Um programa (reality show) sobre transgressão.
Por: Daniel Melo - Contato: [email protected]
Que o The Voice Brasil não é perfeito, nós já sabemos. Passamos dois anos aprendendo isso, e esperando que o programa nos entregasse um produto do nível que todos nós esperamos. Mas o que realmente esperar de um programa que nem respeita a si mesmo? Sim, porque foi exatamente o que aconteceu essa semana no programa.
E tudo isso nos leva de volta ao primeiro episódio de audições às cegas da primeira temporada. Naquele dia, o último candidato da noite era um indígena que havia sido eliminado. Na mesma semana, Thiago Leifert foi ao “Mais Você” (ou qualquer outro programa da Globo, não sei ao certo) e falou que talvez o candidato recebesse uma segunda chance de cantar para os técnicos, resultando na revista Veja (sim, a de gente intelectualizada) se dar ao trabalho de afirmar que esse seria “o primeiro caso de cotas para indígenas em reality shows”. Até então tudo bem, porque o apresentador havia dito que o indígena apenas teria essa segunda chance se após todos os candidatos cantarem, ainda houver vagas em algum time, uma situação que já aconteceu na primeira temporada do The Voice US, em 2011. Não foi o caso e o indígena não voltou ao palco do programa, mas a possibilidade de transgressão das regras ficou marcada no primeiro capítulo da até então inédita história do programa.
Outro caso é a polêmica eliminação da possibilidade de Lulu, Brown e Daniel usarem seus “pegueis” no Tira-Teima. Outra atitude ridícula por parte da organização do programa que ainda teve a cara de pau de usar a desculpa de que com os “pegueis” o programa ultrapassaria o horário estabelecido. Aqui, a transgressão foi adiante e resultou em apenas o Team Milk chegando a fase final com 4 candidatos, enquanto os outros apenas com 3.
Essa semana a ideia de desrespeito às regras voltou (mas explícita e forte do que nunca), mesmo não tendo partido dos candidatos eliminados, mas dos próprios técnicos (e Thiago também, coincidência?) que alteraram as regras durante o curso do programa. Mesmo já tendo completado seu time de 12 candidatos, Cláudia Leitte e Daniel continuaram a apertar o botão e terminam as audições com 13 candidatos em seus respectivos times. E isso foi permitido contanto que durante as batalhas eles façam as batalhas com 3 candidatos. Mas por quê? Se esse processo de audições às cegas é para selecionar apenas 48 candidatos para a fase das batalhas, porque ultrapassar esse limite?
Digo isso porque apesar de os candidatos que entraram nos times que já estavam completos merecessem passar, esse desrespeito para com as regras do programa pode servir de precedente para outras situações parecidas. Como, um técnico que não virou a cadeira pode ser escolhido por um candidato. Ou, um participante que já foi eliminado, nas batalhas, por exemplo, pode voltar para a competição nas semifinais por votação popular. Ou qualquer outra coisa. Esse tipo de atitude pode transformar definitivamente o The Voice em um Big Brother (fazendo uma comparação, é como se o líder da semana pudesse indicar para o paredão quantas pessoas quisesse, desde que na terça-feira apenas um seja eliminada). E por isso, devo dizer que embora seja fã de (boa) música será muito fácil deixar de acompanhar o programa se ele continuar com atitudes como essa. Pois a franquia The Voice merece ser respeitada. E o telespectador também.
Custa travar as cadeiras dos técnicos quando eles completam os seus times? Ou até mais longe que isso. Custava fazer uma seleção melhor e nos poupar de ter que continuar com alguns candidatos desnecessários até as batalhas? Custa aprender a não brincar de apertar o botão? Acho que esse excesso deve ser cortado para o próximo ano (ou mesmo nos infinitos “pegueis” na próxima fase) e há boatos de que haverá uma reformulação na bancada. Pessoalmente, acho a mudança muito bem vinda. A rotatividade de técnicos se mostrou uma ideia muito acertada mundo afora e tem tudo para dar certo aqui no Brasil também. Minhas apostas ainda não estão definidas, mas acho que Luiza Possi tem grandes chances de ganhar a sua cadeira vermelha se essa mudança for confirmada.
Mas vou parar por aqui, já que essa semana, a review vai ser um pouco mais longa devido a ainda termos uma previsão das batalhas! Então vou tentar correr um pouco com os candidatos, (que não estavam tão inspirados assim como na semana passada) até porque temos dois a mais.
Davi Lins – Mais Fácil (Sorriso Maroto)
Minha primeira impressão de Davi foi um excelente cantor e até certo ponto interessante por sua voz não estar dentro do que nós costumamos rotular como um cantor de pagode. Isso devido a sua voz pesada e arrastada (isso não é uma crítica, ainda) que é quase inexistente no mundo do pagode atualmente. Foi aí que entendi que na verdade, apesar de a música ser de pagode, a visão artística de Davi vai mais longe. Uma de suas influências pode até ser o pagode, mas ele ainda trás elementos do soul americano para fazer a sua assinatura nessa sua versão da música que é muito mais do que um cover. E eu acho que isso tem lá o seu valor. No entanto, acredito que o cantor nunca tenha tido uma aula de canto (não por ele cantar mal, mas só por que eu fiquei com essa impressão!) porque tecnicamente, foi uma performance sem brilho, mas valeu assim mesmo. Acredito que com Cláudia, Davi consiga evoluir como artista e performer. E hoje, ele fica no grupo das promessas. No mais, Cláudia ainda não entendeu que no TVB, ninguém se vende para o candidato, nem ninguém luta por ninguém. É tudo meio zzz...
Franciele Karen – She Wolf (Falling to Pieces) [Sia feat. David Guetta]
Franciele é facilmente uma das eliminações mais injustas do programa. A garota, que é o prodígio musical da sua cidade, fez uma apresentação poderosíssima com uma música extremamente atual (jurava que ia rolar uma influência sertaneja na apresentação da cantora até ela abrir a boca). Ainda mostrou ter uma maturidade vocal invejável para uma menina de 16 anos e tal da experiência que Lulu andou falando pra muitos eliminados esse ano. Franciele foi muito melhor que muitos aprovados nesse episódio e nem Daniel, que já salvou Lívia Itabohary, Carla Casamarim e Kim Lírio da eliminação resolveu apertar o seu botão para essa linda. Bem, quem perde são eles. E o resto do Brasil por tabela, privado de acompanhar o trabalho da cantora.
Dilauri – Tá Vendo Aquela Lua (Exaltasamba)
Contrastando com Davi Lins, Dilauri não trouxe nada novo para a sua apresentação nem para o cenário musical que ele representa. Na verdade, a única característica constante do cantor no palco foi o seu carisma, que não o deixou na mão em nenhum momento e provavelmente ainda o vá levar muito longe na competição. A performance foi bastante arrastada, talvez pela redução do ritmo da música (acredito que ele reduziu a meio tempo) e ainda não usou esse “tempo extra” para fazer nada. Nenhum melisma, nenhum falsete, nenhuma segurada de nota espetacular, NADA! No mais, achei legalzinha a historinha dele se identificando com o Brown e isso só me fez lembrar que ele participou ano passado e eu não me lembrei dele (e olha que eu lembrei do Dudu Fileti, que eu tinha odiado). Acho que isso diz muito sobre o que absorvi da audição do cantor nos dois anos. Escolheu ser #TEAMBROWN
Maria Alice – You Oughta Know (Alanis Morisette)
Adoro muito essa música e esse ano, quando tenho dito isso, geralmente não gosto do candidato. Maria Alice foi mais uma das quais não gostei. Essa música pede uma atitude corporal, uma entrega muito maior do que ela apresentou. Claro, ela derrapou no inglês, mais isso já virou quase regra no programa. Ela até tentou colocar umas inflexões próprias na música, mas nem isso salvou. Por isso, mesmo ele tendo tido consideravelmente mais força no refrão, achei meio qualquer coisa. E também tem poucas chances de seguir em frente no programa, especialmente se pareada com Twyla (uma favorita do Lulu, acredito eu) , sendo injustamente eliminada.
Ricardo Diniz – Espelho D’Água (Otto)
Semana passada disse aqui que falsetes e melismas são meus recursos vocais favoritos. Por isso, já simpatizei com Ricardo quando ele começou com aquela nota em falso lá no começo. Percebi também ao longo da performance que o cantor também tem no soul e um pouco no jazz suas influências, pelos seus improvisos rápidos e sua movimentação. Ainda que tenha feito uma audição excelente, achei o cantor um pouco fechado fisicamente. E quero que ele se abra um pouco mais para o publico. Fazer com nós entremos no mundo dele. Mas acho que ele vai conseguir fazer isso no #TeamDaniel, que ganha mais um excelente candidato.
Paulo Soares - Far Away (Nickelback)
Paulo não é um cantor ruim, mas foi atrapalhado pela sua dicção meio defeituosa e pelo excesso de aspereza na sua voz. Soou como um karaokê mesmo, uma cópia barata e a coisa só não ficou pior, porque o refrão dessa música tem uma força absurda (assim como a maioria das músicas da banda canadense, mas tudo bem hihi!) e o cantor cresceu em potência junto com a progressão lírica da música. Mas vou pular para a melhor frase da semana:
“Temos que ensinar ele a cantar de olho aberto...” Santos, Lulu
Paulo escolheu ser parte do Team Lulu e provavelmente vai apenas ser sacrificado nas batalhas.
Nonô Lellis – Fighter (Christina Aguilera)
Tenho em “Fighter” uma das canções mais queridas da minha vida e por isso quando reconheci os primeiros acordes da música me desesperei. E minha cabeça só faltou explodir quando lembrei que era uma menininha de 16 anos cantando. Para minha surpresa, Nonô fez uma primeira nota muito boa, ao ponto de tranquilizar por um tempo, mas então vieram os versos e a coisa desandou. Nonô não apresentou maturidade vocal ou espiritual o suficiente para cantar essa música e muito menos presença de palco com a qual conseguisse acompanhar uma música tão grande como essa. Quis cantar Christina Aguilera, mas só tem voz para cantar “Meu cãozinho Xuxo”. Espero que não passe das batalhas, em vista da lambança que fez aqui.
OBS: Tive pesadelos essa noite, quando sonhei que essa música era originalmente cantada por Nonô. O mundo era certamente um lugar pior.
Gabi D’ Paula – Num Corpo Só (Maria Rita)
Depois da audição de Gabi, podemos decretar oficialmente que esses quatro tem algum problema. Gabi tem uma voz bem aveludada, a prova de falhas e escolheu cantar uma música que eu não conhecia, o que eu adoro quando acontece em realities. A cantora foi uma das poucas da noite que apresentou uma expressão corporal em qualquer nível nas audições. E assim que acabou e vi q ninguém virou, passei uns 10 segundos xingando esses 4 de tudo de ruim que eu sabia na minha mente. Pareceu performance de barzinho? Sim. Mas isso não significa que a cantora merecia ser eliminada tendo em vista existirem muitos piores que ela avançando de fase.
Millane Hora – Something’s Got a Hold on Me (Etta James) / (I Can’t Get No) Satisfaction [The Rolling Stones]
Primeiramente, esse pessoal só tá escolhendo músicas que eu amo, hein. Que que é isso? Segundamente, essa foi a derradeira audição em que a coisa realmente começou a desandar. Millane tem várias afetações vocais e precisa aprender a controlá-las, ou pelo menos usá-las a seu favor. Acredito que essas afetações estavam lá para mascarar os defeitos que a cantora tem em seu registro mais grave. Contudo, tem atitude, presença de palco e criatividade, como mostrou nesse excelente mash-up, unindo blues/soul e rock nessa mistura perfeita que foi de ritmo e letra. Bem, apesar de não poder, Cláudia virou a cadeira e foi escolhida pela cantora. Millane é a 13ª integrante de um forte Team Milk com grandes chances de um bicampeonato. Mas que doeu a minha alma de fã dos The Voices do mundo ouvir Cláudia falando que “não tava nem aí pras regras” “não interessa, Thiago, eu quero ela”, ah isso doeu.
Obs: Daniel fez a melhor análise da sua vida quando falou de Millane.
Flavinha e Léo – Just a Fool (Christina Aguilera & Blake Shelton)
Quais as chances de duas músicas de Christina Aguilera no mesmo episódio? Bem, se for a mesma chance de eu não gostar de alguém quando canta uma das músicas dela, é altíssima, porque eu não gostei da dupla, que já começou errando com aquele começo sussurrado por Flavinha no começo. Quando ele entrou, no entanto, senti firmeza e a coisa melhorou quando constatei que eles tinham uma harmonia bem bacana e ela conseguiu passar por aquele momento dificílimo no final do refrão quando é necessário alternar entre um falsete rápido e seguir instantaneamente para a voz natural de canto. Por isso, tendo a achar que a dupla tem futuro no programa, mas especialmente em uma temporada lotada de outras duplas que fizeram melhores audições, não viraria minha cadeira para eles, mesmo eles sendo um pouco mais pop que as demais. Daniel, que conquistou sua 4ª dupla (das 5 que participaram esse ano) com eles, escolheu virar a cadeira.
Kadu Vianna – Amor de Índio (Beto Guedes)
Sdds, Marcela Bueno! Mas o candidato da vez é Kadu e a voz do cantor é de uma delicadeza ímpar, casando muito bem com essa linda música. Porém, a apresentação do cantor foi apenas acima da média e sem brilho, ainda que ele tenha me instigado a querer saber mais sobre ele. Ele flutuou com sucesso por entre todas as notas da música e não duvido nem um pouco que ele tenha se conectado com a letra, mas faltou ele externalizar essa emoção. Por hora, fica na promessa também, mas é um candidato em potencial (altíssimo) para o #TeamDaniel.
Obs: Daniel foi na onda da Cláudia e quebrou as regras também. Tão achando que é festa agora! Tava vendo a hora de o Lulu Recalcado passar a virar a cadeira também, só de birra.
Paula Marchesini – Simply The Best (Tina Turner)
Ok. A última audição da temporada não foi tudo isso, mas olhem o lado bom: ACABOU! SEMANA QUE VEM TEM BATALHAS! Mas sobre a apresentação, não foi clichê, foi datado mesmo. Não comprei a ideia, ainda que ela tenha mostrado um potencial imenso se escolher as músicas certas. Sem falar que cansei de Tina Turner. Já vejo cantar “Proud Mary” para o meu desespero. Talvez no Team Brown o repertório da cantora seja modernizado ou abrasileirado. Mas pessoalmente, como ela fala italiano, quero ver ela cantando Laura Pausini para ontem!!
OBS: Paula é a única “roqueira” no Team Brown e com isso, suas chances de ir longe são bem grandes. Se ela conseguir se adaptar ao rock nacional, vai ganhar muitos pontos com Brown.
Bem, foi isso! Acabaram as audições às cegas e semana que vem, mergulhamos nas batalhas, que nas duas temporadas anteriores têm entregado os melhores momentos das respectivas temporadas. Vamos ao ranking, mas essa semana, dentro de cada time? Temos ainda uma previsão dos pareamentos que os técnicos devem fazer. Em negrito os cantores que provavelmente vencerão as batalhas e os que provavelmente serão roubados pelos técnicos estão com um P do lado. Então vamos lá?
1) Team Daniel: Kim Lírio, Lívia Itabohary, Carla Casamarim, Ricardo Diniz, Kadu Vianna, Danilo Reis e Rafael, Jésus Henrique, Nanda Garcia, Vitor e Vanuti, Kiko e Jeanne, Flavinha e Léo, Rafaela Melo, Thiago Soares.
Bem, o Team Daniel conseguiu voltar à posição em que passou grande parte das audições e desponta com o time mais completo da temporada e tem grandes chances de vencer esse ano. Temos um pouco de tudo aqui. O excesso de duplas provavelmente vai ser cortado nas batalhas e Daniel ainda tem uma batalha tripla, então vamos lá :
2) Team Milk: Leandro Buenno, Thiago Costa, Kall Medrado, Nise Palhares, Nathalie Alvim, Priscila Brenner, Davi Lins, Milane Hora, Luana Fernandes, Karina Duque Estrada, Nonô Lellis, Bruna Tatto, Vinicius Zanin.
Se na semana passada, o Team Milk se fortaleceu muito com duas poderosas aquisições, essa semana suas aquisições foram bem medianas. Ainda assim, Milk tem um time muito bom, bem eclético (ao ponto de ser muito difícil parear esse time) e fazendo com que tenha grandes chances de ganhar a temporada também, se fizer as escolhas certas, claro!
3) Team Lulu: Lui Medeiros, Rose Oliver, Deena Love, Gabriel Silva, Dudu Fileti, Edu Camargo, Mariana Lira, Maria Alice, Paulo Soares, Edmon Costa, Isadora Moraes,Twyla.
Acredito que estamos diante do Team Lulu mais fraco das três temporadas. Mesmo assim, se Lulu realmente colocar pra fora todo o seu conhecimento musical e ajudar seus pupilos, pode acabar ameaçando o reinado de Daniel e Milk nesse ranking. A oportunidade está aí. Resta saber se Lulu ira pegá-la ou não.
4) Team Brown: Joey Mattos, Letícia Pedrosa, Romero Ribeiro, Vanessa Ribeiro, Amarildo Freire, Dilauri, Paula Marchesini, Kynnie Williams, Ricardo e Ronael, Débora Coutinho, Princess La Tremenda, Hellen Lyu.
E pela primeira vez, o Team Brown chega às batalhas sem nenhum nome de destaque em seu time (ano passado ele ao menos tinha Lucy Alves). Mesmo os meus favoritos aqui, Joey e Letícia, não tem cacife para encarar uma final. Resta saber se Brown vai deixar essa situação continuar assim. Lembro que na primeira temporada, Brown tinha a faca e o queijo na mão e hoje em dia muito longe disso. Uma pena!
Ainda rezo para que esse ano, o número de “pegueis” diminua para 2 por técnico! E no Tira-Teima, tenhamos embates duplos, decididos unicamente pelos técnicos. Seria tão melhor. Semana que vem, temos nossos assistentes ajudando os técnicos. Tem os fixos, Luiza Possi (Team Daniel) e Rogério Flausino (Team Brown) e tem gente nova, Dudu Nobre (Team Milk) e Di Ferreiro (Team Lulu)
Valeu pessoal! Que venham as batalhas e que elas sejam melhores do que as audições! Até semana que vem!