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A Próxima Vítima: A maior história policial do horário nobre!

18 anos depois de ter ido ao ar, a trama de Sílvio de Abreu será reexibida no Canal Viva.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

A partir do dia 9 de setembro, as 16h15, os telespectadores poderão matar as saudades de “A próxima Vítima”, um grande sucesso do horário da Rede Globo que mobilizou o país durante sua exibição entre março e novembro de 1995.

Há 18 anos, Sílvio de Abreu em sua segunda novela do horário nobre, apresentou uma trama que unia romance, traições e muito suspense. A novela policial levava ao público três questões que ficou presente na mente dos espectadores: Quem matou? Por quê? E quem é a próxima vítima? A única pista que o público tinha a respeito do assassino era que ele dirigia um Opala preto.

A trama principal da novela se passava nos bairros da Mooca e Bixiga, em São Paulo e contava o envolvimento de Ana (Susana Vieira) e Marcelo (José Wilker), juntos eles têm três filhos: Carina (Déborah Secco), Sandrinho (André Gonçalves) e Giulio (Eduardo Felipe). Apesar da relação, Marcelo é casado com Francesca Ferreto (Teresa Rachel), uma das donas de um importante frigorífico da capital paulista.

Apesar do casamento com Francesca, do envolvimento com Ana, Marcelo ainda é amante de sua sobrinha Isabela (Claudia Ohana), uma jovem frívola, ambiciosa e manipuladora. Isabela é a queridinha da tia, Filomena (Aracy Balabanian) uma mulher que mantêm os negócios com mãos de ferro.

Filomena é casada com Eliseo (Gianfrancesco Guarnieri), um homem submisso, constantemente humilhado pela esposa. Além da vida de Eliseo, Filomena tenta comandar a vida de Carmela (Yoná Magalhães), mãe de Isabela, que foi abandonada pelo marido Adalberto (Cecil Thiré). Além dos problemas já existentes a confusão na mansão dos Ferreto só aumenta com a chegada de Romana (Rosamaria Murtinho), irmã de Francesca, Filomena e Carmela, que volta a cidade acompanhada de Bruno (Alexandre Borges) seu suposto filho adotivo que na verdade é seu amante.

No início da trama, as primeiras mortes ocorrem quando Ana e Marcelo resolvem viajar e Francesca resolve ir atrás deles e desmascará-los. No saguão do aeroporto ela encontra um velho conhecido, Hélio Ribeiro (Francisco Cuoco) e os dois são aparentemente envenenados, causando morte.

A partir de então várias mortes sem aparente conexão começam a acontecer, sendo que antes de morrer todos recebiam uma lista do horóscopo chinês. Com a morte de Hélio, sua filha Irene (Viviane Pasmanter) -uma estudante de Direito - resolve investigar o caso por conta própria e descobrir quem é o assassino e quem será a próxima vítima.

As vitimas que receberam a lista do horóscopo chinês foram: Hélio, envenenado por um uísque na sala de um aeroporto; Júlia (Gloria Menezes) que teve seu carro fechado pelo assassino que saiu do Opala e deu-lhe alguns tiros; Paulo Soares/ Arnaldo Roncalho (Reginaldo Fárias) que morreu atropelado; Leontina (Maria Helena Dias) que teve a sela do cavalo afrouxada, caiu e morreu ao bater a cabeça numa pedra; Josias (Jose Augusto Branco) que foi empurrado na linha de trem; Yvete (Liana Duval) foi morta a pauladas; Cléber(Antônio Pitanga) que foi empurrado no poço de um elevador; Ulisses (Otávio Augusto) morto na explosão do depósito de gás da pizzaria de Ana e Eliseo (Gianfrancesco Guarnieri), morto por asfixia por monóxido de carbono após ser atingido por uma coronhada.

Paralelo aos crimes do horóscopo chinês houve outras duas mortes na trama: Andréia (Vera Gimenez), secretária do frigorífico Ferreto que foi morta por Isabela que lhe deu um tiro e em seguida jogou seu carro em uma represa. O motivo era que Andréia havia desmascarado Isabela no dia de seu casamento com Diogo (Marcos Frota). Outra morte foi de Romana, que foi encontrada afogada após ter sido dopada por Bruno, tudo era um plano de Isabela.

Apesar do enfoque da novela ser policial, o autor apresentou questões sociais através de outros personagens. Entre as tramas paralelas estava a história  de amor envolvendo a família de Juca (Tony Ramos). No ínicio da novela, Juca era apaixonado por Ana, amante de seu meio irmão Marcelo, mas depois o personagem se envolve com Helena (Natália do Vale). Ela por sua vez, é mãe de Irene, que se envolve com o caminhoneiro Zé Bolacha (Lima Duarte), pai de Juca. Juca, Helena, Zé Bolacha e Irene formavam um quadrilátero amoroso que movimentou a trama.

Outras questões sociais que formavam as tramas paralelas foram o homossexualismo e o preconceito. O preconceito racial foi apresentado através da família Noronha: Cleber era um contador de várias empresas casado com Fátima (Zezé Mota) uma excelente mãe e profissional, que cuidava dos três filhos: Sidney (Norton Nascimento) que era bancário, Jefferson (Lui Mendes) estudante de direito e Patricia (Camila Pitanga) que sonhava em ser modelo. A família de Cléber era considerada pelos telespectadores um exemplo a ser seguido.

Já o homossexualismo foi abordado através de Jefferson e Sandrinho, além dos personagens serem diferentes: um negro e o outro branco, o autor abordou os problemas das pessoas que assumem sua preferência sexual. Uma das cenas marcantes foi quando Sandrinho revela a mãe que era gay. Para não chocar o público que poderia rejeitar os personagens, Sílvio de Abreu os apresentou como bons amigos, bons filhos e quando os personagens tinham a aceitação do público revelou a preferência sexual do casal. Apesar de toda questão debatida na novela, o ator André Gonçalves foi vitima de agressão por parte de preconceituosos na época da novela.

Além de debater o homossexualismo e o preconceito racial, a novela abordou as relações com diferença de idade através da personagem Carmela (Yoná Magalhães) e Adriano (Luigui Palhares) e Irene e Zé Bolacha. Foi abordada a prostituição por vocação através da personagem Quitéria Quarta-Feira (Vera Holtz), uma mulher de bem com a vida que não faz da prostituição um drama. Outro tema foi as drogas,o autor abordou as dificuldades que os ex –usuários tem de ficar longe das drogas, o personagem Lucas (Pedro Vasconcelos) mostrou o dia a dia daqueles que tentam largar os entorpecentes.

Com inspiração na artista plástica Yvone Bezerra de Melo, o autor abordou através do personagem Júlia, a questão do abandono de crianças em ruas do país, levando os telespectadores a questionar o tema.

Com todas as suas tramas paralelas que emocionaram o publico, alem da trama principal sobre o assassino do horóscopo chinês, Silvio de Abreu tinha a missão de despistar a imprensa, curiosa por saber novidades sobre a novela. Eram escritas cenas falsas que chegavam a mídia, entre uma delas foi noticiado que Quitéria seria esfaqueada mas na verdade Josias foi assassinado.

Em uma das cenas marcantes da novela, Isabela é flagrada por seu noivo Diogo, minutos antes de seu casamento, na cama com  Marcelo. Sem pensar duas vezes, Diogo arrasta Isabela diante dos convidados e a espanca. Em outra ocasião, Marcelo flagra Isabela com Bruno e a esfaqueia, deixando uma enorme cicatriz no rosto. Apesar de Isabela ser uma vilã, Membros do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher não viram com bons olhos a situação e disseram se tratar de uma incitação ao machismo.

Sílvio de Abreu fez uma homenagem a seu tio ao criar o personagem Zé Bolacha e revelou que se o ator não pudesse fazê-lo, a trama perderia um personagem importante. Lima Duarte transformou seu personagem em uma figura simpática que o público logo adorou. Além de Lima Duarte, o núcleo de Juca, tinha outros dois  personagens interessantes, Nina (Nicette Bruno) uma senhora solteirona e ranzinza e Vitinho (Flavio Migliaccio), todos com típicos sotaques  paulista. Já Juca era um personagem tão querido que foram abertas duas bancas no Mercadão de São Paulo com o nome “Banca do Juca”.

A novela também teve dois bordões que caíram no gosto do público: Carina gritava “Socorro” toda vez que se decepcionava ou se irritava e foi inspirado na filha adolescente do autor. O outro bordão ficou para Vitinho que tinha uma maneira peculiar de se referir a Helena: ”A bonitona do Morumbi”.

Por ser ambientada em bairros tradicionais de São Paulo, a equipe de cenografia da novela teve como refêrencia alguns pontos do bairro do Bixiga e Mooca e a cidade de Nápoles, havia uma pracinha típica da cidade italiana. Pela primeira vez foi utilizada uma técnica americana que envolvia madeira, tela e argamassa, dando maior acabamento e durabilidade as obras.  As primeiras cenas da novela, onde Marcelo e Ana viajam em lua de mel foram gravadas na Costa Amalfitana, na Itália.

A trama teve duas trilhas sonoras habituais. A trilha nacional tinha na capa a atriz Camila Pitanga e teve os sucessos “Pacato Cidadão” do Skank, “Sereia” de Lulu Santos, “Pareço um menino” de Fábio Junior e “Vítima” na voz de Rita Lee. Já a trilha internacional tendo Selton Melo na capa teve musicas de Jim Groce, Bobby Ross Avila e o sucesso “Holding on to you” de Terrence Trenty d’Arby, que era tema de Bruno e Isabela.

Conforme a trama corria e chegava aos seus capítulos finais, o interesse da mídia pela novela chegou ao ápice para descobrir a identidade do assassino.  Para impedir que o final fosse revelado foi cogitado exibir a revelação do assassino ao vivo, mas foi descartado. As cenas que apresentava o assassino foram gravadas as 19 horas e o capítulo foi ao ar 20h30, devido a isso, informações preciosas não chegaram a ser divulgadas.

Para driblar a imprensa, Sílvio de Abreu pediu a Cláudia Raia, quatro dias antes do fim da novela que comparecesse ao set de filmagens no último dia de gravação, já maquiada e vestida, para gravar a última cena da novela, onde seu personagem seria assassinado, dando origem a um novo mistério. Os atores ficaram sem entender nada e foi especulado se o personagem teria algo a ver com o crime central da trama.

O Brasil parou para assistir o último capítulo, onde foi revelado o assassino e o motivo. Adalberto era o criminoso e se tratava de queima de arquivo, todos ligados a morte de Didio Di Angelis (Carlos Eduardo Dolabella), primeiro marido de Francesca. Nesse capítulo foi descoberto que Francesca havia forjado o próprio assassinato e isso foi essencial para desmascarar o assassino.

O  último capítulo teve 62 pontos de audiência, com picos de 64 e a novela foi vendida para mais de 20 paises. Para a exportação, Sílvio de Abreu fez algumas modificações para manter a história coerente  e outros finais foram exibidos. Entre eles o exibido na reexibição da novela em 2000 no Vale a Pena Ver de Novo, onde o assassino era Ulisses.

A trama ganhou três prêmios da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) nas categorias melhor novela, melhor atriz e melhor ator coadjuvante.

"A Próxima Vítima", escrita com a colaboração de Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral, foi produzida em 203 capítulos, e sem duvida é uma das melhores obras policiais já vista.

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