O co-autor de "Paraíso Tropical", Ricardo Linhares recebeu o site "O Planeta TV!" para uma entrevista e falou sobre seus trabalhos e o sucesso de "Paraíso Tropical" que em sua reta final vêm prendendo a atenção dos telespectadores.
O Planeta TV! – Ricardo, é uma honra recebê-lo para contar um pouco sobre seus trabalhos e repercussão de Paraíso Tropical.
Ricardo Linhares – A honra é minha! Sou fã do site, que é sério e informativo.
O Planeta TV! – Você é co-autor de vários sucessos, como, por exemplo, Fera Radical, O Dono do Mundo, Fera Ferida e Celebridade. Com isto, você dividiu grandes sucessos com outros autores, como Aguinaldo Silva, Walter Negrão, Ana Maria Moretzsohn e Gilberto Braga. Como é trabalhar com outros mestres da teledramaturgia?
Ricardo Linhares – Eu tive sorte por ter sido convidado a escrever com eles. Além de escritores talentosos, são amigos queridos. Gosto de trabalhar em parceria. O processo de criação é mais prazeroso, rende mais. As reuniões são divertidas; nós conversamos, rimos, trocamos experiências de vida e profissional. O brainstorming é estimulante. No trabalho em dupla, é necessário haver respeito e generosidade entre os parceiros. Nas novelas que escrevi em parceria, nunca houve briga, desentendimento ou vaidade, e sim cumplicidade e soma.
Em ‘Paraíso’, nunca houve disputa pelo poder ou tentativa de fazer com que uma idéia prevaleça sobre as demais. Há respeito, troca de vivências e aprenzidado constante. Gilberto é generoso, um professor. Escrever novela é uma tarefa difícil. Fazê-lo a quatro mão torna o trabalho mais interessante. E temos uma excelente equipe de escritores: Angela Carneiro, João Ximenes Braga, Maria Helena Nascimento, Nelson Nadotti e Sérgio Marques.
O Planeta TV! – Tem algum autor que você gostaria de trabalhar?
Ricardo Linhares – Cada caso é um caso.
O Planeta TV! – Sua primeira novela solo foi Meu Bem Querer que era uma novela de realismo fantástico no estilo de Aguinaldo Silva. Como foi esta sua primeira experiência?
Ricardo Linhares – Foi ótima. A influência do estilo de Aguinaldo foi grande, principalmente no pano de fundo, a cidadezinha do interior nordestino onde as maiores maluquices podem acontecer como se fossem normais. Havia, por exemplo, Custódia (Marília Pera), uma mulher que há 30 anos não saía de casa. Ao mesmo tempo, havia um diferencial. A base da trama era uma história de amor. Um quarteto: Juliano (Leonardo Brício) amava Lívia (Flávia Alessandra) que amava Antônio (Murilo Benício) que amava Rebeca (Alessandra Negrini), que se casou com Juliano. Uma ciranda de amor impossível. A comédia vinha nas paralelas, com força. Por exempo, em Tonha da Pamonha (Arlete Salles), Barnabé de Barros (Osmar Prado) e Verena (Lília Cabral), e nos furdunços na praça. Nas novelas que escrevi em parceria com Aguinaldo, os romances não tinham esse peso. Foi uma mistura dos dois universos.
O Planeta TV! – Em “Agora é Que São Elas”, você voltou a apostar em uma novela fictícia. Você tem preferência quanto o estilo?
Ricardo Linhares – Eu brinco que, em Paraíso Tropical, pela primeira vez não fiz uma vaca voar (como em "Agora é que são elas"), ou um maremoto destruir uma cidadezinha ("Meu Bem Querer"), ou um personagem cair num buraco que vai dar no Japão ("A Indomada"), ou a presença mágica de Iemanjá ("Porto dos Milagres"). Nesta novela, não houve sobrenatural. Durante muitos trabalhos, a presença do realismo fantástico foi forte nas minhas tramas, por gosto pessoal e por influência do meu trabalho de anos com Aguinaldo. Mas acho que no momento não estou atraído pelo gênero. A partir de "Agora é que são elas", comecei a refletir sobre o fôlego deste estilo no meu trabalho. Nesse época, Gilberto me chamou para trabalhar em "Celebridade". Eu fiquei muito feliz e aceitei de imediato o convite. Ao entrar na metade da novela, comecei a escrever num estilo que nunca havia experimentado antes, o melodrama urbano, contemporâneo, com o toque de sofisticação do Gilberto. Gostei muito.
O Planeta TV! – “Agora é Que São Elas” não foi bem de audiência e a Globo optou por encurtá-la. O que você acha que aconteceu para a novela não ter conquistado uma boa audiência para o horário das 18h?
Ricardo Linhares – Desculpe te corrigir. A novela não foi encurtada. Teve o número de capítulos que haviam sido planejados antes da estréia. Não estou fazendo crítica aos meus colegas nem emitindo juízo de valor, mas ela dava mais audiência do que algumas produções recentes das 18h e das 19h. Digo isso para explicar que, em televisão, tudo é relativo. Mas ‘Agora’ não explodiu no ibope. E a responsabilidade foi minha. Comecei escrevendo uma trama que misturava realismo mágico, crítica política e social. O tom da novela era debochado, satírico. Aprendi na marra que o público do horário não está interessado nesse tipo de temática. E havia pouca história de amor. Minha mãe me telefonava pedindo mais romance. No grupo de discussão, as espectadoras pediam mais beijo na boca entre Miguel Falabella e Vera Fischer. Queriam que o casal revivesse logo o amor do passado. Eu errei ao dimensionar a história e tratei de fazer correções de rumo. Não tenho pudor em admitir que fiz mudanças radicais no tom. Deixei de lado as tramas políticas e fantasiosas. Investi em várias histórias de amor. A novela ficou realista e romântica. Assim, vencemos as turbulências iniciais. E a novela entregou muito bem para a sucessora, no trilho do horário.
O Planeta TV! – Você tem planos para escrever mais uma novela sozinho?
Ricardo Linhares – Eu já tenho algumas idéias. Mas não faço planos a longo prazo. No momento, quero entrar de férias......
O Planeta TV! – “Paraíso Tropical” é o seu mais novo sucesso com parceria de Gilberto Braga. A trama teve um início conturbado em termo de audiência, apesar de sua agilidade e um texto impecável. O que você acha que aconteceu?
Ricardo Linhares – É difícil analisar. Não é minha praia racionalizar em cima de um trabalho, ainda mais um trabalho tão recente. Acho que no início o público estranhou o ritmo da história, a temática de disputa de poder dentro de uma empresa, a crise de desemprego e casamentos falidos. Talvez tenha sido forte demais. Começamos abordando um universo muito masculino, que não interessou às mulheres. Havia pouco romance. Daniel e Paula se apaixonavam e rapidamente eram separados por armações dos vilões. Discordo de quem diz que havia muita maldade. Acho que havia crueldade no comportamento dos vilões e crueza nos relacionamentos afetivos. Aos poucos, a novela foi ficando mais feminina. Ana Luísa foi uma personagem emblemática desta fase. A mulher traída deu a volta por cima e viveu sua história de amor. Essa trama lavou a alma das espectadoras. Fabiana encontrou um novo amor. Bebel conquistou a todos com seu humor e carisma. Taís entrou na trama e mobilizou o público com suas armações. Marion ficou mais armadora. Tivemos o triângulo Fred, Camila e Mateus. Neli amadureceu, sofreu. Dinorá perdeu o marido. Lúcia entrou na história com força total. Havia uma bela relação filha e mãe, com Hermínia. Joana viu sua vida virar de pernas pro ar ao descobrir que o namorado era ladrão e garoto de programa. Enfim, são muitos exemplos, não dá para citar todos. Mas a novela adquiriu uma feição feminina. Diminuímos drasticamente as cenas de escritório. Por isso, as secretárias ganharam cenário próprio. Nós não abandonamos as críticas sociais e de costumes, mas contrabalançamos com mais comédia e mais drama feminino.
O Planeta TV! – Os primeiros capítulos de “Paraíso Tropical” apresentaram algumas cenas de sexo que foram bastante criticadas pela imprensa. Você acha que estas cenas influenciaram na queda da audiência, bem como, cenas ousadas da personagem Bebel, que no início era mais ousada?
Ricardo Linhares – No início, havia muita cena de sexo e nudez, inlusive com Bebel e seus clientes no bordel da Bahia, por exemplo. Ou entre Bebel e Jáder. Entre Ivan e Tatiana transando na mesa da cozinha da casa de Marion. Sentimos que estávamos pesando a mão e suavizamos. O sexo e a nudez foram atenuados. São correções naturais de percurso. O autor de novela precisa ter em mente o público das classes A a E, de diferentes níveis sociais, econômicos e culturais. Nós temos que pensar na novela e no público como um todo, e não segmentado, dos avós aos netos, dos Jardins ao ABC. Eu ouvi reclamações de espectadoras que assistiam à novela com seus filhos e com seus pais, em família. E se sentiam incomodadas com cenas de sexo e nudez mais fortes. Refleti sobre o assunto e dei razão a elas. Claro que é preciso não ser moralista nem conservador. O sexo e a nudez fazem parte da vida. Mas temos que tratar o assunto com equilíbrio. Novela não é filme, em que o público paga ingresso e sabe o que vai assistir. Novela é vista por espectadores de 8 a 80 anos. Nas minisséries, que vão ao ar mais tarde, é possível ser mais ousado.
O Planeta TV! – Você e Gilberto Braga começaram a novela com cerca de 40 capítulos escritos, você não acha que estrear uma novela com tantos capítulos escritos pode atrapalhar quando a audiência não vai bem?
Ricardo Linhares – Começamos com 45 capítulos escritos. Quando a novela estreou, já havíamos escrito o encontro das gêmeas, que foi marcante no ar. E já estávamos armando o flagrante de Ana Luísa em Antenor e Fabiana. Cada caso é um caso. Em Paraíso, o número de capítulos prontos não atrapalhou. Gostamos de trabalhar com folga para que a direção, os atores e a produção possam se organizar. Uma boa frente permite que as gravações e os eventos sejam programados com antecedência, o que faciita a vida de todo mundo. Nós sempre tivemos confiança na história. Portanto, apesar dos sobressaltos, seguimos em frente com a sinopse.
O Planeta TV! – Houve alguma alteração da sinopse inicial ao longo da novela?
Ricardo Linhares – Não, nenhuma alteração significativa. Só as mudanças naturais pelas quais toda sinopse passa ao virar capítulo. Tudo o que aconteceu já estava previsto na sinopse, como, por exemplo, o romance entre Ana Luísa e Lucas. O trambique de Taís para casar com o gay a fim de arrancar dinheiro do pai dele. A morte de Isidoro e Evaldo. Lúcia reviver o amor do passado com Cássio e depois se envolver com Antenor. A troca de lugar entre as gêmeas. Até o golpe do DNA de Olavo em Antenor, usando o filho de Bebel, está na sinopse. Outras tramas não estavam previstas e surgiram de necessidades da história, como os personagens Alice, Lutero, Fernanda e Helena, por exemplo.
O Planeta TV! – Passado o período crítico em termos de audiência, Paraíso Tropical deu a volta por cima e vem registrando ótimos números em sua reta final. A morte de Taís promete esquentar ainda mais os últimos capítulos. A morte da vilã já estava prevista na sinopse?
Ricardo Linhares – Já estava prevista. Mas ficamos em dúvida sobre quando valia a pena executá-la, já que Taís se tornou a locomotiva da trama com suas armações. Por fim, decidimos adiar o máximo possível a morte da personagem. E deu certo.
O Planeta TV! – Vários são os suspeitos pela morte de Taís, entre eles, podemos citar: Marion, Ivan, Antenor, Olavo e Jader. Em Celebridade, o assassino foi o óbvio, em Paraíso Tropical isto pode voltar a acontecer, ou o público pode se surpreender? O que você pode adiantar sobre este mistério?
Ricardo Linhares – Mais do que surpreender o público, nossa intenção é criar uma trama coerente, interessante, coesa, que divirta e emocione. Mas o argumento do/a assassino/a é forte e está bem embasado. A morte de Taís não é gratuita.
O Planeta TV! – É verdade que Marion pode ser a próxima vítima?
Ricardo Linhares – Marion vai ser envenenada. Mas consegue sobreviver. Depois dela, tentam envenenar Olavo, mas Lutero morre em seu lugar. A próxima vítima será Antenor. Esse é um dos mistérios da reta final: será que a morte de Taís está ligada aos atentados?... A polícia e os personagens estão se perguntando isso. E a linha de investigação vai tentar estabelecer uma conexão entre os crimes. Se é que ela existe. Será que há um serial killer a solta?... São muitos mistérios!...
O Planeta TV! – O triângulo entre Fred, Camila e Mateus vem dividindo o público. Fred que no início só queria aproveitar da mocinha e acabou apaixonando de verdade. Vocês já definiram o destino de Camila?
Ricardo Linhares – Já. Mas eu não posso adiantar as emoções finais, para não estragar a surpresa.
O Planeta TV! – Neli traiu o marido, fez de tudo para Camila casar com Fred, e, atualmente luta pelo perdão de Joana e reconquistar o amor de Heitor. Ela vai conseguir reconquistar sua felicidade?
Ricardo Linhares – Também não posso contar.
O Planeta TV! – É verdade que Joana vai ser acusada de um crime, antes de terminar feliz ao lado de Cássio?
Ricardo Linhares – Idem.
O Planeta TV! – Quais cenas que você destacaria ao longo dos capítulos de “Paraíso”? Tem alguma cena que você se emocionou escrevendo?
Ricardo Linhares – Várias cenas me emocionaram à beça. Nem saberia escolher uma. Se eu não me emociono ao criar, dificilmente vou conseguir emocionar o espectador, porque não vou passar verdade. Estou muito envolvido com o trabalho para destacar uma seqüência em particular. Para mim, ‘Paraíso’, como um todo, foi uma novela especial.
O Planeta TV! – Olavo aprontou algumas, mas acabou caindo nos braços de Bebel. O vilão tem possibilidades de se regenerar ao lado dela, ou eles ainda vão aprontar nesta reta final?
Ricardo Linhares – Não só Olavo, mas todos os vilões da novela serão punidos com prisão, morte, humilhação, perda de status e dinheiro, abandono. Na vida real, nós assistimos impotentes ao espetáculo da corrupção e da vitória da impunidade, no Congresso Nacional e na presidência da República. Mas na ficção, a ética vai prevalecer.
O Planeta TV! – Como vocês vão fazer para manter o segredo do assassinato até a exibição do último capítulo, uma vez que a imprensa fará de tudo para conseguir tais informações?
Ricardo Linhares – Vários finais falsos foram escritos e serão gravados por parte do elenco, na véspera e no dia da exibição do último capítulo. Eles só receberão o texto na hora da gravação. Há também cenas falsas que foram misturadas a cenas verdadeiras, para despistar. Serão gravadas e retiradas na hora de editar o capítulo final. Portanto, o fato de uma cena ter sido escrita e ser gravada não significa que ela vá ao ar. É um aparato de guerra. O grande articulador dessa engrenagem de gravação é o Dennis, que é fera. Esse processo todo é bem trabalhoso. Eu acho curioso o seguinte: uma resenha sobre livro ou filme baseado na obra de Agatha Christie, por exemplo, não conta o final da história, para não estragar a surpresa do público. Com novela de televisão, isso não acontece. Por quê?
O Planeta TV! – Bom, muito obrigado por compartilhar um pouco sobre seu trabalho e desejamos sucesso em trabalhos futuros.
Ricardo Linhares – Obrigado a você!
Com a reta final de Paraíso tropical, o autor Ricardo Linhares que já terminou de escrever a trama, só pensa em férias. E provavelmente o seu próximo trabalho será ao lado de Gilberto Braga que o convidou para escrever uma minissérie sobre Tom Jobim.
Enquanto não chega o próximo trabalho do autor, só nos resta acompanhar os últimos capítulos de "Paraíso Tropical" de segunda a sábado às 20h50 na TV Globo.