Em sua penúltima novela, o autor Cassiano Gabus Mendes escreveu uma trama repleta de intrigas, traições e busca pelo poder.
Por: Emerson Ghaspar
Em 29 de outubro de 1990, ia ao ar o primeiro capítulo de “Meu Bem, Meu Mal”, penúltima novela escrita por Cassiano Gabus Mendes, que viria a escrever “O Mapa da Mina”, sua última novela em 1993. A novela escrita pelo mago das 7, como era intitulado, foi a segunda incursão do autor no horário nobre, já que ele havia escrito “Champagne” em 1983.
A trama central de “Meu Bem, Meu Mal” era centrada na vida da família Venturini, dona de uma empresa de designers. O patriarca da família é Dom Lázaro (Lima Duarte), que tem que conviver com o suposto filho de sua esposa Maria Helena com seu melhor amigo, fruto de uma traição. O rapaz em questão é Ricardo Miranda (José Mayer), que detêm 30% das cotas da empresa.
Dom Lázaro faz de tudo para comprar as ações de Ricardo e esquecer definitivamente a traição da esposa, mas o rapaz não vende e mantêm a lembrança viva. Paralelo a isso está Isadora (Silvia Pfeifer), ambiciosa nora de Dom Lazaro, que deseja a todo custo se tornar presidente da Venturini Designers. Ela mantêm um caso com Ricardo e acredita que poderá se tornar presidente quando seu marido Cláudio (Herson Capri) morre. Seus planos começam a dar errado quando Dom Lázaro pede que sua irmã Valentina (Yoná Magalhães) volte da Europa para assumir a presidência das empresas.
Paralelo as disputas pela presidência da Venturi Designers está a trama de Berenice (Nívea Maria), uma adorável costureira que teve sua filha Fernanda (Lídia Brondi) humilhada por Isadora, quando ela namorava Marco Antonio (Fábio Assunção). Para se vingar de Isadora, Berenice convence Doca (Cassio Gabus) a seduzir Vitória (Lizandra Souto), filha de Isadora, para que ela sinta o mesmo que Fernanda. A confusão só aumenta quando Doca, que namora Dirce (Luciana Braga), se apaixona por Vitória.
Enquanto Doca finge se envolver com Vitória para se vingar, Patrícia (Adriana Esteves) faz o mesmo para se vingar de Ricardo, que havia enganado seu pai Felipe (Armando Bógus). Para isso, a jovem se torna amiga de Jéssica (Myla Christie), filha única de Ricardo e o seduz, mas acaba se apaixonando por ele realmente.
Com boas tramas repletas de dramas e vinganças, a novela também teve o humor característicos do autor, já consolidado em tramas das 7. O casal formado por Porfírio (Guilherme Karan ) e sua “divina” Magda (Vera Zimmerman), que era amiga de Vitória, rendeu boas gargalhadas, assim como o casal seu Emilio (Jorge Dória) e dona Elza (Zilda Cardoso). Na trama ele era proprietário de um apartamento e ela, sua inquilina. A dupla divertiu o público.
Com uma trama que mesclava drama e humor, Cassiano Gabus Mendes desenvolveu a história de “Meu Bem, Meu Mal” sem inovar, utilizando os famosos clichês da teledramaturgia, mas manteve o público fiel da novela, que vinha do sucesso “Rainha da Sucata”. Apesar disso a novela ficou marcada por cenas que ficaram na memória dos telespectadores entre elas quando Dom Lázaro flagra Isadora na cama com Ricardo e tem um derrame. A partir disso, o publico acompanhou a recuperação do patriarca e seus pensamentos.
Em uma cena antológica, Dom Lázaro em recuperação depois do derrame, consegue responder a enfermeira Elza quando ela pergunta se ele prefere mamão ou melão: “Eu quero melão” – diz ele. A cena se tornou tão marcante que virou título de um blog e um livro escrito por Vitor de Oliveira.
Apesar de mostrar a franca recuperação de uma pessoa que sofria derrame, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional enviou nota à imprensa informando que não apoiava qualquer tratamento com uso de bolas de borracha, assim como Dom Lázaro fazia na novela.
Ambientada em São Paulo,os moradores do bairro do Belenzinho, na zona leste, reclamaram porque na trama o bairro era mostrado como feio, pobre e de péssima reputação. A equipe de figurino e caracterização compôs um visual chique para o personagem de Isadora, com referencias nas obras dos estilistas Claude Montana e Giorgio Armani. A bandana da personagem virou tendência, assim como o cabelo de Fernanda, sendo curto atrás e franja reta.
“Meu Bem, Meu Mal” foi à novela de estréia de Mylla Christie, Fábio Assunção, Vera Zimmerman, Zilda Cardoso que só havia feito programas de humor, e Silvia Pfeifer, essa última vinda da minissérie “Boca do Lixo”, de Sílvio de Abreu. Na época a atriz foi bastante criticada pela maneira que conduzia o personagem.
A atriz Isis de Oliveira se desentendeu com a produção da novela e saiu no meio da produção, assim como o personagem de Stênio Garcia, que morreu para que o ator pudesse fazer parte da próxima atração das 8: “O Dono do Mundo”. A novela ainda foi a última produção da atriz Lídia Brondi, que optou por se afastar da carreira artística.
A novela contou com duas trilhas sonoras, a nacional continha as musicas “Setembro”/ Ivan Lins, “Esse tal de repi en roll”/ Roupa Nova e “Meu bem meu mal” de Marcos André, que era tema de abertura e marcou a novela. Já a trilha internacional contou com as musicas: ”Unchained Melody” /Righteous Brother (que já era famoso como musica tema do filme Ghost), “Loco Mia”/Loco Mia e “Have you seen her”/ MC Hammer.
A convite do autor Maria Adelaide Amaral se tornou colaboradora da trama. Eles revezavam na escrita, enquanto ele escrevia os capítulos de segunda, quarta e sexta- feira e ela o restante, fugindo ainda de fazer escaleta, que segue como guia do que será escrito. A novela ainda contou com Marcos Paulo assumindo a função de diretor da trama, mesmo interpretando o personagem André, em substituição ao diretor Paulo Ubiratan.
A partir de não ter trazido nenhuma novidade em questão de inovação, “Meu Bem, Meu Mal” possui um dos finais mais diferentes da teledramaturgia, onde a cena final é Isadora entrando em um carro depois de conseguir a presidência e ser abandonada por todos, indo em direção a sua casa, com o céu negro de chuva. Outro final similar só foi visto em 2003 na novela kubanacan, onde Dark Esteban (Marcos Pasquim) invade um camarim e esbofeteia Marisol (Daniele Winits). As cenas finais de novela costumam ser alegres ou em momento de fraternidade, “Meu Bem, Meu Mal” não apresentou isso.
Escrita por Cassiano Gabus Mendes, com colaboração de Maria Adelaide Amaral, Dejair Cardoso e Luiz Carlos Fusco; e direção geral de Paulo Ubiratan, “Meu Bem Meu Mal” é uma trama que merece ser revista, sendo reapresentada apenas uma vez agosto e novembro de 1996, no Vale a Pena Ver de Novo. A trama que teve 173 capítulos é um exemplo de trama atemporal, sem definir datas, apenas focando no que as histórias podem ter de melhor: Romance, intrigas, vinganças e humor.
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