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Cadê Zazá, Zazá, Zazá...

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Há novelas que tê tudo para serem um sucesso, mas infelizmente se perdem pelo caminho e tiram do telespectador o gostinho de tê-la na lembrança. “Zazá”, exibida em 1997, é uma delas. A trama leve e com boas ideias de Lauro César Muniz poderia ter sido um marco das 19h nos anos 90. Mas, como que tomados por uma amnésia, lembramos apenas parcialmente dela

Lauro César Muniz conseguiu Fernanda Montenegro para viver Zazá Dumont, a filha fictícia do pai da avião na vida real, Santos Dumont. Novelas que pescam elementos da realidade conseguem cativar o público – vide “Senhora do Destino” (2004) que, com elementos baseados em notícias de jornal (o rapto do menino Pedrinho na maternidade por Vilma Martins), é a novela mais assistida desta década.

Foi formado um ótimo elenco para o horário – Nathália Timberg, Fernando Torres, Ney Latorraca... Outra ideia legal do autor foi batizar os 7 filhos da protagonista com nomes cuja primeira sílaba formavam as 7 notas musicais. : Dorival (Cecil Thiré), o Doc, Renata (Fafy Siqueira), Milton (Antônio Calloni), Fabiana (Julia Lemertz), Solano (Alexandre Borges), Lavínia (Vanessa Lóes) e Silvia (Rachel Ripani), a Sissi. Ou seja, Do, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si. Ao contrário de “Páginas da Vida” (2006), por exemplo, cada personagem podia ser desocupado, mas tinha história.

Logo no primeiro capítulo, Zazá sobrevoa a Torre Eiffel numa réplica do 14 Bis. A milionária tinha paixão por voar e projetos de modernizar o transporte aéreo, com um avião atômico. Ela decide que os filhos precisam encontrar um rumo na vida e contrata 7 “anjos” para ajudá-los. Dois deles são Hugo e Beatriz (Marcello Novaes e Letícia Spiller, uma tentativa da emissora de aproveitar o sucesso dos dois após “Quatro por Quatro”). Apesar de já terem um filho no passado, Hugo agora é noivo de Fabiana, o que vai dificultar a vida do casal. Letícia Spiller foi bem como a chefe de cozinha.

Reginaldo Faria (Roberto), Mário Gomes (Álvaro), Cláudia Ohana (Maria Olímpia), Roberto Battaglin (Pedro) e Suely Oliveira (Maria Isabel) completam o time de anjos, que só são descobertos por seus protegidos no meio da história. Enquanto isso, Silas (Ney Latorraca) os chantageia, pois sabe podres de cada um.

Paulo Goulart aparece para balançar o coração de Zazá, como o aviador Ulisses. A graça estava garantida com Mercedes (Louise Cardoso, talvez em seu melhor momento na TV), uma secretária argentina que se dizia “cariôca da chema”. Ela se envolvia com Doc, por sua vez casado com Dorothy (Silvia Bandeira).

A Aids também foi abordada por meio de Jacqueline (Adriana Londoño), uma soropositva que se envolvia com Solano (Alexandre Borges). A música de abertura, “Dona Doida”, foi feita especialmente para a novela, e era cantada por Rita Lee. A abertura misturava desenhos, paisagens e Fernanda Montenegro vestida de aviadora, dando um clima leve, como a novela prometia ser. Mas o que deu errado?

Lá pelo capítulo 130, mais ou menos, Lauro César Muniz foi avisado que teria de esticar “Zazá” em 56 capítulos. Isso mesmo, pouco mais de 9 semanas, praticamente a mesma quantidade da minissérie “JK” (2006), que teve 53 capítulos. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, disse na época que a Globo demorou para escolher a substituta, “Corpo Dourado”. Não há ninguém que faça o milagre de fazer uma novela que estava programada para 150 capítulos ser transformada em mais de 200 impunemente", declarou. E tinha razão.

O próprio autor deu entrevistas na época desanimado com a barriga que teria que criar. Resultado: a leveza e graça da trama se perderam. Zazá já não sorria, ficou pobre, desmemoriada... Os anjos foram parar em uma ilha após um acidente. Até Mercedes passou a ficar mais séria. E a audiência despencou como um avião em turbulência.

Assistir a novela ficou difícil. O elenco também estava insatisfeito com os rumos tomados pelos personagens. Diplomática, Fernanda Montenegro não alimentou polêmicas quando pediam sua opinião a respeito do que se tornou a história. “Não pense, execute. Assim não se sofre”, disse.

Lauro parece ter aprendido a lição e, gato escaldado, soube conduzir muito bem “Poder Paralelo” (2009) na Record, que também foi superesticada, mas manteve reviravoltas que prenderam o público. Se por um lado “Zazá” conseguiu “encher linguiça” e preencher o espaço que a Globo queria, por outro nos fez esquecer do que poderia ter sido um grande sucesso. Uma pena mesmo.


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