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"Silvio Santos vem aí, olé, olé, olá..."

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Em dezembro, o maior comunicador da TV brasileira completou 80 anos. Ainda em atividade, Senor Abravanel, conhecido como Silvio Santos, leva alegria para milhares de lares há décadas. É dificil imaginar o domingo sem ele.

O ex-camelô, nascido na Lapa, no Rio de Janeiro, fez sua primeira venda aos 14 anos, oferecendo capas para título de eleitor, novidade na época. Filho de pai grego e mãe turca, teve o potencial de sua voz reconhecido por um fiscal de posturas da Prefeitura, que o convidou a fazer um teste na Rádio Guanabara. Silvio conquistou o primeiro lugar no teste da rádio, ganhando de Chico Anysio, entre outros nomes. Mas, assim como persiste nos dias de hoje, o salário de radialista não compensava, e Silvio voltou a vender produtos na rua no mês seguinte.
Ele serviu ao Exército Brasileiro como paraquedista aos 18 anos e, depois de cumprir seus deveres militares, virou locutor de uma rádio em Niterói. Para ganhar dinheiro, montou um serviço de alto-falantes nas embarcações que faziam a viagem para o Rio e, entre uma música e outra, anunciava produtos.

Silvio se mudaria para São Paulo após um acidente com a barca na qual atuava. Trabalhou em bares, apresentando espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. Nessa época ganhou o apelido de “peru que fala” pois, além de falar demais, ficava vermelho com facilidade, devido ao tom muito claro da pele.

A estreia na TV aconteceu em 1962, com o programa Vamos Brincar de Forca, transmitido pela TV Paulista, que mais tarde viraria a Globo. Dois anos depois, passou a comandar seu programa aos domingos, dia que ficaria marcado para sempre como seu na história da TV brasileira. Inicialmente das 12h às 14h, o horário foi sendo aumentado, dando origem ao Programa Silvio Santos. Não contente e mostrando seu lado empresário, comprou do amigo Manuel da Nóbrega o Baú da Felicidade que, na época, vendia baús de presente de Natal para crianças após o pagamento de prestações. Silvio aprimorou a ideia para o que se vê hoje, com móveis e eletrodomésticos como opções de troca, além de sorteios.

O apresentador pagava à Globo o aluguel pelo horário de domingo, revendendo o tempo dos anúncios e tendo mais audiência com o sorteio de carros, móveis e eletrodomésticos. Sua saída da emissora aconteceu na década de 70, quando Boni e Walter Clark implantaram o “Padrão Globo de Qualidade”. A partir de 1976, ele começou a fazer programas na TV Tupi enquanto tentava conquistar seu canal de televisão.

Durante a década de 1980, Silvio foi dono de 50% da Record, vendida à Igreja Universal em 1990. O desejo de ter uma rede nacional para produzir uma programação como bem entendesse era grande. Em 1981, conseguiu a licença para o canal 4 de São Paulo, que se tornou a TVS da capital paulista (ele já tinha a do Rio). Com a rede de afiliadas crescendo, logo surgiria o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Enquanto não consolidava seu canal em todo o país, o Programa Silvio Santos continuava sendo transmitido também pela Record.

Silvio foi casado com Cidinha, que morreu de câncer na década de 1970, com quem teve duas filhas: Cíntia e Silvia. Desde o fim da mesma década está com Íris Abravanel, que atualmente escreve novelas para o SBT. Desse casamento nasceram Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.

Presidente?

O apresentador também quis se aventurar na política. Em 1988, chegou a anunciar durante seu programa a candidatura a prefeito de São Paulo, que não chegou a ser concretizada. Em 1989, com a campanha eleitoral para presidente já em andamento, tentou ser candidato pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), no lugar do pastor evangélico Armando Corrêa. Seu slogan é lembrado até hoje. "É o 26, é o 26, com o Silvio Santos chegou a nossa vez". A candidatura foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por irregularidades no registro do partido. Durante a década de 80 e parte da de 90, sempre por volta das 20h, era transmitida a "Semana do Presidente", um programa de até 5 minutos mostrando o resumo do que o cargo máximo do país havia feito.

Sustos

Em 1987, Silvio teve problemas com a voz e chegou a interromper um de seus programas para transmitir depoimentos emocionados e lembranças da sua carreira. Um tratamento no exterior fez com que se afastasse do comando das atrações por alguns domingos, o que preocupou e muito os fãs.

Em agosto de 2001, o Brasil parou em frente à TV para acompanhar o sequestro de sua filha, Patrícia Abravanel, em São Paulo. Depois de alguns dias de negociação, o resgate foi pago e Patrícia, libertada. Perseguido pela polícia, o sequestrador Fernando Dutra Pinto acabou invadindo a casa de Silvio, mantendo ele e sua família reféns. A notícia repercutiu em todo o mundo. Após convencer o bandido a libertar a família, ele ficou em cativeiro por 7 horas. Foi necessária a chegada do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para que o sequestrador se entregasse.

Dois anos depois, foi a vez dele brincar com a imprensa. De férias em Orlando, na Flórida, Silvio disse à revista Contigo! que tinha uma doença terminal e viveria apenas mais 6 anos. Por causa disso, afirmou ter vendido o SBT para um consórcio formado por Boni e pela rede mexicana Televisa, da qual comprava novelas. O próprio apresentador desmentiu as declarações dias depois, afirmando que respondeu em tom de brincadeira à entrevista.

Programas

Impossível falar de Silvio Santos e não recordar as figuras míticas que o cercam. Entre elas Lombardi, o locutor que nunca mostrava o rosto no programa e quase sempre começava alguma frase com "Ok, Silvio". Ele morreu em dezembro de 2009. Roque, seu assistente de palco, também era presença constante, principalmente no Topa Tudo por Dinheiro, que liderou a audiência nas noites de domingo por vários anos, até que a Globo criou o Sai de Baixo (1996). "Ró-quê!", ele gritava, para chamar o funcionário.

Os programas sempre tiveram a participação do auditório, ou de suas "colegas de trabalho", como costuma chamar as mulheres, que compõem 100% da plateia. A audiência era grande, e a Globo teve que criar o Domingão do Faustão, em 1989, para tirar parte da liderança no Ibope de Silvio. Os sorteios do Baú da Felicidade, como o Peão da Casa Própria, eram tradição, variando apenas de horário. Entre algumas atrações memoráveis da década de 1980 (algumas até chegaram a voltar ao ar nas décadas seguintes), estão o Qual é a Música, Show de Calouros e a Porta da Esperança. Outro formato que ainda se vê atualmente em outras emissoras é o do Namoro na TV.

Os mais novos podem não imaginar, mas, muito antes de Xuxa, Silvio foi o queridinho da garotada com o Domingo no Parque, atração com um ar circense, crianças na plateia e no palco, apresentada por ele. Quem tem mais de 30 anos teve a infância marcada pela atração, que era febre.

Embora o SBT não transmitisse o Carnaval, o apresentador gravou marchinhas carnavalescas, que tocavam todos os anos, como “Coração corintiano” e "A pipa do vovô não sobe mais". Em 2001 ele ganhou a Marquês de Sapucaí, homenageado pela escola de samba Tradição com o enredo "Hoje É Domingo, É Alegria. Vamos Sorrir e Cantar!", e desfilou como destaque em um carro alegórico, usando um traje todo prateado.

Dívidas

Em novembro passado, o Grupo Silvio Santos se viu mergulhado em uma crise financeira por conta de um rombo de R$ 2,5 bilhões no Banco PanAmericano, que faz parte de suas empresas. O apresentador pediu um empréstimo e, como garantia do pagamento, que pode levar até 10 anos, incluiu o SBT, a Jequiti Cosméticos e o Baú da Felicidade. A preocupação, que não deve se concretizar, é que ele se desfaça do SBT, que já despertou o interesse do empresário Eike Batista.

"Vamos sorrir e cantar..."

Silvio é único.A inconfundível risada "Ha Hai...Hi Hiiiiiii", assim como o gesto tradicional de tirar dinheiro do bolso do terno e fazer aviõezinhos das notas, jogando para o auditório, ficam na memória. "Quem quer dinheiro?", pergunta, para o sempre imediato "Eu" coletivo de sua plateia. Suas ideias de programas, muitas vezes trazidas do exterior, foram copiadas exaustivamente pelos concorrentes.

A comoção nacional que se dará quando Silvio não estiver mais entre nós será semelhante ou maior que a de maio de 1994, quando o Brasil perdeu Ayrton Senna. Que este dia esteja bem longe. A melhor coisa que devemos fazer é aproveitar o sábio conselho que abre seus programas, todos os domingos, há décadas na TV. "Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar, do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar...".


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