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Anjo Mau - Um grande sucesso das 18h

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Uma história bem contada faz sucesso em qualquer época. A novela Anjo Mau é um dos vários exemplos disso na teledramaturgia: obteve êxito em 1976 (http://www.teledramaturgia.com.br/anjo.htm), e 21 anos depois (http://www.teledramaturgia.com.br/anjo97.htm), quando foi novamente produzida.

Exibida às 19 horas, ainda em preto e branco, a versão original marcou a estréia do autor Cassiano Gabus Mendes na Rede Globo. E consagrou o talento de Susana Vieira, vivendo então sua primeira protagonista, a babá Nice.

Na história, Nice é uma jovem suburbana que não se conforma com o destino que sua condição financeira lhe reserva – casar com alguém do seu nível social e se encher de filhos para criar. Ao trabalhar como babá na mansão da família Medeiros, onde seu pai já é motorista, ela se apaixona por Rodrigo e vê a chance de mudar de vida.A partir daí, não vai medir esforços para atingir esse objetivo.

Ela descobre que Paula, a noiva de Rodrigo, o trai com o irmão dele, Ricardo, e arma um flagrante. Ele então passa a ter olhos para a babá, porém ela ainda tem de separá-lo de Léa (Lígia no remake). Paula não se conforma e transforma a vida de Nice num inferno.

Nice é filha adotiva de Alzira e Augusto. O pai a trata bem, porém Alzira parece odiá-la. No desenrolar da trama o caso é explicado. Nice é realmente filha de um relacionamento passado de Alzira. Os problemas de Nice não acabam por aí. O pai verdadeiro, um ex-presidiário, aparece e começa a chantageá-la.

Entre os grandes nomes no primeiro elenco estão José Wilker (Rodrigo), Luiz Gustavo (Ricardo), Osmar Prado (Getúlio), Renée de Vielmond (Léa), José Lewgoy (Augusto), Mário Gomes (Luis Carlos, irmão de Nice), Pepita Rodrigues (Stella) e Henriqueta Brieba (Carolina).

Três atores participaram das duas versões: José Lewgoy, na primeira, foi Augusto, pai de Nice; na segunda, Eduardo, o patriarca da família Medeiros. Atíla Iório interpretou o verdadeiro pai de Nice duas vezes (Onias, no original; Josias, no remake). Mesmo ainda atuando em Por Amor, Susana Vieira deu o ar da graça em uma participação para lá de especial no último capítulo, como a nova babá.

Infelizmente não tive oportunidade de acompanhar a original (há apenas poucos trechos no Youtube), mas assisti a versão de 1997, que teve praticamente o mesmo número de capítulos (173/175). Discípula de Cassiano, Maria Adelaide Amaral adicionou mais personagens, trocou o nome de alguns (Getúlio virou Tadeu; Onias, Josias; e Léa, Lígia, entre outros) e deu uma linguagem adulta à novela, recheando-a de chantagens, intrigas e mentiras.

As histórias foram bem distribuídas, os núcleos interagem – o pobre freqüenta o rico e vice-versa -, no entanto poucos coadjuvantes chamam a atenção. Entre as tramas paralelas estão as falcatruas do empresário Rui Novaes (Mauro Mendonça), um retrato da corrupção no país; o auto-astral da costureira Goretti (Lilia Cabral) que, para agradar à filha Simone (Samara Felippo) mesmo amando Fred (Jackson Antunes) se casa com o rico português seo Américo, que por sua vez tem uma paixão secreta por Dona Clô (Beatriz Segall).

Assim como na versão atual de A Grande Família, o clima suburbano dos anos 70 foi mantido, no figurino e cenografia das casas de alguns núcleos, sendo um dos fatores de identificação com o público (Nice e seus vizinhos se vestiam como operários, trabalhadores, gente do povo).

Outra coisa que chamava a atenção era a amizade verdadeira entre Nice e Ricardo. Estavam sempre conversando, se ajudando, se consolando, sem conotações sexuais – o que é raro no caso de cunhados e até mesmo entre homem e mulher nos folhetins.

O casal Stella e Tadeu (Maria Padilha e Daniel Dantas) garantia momentos hilários, com as cenas de ciúme dela e as fantasias sexuais que inventavam. Entre os destaques, Alessandra Negrini, muito boa como a vilã Paula; Regina Dourado, como a dura mãe de Nice, e claro, Glória Pires, colecionando mais um bom papel para a sua carreira.

O tom policial de Anjo Mau cativou o público masculino, que até então chegava em casa e assistia ao jornal Cidade Alerta, da Record. Desde o início a audiência ficava acima dos 32 pontos de média e batia com freqüência a casa dos 40 pontos (ótimo para o horário das 18 horas). Só 7 anos depois, com Chocolate com Pimenta, esses índices começariam a se repetir.


A autora ousou mostrar cenas consideradas fortes para o horário, como a tentativa de estupro (http://br.youtube.com/watch?v=fb30zHORb1o) de Ricardo em Vivian (estréia de Taís Araújo na Globo, após protagonizar Xica da Silva, na Manchete). Essa cena foi cortada da reprise.


O destino de Nice mudou: em 1976, morreu no último capítulo, no parto, como ‘castigo’ pelas maldades que cometeu. Em 1997, quando tudo levava a crer que a história se repetiria, uma agradável surpresa acontece. Afinal, quem viu as duas produções diz que a Nice atual não foi um anjo tão mau para merecer ser castigada. Portanto, não seria justo matá-la, e sim dar-lhe o final feliz tão esperado pelo público.

Pelo menos 30 países acompanharam a versão atual, que retornou no Vale a Pena Ver de Novo entre 2003 e 2004, tornando-se uma das maiores audiências das reprises desta década (entre 25 e 36 pontos).

Esta é a única novela solo de Maria Adelaide Amaral, que por determinação da Globo escreve minisséries. Talvez o que falte ao horário das 18 horas, para revezar com as sucessivas tramas de época, seja uma novela ágil, envolvente e adulta como Anjo Mau. Pena que isso não acontece.


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