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Sucesso nos anos de 1980, Sassaricando completa 28 anos

Trama repleta de personagens divertidos conquistou o público.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

No dia 9 de novembro de 1987 ia ao ar o primeiro capítulo de Sassaricando, espirituosa trama escrita por Sílvio de Abreu, que retornava ao horário das 19h, um ano após escrever Cambalacho.

A trama central de Sassaricando contava as aventuras de Aparício Varella (Paulo Autran), um sessentão que voltava a namorar após ficar viúvo, a ter seus “sassaricos”. No passado, Aparício havia deixado Rebeca (Tônia Carrero) para se casar com a ricaça Teodora (Jandira Martini), uma das herdeiras das tecelagens Abdalla e com quem teve uma filha, a mimada Fedora (Cristina Pereira).

Teodora se torna junto com Aparício, os presidentes das tecelagens após a morte do pai, mas é ela quem comanda os negócios. Teodora é irmã de Lucrécia (Maria Alice Vergueiro) e Fabíola (Ileana Kwasinski), tornando um trio de megeras, que infernizam a vida dos familiares. Lúcrecia é casada com Aprigio (Laerte Morrone), irmão de Aparício e com quem tem uma filha: Camila (Maitê Proença), uma fotógrafa que é a única a se dar bem com o tio. Já Fabíola é uma viúva, que inferniza a vida de seu filho Tavinho (Alexandre Lipiani).

A vida de Aparício sofre uma reviravolta quando Teodora morre, deixando sua enorme fortuna para ele, a partir disso ele é constantemente vítima das armadilhas de suas cunhadas, que querem botar a mão no dinheiro da irmã. Mesmo assim, Aparício volta a se envolver com Rebeca, seu amor do passado e hoje uma famosa estilista; Leonora (Irene Ravache), uma atriz fracassada e com Penélope (Eva Wilma), uma dona de casa. A vida delas mudam quando se conhecem e juntas decidem se casar com um HR (homem rico).

Enquanto Aparício está envolvido com suas conquistas amorosas, seu irmão Aprígio envolveu a empresa da família em negócios ilegais com uma irmandade secreta, onde o líder é conhecido por “ELA”. A irmandade está sendo investigada pela Interpol que designa Camila (agente disfarçada) e Guel (Edson Celulari) para cuidar do caso.

Guel é mora em um cortiço de São Paulo com a mãe Aldonza (Lolita Rodrigues), uma mulher simples que foi abandona pelo marido Ricardo de Pádua (Carlos Zara), que saiu pra comprar cigarros e não mais retornou. Aldonza criou sozinha os quatro filhos vendendo frutas na feira. Seus filhos são: Guel, que finge ir pra faculdade de medicina, mas nunca pisou lá, mentindo pra mãe, que trabalha duro para pagar os seus estudos; Constância, mais conhecida por Tancinha (Cláudia Raia) uma quase analfabeta que fala tudo errado e que sempre está usando roupas curtas. Tancinha namora Apolo (Alexandre Frota), seu vizinho que a sufoca com seus ciúmes, mas sua vida quando conhece Beto (Marcos Frota), que lhe dá uma nova perspectiva de vida.

O envolvimento de Tancinha com Beto desperta o interesse de Isabel (Angela Muniz), irmã ambiciosa e mau caráter de Tancinha, que faz de tudo para deixar de ter que ajudar a mãe na feira. Juana (Denise Milfont) é irmã caçula de Guel, Tancinha e Isabel, é muito sonhadora e deseja trabalhar em um escritório. É apaixonada por Adonis (Rômulo Arantes), mas ele a enxerga como uma criança e faz todos os desejos de Isabel.

Adônis é irmão de Apolo e Diana (Marcela Muniz), que se apaixonam por membros da família de Aldonza. Paralelo a isso, Guel e Camila consegue descobri quem é a lider da irmanda secreta, a famosa “ELA”, que na verdade é “EL A”, sigla de El Achid (Achild Callux), que usando o nome falso de Bóris Aidan, é na verdade o verdadeiro pai de Fedora e antigo amor da juventude de Teodora. Achid na verdade planeja roubar toda fortuna de Aparício e ter o amor da filha.

Com isso, Guel e Camila também descobrem que Leonardo Raposo (Diogo Vilela), marido de Fedora é um perigoso assassino, mas ele só mata as pessoas erradas. No decorrer da trama, descobrimos que Leonardo foi infiltrado para matar Fedora e ficar com sua fortuna, mas que acabou matando Teodora por engano. Fefê e Leozinho vivem um casal engraçadíssimo, entre tapas e beijos, o que acabou conquistando o público, apesar dela ser uma mimada. Como se não bastasse todos os problemas, Aparício tem que lidar com o espírito de Teodora que volta para infernizá-lo.

Sassaricando foi mais um excelente trabalho de Sílvio de Abreu, que conseguiu reunir um elenco e uma direção segura, apesar de não trabalhar com Jorge Fernando, seu parceiro de trabalhos anteriores.

Segundo o autor, o título “Sassaricando” surgiu antes da sinopse em uma conversa com Daniel Filho, que acha o título excelente para uma novela. A trama central foi inspirada em um drama de uma amiga de Sílvio de Abreu, que estava na meia idade, divorciada e não sabia como seguir em frente.

Destaque para as aventuras de Fefê (Fedora) e Leozinho, em uma excelente interpretação de Cristina Pereira e Diogo Vilela. Paulo Autran e Tonia Carreiro foram escolhidos para os personagens devido a excelente sintonia entre eles. Cláudia Raia roubou a cena com sua semianalfabeta, porém sensual Tancinha. Seu bordão “me tô toda dividinha” caiu no gosto popular. A atriz fez aula de prosódia e chegou a inventar palavras que uma vez pronunciada a palavra precisava mantê-la. Não podia mais falar do jeito certo.

A trama de Aparício e suas três pretendentes foi inspirada no filme Como Agarrar um Milionário, de 1953. A personagem Penélope de Eva Wilma foi uma homenagem que o autor fez a atriz, que foi protagonista de As Confissões de Penélope na TV Tupi.

Jorge Fernando e Tony Ramos fizeram uma pequena participação na trama como diretor e ator de uma novela em que Leonor participaria, mas que não conseguiu por não decorar as falas. Fernanda Montenegro participou como ela mesmo, na época ela fazia a peça Dona Doida de Adélia Prado. Silvia Pfeifer também fez uma participação como uma modelo da tecelagem Abdalla. Leilah Assunção também fez breve participação nos capítulos finais como alguém que ajuda Leonora a voltar para o teatro.

A equipe de maquiagem abusou na maquiagem de Fedora (Cristina Pereira), a deixando parecida com o personagem-título do filme homônimo de Billy Wilder de 1978. Sílvio de Abreu fez várias menções a trabalhos de outros projetos da Rede Globo: em maio de 1988, Lúcrecia desmarcou um compromisso porque tinha que ver a estreia de Vale Tudo, de Gilberto Braga; em cena Fabíola contrata um detetive indicado por Cassiano (em homenagem a Cassiano Gabus Mendes) que se chama Mario Cury (Mário Fofoca de Elas por Elas); Tancinha pede ao figurinista da Globo um vestido de casamento igualzinho o de Andréa (Natália do Valle) de Cambalacho e no primeiro capítulo uma das irmãs de Tancinha diz que ela fala pior que o rapaz da novela que terminou sábado (alusão ao personagem Bruno da novela Brega &Chique, novela anterior do horário).

A personagem Leonora Hammar tem o sobrenome da vedete norte americana Heddy Lammar., enquanto Lucrécia era inspirada em Lucrécia Borgia. Aparício passou a novela invocando São Sinfrônio nos momentos difíceis e ele apareceu no último capítulo. O santo foi interpretado por Cécil Thiré. Já Leozinho e Fedora viviam falando do casal de amigos Aníbal e Marineida, mas eles nunca apareceram.

A trilha sonora teve dois álbuns tendo na capa as atrizes Maite Proença (Camila) e Cláudia Raia (Tancinha). O grande destaque foi a música FataMorgana, que embalava os devaneios eróticos de Fedora.

O albúm nacional continha as seguintes músicas: Ouro /Guilherme Arantes, Seu Corpo/ Simone, Nem Tanto Tempo Assim/ Eduardo Dussek, Estranha Loucura /Alcione, Você Perde/Kico Zambianchi, Trauma/ Clínica, Sassaricando/ Rita Lee & Roberto de Carvalho, Lambadas III/ Fafá de Belém, Lua De Mel/Lulu Santos, Vem Me Perdoar/Moraes Moreira,
Cantando No Toró/ Chico Buarque, Tiro Ao Álvaro/ Adoniran Barbosa (participação especial Elis Regina), Solamente Una Vez/ Eduardo Souto Neto, As Roupas e o Mundo No Chão/ Evandro Mesquita e Cheiro De Amor / Luiz Camilo.

A trilha sonora internacional continha os seguintes hits: Paradise Is Here/Tina Turner, Just To See Her/ Smokey Robinson, Break Out /Swing Out Sisters, Loving You Again/ Chris Rea, Give Me All Night/ Carly Simon, Milky Way/ Peter Dominic, Fatamorgana/ Dessidenten, We'll Be Together/ Sting, (I’ve Had) The Time Of My Life /Bill Medley & Jennifer Warnes, Call Me/Spagna, Unchain My Heart/Joe Cocker, Finito/ Rita Pavone, Love's Closing In/ Nick Jameson e One More Night/Ana Rodriguez.

O logo da novela apresenta uma liberdade criativa, já que a palavra é com ç (saçaricando) e não com “ss”. A Globo chegou a anunciar reprise da trama em janeiro de 1990, mas a trama só foi ao ar a partir de 09/07 e teve seu término em 11/01/1991. A trama foi exibida em Portugal em 1989.

Escrita por Sílvio de Abreu, com direção de Cecil Thiré, Lucas Bueno e Miguel Falabella (em sua primeira experiência como diretor) e direção executiva de Paulo Afonso Grisolli; Sassaricando foi exibida originalmente de 09/11/ 1987 até 11/06/ 1988 em 184 capítulos. Divertida e emocionante, Sassaricando foi mais uma trama que ficou no imaginário do público pelo seu humor tão próximo da nossa realidade, tem encanto, tem a grife Silvio de Abreu.


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