O seriado ganha edições extras produzidas pelo Canal Viva.
Por: Jonathan Pereira - Contato: [email protected]
Na primeira metade da década de 90, o domingo era a grande pedra no sapato da Globo. Reinando tranquilamente no Ibope durante a semana, neste dia a emissora constantemente via sua programação ser derrotada pelo SBT. Gugu Liberato batia os filmes da “Temperatura Máxima” e os outros programas exibidos do meio-dia as 16h. E à noite, o “Topa Tudo por Dinheiro”, que começava às 21h15 e se estendia até a meia-noite, levava a melhor sobre o “Fantástico” e o “Domingo Maior”.
Essa situação perdurou até março de 1996, quando “Sai de Baixo”, uma sitcom gravada ao vivo no teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, passou a ir ao ar às 22h. O programa conseguiu atrair a atenção de quem preferia ver as Pegadinhas e brincadeiras do então dono do Baú. Resgatar a fórmula já utilizada por “A Família Trapo” nos anos 70 garantiu altos índices de audiência para a Globo. Curiosamente o projeto tinha sido apresentado antes por Daniel Filho ao SBT, que recusou.
Tudo acontecia na sala de um apartamento de uma família de classe média do Largo do Arouche. Miguel Falabella é até hoje lembrado por Caco Antibes, que tem “horror a pobre”, e Marisa Orth, pela burra Magda. No elenco que perdurou até o fim da atração também estavam Luiz Gustavo (Vavá) e Aracy Balabanian (Cassandra).
Claudia Jimenez saiu após o primeiro ano, incomodada com as piadas sobre seus quilinhos a mais. Conseguir uma substituta para Edileuza foi uma tarefa difícil e jamais realizada à altura. Passaram pelo papel de empregada Ilana Kaplan (Lucineide), Márcia Cabrita (Neide Aparecida) e Cláudia Rodrigues, como Sirene.
Querendo ter um programa só seu, Tom Cavalcanti se desentendeu com elenco e redatores, até que deixou o “Sai de Baixo” em 1999 para estrelar o “Megatom”, que durou pouco nas tardes da Globo, no ano seguinte. Os dois desfalques foram prejudicando a sitcom – muitos fãs consideram a primeira temporada a melhor de todas.
O improviso fazia parte das apresentações, gravadas em duas sessões, e iam ao ar. Na primeira fila quase sempre famosos assistiam e eram filmados aplaudindo. O maestro Caçulinha, que também participava do “Domingão do Faustão”, ficava no piano.
Com o sucesso, foram várias participações especiais: Dercy Gonçalves, Lima Duarte, Reynaldo Gianecchini, Adriane Galisteu, José Wilker, Rita Lee e Francisco Cuoco fazem parte da extensa lista. Falabella se desdobrou em alguns domingos como a mineira dona Caca, a mãe de Caco Antibes.
Um único episódio foi exibido ao vivo, em 1998: “Toma que o Filme é Teu”, conquistando uma audiência ótima para um domingo a noite (40 pontos). Ano após ano, o “Sai de Baixo” foi sendo exibido cada vez mais tarde – com o aumento da duração do “Fantástico” e o nascimento de reality shows como “No Limite” e “Big Brother Brasil”, foi passando de 22h para 22h30, depois 22h50, 23h05, 23h20...
Além do “Cala a Boca, Magda” outra expressão que ficou na cabeça do público foi o “canguru perneta”, posição sexual que Caco e Magda sempre corriam para o quarto para fazer. Em 1999, o casal teve um filho, Caquinho (que primeiramente era um boneco, até ser interpretado por Lucas Hornos).
A equipe de roteiristas contava com Maria Carmem Barbosa (que viria a escrever novelas com ele), Flávio de Souza (de infantis de sucesso como “Rá-Tim-Bum”, “Mundo da Lua” e “Castelo Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura), Euclydes Marinho (autor de “Andando nas Nuvens”, de 1999, e “Desejos de Mulher, em 2002), Lícia Manzo (que em 2011 escreveria a novela “A Vida da Gente”), Bruno Mazzeo e o cartunista Laerte. Pela direção passaram Daniel Filho,
Dennis Carvalho, José Wilker, Jorge Fernando e Cininha de Paula.
Com o elenco criticando abertamente as piadas do roteiro, em 2000 optou-se por transferir a ação para um restaurante, o Arouche’s Place. Ary Fontoura e Luis Carlos Tourinho entraram para o time, mas a ambientação foi rejeitada pelo público e pouco tempo depois as histórias voltaram a ser desenvolvidas no apartamento. A audiência já não era a mesma dos bons tempos, as derrotas para o SBT – que exibia a “Casa dos Artistas” - voltaram a acontecer. Nas três últimas temporadas a graça era presença cada vez mais rara, e a sitcom há um tempo já havia deixado de ser um programa imperdível nas noites de domingo.
O último episódio foi ao ar em 31 de março de 2002, exatamente 6 anos após a estreia. Mas engana-se quem pensa que não deixou saudades. Um DVD duplo foi lançado em 2003, em 2005 o Multishow também trouxe de volta alguns episódios e desde 2010 o Canal Viva os reprisa. No fim de 2012 o “Video Show” resgatou momentos hilários da primeira temporada diariamente em forma de resumo e, este ano, uma pequena safra de episódios inéditos será produzida, com parte do elenco original. Quando estiverem prontos será possível checar se o “Sai de Baixo” tem fôlego para entrar novamente na grade fixa da programação.