Uma paixão: escrever. Foi esse o lema da trajetória do autor e jornalista Walther Negrão, que começou a escrever suas primeiras linhas em papel de pão. Na TV Globo desde a década de 70, Negrão já emplacou sucessos como: Pão Pão, Beijo Beijo (1983), Top Model (1989) e Como Uma Onda (2004). Agora, em Desejo Proibido, ele exercita, num texto leve e irreverente, o clima harmônico de sua segunda parceria com o autores Jackie Vellego e Renato Modesto. Leia a entrevista abaixo e saiba como o autor construiu a nova trama das seis!
Como define Desejo Proibido? O que destacaria na trama?
Walter Negrão - Situada no Triângulo Mineiro, buscamos traçar uma crônica da década de 1930, um momento político, social e econômico fervilhante no Brasil e no mundo. A crise da bolsa de Nova York, a ascensão de Hitler na Alemanha, a tomada do poder por Getúlio Vargas... Tudo isso norteia o pano de fundo da novela. Porém, embora esses assuntos sugiram muita seriedade, Desejo Proibido os trata com bom humor e grande dose de irreverência. Assim, vejo-a como uma novela não apenas romântica, como cabe bem para o público das seis.
Quando começou a escrever Desejo Proibido já pensava na escalação do elenco?
Walter Negrão - Busco sempre garantir a escalação dos personagens mais velhos, daqueles que no rádio eram chamados de “centrais”. Um grande ator veterano tem o poder de dar o tom certo em cada núcleo, além de “puxar” a interpretação dos mais jovens como se fosse um técnico de futebol não fora, mas dentro de campo. Escrever para grandes atores, novos ou mais experientes, é sempre uma responsabilidade redobrada. Em contrapartida nos dá a certeza de que o texto atingirá o espectador com maior eficiência.....
Por que o desejo de explorar o universo mineiro dos anos 30? Onde você pesquisou a linguagem da época?
Walter Negrão - Eu me enamorei do universo mineiro desde pequeno, por conta de meus bisavós que desceram de Minas Gerais em lombo de burro e faziam parte da tropa que fundou minha cidade natal (Avaré) no Estado de São Paulo. A saga dessa gente deve ter ficado no meu sangue. Além disso, a crônica do Triângulo Mineiro me acompanha desde a década de 50, quando eu ficava horas ouvindo os ‘causos’ contados com muito sabor por Lima Duarte nos bastidores da TV Tupi. Mais do que a linguagem, a minha pesquisa sempre se fundamentou na pergunta: o que é ser mineiro? Mineiro não é só definição de alguém que nasce e vive nas Gerais. Mineiro é antes de tudo um estado de espírito. Além disso e da mineirice no sangue, mantive e mantenho uma ligação muito forte com aquele pedaço de Brasil graças à devoção por Chico Xavier e à minha atividade paralela de pecuarista. Afinal, sou geminiano. E geminiano nunca é uma coisa só. No meu caso, deveria botar em meu cartão de visita: escritor, pecuarista e medium psicofônico...
Você costuma colocar trens em suas novelas, pois dá sorte. Nesta novela, a história começa com uma viagem de trem e a construção de uma ferrovia será um dos temas centrais. De onde vem esta superstição?
Walter Negrão - Não se trata de superstição! É uma homenagem a meu pai que foi ferroviário até o final de sua vida. Mas não posso negar: que tem dado sorte, isso tem. Talvez porque o velho se ligue no trem do primeiro capítulo e diga: “Ih, lá vem aquele moleque de novo com a mania de trem... Deixa eu dar uma protegida no trabalho dele!”
Você trabalha com a Jackie Vellego e o Renato Modesto. Esta parceria é de longa data? Como é a rotina de trabalho de vocês?
Walter Negrão - Este é o segundo trabalho nosso em parceria. Não os considero apenas colaboradores, mas parceiros na criação e desenvolvimento da novela. Fazemos reuniões semanais, jogamos muita conversa fora, damos muita risada e no fim - por incrível que pareça - saem as idéias para o próximo bloco de capítulos.
Você acha que "Desejo Proibido" vai conseguir alavancar o ibope da Globo após a baixa popularidade de "Eterna Magia"?
Walter Negrão - Acho que meu trabalho não se pauta pela novela que está saindo do ar. Aposto no sucesso de "Desejo Proibido", porque estou sentindo que o retorno está bom, das chamadas, do elenco forte, com grandes nomes. Estou muito feliz. Vamos arrebentar a boca do balão.
Em quais ingredientes aposta para a novela dar certo?
Walter Negrão - Misturei fé, romance e drama com uma grande dose de humor. A novela tem muito humor em todos os personagens. O prefeito Viriato (Lima Duarte) é um dos principais, ele é um político cheio de promessas, quer desviar o rio da cidade (risos). Vamos usar o humor contextualizando com a política
Você aprovou a escolha do diretor Marcos Paulo em escolher Fernanda Vasconcellos como protagonista?
Walter Negrão - A Fernandinha tem muito talento para segurar a novela. Ela nasceu uma estrela. Estava vendo os DVDs das cenas dela, muito boa mesmo. Não tenho do que reclamar do elenco, é de primeira.
Quais serão os novos galãs revelados pela novela?
Walter Negrão - O Rodrigo Lombardi será o próximo galã, com certeza (risos). Também tem o Pedro Neschling, os atores André Arteche e Nando Cunha. Tem uma porção (risos).
Você acha que o triângulo amoroso envolvendo o padre Miguel (Murilo Rosa) vai gerar polêmica?
Walter Negrão - Acredito que sim, mas dentro do permitido no horário, não terá um apelo sexual, apenas beijo. Ao mesmo tempo que se apaixona pela Laura (Fernanda Vasconcellos), ele se penitencia, se confessa, quer largar a batina para viver esse amor.
Você teme sofrer represália da Igreja?
Walter Negrão - Não, isso acontece com qualquer padre, é muito comum. Tenho dois consultores padres que lêem os capítulos, não terei problemas. Tenho mais medo do personagem do Alexandre Borges. Ele é médico e vai se envolver com sua paciente. Sempre chovem e-mails de Associações de Médicos nestas situações, vamos esperar para ver.
Fonte: A entrevista foi retirada do Jornal Folha de Sâo Paulo (www.folha.com.br) e do site da Globo.com.