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Ivani Ribeiro, a eterna dama da TV!

Autora faria 93 anos se estivesse viva.

Por: Emerson Ghaspar

Foto: Reprodução/TV Tupi/Youtube

No dia 20 de fevereiro de 1922 nasceu na cidade litorânea de São Vicente, em São Paulo, Cleide Freitas Alves Ferreira, ou como ficou conhecida: Ivani Ribeiro. Depois de ter se formado na Escola Normal de Santos, Ivani mudou-se para São Paulo para cursar a faculdade de Filosofia. Com apenas 16 anos deu início a sua carreira na Rádio Educadora de São Paulo, interpretando sambas e canções folclóricas, muitas deles de sua autoria.

Logo, Ivani chegou ao sucesso na rádio, grande parte devido a dois programas criados por ela: Teatrinho da Dona Chiquinha e As Mais Belas Cartas de Amor. Neste período, Ivani teve suas primeiras experiências como autora e radioatriz, onde narrava filmes. Foi assim que conheceu o marido, o radialista Dárcio Ferreira, com quem teve dois filhos: Luís Carlos e Eduardo.
 
Além da Rádio Educadora, Ivani trabalhou na Rádio Difusora e na Rádio Bandeirantes, onde adaptava poemas, peças e letras de músicas para programas, entre eles: A Canção que Viveu, O Teatro Romântico e Os Grandes Amores da História. Ivani também escrevia rádio novelas, que anos depois seriam adaptadas para a TV, entre elas: As Noivas Morrem no Mar, que viriam a dar origem ao celebre sucesso Mulheres de Areia, e A Mulher de Pedra,que seria adaptada como Os Inocentes.

Devido ao sucesso de suas radionovelas, Ivani Ribeiro foi contratada pela TV Tupi para escrever a série Os Eternos Apaixonados. Em 1963, a autora viria a escrever sua primeira novela: Corações em Conflito. A obra foi a terceira novela diária da TV brasileira. Logo depois foi trabalhar na TV Excelsior, onde escreveu novelas para as 19h30. Sua primeira na emissora foi Ambição, que contava a disputa de duas irmãs por um homem rico. Foi uma das primeiras novelas a usar locações externas para gravação.

De volta a Tupi, escreveu a primeira novela das 20h: Alma Cigana, que envolvia a história de uma madre superiora e uma cigana. A consagração de Ivani Ribeiro viria com o sucesso A Moça Que Veio de Longe, que apesar de ser uma adaptação de uma obra argentina, fugiu aos padrões da época, dando o desfecho que o público queria. Em seguida, a autora viria a escrever A Gata, que foi um fracasso, apesar de inúmeras mudanças.

Logo depois, a autora escreveu Se o Mar Contasse e A Outra Face de Anita. Em 1965, Ivani Ribeiro se mudou definitivamente para a TV Excelsior, onde escreveu 13 novelas seguidas para o horário das 19h30. A primeira delas foi Onde Nasce a Ilusão, ambientada em um circo; seguida por A Indomável, baseada na Megera Domada de Willian Shakespeare e Vidas Cruzadas, um grande sucesso que contava a história de sósias.

A Deusa Vencida, que foi a primeira novela de Regina Duarte, foi à novela seguinte de Ivani Ribeiro na Excelsior. Logo depois a autora escreveu: A Grande Viagem que tinha um tom policial; Almas de Pedra, derivada do romance Mulheres de Bronze de Xavier Montepin. O grande destaque dessa transformação foi a atuação de Glória Menezes, que na trama se vestia de homem, em uma excelente caracterização.

Uma trama contada em flashback que contava o desaparecimento da personagem central era o mote de Anjo Marcado, de 1966. Baseada em nossa literatura, Ivani escreveu a novela As Minas de Prata, baseada em um romance de José de Alencar.  A trama foi uma superprodução e reproduziu a cidade de Salvador do século XVII. Em seguida, a autora escreveu a obra Os Fantoches, inspirada no livro O Caso dos Dez Negrinhos de Agatha Christie.

O Terceiro Pecado foi à novela seguinte de Ivani Ribeiro para as 19h30. Pela primeira vez, a autora escreveu algo como o sobrenatural como tema. Foi um grande sucesso. Em seguida, a autora adaptou A Muralha de Dinah Silveira Queiroz para a TV. Foi uma super produção para  a época e um enorme sucesso. Logo depois foi a vez de Os Estranhos, que contava a história de extraterrestres e que teve a participação de Pelé.

Em sua penúltima novela para a TV Excelsior, que vinha passando por uma crise, Ivani Ribeiro desenvolveu a trama de A Menina do Veleiro Azul, em parceria com Darcio Ferreira e Teixeira Filho. A autora viria a escrever sua última novela das 19h30 em 1970: Dez Vidas, que retratava a Inconfidência Mineira.  Com a crise na emissora, os atores foram abandonando o trabalho e no final só ficaram 5. A ditadura mexeu muito no texto da obra, pois Tiradentes era considerado um subversivo e isso não era bem visto pela censura.

Com o fim da Excelsior, Ivani Ribeiro voltou para a TV Tupi, onde escreveu a novela As Bruxas, que foi alvo da censura, que não gostou de ver a novela tratar de separação e psicanálise às 20h. Conclusão, a novela foi mudada para as 21h30. A trama não foi um sucesso e seu pior problema era concorrer diretamente com Irmãos Coragem, de Janete Clair.

Na Tupi, Ivani foi escrever para as 18h e foi a responsável pela transposição para a telinha de um dos maiores sucessos da literatura: Meu Pé de Laranja Lima. Na mesma faixa, a autora escreveu o sucesso Nossa Filha Gabriela, que teve a trilha sonora composta por Vinicius de Moraes e Toquinho.

Apesar de ter assinado um contrato com a TV Tupi, em 1972, a autora viria a escrever O Leopardo, uma super produção da Record que contava a história de um homem dominador. A escritora utilizou um pseudônimo de Arthur Amorin e seu marido escrevia as cenas, enquanto Ivani  supervisionava.

Paralelo a O Leopardo, Ivani escrevia para a Tupi a trama Camomila E Bem – Me- Quer, que tinha como referencia a peça O Avarento de Moliére. A trama foi um sucesso e a última trama das 18h 30 daquela época. Logo depois, a autora foi para o horário das 20h escrever o celebre sucesso Mulheres de Areia. A trama cativou o público e fez a audiência crescer em até 29% em relação à última trama do horário da emissora, a novela A Revolta dos Anjos.

Mulheres de Areia foi espichada em 253 capítulos ficando quase um ano no ar e consagrando definitivamente a atriz Eva Wilma, interprete de Ruth e Raquel. Curiosamente, a irmã má era quem chamava a atenção. Um enorme sucesso. Os atores Antonio Fagundes e Maria Isabel de Lizandra saíram da novela antes do fim para estrelar a novela O Machão, de Sergio Jockyman, que era baseada em um argumento da própria Ivani.

Devido ao sucesso de Mulheres de Areia, Ivani foi escalada para escrever a novela seguinte do horário, Os Inocentes, que tinha como inspiração a peça A Visita da Velha Senhora de Dürrenmott. A atriz Cleide Yaconis, que já havia interpretado a personagem central da trama em uma radionovela voltava a viver a protagonista. A autora deixou a trama sob os cuidados do marido e foi escrever a novela Barba Azul para às 19h. A trama foi um sucesso e o público se divertiu com as brigas de Fábio (Carlos Zara) e Jô Penteado (Eva Wilma). A novela foi a primeira das 19h da Tupi a ser exibida em cores. Com isso a Tupi formatava sua grade para todo o Brasil, anteriormente havia divergências de capítulos.

Em 1975, a novela Roque Santeiro de Dias Gomes foi impedida de ir ao ar pela censura e a Tupi aproveitou e pediu que Ivani Ribeiro que desenvolvesse uma trama. A autora escreveu A Viagem e a novela foi um enorme sucesso.  Na trama foram abordados, através de seus personagens, a doutrina kardecista. Os livros E A Vida Continua e Nosso Lar de Chico Xavier foram fonte de inspiração para a escritora, que pensou em adaptá-los, mas o próprio médium pediu que ela criasse uma trama que abordasse os temas.

Para A Viagem, Ivani contou com a assessoria de Herculano Pires, considerado o maior pesquisador da doutrina kardecista da época. A trama também foi à última novela da autora na Tupi, sendo contratada em seguida por Silvio Santos, indo escrever a trama de O Espantalho.

A trama contava a luta de um prefeito para impedir a população de ir a praia devido a grande poluição, tendo como rival o vice prefeito que é dono do maior hotel da região e que só pensa em dinheiro.  O Espantalho foi produzida pela TVS, de propriedade de Silvio Santos, mas foi exibida pela TV Record. Entre a exibição em São Paulo e no Rio de Janeiro houve uma diferença de seis meses.

Em seguida, Ivani foi emprestada para a Tupi, onde escreveu o grande sucesso O Profeta. A trama conquistou o público, mas diferente de A Viagem que era uma novela com temática espírita, essa novela não focou em nenhuma religião e sim na paranormalidade. Na mesma época a Globo lançava a trama de O Astro, onde o protagonista vivido por Francisco Cuoco tinha poderes e os usava para se dar bem, assim como o personagem central de O Profeta.

Em sua última trama para Tupi, Ivani escreveu a trama Aritana, que fazia contrate entre a cultura entre brancos e indígenas.  A trama foi mediana, não sendo um sucesso, mas longe de ser um fracasso. O povo indígena se sentiu traído com a novela e fizeram inúmeras reivindicações.  A Tupi então criou um documentário chamado O Caso Aritana, Uma Novela a Parte, mas em nenhum momento a autora deixou de se importar com os direitos indígenas.

Durante o tempo em que esteve na Tupi, Ivani Ribeiro foi  responsável por grandes sucessos, mas nem com suas obras e com retorno financeiro que dava a emissora conseguiu impedir a falência. Houve uma época em que a emissora exibiu as novelas da autora nos três horários de novelas em busca de audiência.

Com o fim da Tupi, Ivani foi contratada pela TV Bandeirantes, onde escreveu um remake de A Deusa Vencida, que não foi um sucesso. Em seguida escreveu O Cavalo Amarelo, que contou com Dercy Gonçalves. A trama era uma deliciosa comédia e conseguiu bons índices de audiência, dando origem a novela posterior Dulcinéia Vai a Guerra, mas a autora recusou-se a escrever uma continuação e Sérgio Jockyman assumiu o texto.

O próximo trabalho da autora foi o remake de O Meu Pé de Laranja Lima, seguido por Os Adolescentes, uma excelente trama que narrava os conflitos de quatro jovens da geração dos anos de 1980. Ivani não chegou a concluir a obra, se desentendendo com a emissora, sendo substituída por Jorge Andrade. No mesmo ano, a escritora viria a assinar com a Rede Globo.

Na Vênus Platinada, Ivani escreveu a trama de Final Feliz, espirituosa novela das 19h que contava as aventuras de Débora (Natália do Vale) e Rodrigo (José Wilker), que viviam como cão e gato. A novela teve locações no Ceará e fez campanha anti tabagismo, indo contra os anunciantes de cigarros, o que não era comum na época. Vale ressaltar a belíssima abertura feita por Hans Donner, ambientada em uma sala de cinema ao som de Flagra de Rita Lee.

As tramas seguintes da autora na Globo  foram adaptadas de antigos trabalhos seus ou remakes de obras exibidas pela Excelsior e Tupi. O primeiro deles foi Amor Com Amor se Paga, adaptação de Camomila e Bem –Me – Quer, exibida as 18h. A  autora mudou alguns nomes, algumas tramas e a novela fez um enorme sucesso. Destaque para Nonô Correia, brilhantemente interpretado por Ary Fontoura.

De volta as 18h, Ivani Ribeiro escreveu o remake de Barba Azul, que ganhou o nome de A Gata Comeu. Assim como na versão original, a trama fez sucesso e teve como destaque os personagens de Marilu Bueno e Cláudio Correa e Castro, o Gugu e a Tetê.

A trama seguinte da autora foi baseada em Nossa Filha Gabriela, mas Ivani mudou o nome da protagonista para Carina (Maria Zilda Bethlém) e o nome da novela para Hipertensão. Em 1989, Ivani adaptou sua novela O Terceiro Pecado, que ganhou o título de O Sexo dos Anjos, mas diferente da trama original, a novela foi um fracasso, boa parte por que adaptarão a obra dos dias atuais, diferente da original que se passava em nos anos de 1920.

Gloria Pires em cena clássica de Mulheres de Areia. Foto: Divulgação/TV Globo

Ivani voltaria a escrever para as 18h em 1993 quando reescreveu seu grande sucesso Mulheres de Areia, com Glória Pires no papel de Ruth e Raquel. Assim como na versão original, a trama fez um enorme sucesso, obtendo 50 pontos de média, uma grande audiência para o horário das 18h na década de 1990. Nessa adaptação a autora inseriu outra trama sua, a da novela O Espantalho. Curiosidade: A novela fez tanto sucesso na Rússia, que o governo local marcou as eleições no mesmo dia do último capítulo, impedindo que o povo viajasse e comparecesse nas urnas.

Depois do sucesso com o remake de Mulheres de Areia, Ivani Ribeiro foi chamada para escrever uma trama as 19h, onde desenvolveu o remake de A Viagem. Outro sucesso, como na versão original, a novela foi reprisada mais de 3 vezes, sempre conseguindo audiência. Destaque para a atuação de Christiane Torloni e sua Dináh.

Depois da trama das 19h, Ivani Ribeiro viria a falecer em 17 de julho de 1995 com 79 anos de insuficiência renal devido a diabetes. Na ocasião a autora tinha deixado um argumento pronto que havia desenvolvido com Solange Castro Neves, sua colaboradora em seus últimos trabalhos.

O argumento em questão era da trama Quem é Você?, que contava a relação conturbada entre  as irmãs Maria Luísa (Elizabeth Savalla) e Beatriz (Cássia Kis Magro). Solange ficou responsável pela roteirização da obra, mas se desentendeu com a emissora e foi substituída por Lauro César Muniz. A novela teve pouca repercussão, mas tinha um texto bem escrito e um elenco afiado.

Em 2006 a Rede Globo fez uma nova versão de O Profeta baseada no original de Ivani Ribeiro. Para homenagear a autora, a personagem de Nicette Bruno se chamava Cleide, o verdadeiro nome da autora.

Talentosa, criativa e original, Ivani Ribeiro é uma das mais consagradas dramaturgas desse pais, por seu empenho em contar histórias simples, mas que mudaram a vida dos telespectadores. Todas as suas novelas merecem reprisada, principalmente em homenagem aos seus 20 anos de falecimento, 20 anos de eterna falta. Nossa singela homenagem à Ivani Ribeiro.


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