Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]
No final de 1975, Janete Clair teve de deixar a novela “Bravo!”, que escrevia para as 19h, nas mãos de Gilberto Braga e se virar para escrever uma história às pressas para substituir a primeira versão de “Roque Santeiro”, que foi censurada. A autora, considerada um dos maiores nomes da teledramaturgia, não fez feio e, aproveitando boa parte do elenco da obra censurada de Dias Gomes, desenvolveu uma trama que se tornou um grande sucesso: “Pecado Capital”.
Focando no subúrbio, ela contou, na primeira novela a cores das 20h, a história do taxista Carlão que achou uma mala de dinheirono banco traseiro de seu carro, após fazer uma corrida na qual levou assaltantes. Noivo de Lucinha, ele passa boa parte da história com a consciência dividida entre usar a grana para resolver sua vida ou devolve-la, sob o risco de ser acusado de cúmplice.
Ela trabalha em uma fábrica e sonha em mudar de vida. Descoberta por uma agencia de publicidade, começa a carreira de modelo e sua beleza chama a atenção de Salviano Lisboa (Lima Duarte), com quem se envolve.
A novela entrou para a história da teledramaturgia com seu fim, no qual o protagonista morre. Carlão é baleado pelos bandidos, que descobrem estar com ele o dinheiro roubado. O responsável por isso foi o diretor Daniel Filho, que convenceu a autora a alterar o que previa a sinopse, na qual Carlão e Lucinha ficariam juntos. Ele argumentou que o público gostava de Salviano com a protagonista e, aquela altura, seria um erro desfazer o casal. Além disso, havia a possibilidade de ousar, surpreender o telespectador com um fim inédito. A contragosto, Janete aceitou.
A trama ganhou uma nova roupagem em 1998, adaptada por Glória Perez. Apesar de algumas mudanças, o final foi mantido. A original foi protagonizada por Francisco Cuoco (Carlão), Betty Faria (Lucinha) e Lima Duarte (Salviano). No remake, Eduardo Moscovis, Carolina Ferraz (a escalação foi uma tentativa de aproveitar o sucesso que fizeram como Nando e Milena em “Por Amor”, um ano antes) e Francisco Cuoco – desta vez como Salviano – ocuparam os papéis.
A química não foi a mesma entre Lucinha e Salviano – havia rumores de que Carolina não queria fazer cenas de beijo com Cuoco – e Glória teve de criar uma personagem, Laura, vivida por Vera Fischer, para resolver o impasse. Com isso, ao invés de se casar com Salviano no fim, Lucinha assiste à morte de Carlão.
A verba de Cr$ 800 mil (para quem não lembra ou tem menos de 17 anos, Cr$ era o símbolo do cruzeiro) foi atualizada para R$ 2 milhões. Carlão usou parte do dinheiro para o tratamento do pai, Raimundo e, no decorrer da história, para montar sua frota de táxis, achando que Lucinha estava com Salviano por interesse.
Um dos destaques das duas versões foi Vilminha, filha de Salviano, que tem sintomas de esquizofrenia e crises de agressividade. Débora Duarte e Paloma Duarte deram vida à personagem, que tinha um estilo rebelde e conversava com uma lesma. Elza Gomes e a saudosa Zilka Salaberry interpretaram a doce Ba, governanta da casa de Salviano e uma das poucas em quem Vilma confiava.
Além de Cuoco, Betty Faria e Lima Duarte também estiveram na nova versão, em participações. Recentemente, quando “Pecado Capital” completou 35 anos do fim, Betty deu uma entrevista para o “Vídeo Show” falando com bastante carinho da personagem.
Nos anos 70, para dar mais realismo ao figurino, as roupas eram arrecadadas entre as pessoas nas ruas. Elas davam a roupa que estivessem usando e em troca, ganhavam novas. “Pecado Capital” fez tanto sucesso que se foram lançadas figurinhas para o álbum Brasil Capital, com os personagens da novela. O tema de abertura, cantado por Paulinho da Viola no original e o grupo Só Pra Contrariar nos anos 90, foi mantido.
A história de 1975 se desenvolvia no bairro do Méier, aproveitando as obras do metrô. A morte de Carlão foi gravada no Metrô do Largo da Carioca, no Centro do Rio. 23 anos depois, o núcleo foi Marechal Hermes, e Carlão deu seu último suspiro nos braços de Lucinha na praça Cardeal Arcoverde. Embora a escolha da autora pra adaptar a trama tenha sido acertada (ninguém melhor que Glória Perez para uma história suburbana), a novela não causou empatia e teve uma audiência morna, assim como “Irmãos Coragem”, três anos antes.
Na atual versão, assim como na readaptação de “Anjo Mau” em 1997 (cujo sucesso fez a Globo apostar no remake de “Pecado Capital”) a atmosfera dos anos 70 foi mantida no figurino e no estilo das casas e decorações. Um pouco disso se nota também em “A Grande Família”. A novela marcou a estreia de Henri Castelli e Juliana Silveira (que quatro anos mais tarde protagonizariam “Malhação” como Pedro e Júlia).
Se o formato de “O Astro” (outra adaptação da década de 70) em 60 capítulos der certo, é provável que uma nova onda de “releituras” surja, só que mais curtas. Com isso, “Guerra dos Sexos”, que Silvio de Abreu prepara para 2012, poderá ser o último remake em 180 (ou mais) capítulos. É aguardar para ver.