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A Viagem sempre vale a pena ver de novo

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

A novela 'A Viagem' é um clássico da teledramaturgia. Produzida em 1975, na TV Tupi, e em 1994, na Globo, foi um grande sucesso em todas as vezes em que passou. É a novela que melhor abordou o espiritismo.

Christiane Torloni deu um show como Dinah, deixando muitos sem imaginar outra atriz fazendo esse papel. Foi a melhor interpretação da carreira de Guilherme Fontes, como o atormentado Alexandre, e uma deliciosa oportunidade de conferir o talento de Lucinha Lins como Estela. Além de uma chance única de ver Antônio Fagundes às 19 horas.

A autora deu oportunidade aos atores que participaram de seu sucesso anterior, Mulheres de Areia, de interpretar papéis bem diferentes - Guilherme Fontes, por exemplo, que era o mocinho Marcos, transformou-se no sedento por vingança Alexandre; Laura Cardoso, a pobre mulher de pescador Isaura, (mãe das gêmeas Ruth e Raquel) foi a rica Dona Guiomar.

Uma coisa boa é o ritmo em que a história de Alexandre (e dos outros personagens, como o romance de Dinah e Otávio) foi desenvolvida... Ele leva mais de um mês para se suicidar, dá tempo do público gostar do personagem.

Se fosse feita hoje, Alexandre teria de matar, ser preso, fugir, ser preso novamente, ser espancado na cadeia e se matar, tudo no primeiro capítulo... A Globo atualmente se preocupa em fazer um primeiro capítulo eletrizante e muitas vezes não desenvolve bem as situações. Ainda bem que este remake foi feito em 1994 e pelas mãos da grande Ivani Ribeiro...

A audiência da primeira exibição do remake, em 1994, foi digna de novela das 20 horas. A Viagem fechou com média geral de 57 pontos - o maior da história do horário. Os núcleos tinham ações bem distribuídas e personagens carismáticos, como o Mascarado que, embora não falasse, passava seu recado através de mímicas, encantando os telespectadores com seus gestos.

Um toque de requinte foi o uso da grua em boa parte das cenas. A câmera abria planos do alto, mostrando belos lugares (como a casa de Otávio ou o lugar onde Dinah cavalga) e acompanhava o personagem por onde ele passa, dando-nos a sensação de estar ali, seguindo-os. Tudo isso casado com os sucessos musicais da época (Patrícia Marx, Yahoo, Fábio Júnior, Roupa Nova etc).

No original da TV Tupi, Eva Wilma foi Dinah, Tony Ramos, Téo; Ewerton de Castro, Alexandre; e Irene Ravache, Estela. O remake foi a última novela escrita pela grande Ivani Ribeiro, que viria a falecer no ano seguinte. É a única autora a ter suas histórias reprisadas mais de uma vez dentro do Vale a Pena Ver de Novo (A Viagem e A Gata Comeu). Tivemos o prazer de rever a história em 2006.

A trama é repleta de momentos emocionantes: o encontro de Dinah e Alexandre na cadeia, a morte dele, a morte de Dinah nos braços de Bia, o reencontro de Dinah e Otávio no céu... A música triste que tocava quando alguém chorava e o tema das cenas no céu também marcaram.

Dinah, Alexandre, Otávio, Mascarado, Dona Marocas, Doutor Alberto, Seu Tibério ... personagens que ficaram na cabeça do público, que sente saudades de uma história bem desenvolvida, consistente e envolvente, como raramente se vê hoje. Os fãs de uma boa novela não reclamariam se uma terceira reprise viesse por aí, daqui há alguns anos...

Na história, o mimado Alexandre é preso após matar um homem durante um assalto. A irmã Dinah se empenha em libertá-lo, mas o advogado Otávio Jordão faz questão de mantê-lo atrás das grades, pois o homem que Alexandre matou era seu sócio. Dinah passa a odiar Otávio. Alexandre vive maus momentos na cadeia até se suicidar. Sua alma vai para o Vale dos Suicidas, um local de sofrimento, cheio de fogo e gritos, e de lá sai com freqüência para atormentar o cunhado Téo, Guiomar (a sogra do irmão, Raul), e Tato, o filho mais velho de Otávio.

Com o tempo, Dinah e Otávio se apaixonam, mas ele morre em um acidente de carro provocado por Alexandre. Dinah perde a vontade de viver e morre nos braços da sobrinha Bia, ao reencontrá-la (ela havia fugido de casa). Dinah e Otávio se reeencontram no céu e se unem para tornar Alexandre uma boa alma.

As histórias paralelas são um show à parte. Tem o sofrimento de Stella com a rebeldia da filha Bia, que acredita que o pai, o vigarista Ismael, seja uma pessoa do bem; o Mascarado, figura misteriosa e alegre que anda pelas ruas; Carmem, amiga de Lisa, que no início da trama se enfeiava para trabalhar na locadora da ciumenta Dinah; a pensão de dona Cininha, onde morava seu Tibério, que tinha um amigo imaginário...

O espiritismo foi abordado com a profundidade que nenhuma outra novela conseguiu - a presença de espíritos influenciando a atitude das pessoas, a possessão de Téo e de figurantes nas sessões de mesa branca do doutor Alberto, nas quais Alexandre se manifestava, a representação do céu e inferno (no caso, o Vale dos Suicidas). Os efeitos especiais utilizados ainda são críveis hoje.

Foram vários momentos marcantes: a morte de Alexandre, com a gaivota voando no horizonte; o momento em que Adonay tira a máscara; a relação forte entre Dinah e Stella - uma sentia quando a outra estava correndo perigo e, mais para o final, Stella podia ouvir o espírito da irmã e sentir sua presença na casa, embora não a visse; a morte de Dinah nos braços de Bia e o instantâneo mal estar de Stella no momento da morte da irmã; o reencontro de Dinah e Otávio no céu (um correndo em direção ao outro e dando um forte abraço - quem já não pensou em fazer isso com alguém que ama ao chegar ao outro plano?); a conversa do espírito de Dinah com a filha Paty; a chegada de dona Marocas no céu... Enfim, uma história fascinante, que sempre valerá a pena ver de novo.


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