Depois de uma temporada meia-boca, uma final acima da média.
Por: Daniel Melo - Contato: [email protected]
Se tem alguma coisa que a 4ª temporada do The Voice Brasil conseguiu foi ser cheia de altos e baixos. Tivemos uma temporada de audições bastante superior às duas últimas temporadas, ao ponto de pensarmos que poderíamos ainda ver uma temporada no nível da 1ª, já que as escolhas musicais vinham se mostrando mais acertadas e os técnicos vinham de fato, exercendo paulatinamente e em doses homeopáticas a sua verdadeira função: a de jurado (porque a de técnico mesmo, já desistimos há tempos!)
Depois vieram batalhas que apesar de cumprirem seu papel, ficaram devendo às dos últimos anos. As batalhas sempre foram o ponto alto das temporadas, mas esse ano, um número grande de performances medianas (bem acima do normal) tomaram conta das duas semanas de embates e desde lá foram levanto o nosso entusiasmo com a temporada (pelo menos, o meu!)
Depois tivemos o verdadeiro banho de água fria que foi a Rodada de Fogo. Em termos de igualdade entre candidatos, em qualidade musical e até mesmo esquemas de organização de fases do programa, essa é facilmente a pior “cópia” que o The Voice Brasil fez das outras franquias mundo a fora.
E os shows ao vivo desse ano, foram no mesmo nível dos shows ao vivo dos últimos dois anos, ou seja, lastimável. Uma ou outra performance que se salvava, mas no geral tudo bem fraco e desinteressante, culminando em um Top 4 muito questionável cujo critério de seleção passou bem longe de ser “a voz”. Contudo, o espírito de natal nos presenteou com uma final bacanérrima e cheia de performances interessantes, mas que ainda assim teve seus defeitos. E por isso, passada essa retrospectiva, esse post de final de temporada terá foco nos finalistas e farei comentários bem sucintos acerca das demais apresentações. Mas vamos aos finalistas:
Começaremos falando de Nikki, a menina do cabelo rosa que na verdade é loiro. Ainda bato o pé e digo que a audição de Nikki foi terrível e séria candidata a uma das piores da temporada, na minha opinião. Ela parecia mais uma das milhões de menininhas que tem canal no Youtube e resolve participar de um programa de televisão porque tem certa popularidade. Mas só vim realmente prestar atenção em Nikki na sua batalha. Foi ali que a menina começou a mostrar que sabe controlar os seus excessos tanto vocais quanto performáticos e de fato, entregar performances (NO PROGRAMA) tão boas quanto as suas da internet. Wrecking Ball é a maior prova disso e pra mim, o ponto alto na trajetória de Nikki na competição. Um dos argumentos que sempre usam para defender Nikki quando a critico é que ela é “o pacote completo”, mas as vezes acho que muitos esquecem que o pacote completo envolve um bom material vocal. Quando se tem voz o resto é fácil de correr atrás e Nikki teve no programa uma baita evolução vocal.
Chegamos então em Ayrton Montarroyos. O menino já chegou no programa cantando o belíssimo (mas batidíssimo) hino de Caetano Veloso, “Força Estranha” e vou aqui reproduzir meu exato comentário sobre a audição de Ayrton: “Eu meio que esperava ver Ayrton indo por um caminho parecido com esse (com o de Thalita Pertuzatti e Rose Oliver) e me surpreendi positivamente vendo-o ir por uma abordagem completamente contrária e apostando no suave, no sutil e no sentimento”. Qual a minha surpresa ao ver que esse comentário poderia vir de qualquer performance do menino. Mantenho o que venho dizendo a temporada inteira: Ayrton tem um gosto musical muito bom, mas ele é monótono e repetitivo, apesar de bom. Entendo perfeitamente quem diz que Ayrton defende um estilo musical esquecido no Brasil e que precisa ser lembrado. Entendo e concordo. Mas convenhamos que durante a temporada, Ayrton mostrou versatilidade nenhuma, ao ponto de até mesmo o insípido Junior Lord o superar nesse aspecto. Assim como Nikki, Ayrton vem sendo apontado como sendo “o pacote completo”, mas não consigo achar alguém um pacote completo com uma voz tão unidimensional e tão pouco explorada, ainda mais com tantas oportunidades dadas. Respeito o Ayrton. É um baita artista, mas voz ali não tem.
E do melhor artista da temporada, chegamos ao melhor vocalista. Renato Vianna, o nosso vencedor da temporada com 56% dos votos (parece que o Brasil aprendeu a votar, galera!), é desde a sua audição, apontado como o vencedor da temporada. E eu, que desde Sam Alves não cravava um vencedor logo nas audições, digo o porque que Renato fez sucesso. Não foi porque ele apenas é um bom cantor. Dou créditos a ampla popularidade que ele já possuía da época do Raul Gil (e não, não assisti nenhum vídeo dele dessa época), mas acredito que o principal motivo por Renato ter sido tão bem aceito é o fato de ele conseguir equilibrar o nacional e o internacional. O problema é que Renato até a semifinal não havia cantado nenhuma música em português no programa, o que para mim, enquanto ele continuasse fazendo performances tão boas quanto as que ele fazia, não seria um problema tão grande, mas o público do programa pedia, semana após semana que ele cantasse a tão esperada “João de Barro” (não foi dessa vez, gente, choremos!). E justamente por isso, a grande discussão dessa reta final foi o nacional, representado pela figura de Ayrton, e o internacional, representado por Renato (e 2 anos atrás, por Sam Alves). Independente de ter cantado em português ou não, sempre defendi e sempre defenderei que Renato foi o melhor vocalista que essa temporada teve e tem grandes chance de ser o primeiro candidato do programa a realmente ser relevante no cenário musical por motivos que mais abaixo explicitarei.
E só pra não dizerem que não falei dele, o nosso Lucas e Orelha unificado, nessa final, dispensou comentários, foi dispensável como sempre. Mas defendo que ele tinha bastante potencial, uma vez dados a ele os conselhos vocais certos e a música certa.
E então, vamos às performances da final?
Dueto com o Técnico - Fica bem óbvio que a final foi boa quando analisamos esses duetos e analisamos com os do ano passado. Dos 4, apenas 1 foi ruim.
4)Junior Lord & Carlinhos Brown - Magamalabares (Carlinhos Brown & Marisa Monte)
Você sabe que um cantor definitivamente não merecia chegar na final quando ele vai mal com uma música que está dentro do alcance vocal de Carlinhos Brown. Venenos a parte, durante quase toda a apresentação ficou aquela sensação de falta de ensaio e de preparo. Foi um dueto bem frio, quase congelado.
3) Ayrton Montarroyos & Lulu Santos - Eu Só Quero Um Xodó (Gilberto Gil)
Esse foi um dueto que respeitou muito bem a identidade musical de Ayrton e que impediu Lulu Santos de extrapolar os níveis aceitáveis de vergonha alheia (como na final do ano passado). Ainda assim, o estilo Lulu Santos de ser no palco pelo menos me fez rir então, não foi perda total. Mas percebam que no refrão, tanto as vozes de Lulu quanto as de Ayrton sumiam. Lulu, na verdade dificilmente cantava os versos iniciais porque ele inventava de meter uma frase entre dois versos pra fazer gracinha (ou não, é dele mesmo!) e ficava sem tempo pra respirar entre um verso e outro! Mas ainda assim, foi muito bacana de ver o respeito que Lulu tem pelo artista que Ayrton é, ao ponto de não escolher uma música sua pra cantar (tudo tem uma primeira vez!) e ainda, escolher uma música que valoriza totalmente o seu finalista e praticamente o anula no palco (como anulou)! Bacana. Nota: 5,0
2) Nikki & Cláudia Leitte - Is This Love (Bob Marley)
Já perdi a conta de quantas vezes já vi Cláudia cantar essa música ao vivo. Mas ela tem o crédito de nunca mandar mal com essa música e não foi dessa vez. Até a voz de Nikki, totalmente pop, se encaixou nessa música. Vou chamar atenção para a humildade de Claudia Leitte em fazer segunda voz para Nikki naqueles “Is This Love (Love)”, já que um Lulu Santos da vida nunca se colocaria nesse papel. Algo que não foi visto em nenhum outro dueto foi a cumplicidade no palco entre Nikki e Cláudia. Ficou bem bonito de se ver. E mais uma vez, Cláudia faz um dueto bom com seu finalista.
1) Renato Vianna & Michel Teló - Minha Vida (Chitãozinho e Xororó)
Ok que Michel foi engolido pela música e pelo próprio Renato nessa música, mas um mérito que ninguém pode tirar é conseguir escolher uma música para cantar com Renato e fazer musica se encaixar estilisticamente para os dois. Sem falar que esse foi o primeiro momento em que Renato cantou em português na temporada e olha, foi excelente. Há quem diga que foi muito gritado, e eu até acho que Renato poderia ter se contido um pouco mais e Michel poderia ter se esforçado mais um pouco, porque sabemos que ele é um excelente vocalista, mas ainda assim, achei muito bom!
Obs: Imaginando um dueto do Renato com o Daniel dessa mesma música. Iria ser destruidor de tão incrível!
Solo - Foi uma rodada muito boa também com 3 solos muito interessantes de serem vistos.
4) Junior Lord - Primavera (Tim Maia)
Mais uma vez toda a falta de preparo vocal de Junior ficou totalmente exposta no palco. Junior foi engolido pela música do início ao fim da performance e eu fiquei genuinamente envergonhado de estar assistindo essa performance. As tentativas de melismas no final dos versos para tentar mostrar algum controle, na verdade teve o efeito contrário e só me fez pensar que ele estava desafinando ainda mais. De qualquer maneira, Junior já fez melhor e o Team Brown já esteve (MUITO) mais bem representado na final. Sdds imensas Ellen Oléria e Lucy Alves.
3) Nikki - Maluco Beleza/Metamorfose Ambulante/Gita (Raul Seixas)
Palmas lentas para Nikki por uma escolha de repertório IMPECÁVEL nessa final. Cada uma das músicas escolhidas por Nikki não foram nem um pouco aleatórias. “Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual”; “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”; são letras que mostram exatamente aquilo que Nikki tenta passar como artista para o seu público. Ser alguém perfeitamente imperfeito, mas acima de tudo, que consegue ser original. Esse vai sempre ser o maior mérito de Nikki na sua jornada no programa, que apesar de não ter sido das melhores, teve nessa última performance a concretização de uma mensagem, o fim de um ciclo. E apesar de ter sido vocalmente uma performance bem fraca, especialmente aquele final, quando falarem em Nikki, sempre me lembrarei dessa performance.
Obs: Jessie J tão lembrada essa temporada que é o visual dela foi copiado por Nikki nessa final!
2) Ayrton Montarroyos - Fascinação (Carlos Galhardo)
Finalmente Ayrton conseguiu mostrar um pouco mais de força em suas performances. Não que tenha sido perfeito, mas durou o tempo suficiente para fazer dessa performance a sua melhor. Ayrton, como já disse lá em cima, é o melhor artista da temporada e tem meu respeito por isso. Mas a total falta de versatilidade dele ainda não me deixa torcer por ele. “Fascinação” foi muito bem sucedida em trazer, aos meus olhos, outras camadas para a interpretação do menino. Mas falhou em tentar me fazer torcer por ele. Ainda assim muito bom trabalho, Ayrton.
1) Renato Vianna - Por Enquanto (Renato Russo)
Sempre torci descaradamente por Renato e desde a sua audição já previa a vitória dele. E foi esperando momentos assim que eu passei a temporada inteira. Momentos em que além de admirar a voz dele, pudesse de fato me conectar com aquilo que ele estava cantando. Claro, cantar Renato Russo em um programa musical brasileiro é quase sempre (desde que haja potencial vocal para isso) certeza de sucesso, assim como Sam Alves fez na 2ª temporada com “Pais e Filhos”. Aliás, Renato já podia lançar uma coletânea Renato por Renato dele cantando as músicas do falecido líder do Legião Urbana. Não me entendam errado, Renato é emocionalmente tão unidimensional quanto Ayrton é vocalmente, mas com Renato, temos qualidade vocal e uma multidimensionalidade vocal linda de ser ver! Muito orgulho de ver que o Brasil votou certo e elegeu Renato Vianna como o vencedor da temporada! Muitíssimo merecido.
Segue meu ranking de vencedores do The Voice Brasil:
4) Danilo Reis e Rafael
3) Renato Vianna
2) Sam Alves
1) Ellen Oléria
Bem, ficou bem claro que Renato brilhou nas duas rodadas da noite e as escolhas musicais certeiras tiveram boa parcela desse sucesso. Mas agora, como nem só de boas performances viveu essa final, vamos às demais, que vão ser comentadas muito mais sucintamente:
Os 4 finalistas cantando “Óculos” foi bem bacana e uma abertura bastante decente para a final. Destaques para Renato.
Di Ferreiro, Luiza Possi e Rogério Flausino cantando “Brasil” também foi bem bacana e talvez tenha sido a melhor performance tirando as dos finalistas. Destaques óbvios aqui para Di Ferreiro. Alexandre Pires e Bella Schneider (sdds!) também fizeram uma performance bem bacana com “Lança Perfume” e foi incrível ver como Bella parecia uma versão mais nova de Cláudia Leitte no palco (e sim, vejo isso como um elogio à menina).
Lulu Santos e sua versão de “Xibom Bombom” foi menos pior que o show de vergonha alheia que foi “Segue de Volta” na final do ano passado, então valeu alguma coisa. Claudia Leitte mais uma vez apostando na sua carreira internacional, depois do fiasco do colspay de Jennifer Lopez semana passada, resolveu fazer uma performance mais contida e a bacaninha da sua nova música “Shivers Down My Spine”. Mas o destaque da noite foi mesmo Michel Teló e a sua “Ah Tá Peraê”. E Carlinhos Brown, por incrível que pareça, conseguiu fazer uma performance bacana que em muito se assemelha a dele no ano passado.
Bem pessoal, foi isso! A 4ª temporada conseguiu deixar um saldo mais positivo que a 3ª e até melhor que a 2ª. Mas ainda assim continua anos luz de alcançar a qualidade musical de 1ª temporada. Fica aqui desde já votos para que o programa possa vir nos presentear com uma 5ª temporada capaz de reacender em nós o amor que um dia tivemos pelo programa. Amor esse que, pra mim, não é mais suficiente para eu retornar para uma 5ª temporada e consequente, não retornarei aqui para o Planeta Reality para falar do The Voice Brasil ano que vem (PS: Prometo antes de me despedir definitivamente o The Voice Brasil aqui da coluna, postar uma lista com as 20 melhores performances das 4 temporadas!).
Obrigado a todos por estarem dispostos a vir aqui ler as bobagens que eu escrevia semana após semana, mas outros compromissos não deixam que tenha o tempo que gostaria de ter para me dedicar à cobertura do programa. E honestamente, o programa não anda merecendo que eu me desdobre em 1000 para atualizar a coluna o mais rápido possível. Ainda assim obrigado por esses dois anos que passamos juntos aqui! E até o SuperStar! Feliz Natal e um próspero 2016. Para nós e para a safra de realities musicais! Abraços!