Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]
A história das telenovelas (e da Globo, em especial) não seria mais a mesma depois de “A Escrava Isaura”. A trama, exibida em 1976, abriu espaço para que a dramaturgia brasileira conquistasse o mundo. E fez de Lucélia Santos e Rubens de Falco estrelas internacionais.
Foi uma história curta, se comparada às atuais: 100 capítulos. Até hoje, 79 países já assistiram à saga da escrava branca que sofre nas mãos do malvado Leôncio. É o quarto folhetim mais vendido da Globo em todos os tempos. Além do sucesso no Brasil, onde foi exibida às 18 horas, a trama teve influência em todo o mundo.
A novela teve o poder de parar a guerra da Croácia quando ia ao ar, de fazer os exércitos da Bósnia e da Sérvia decretarem cessar-fogo para assistir aos capítulos, levou Cuba a cancelar o racionamento de energia elétrica durante o horário da trama, e incorporou a palavra hacienda (fazenda em espanhol) ao vocabulário russo. Não é lindo esse poder da teledramaturgia? Só melhorou a vida das pessoas.
Nações de todos os tamanhos tiveram a chance de ver: Alemanha, Namíbia, Dinamarca, África do Sul, China, Líbano, Nigéria, Polônia... Gilberto Braga, que depois escreveria outros sucessos como “Dancin Days”, precisou driblar a censura do regime militar brasileiro, que não queria que o tema da escravidão fosse tratado na TV.
“A Escrava Isaura” é a novela mais reprisada na Globo: de 29/08/1977 a 16/01/1978, às 13h30, antes da criação do “Vale a Pena Ver de Novo”; um compacto de 30 capítulos às 18h, entre dezembro de 1979 e janeiro de 1980; pouco tempo depois, de manhã (sim, havia reprises de novelas de manhã nos anos 80!), dentro do “TV Mulher”, em 1982; e pela última vez em 1990, dentro do “Festival 25 Anos”. O Distrito Federal acompanhou ainda um compacto em 1985, após o “Jornal Nacional”, no horário em que no resto do país assistia ao Horário Eleitoral Gratuito.
Retomando sua produção de dramaturgia, a Record escolheu a história para fazer um remake – e, sabiamente, conquistar a audiência e abrir o mercado internacional para suas produções posteriores. Em 2004, 28 anos depois da estréia na Globo, Isaura voltava às telas com a mesma direção, de Herval Rossano. Coube a Bianca Rinaldi ser a nova Isaura e Leopoldo Pacheco, o vilão Leôncio. Patrícia França arrasou como Rosa, vivida por Léa Garcia nos anos 70.
Novos personagens e desfechos foram criados pelo novo autor, Tiago Santiago, que a esticou em 67 capítulos e criou o suspense do “Quem matou Leôncio?”, tão explorado por Gilberto Braga e Sílvio de Abreu. Rubens de Falco e Norma Blum foram os únicos atores da primeira versão a participar do remake.
Destinada ao sucesso, “A Escrava Isaura” incomodou a Globo, que exibia a péssima “Começar de Novo”. O último capítulo teve média de 19 pontos e picos de 23. Índices ótimos para uma emissora que mal chegava aos 10.
Empolgada com o sucesso, a Record já a reprisou duas vezes. Entre 2005 e 2006, às 22h, aquecendo o horário para “Vidas Opostas”. Em janeiro de 2007, uma nova reprise, à tarde. Ambas tiveram relativo sucesso, considerando-se que voltaram a ar precocemente.
Outra contribuição da repercussão da primeira versão no exterior foi o arquivo do material produzido. Até então, apenas os primeiros capítulos, trechos aleatórios do meio e o final ficavam guardados. O restante das fitas era apagado para novas filmagens. Se por um lado isso barateou os custos na época, trouxe um prejuízo incalculável à memória da teledramaturgia.