Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]
Há 13 anos foi ao ar a última boa novela escrita por Antônio Calmon. Misturando os ambientes de praia e rural, “Corpo Dourado” era uma trama gostosa de se ver às 19h em 1998.
A caipira Selena (bem composta por Cristiana Oliveira, que soube dar-lhe o tom rústico necessário) era apaixonada pelo delegado Chico (Humberto Martins), descartando o bronco Jorginho (Gerson Brenner). Nesse meio tempo ela tenta evitar um casamento com Arthurzinho (Marcos Winter), que está de olho em sua herança, e cai nas investidas de Billy (Fábio Jr), na fase em que fica desmemoriada.
Ana Rosa – figura fácil nas tramas do autor - era a mãe da protagonista, que vivia na roça. Humberto aproveitava para tentar se diferenciar um pouco dos heróis descamisados que interpretou em “Quatro Por Quatro” (1994) e “Vira Lata” (1996). Mas quem despontou na carreira nesta novela foi Danielle Winits, como Alicinha, modelo em fim de carreira que procura um casamento. Desprezada por Arthurzinho, sua personagem foi crescendo e roubou a cena, conquistando o público ao fazer par com Jorginho.
Maria Luisa Mendonça, que infelizmente nunca ganhou um papel de mocinha na carreira televisiva, era a mimada e quase insuportável vilã Amanda. Sua cara de louca obcecada era ótima. Ela deixou Arthurzinho traumatizado ao abandoná-lo no altar, antes de se casar com o delegado. Amanda chegou a fingir estar em uma cadeira de rodas para impedir que Chico a trocasse por Selena. No decorrer da história ela descobre que as duas são irmãs por parte de pai e se recusa a dividir a herança.
O romance entre Judy (Giovanna Antonelli na fase pré-Capitu de “Laços de Família) e Tadeu (Felipe Camargo) movimentava a fictícia Praia dos Amores. Por lá também circulava a muda Clara, talvez o melhor papel de Mônica Carvalho. Ela conseguia passar através dos gestos e olhares o universo de quem não se comunica através da fala. “Entrei nessa personagem muito pura, muito de coração. Eu estava escalada para outro papel, mas o (diretor) Paulo Ubiratan não conseguia achar uma atriz com o perfil de menina-mulher da Clara, então a deu a mim. Eu tinha uma professora 24h para aprender a linguagem de sinais”, recordou a atriz, quando a entrevistei, em agosto deste ano.
Na linha “José Mayer”, o Billy de Fábio Jr. também se envolve com Amanda e Judy. A atuação do cantor foi mediana, como a maioria de seus trabalhos em novelas (com exceção do Jorge Tadeu de “Pedra Sobre Pedra”, em 1992). Ele e José Wilker infelizmente parecem sempre eles mesmos em cena, raramente conseguem dar uma personalidade própria a seus papéis.
Uma dobradinha de “A Viagem” (1994) foi repetida na trama: Lucinha Lins e Fernanda Rodrigues, intérpretes de Estela e Bia no remake de Ivani Ribeiro, foram mãe e filha novamente, devido à semelhança entre as duas. O autor colocou em prática mais uma vez uma de suas especialidades: mostrou a fase da adolescência, com a descoberta do amor, o primeiro beijo, a primeira vez e as mudanças físicas nessa fase da vida.
“Corpo Dourado” foi a última novela de Gerson Brenner. Logo depois gravar sua última cena, ele levou um tiro na cabeça durante um assalto. A violência o deixou com lesões sérias no cérebro e levantou a discussão sobre as consequências de se reagir a assaltos.
A abertura era embalada por Deborah Blando, cantando “Somente Sol”. Na trilha sonora estavam “My All”, de Mariah Carey; “Vivo por Ella”, com Andréa Bocelli e Sandy, marcando o romance de Tadeu e Judy; e “Pura Emoção”, de Chitãozinho e Xororó, tema muito tocado nas cenas em que Selena andava a cavalo.
Java Mayan e Thaís Fersoza estreavam na TV, ele com cabelos longos na pele do surfista Zeca e ela, que anos depois se destacaria como a Thelminha de “O Clone”, vivendo Ritinha. No elenco também estiveram Carlos Vereza, Sebastião Vasconcellos, Marcelo Faria, Bianca Byington, Isabel Fillardis, Zezé Motta, entre outros.
Originalmente com 191 capítulos, a novela voltou ao ar de janeiro a junho de 2004 no “Vale a Pena Ver de Novo”. As tramas que Calmon escreveu depois deixaram muito a desejar em termos de boa história e audiência – “Um Anjo Caiu do Céu” (2001), “O Beijo do Vampiro” (2002), “Começar de Novo” (2004) e “Três Irmãs” (2008/2009). A esperança é que ele se recicle para voltar a prender a atenção dos telespectadores por 7 ou 8 meses em seu próximo trabalho.