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Raios e superpoderes movimentavam "Olho no Olho"

Há 20 anos, poderes paranormais deram um toque diferente à tradicional luta do bem contra o mal nas novelas.

Por: Jonathan Pereira - E-mail:[email protected]

Há 20 anos, poderes paranormais deram um toque diferente à tradicional luta do bem contra o mal nas novelas. “Olho no Olho”, escrita por Antônio Calmon, trazia protagonistas que soltavam raios - adivinha por onde? Alef (Felipe Folgosi) e Cacau (Patrícia de Sabrit) eram do bem e por isso seus olhos eram azuis quando utilizavam seus poderes; já o vilão Fred (Nico Puig) ficava com os olhos vermelhos a cada vez que soltava sua ira para fazer o mal.

Tony Ramos interpretou o padre Guido, que deixa Roma e a batina para, em São Paulo, enfrentar a organização dos Zapata, que tem César (Reginaldo Faria) à frente. Como o chefão tem a ajuda paranormal do filho, Fred, para praticar suas ações, o padre recorre ao bondoso Alef e acaba se apaixonando pela mãe dele, Débora (Natália do Vale).

Alef tinha visões, surtos e ouvia vozes, sendo internado diversas vezes. Felipe Folgosi pegou um papel difícil: o público não conseguia torcer pelo personagem devido à fragilidade frente a Fred, que praticamente o torturava a cada embate. Alef contava com a ajuda da namorada, Cacau, para equilibrar o confronto. O vilão também era apaixonado por ela, o que jogava mais lenha na fogueira.

Entre os destaques estão Helena Ranaldi como Malena, apaixonada por Guido, Eva Todor e Cleyde Yáconis na pele das irmãs Viridiana e Julieta, que cuidavam de um palacete decadente e Iara Jamra como a jornalista Telma, que tentava cobrir o caso da paranormalidade para parar de escrever nas páginas de Polícia e ir para o caderno de Cultura de onde trabalhava. Antes de protagonizar “Tropicaliente” às 18h no ano seguinte, Selton Mello fez uma participação.

A criançada adorava os raios que o trio lançava. Segundo o site “Memória Globo”, com a tecnologia da época, 15 segundos de olhos brilhando consumiam 12 horas de trabalho da equipe de pós-produção. Ao mesmo tempo que tentava atrair o público jovem com esse recurso, Calmon apostava no triângulo maduro entre Guido, Débora e César. Ele tentou novamente escrever um romance entre personagens mais velhos 11 anos depois em “Começar de Novo” (curiosamente também com Natália do Vale), comprovando outra vez que não dava certo.

Apesar de muita ação e enredo que exigia atenção para ser assimilado, o telespectador de “Olho no Olho” que havia gostado de “Vamp” sentiu falta de humor e Maria Carmem Barbosa foi convocada para solucionar esse déficit, criando Duda (Patrycia Travassos). A audiência de 44 pontos, embora não ruim para o horário naquele tempo, contrastava com os números de suas companheiras – “Mulheres de Areia” deu média de 50 pontos às 18h e “Renascer”, às 20h30, marcou 61 – o que criava um abismo.

Para completar o cenário desfavorável, a reprise de “Vamp”, que também voltou ao ar prematuramente, tinha terminado 2 meses antes da estreia dos 185 capítulos de “Olho”. O autor não esperou muito para investir em outra trama fora da realidade - e sempre que um novelista se empolga com o êxito anterior e volta à ativa rapidamente dá com os burros n’água. Foi assim com Carlos Lombardi quando escreveu “Vira-Lata” (1996) nove meses depois do fim de “Quatro por Quatro” e com Walcyr Carrasco quando, vindo de dois sucessos consecutivos – “Chocolate com Pimenta” (2003) e “Alma Gêmea” (2005), além de supervisionar o início de “O Profeta” (2006) - apostou em “Sete Pecados” (2007).

Ricardo Macchi aparece na abertura da novela, dois anos antes de ser massacrado pela crítica como o cigano Igor de “Explode Coração” (1995). A trilha sonora combinava com o clima dado à direção de Ricardo Waddington e apostava forte no rock, tendo RPM, Barão Vermelho, Skank, Kid Abelha e Lulu Santos entre os nomes. “Agora ou Jamais”, composta por Ritchie, grudou como chiclete como tema de Malena.

Felipe Folgosi, Nico Puig e Danielle Winits vinham da minissérie “Sex Appeal”, do mesmo autor, exbida meses antes. Com ‘Olho no Olho’, Rodrigo Santoro, Patrícia de Sabrit e Alessandra Negrini estreavam em novelas da Globo que, nesses 20 anos nunca reprisou a história, nem no Viva.


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