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"A história precisa ser impactante, emocionante", explicam autoras de "Cama de Gato"

Agilidade, emoção e adrenalina foram uns dos ingredientes que fizeram com que Cama de Gato caísse na boca do povo. A trama teve uma dinâmica moderna para o horário das 18h, mas não deixa de reunir todos os elementos clássicos da dramaturgia e, por isso, conquistou pessoas das mais diferentes gerações.

O site O Planeta TV! convidou e as autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, responsáveis por este sucesso, atenciosamente, concederam uma entrevista.

Confira:

Por Jeferson Cardoso

O Planeta TV! – Como vocês chegaram à TV como autoras?

Thelma – Desde menina, tinha o desejo de ser escritora. Mas nunca imaginei em escrever para a televisão. Fui traçando meu caminho fora da televisão, com o objetivo de ter uma carreira literária e na academia. Eu já fazendo o mestrado em Literatura Brasileira, e trabalhando na editora da USP, quando fiquei sabendo sobre a oficina de roteiro da TV Globo. Me inscrevi e fui selecionada. Foi nesta oficina, coordenada por Flávio de Campos, que eu aprendi toda a base da teledramaturgia. Coincidentemente, no dia em que lancei o meu primeiro livro de contos, Cidadela Ardente (27 de novembro de 1997), fui chamada para assinar contrato com a emissora. A partir de então, como roteirista, escrevi para diversos programas: AngelMix, Turma do Didi, Sítio do Picapau Amarelo; e colaborei nas novelas Vila Madalena, de Walther Negrão; Esperança (na segunda fase, com Walcyr Carrasco); Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea, ambas do Walcyr. Depois, fui convidada pelo próprio Walcyr para dividir com a Duca a autoria da adaptação da novela O Profeta, da Ivani Ribeiro.

Duca – Eu sempre quis escrever para a TV, e tive que percorrer um caminho longo e tortuoso pra isso. Quem primeiro me ensinou algumas técnicas de roteiro foi o Jayme Camargo, um roteirista brasileiro que conheci em Portugal, na década de 90. Junto com ele fiz vários programas infantis, uma minissérie gravada na África e até um sit-com com a Tônia Carreiro e o Zé de Abreu, dirigida pelo Cecil Thirré, em co-produção com a TV Manchete, mas nunca exibida aqui. Foi em Portugal também que conheci o Avancini. Apresentei meu currículo e meus textos a ele, que me chamou pra colaborar naquela que foi minha primeira novela, "A Banqueira do Povo". Em 92, voltei ao Brasil e fui bater à porta do Walther George Durst, com minhas fitas VHS com alguns capítulos da novela gravados. Ele me recebeu muito generosamente e passamos a trabalhar juntos. Com o Walther aprendi tudo o que sei sobre teledramaturgia. Fui sua colaboradora nas novelas "Tocaia Grande", na extinta TV Manchete e "Os Ossos do Barão", no SBT. Quando o Walcyr Carrasco ingressou na TV Globo em 1999, foi o Avancini quem sugeriu a ele que me chamasse como colaboradora. Com o Walcyr fiz uma novela da qual muito me orgulho, "O Cravo e a Rosa", em seguida "A Padroeira". Depois colaborei com Emanuel Jacobina em "Coração de Estudante" e fui cabeça de equipe do Sítio do Picapau Amarelo. Até me tornar autora, dividindo a titularidade com a Thelma, no "Profeta" e agora em "Cama de Gato".

O Planeta TV! – Como surgiu a parceria Thelma Guedes e Duca Rachid?

Duca – Foi o Walcyr quem nos aproximou. A gente só se conhecia de festas e eventos a TV Globo. Nunca tínhamos trabalhado juntas. Mas o Walcyr é aquele cara com uma intuição poderosa, e sentiu que a gente podia dar certo juntas. Walcyr foi chamado a fazer o remake do "Profeta", mas já tinha uma novela em preparação para as 19:00hs. Então sugeriu que nos chamassem a fazer esse remake, sob a supervisão dele.

Thelma – E, embora a gente não tenha nunca trabalhado juntas antes, assim que sentamos para colocar a mão na massa, a sintonia aconteceu de imediato. A coisa funcionou! Foi mesmo impressionante como deu certo. Por isso, decidimos continuar trabalhando juntas.

O Planeta TV! – Por um período vocês trabalharam como colaboradoras de Walcyr Carrasco, que supervisionou vocês em "O Profeta". Como foi esta parceria?

Thelma – Conheci o Walcyr em cursos e palestras sobre roteiro que eu organizei e ele topou participar. Depois das palestras ou aulas, a gente ia jantar e conversava longamente sobre televisão, cinema, literatura. A partir dessas trocas de interesse comuns foi que surgiu uma identificação e ele me convidou para trabalhar com ele. Deu super certo. O Walcyr não é nada esquemático no jeito de trabalhar. Como ele mesmo diz, é um pouco caótico o processo de criação dele. E isso deixa o colaborador muito treinado. Ajuda a criar um olhar de autor. Porque não há uma tarefa única a cumprir. Eu tinha que estar atenta ao todo da novela. Tinha que ficar ligada na continuidade, lembrar de coisas que não podiam ser esquecidas. Eu ajudava a ver se o capítulo estava redondinho ou se tinha arestas. E podia propor como enxugar, até mesmo na edição do capítulo eu fazia isso. E uma coisa que ele tem de sobra e exige do colaborador é o entusiasmo! Por maior que seja a dificuldade, ele a transforma num ganho para a novela.

Duca – Para mim foi um grande aprendizado! Walcyr é um autor que conhece seu público. Escreve para pessoas de todas as idades e classe sociais, e consegue agradar a todos.

O Planeta TV! – Como surgiu a sinopse de "Cama de Gato"? Vocês criaram a trama juntas?

Duca – A ideia surgiu das nossas conversas sobre o fim das ideologias, a desvalorização do trabalho e ausência de valores éticos e morais na sociedade atual, a revolução feita pela mulher, entre outras questões que nos inquietam. Pensamos em como falar um pouco dessas coisas numa novela. Então encontramos um livro, "Homens Invisíveis-Relatos de uma Humilhação Social", do Fernando Braga da Costa, que relata a humilhação social e a invisibilidade pública vivida por trabalhadores braçais, nesse caso, os garis. Foi daí que surgiu a personagem da Rose, faxineira, trabalhadora invisível aos olhos de seu arrogante patrão, mas que a é a única pessoa a salvá-lo de um acontecimento que muda toda a sua vida. De transformá-lo através do amor. Uma mulher que cria sozinha seus quatro filhos, tem uma vida difícil, mas que não perdeu os valores mais caros a um ser humano: a compaixão, a solidariedade, a alegria de viver.

Thelma – Nós duas estávamos escrevendo uma outra sinopse, muito diferente dessa. E eram nos intervalos de trabalho que surgiam esses papos existenciais, aos quais a Duca se refere. Talvez a característica da época em que vivemos que mais me incomoda é o extremo individualismo, o valor demasiado que se dá às conquistas materiais e ao poder. Isso cria um sentimento de arrogância, que é uma verdadeira cegueira em relação às coisas que de verdade são importantes na vida das pessoas. Isso torna as pessoas vazias e infelizes, em vez de fazê-las alcançar a tão desejada felicidade e completude. Foi baseado nessa figura arrogante e cega que criamos o Gustavo. A Rose surgiu como o contraponto dele. Como uma figura que surge na vida dele, como uma luz, para salvar esse protagonista da cegueira e infelicidade.

O Planeta TV! – Já aconteceu de as duas terem ideias contrárias sobre alguma trama e terem que chegar a um consenso?

Thelma – Entre a gente o que é muito bom é que a diferença existe sempre para melhorar a trama, para incrementar a história. Claro que a gente não concorda em tudo, porque somos duas pessoas. Mas como o nosso objetivo não é disputar nada, nunca aconteceu que ideias diferentes dividissem a dupla e fizessem a gente brigar. Quando uma propõe algo que a outra não acha muito bom, a outra para e pensa um pouco numa maneira de fazer aquilo ficar melhor. Dessa mecânica surgiram os melhores momentos da novela, os mais surpreendentes, na minha opinião.

Duca – Olha, sabe que não me lembro de termos passado por isso? Já tivemos sim, ideias complementares, já ajustamos a ideia uma da outra, mas não me lembro de nenhuma diferença marcante, em termos artísticos.

O Planeta TV! – Como foi a parceria com João Emanuel Carneiro em "Cama de Gato"? Ele supervisionou a novela até o fim?

Duca – Não. Ele supervisionou os 40 primeiros capítulos. E funcionava mais como um "advogado do diabo", sempre nos questionando sobre a natureza dos personagens, os caminhos da trama, etc. Mas de uma maneira doce e respeitosa. Temos uma afinidade artística muito grande com ele. Tanto que foi o próprio João que escolheu nossa sinopse para supervisionar. E mais que um supervisor, ganhamos um amigo pra toda vida. O João é uma delícia de pessoa!

Thelma – O João foi de um respeito absoluto com a gente. Sempre nos tratou como as autoras da novela. Desde o primeiro instante, ele disse que estava ali para sugerir, mas as autoras éramos nós. E embora ele tenha supervisionado os 40 primeiros, foi no momento de implantação da novela que o trabalho mais intenso com ele se deu, com conversas quase que diárias sobre os primeiros capítulos. E ele nos apoiou em outras instâncias, como na escolha do elenco, da música. Ele foi uma grande "apoiador" do projeto. E torcia muito por nós! Às vezes fico meio chateada, porque algumas pessoas dizem que a dinâmica ágil da novela deve-se à supervisão do João. Na verdade, ele escolheu a nossa sinopse para supervisionar porque encontrou nela elementos de identificação. E a agilidade é um deles. Quem assistiu a nossa versão de O Profeta sabe disso.

O Planeta TV! – "Cama de Gato" enfrentou o horário de verão e uma instabilidade nos índices de Malhação, pontos que influenciaram a audiência da trama. Já esperavam por isto? Foi preciso modificar alguma coisa para manter os índices que a trama vinha alcançando?

Thelma – Eu sou uma otimista incorrigível. E embora eu soubesse que teríamos dificuldades imensas, bem maiores daquelas que tivemos em O Profeta, eu não me abalava. Acreditava muito nessa história, na forma da gente trabalhar, na direção, nesse elenco...

Duca – Ah, a gente já esperava! Tivemos a experiência do horário de verão, no "Profeta". Mas esse verão foi especialmente quente, né? No entanto não fizemos muitos ajustes na novela em função disso não. Mantivemos o ritmo e a dinâmica próprios do nosso trabalho e, felizmente, deu tudo certo.

O Planeta TV! – Como vocês lidam com a audiência? Qual é a sua importância no processo criativo do autor?

Duca – Claro que a audiência é importante. Todo autor gosta de ser visto. Mas o mais importante mesmo é a história. Todas as decisões de situações dramáticas estão a serviço dela.

Thelma – Eu escrevo novela para o público, para ele ver e gostar. Se não quisesse que o público gostasse, eu escreveria para a gaveta. Eu tenho o maior respeito pelo público. E acompanho sim o ibope, porque é a resposta imediata que eu tenho do público ao nosso trabalho. Mas o ponto de partida de tudo é a história que o autor quer contar. E, como autor, eu tenho que acreditar na minha história. Tenho que me esforçar para torná-la o mais sedutora possível para o público, mas mantendo a sua essência, o que a fundamenta. Se um autor mudar o fundamento de sua trama só pra agradar ao público, a ponto de desmantelá-la, ela perderá o sentido. O tiro pode sair pela culatra e a novela desagradar mais ainda.

O Planeta TV! – A personagem Débora, interpretada pela atriz Guta Gonçalves, já estava prevista na sinopse?

Duca – Sim. Desde o início estava previsto em sinopse o Alcino ter um filho, que ele descobre ser uma filha. Também tínhamos previsto que essa seria uma filha "falsa", que ia ensinar muito sobre a vida ao Alcino. Um personagem que, apesar de um amigo fiel, começa como um cara "desgarrado", que não quer compromisso afetivo com ninguém, e que também vai se transformando ao longo da trama.

Thelma – Claro que sim. E com o fim que foi ao ar. A ideia era justamente que o Alcino achasse que o filho era um rapaz, se metesse num monte de roubadas, até ter a surpresa de encontrar essa filha; que, depois, ele viria a saber que não era sua filha de verdade.

O Planeta TV! – Por que resolveram matar a personagem, uma vez que, a personagem era muito querida e todos torciam para que ela tivesse um final feliz ao lado de Pedro (Ronny Kriwat)?

Duca – A morte de Débora também estava prevista. Queríamos fazer um "Romeu e Julieta", uma história de amor sem final feliz. E não poderíamos tratar de gravidez na adolescência de uma forma exclusivamente romântica. Esse é um assunto sério de saúde pública, existe mesmo o risco de morte, já que nem sempre o corpo da adolescente está totalmente desenvolvido, para gerar e parir um filho. E com a morte, acabamos punindo também o bulling, que ainda é difícil de ser punido juridicamente, mas que pode ter conseqüências muito sérias na vida de um estudante.

Thelma – Essa não foi uma resolução leviana nem de última hora. Estava bem planejada. Os maiores clássicos da literatura emocionaram gerações e continuam a emocionar exatamente por apresentarem o primeiro amor idealizado, que se eterniza por sua impossibilidade de acontecer. Muitos deles, como Romeu e Julieta, têm um final trágico. Dramaticamente, foi esse o nosso objetivo. A construção desse amor, passo a passo, tendo que enfrentar tantas dificuldades, foi talvez o que tenha gerado uma expectativa tão grande em relação ao final feliz do casal. Mas se os espectadores pensarem bem, no lugar de um final feliz, esses adolescentes teriam um final "banal". O amor deles ficou maior, eternizado pela morte da Débora, que deixou uma filha, que é o fruto muito especial desse amor.......

O Planeta TV! – É preciso levar em consideração a opinião do público quando se escreve uma novela?

Thelma – Sim, mas é preciso saber ouvir essas opiniões e críticas. Em geral, o público quer punir o vilão e juntar o mocinho e a mocinha no começo. Se fizermos exatamente o que o público quer, a gente termina a novela no segundo capítulo! rs

Duca – Claro, sempre! É para o público que escrevemos a novela. Mas é também necessário respeitar a lógica e da história que estamos contando.

O Planeta TV! – Nos últimos capítulos, vocês criaram uma expectativa em torno de Rose e Alcino. Qual a probabilidade deles ficarem juntos?

Duca – Essa é uma novela com dois "mocinhos". Sempre existe a possibilidade da "mocinha" escolher um deles.

Thelma – O Alcino sempre amou a Rose, desde o começo da história. Acho que ele tem o direito de lutar por ela, quando percebe que a deixou mexida. Ainda que tenha poucas chances. Neste movimento dele, tanto Rose e Gustavo também estão sendo colocados à prova. Até onde o amor deles é tão grande e profundo? Mas logo logo as coisas se definirão!

O Planeta TV! – Qual é o destino do personagem Alcino? Afinal ele morrerá ou dará uma chance à Mari (Isabela Garcia)?

Thelma – Esta resposta eu não dou nem pra minha mãe. rs rs rs

Duca – Melhor a gente deixar a surpresa para o último capítulo, né?

O Planeta TV! – Atualmente, os vilões vêm se destacando nas telenovelas. Em "Cama de Gato" não foi diferente e Verônica (Paola Oliveira) aprontou poucas e boas. Existem regras para criar um bom vilão ou uma boa mocinha?

Thelma – Eu acredito num vilão quando ele tem verdade. Foi isso que tentamos dar pra Verônica. O fato de ter charme ajuda muito um vilão também...

Duca – Não sei se existem regras. A princípio todo personagem tem que ter uma bagagem humana interessante. Verônica, por exemplo, tem seus motivos pra ser como é. Foi criada sem nenhum valor ético ou moral, sem amor, sem atenção. Só aprendeu a valorizar o que é material. Ela age movida pelo medo de perder seu status.

O Planeta TV! – Verônica será o tipo de vilã que se dá bem ou se será castigada no final?

Thelma – Ela vai ter um final bem bonito. Vai pagar pelo que fez certamente. Mas fazendo algo inesperado.

Duca – Verônica vai passar por uma grande transformação. É só o que posso adiantar.

O Planeta TV! – Um dos núcleos da novela é a casa de repouso, formado por artistas mais "velhos". Vocês acham que os artistas nesta faixa dos 60 anos estão perdendo espaço nas novelas? Qual foi o interesse de vocês em criarem esse núcleo?

Thelma – Não acho não. Há sim papéis muito bacanas para atores dessa idade. A nossa Casa de Repouso foi uma homenagem e uma celebração a essa fase da vida, que pode ser muito bem vivida sim! Minha mãe tem 85 anos e é a pessoa mais animada que eu conheço. Ela é meio Loló! E acho que só viveria numa Casa de Repouso se fosse animada como a da novela.

Duca – Não sei. Ainda há personagens muito bons para essa faixa etária. O que quisemos dizer com esse núcleo da Casa de Repouso é que, desde que haja saúde, é possível viver a velhice com muita alegria. Cada idade tem as suas características e devemos curtir todas as fases da nossa vida, com alegria de viver.

O Planeta TV! – Como é a rotina de trabalho de vocês quando estão escrevendo uma novela?

Thelma – A gente trabalha muito! Umas doze, treze horas por dia, todos os dias! Levanta-se cedo e dorme-se tarde. Não sobra tempo pra mais nada a não ser escrever, pensar e ver a novela.

Duca – A gente normalmente se encontra três a quatro dias na semana para discutir os rumos da trama e fazer as pré-escaletas, que são as estruturas do capítulo, cena a cena. Depois vamos pra casa e, cada uma no seu canto, detalha as escaletas e passa as cenas para os colaboradores. Com as cenas escritas, montamos o capítulo e fazemos a revisão final, em separado.

O Planeta TV! – Como é a relação do autor, diretor e o elenco durante uma novela?

Duca – O ideal é que seja uma relação de confiança e parceria. Disso não podemos reclamar nessa novela. O Ricardo Waddington nos deu um voto de confiança. E a Amora Mautner foi uma parceira muito querida! A gente se falou muito durante o processo e foi fazendo ajustes de ambos os lados, sempre para o bem da novela. E esse elenco não poderia ser mais maravilhoso! Um luxo! Todo mundo muito talentoso e aplicado. Eu não consigo imaginar outra Rose que não seja a Camila, outro Gustavo que não o Marcos, outro Alcino que não seja o Carmo, outra Taís que não seja a Heloísa e nem outro Bené que não seja o Marcelo... E por aí vai: Daniel Boaventura, Rosi Campos, Yoná Magalhães, Luiz Gustavo, Pedro Paulo Rangel, Sueli Franco, Airton Graça, Paulo Goulart, Ilva Nino, Tony Tornado, Berta Loran....todos eles. Ah! Maravilha!

Thelma – Ficamos mais próximos da direção. Costumamos conversar com a Amora quase que diariamente. Com o elenco fica mais difícil. Porque eles são muitos. Mas nunca deixamos de atender um ator quando ele nos procura. Temos um respeito, carinho e admiração enorme por toda essa equipe que fez a novela com a gente.

O Planeta TV! – Qual é a tendência da telenovela brasileira, elas têm que ser mais ágeis, misteriosas e realistas?

Thelma – Não existe fórmula. Nem uma fôrma. Cada autor tem que escrever do seu jeito. Mas a história precisa ser impactante, emocionante. Só que ela pode ser assim sem ser tão ágil, nem tão misteriosa e realista.

Duca – Não sei. Se soubesse estava rica! Acho que seja realista ou não, a novela tem que ter sempre uma história forte, com fôlego para manter o interesse por muitos capítulos. Os personagens têm que ter uma dimensão humana muito grande. Têm que ser construídos com carne, nervos e sangue.

O Planeta TV! – Vocês imaginavam que "Cama de Gato" teria tanta repercussão, chegando ao ponto de ser comparada com uma novela das oito?

Thelma – Como eu já disse, eu acreditava muito, senão não teria coragem de oferecer para a emissora. (não sou louca! Rs). E sabíamos que ela tinha uma pegada forte, com uma temática muito séria, por isso fizemos tudo para criar um entorno da trama central, de muito humor e leveza. Mas claro que a boa aceitação tanto da crítica como do público nos deixou muito felizes. Foram poucas as críticas negativas. Isso sim me surpreendeu,

Duca – A gente sempre acreditou nessa história. Esperávamos uma boa repercussão sim. Mas o resultado dessa novela superou as nossas expectativas.

O Planeta TV! – O que vocês destacariam em "Cama de Gato"? Alguma cena em específico ou algum personagem que destacou além do previsto?

Duca – Foram tantas as coisas boas! Mas eu destacaria o trabalho da Camila Pitanga, como Rose; a estreia da Heloísa Perissé nas novelas; o Carmo Dalla Vecchia como Alcino e a entrega do Marcos Palmeira ao personagem do Gustavo: um mocinho difícil, no limite entre o galã romântico e o vilão casmurro. Mas esse elenco foi, todo ele, um destaque! Também adorei o Tony Tornado fazendo o cover dele mesmo. Foi emocionante! Um momento mágico, que me transportou lá pra década de 60, quando eu era uma menina e fiquei fascinada pelo talento e a atitude dele.

Thelma – A Duca é fogo! Já falou de todos os momentos mágicos e atores surpreendentes. Não sobrou nada pra mim (rs). Estou brincando... Mas a verdade é que é mesmo muito difícil destacar só uma coisa. Tudo foi muito bonito neste percurso. Mas talvez de fato o que mais tenha me deixado feliz foi ver o sucesso que a Casa de Repouso fez. Esse atores veteranos me levaram muitas vezes às lágrimas e às gargalhadas nessa novela. Acho que eles foram o que houve de mais sublime, encantador e supreendente em Cama de Gato.

O Planeta TV! – Que avaliação final fazem sobre "Cama de Gato"?

Thelma – Estou cansada, feliz, realizada e muito grata a todos os envolvidos nesse trabalho. E quero fazer um agradecimento especial aos nossos colaboradores, companheiros de viagem, que foram na verdade co-autores: Júlio Fischer, Thereza Falcão, Alessandro Marson e João Brandão.

Duca – Foi uma novela marcante na minha carreira, sem dúvida. Não só por ser o primeiro argumento original, mas por ter um resultado tão bom. Inesquecível!

O Planeta TV! – Quais são os desafios atuais de um autor de novela?

Duca – O de fidelizar um público cada vez mais disputado por outras mídias e por uma vida, cada vez mais difícil.

Thelma – Concordo com a Duca. Mas não acho que os desafios sejam maiores do que os dos autores de outros tempos. Há alguns anos atrás, os autores estavam criando e fundamentando o formato novela na tv. Hoje temos que continuar esse trabalho, conquistando esse novo público que vem surgindo. Mas respeitando os fundamentos da novela, senão ela deixará de ser novela. Acho que essa é equação que temos que resolver.

O Planeta TV! – Como espectadoras, o que mais gostam de ver na televisão?

Thelma – Novela é o que mais gosto de assistir na TV. Sou noveleira assídua. Gosto muito também dos seriados. E torço muito para que haja cada vez mais seriados brasileiros. Estou ansiosa com as estreias que vêm por aí!

Duca – Ah, eu adoro novelas e séries! E também de programas humorísticos e jornalísticos. Adoro as séries americanas, o "Profissão Repórter", o "Casseta & Planeta".

O Planeta TV! – Na opinião de vocês, qual é o papel de uma telenovela?

Thelma – A telenovela tem uma grande responsabilidade, já que entra na casa de muita gente todos os dias. Ela tem, primeiro que tudo, o dever de respeitar esse público. E um papel não de ensinar, mas de procurar dialogar com ele, levando informação e momentos agradáveis de entretenimento, mas também procurando falar de seu dia-a-dia, refletir sobre sua vida, seus interesses e indagações.

Duca – No nosso país, é muito mais que entreter e emocionar. Também é o de levar informação e até formação. Por isso temos uma grande responsabilidade para com o público.

O Planeta TV! – O que garante a qualidade de uma novela?

Thelma – Nada garante. Mas tudo pode contribuir. Novela é trabalho de equipe. Mas, além do talento, a equipe, composta por todos os profissionais envolvidos na novela, tem que estar coesa, harmonizada e trabalhando feliz. A disputa, as brigas, a infelicidade, pode acabar com um trabalho que tem tudo pra dar certo.

Duca – Garantias, nunca as há. Mas um bom ponto de partida, é uma história forte, personagens interessantes. Um elenco que tenha química e uma boa direção também são fundamentais.

O Planeta TV! – Já existem novos projetos em vista? Pretendem continuar a parceria?

Thelma – Agora vamos dar uma descansadinha antes... Ufa! Foi mais de um ano de atividade intensa. Precisamos descansar, até para voltar com mais garra! Mas há projetos sim. Aos montes! Rs rs rs Inclusive alguns apresentados à casa. Como sempre digo, a ansiedade de ver cada uma de nós escrevendo a própria novela é mais dos outros do que nossa. Se depender de nós, faremos pelo menos uma ou duas novelas juntas. A fórmula Thelma e Duca funciona muito bem. Estamos muito felizes!

Duca – Temos muitos projetos conjuntos que ainda gostaríamos de fazer. Esperamos manter a parceira pelo menos até que esses projetos se concretizem. Pra que mexer em time que está ganhando? Acho que nós duas juntas, somos alguma coisa que não deve se repetir em separado. Pode ser até melhor, ou pior, mas nunca igual!


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