999), na qual o comediante dividia a cena com atrizes convidadas, como Fernanda Montenegro e Regina Duarte, em um formato de episódios, tentativa de se assemelhar às sitcoms americanas.

Com as novidades humorísticas implantadas desde os anos 80 pela chegada do "TV Pirata", "Casseta & Planeta, Urgente!" e por fim o "Pânico", o estilo de Chico foi sendo considerado "ultrapassado" para sustentar um programa inteiro só dele, fazendo com que tivesse pequenos quadros no "Zorra Total" ou fosse escalado para novelas.

Como ator, esteve no elenco de "Feijão Maravilha" (1979), "Terra Nostra" (1999), "Sinhá Moça" (2006), "Pé na Jaca" (2006/2007) e "Caminho das Índias" (2009), além do "Sítio do Picapau Amarelo" (2005). Em 2009, ele voltou a fazer parte do "Zorra" como Alberto Roberto, Justo Veríssimo e Bento Carneiro. E em 2010 e 2011 estrelou o especial "Chico & Amigos", no qual revivia alguns dos personagens criados ao longo da carreira.

O talento de Chico não ficou restrito ao rádio nem à TV. Nos anos 50 ele escreveu chanchadas para o cinema nacional, como "Alegria de Viver" (1958)  e "Entrei de Gaiato" (1959), além de músicas para cantoras como Dolores Duran e, ao longo da vida, publicou 21 livros. Em 1984 colocou para fora seu lado pintor, chegando a produzir de 15 a 25 quadros por mês. Para a lista não ficar longa, ainda comentou a Copa do Mundo da Itália (1990), esteve em filmes como "Tieta do Agreste" (1996) e "Se Eu Fosse Você 2" (2008), além de emprestar a voz para dublar a animação "Up - Altas Aventuras" (2009).

Na família, vários talentos foram revelados. O humorista colocou alguns dos filhos na TV, como Lug de Paula, Nizo Netto, André Lucas (respectivamente seu Boneco, Ptolomeu e Seu Aranha) e Bruno Mazzeo. Ao todo foram seis casamentos e entre suas ex-mulheres estão Alcione Mazzeo, Zélia Cardoso de Mello, ex-ministra do governo Collor, e Malga de Paula, que o acompanhou nos últimos momentos de vida. Outros talentos da família são os irmãos Lupe Gigliotti e o cineasta Zelito Viana, além dos sobrinhos Marcos Palmeira e Maria Maya.

É difícil dizer se um dia outro comediante vai ter a ousadia de interpretar um de seus personagens sem temer comparações, ou se surgirá um artista a ser reconhecido por possuir tantas facetas. Ninguém é insubstituível, mas Chico Anysio era único.

Fonte de pesquisa: MEMÓRIA GLOBO. Guia Ilustrado TV Globo.


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