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DIREITO DE AMAR: Um clássico das 18h!

Baseado em uma obra radiofônica de Janete Clair, Walter Negrão apresentou um típico romance ambientado no inicio do século XX.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1900. Enquanto o povo saia às ruas para comemorar a virada de século, Augusto Medeiros (Edney Giovenazzi) tenta suicídio, mas é impedido pela filha Rosália (Glória Pires), que estranha a atitude do pai. O industrial está abarrotado de dívidas e é devedor de Francisco de Monserrat (Carlos Vereza), um rico banqueiro que exige pagamento.  Nessa mesma noite, Adriano (Lauro Corona), filho do vilão, que se tornou médico volta à cidade, mas não revela nada a ninguém, indo se encontrar com Dr. Ramos (Carlos Zara), seu mestre e amigo.

Em uma visita de cobrança, Francisco de Monserrat fica encantado e se apaixona por Rosália, o que o leva a fazer um novo acordo: Dará 3 anos para a quitação da dívida, mas quer a promessa de se casar com a jovem. Augusto pede um tempo para pensar e todos os personagens vão a um famoso baile de máscara, que ocorrerá durante a passagem do ano e onde Rosália se apaixona por Adriano, mesmo sem conhecê-lo totalmente.

Era assim que se encerrava o primeiro capítulo de Direito de Amar, grande sucesso de Walter Negrão exibido entre 16/02 e 05/09 de 1987 às 18 horas.  Com a frase: Feliz Ano Novo Mademoiselle, Feliz 1901, 1902, 1903..., Adriano acaba conquistando Rosália e mesmo com máscaras, um não consegue tirar o outro da cabeça. Quem não gosta do envolvimento do casal é o Sr. De Monserrat e Paula (Cissa Guimarães), prima invejosa de Rosália, a quem a protagonista pede ajuda para encontrar o amado.

Na mesma noite do baile, Senhor De Monserrat sofre um acidente e é socorrido pelo próprio filho, que o leva para repousar na casa de Ramos. Quando acorda, o vilão fica possesso e pede a Adriano que volte para casa. O médico aceita e quando volta para casa encontra a tia Joana (Itála Nandi), uma mulher misteriosa que é vista como louca, pela janela. O rapaz tenta ajudá-la, mas ela insiste em ficar trancada no quarto.

A partir disso, o médico tenta procurar uma cura para o problema da tia, com a ajuda do amigo Ramos. Os dois vão contra o tratamento dada a mulher pelo vilão Senhor de Monserrat, que a maltrata e usa de métodos escusos para acalmá-la.

Já Monserrat com medo de perder Rosália, vai até a casa da jovem com um oficial da lei e obriga Augusto a casar a filha, já que não crê nas palavras do industrial. Nervoso, Augusto passa mal e a união é adiada. Preocupado, com o marido cada vez mais debilitado emocionalmente com as cobranças do vilão, Leonor (Esther Góes) procura o banqueiro e aceita o acordo proposto.

Imediatamente, o vilão vai até a casa de Augusto e cela sua união com Rosália, que assina a certidão de casamento sem saber. Para consolidar o acordo, Monserrat terá que esperar três para se unir a jovem e por isso seus pais a enviam a um colégio interno comandado por freiras.

Há uma passagem de tempo, dois anos, e Rosália continua interna, enquanto Adriano se envolve com Paula, a quem nunca deu esperanças. Em uma visita de cortesia, Monserrat tem uma conversa sincera com Rosália, que revela ao vilão que está apaixonada pelo homem de mascaras com quem dançou durante a passagem do século. Desconfiado de quem seja o rapaz, o banqueiro pede aos pais da jovem, que a busquem no internato. Enquanto isso, através de uma visita médica, o casal volta a se encontrar e planejam ficar juntos.

Disposto a ficar com a amada, Adriano revela a Paula que encontrou a moça por quem se apaixonou no baile e a vilã fica furiosa. Disposta a separar o casal, a megera procura por Monserrat e conta o envolvimento de Rosália com um rapaz, sem revelar sua identidade. O pai de Adriano pede a um funcionário que vigie a amada e acaba descobrindo que seu rival é seu próprio filho.

Enfurecido, Monserrat ordena que Rosália volte imediatamente para o casamento, que será realizando o quanto antes. Já Paula, instruída pelo banqueiro, procura pela jovem e revela que a filha de Augusto não pode ficar com Adriano, porque já está casada com o vilão. A invejosa ainda procura pelo médico e insinua que a prima o está enganando, pois já é esposa do banqueiro.

Desnorteado após a revelação, que é confirmada por Monserrat, Adriano desaparece da vida de Rosália, que chega a tentar contato através de uma amiga, mas o médico é duro e manda um recado de que nunca mais quer ver a moça. Mesmo sofrendo, a jovem resolve seguir sua vida e ao voltar para casa, começa a tratar o vilão bem, deixando a todos surpresos.

Algum tempo depois, é chegado o dia de casamento religioso de Monserrat e Rosália. A jovem se une ao vilão, mas se recusa a ficar com ele, fugindo pelas ruas do Rio de Janeiro vestida de noiva  e indo pedir abrigo a pensão de Esmeralda (Cinira Camargo). De jovem rica, Rosália começa a trabalhar para sobreviver e tem que encarar os antigos amigos da alta sociedade carioca. Em uma das cenas mais bonitas da novela, Leonor procura pela filha e pede perdão.

Diante do desprezo da esposa, Monserrat pede ao filho que se afaste da amada, mas Adriano a procura e juntos decidem fugir. O vilão acaba descobrindo os planos do casal, ao se deparar com as malas prontas do filho. Para convencer o herdeiro a ficar, Monserrat o obriga a escolher: cuidar da tia doente ou fugir com Rosália. O médico opta pela amada e juntos vão morar na casa de Ramos. A partir disso, o casal busca uma forma de anular o casamento de Monserrat e Rosália.

Paralelo a isso, a cidade do Rio de Janeiro é tomada pela febre amarela e em uma atitude extrema para ajudar um orfanato, que lhe concedeu abrigo, Rosália se oferece para ser pintada por um rapaz que pinta cartões postais. Enquanto isso, Monserrat resolve utilizar sua ultima cartada, mas desiste.

Ao descobrir que Rosália está posando para cartões, Adriano não aceita a atitude da amada, eles se separam  e ele resolve voltar para a casa, para assim continuar a cuidar da tia. Paralelo a isso, Ramos encontra Carola (Christina Prochaska), uma mulher independente para o seu tempo, por trabalhar e viver sozinha. A jovem é apontada como filha de Joana e levanta suspeita no filho de Monserrat.

Com o filho em casa, o vilão procura por Rosália e oferece ajuda financeira para que ela não volte a posar, já que dará dinheiro para ajudar os desvalidos da febre, mas a jovem não aceita. A heroína reluta, mas após ser ofendidas por homens nas ruas, resolve aceitar o apoio do banqueiro e vai morar em sua mansão.

A chegada de Rosália na mansão do banqueiro deixa Adriano arrasado, pois acredita que sua amada é uma interesseira, já o vilão fica feliz e a partir deixa claro que a amada está sobre seu controle. O médico tenta evitar a amada, mas ela garante que só está na mansão para ficar próxima dele.

No decorrer dos capítulos, Joana começa a se lembrar do seu passado e que tem uma irmã. Disposto a ajudar a tia, Adriano começa a investigar com a ajuda de Rosália e descobre detalhes sobre a morte de sua mãe, que no passado, a mesma foi alvo de disputa entre Monserrat e Dr. Ramos, chegando a ser amante do médico enquanto era casada com o vilão.

O filho de Monserrat ainda acaba sendo vitima de um golpe de Paula, que o dopa com sonífero e arma uma cena para acharem que a moça e o rapaz tiveram relações sexuais. Obrigado pela situação, Adriano acaba se tornando noivo da vilã, apesar de tentar convencer e pedir ajuda de Rosália para provar que tudo não passou de um golpe. Tempos depois, Paula aparece alegando estar grávida do médico, que exige que ela passe por exames. A megera falsifica exames e arma um plano para realmente engravidar de outro homem.

Mesmo noivo de Paula, Adriano volta a se envolver com Rosália, quando ela sofre um acidente ao cavalgar e ele cuida de seus ferimentos. O casal troca um beijo e pensam em um jeito de se livrar de Paula e Monserrat. A situação piora quando todas na mansão ouvem um tiro dado pelo vilão no cavalo que deixou a amada cair. Nesse instante, Joana fica transtornada e revela todo o seu ódio pelo vilão, deixando o filho do vilão cada vez mais desconfiado.

Em sua reta final, Ramos apóia os grevistas e anarquistas durante uma manifestação e Adriano acaba baleado, recebendo cuidados de Rosália em segredo, já que os médicos estão sendo procurados pela policia, acusados de anarquismo. A dupla de amigos acaba presa e para tirá-los da cadeia, Rosália promete se entregar ao vilão, que consegue libertar o médico e seu filho.

Com ajuda de Mercedes (Suzana Faini), empregada eternamente apaixonada pelo vilão,  Rosália consegue fugir das investidas do marido. Já Ramos e Adriano, cada vez mais cientes de que a morte da mãe do rapaz é a chave para descobrir o que houve com Joana, resolve exumar o corpo da primeira esposa de Monserrat e descobre que a sepultura está vazia. A partir disso, os amigos saem em busca de pistas, já Joana começa a recobrar a memória.

Mas o que importa para o vilão é ter sua primeira noite com Rosália, que se esquiva alegando que Monserrat é bígamo e por isso não vai ceder as suas investidas.

Seguindo uma pista dada por Carola, que recebe uma ajuda financeira mensal, vinda de Paris através do banco de seu pai, Dr. Ramos descobre que Joana na verdade é na verdade Barbara, a primeira esposa do vilão. Em sua reta final, o médico revela a todos que é o verdadeiro para Adriano.

No passado, Barbara teve um filho com Dr. Ramos e teve sua criança afastada por Monserrat, que tentou matar o menino, fruto dessa traição.  Para não assumir que foi traído, o vilão preferiu simular o acidente da esposa e registrar o filho bastardo como legitimo.

Adriano, que pretendia fugir com Rosália, têm seus planos adiados, já que Paula descobre toda a verdade e corre contar para o vilão, que resolve sequestrar a amada e prende-la numa torre.. No lugar da amada aparece a vilã e o filho de Barbara resolve ficar. No dia seguinte, chega de Paris a verdadeira Joana, que é mais conhecida como a cortesã Nanette, e juntas prometem destruir o vilão, que é denunciado por bigamia.

Nos últimos capítulos, Monserrat vai se esconder na torre em que prendeu a heroína, para não ser preso por bigamia. Nessa ocasião, Dr. Ramos segue o vilão e o chama para um duelo, enquanto isso Rosália consegue fugir.  Durante a batalha, Monserrat se deixa ser atingido e morre em uma das cenas inesquecíveis da novela.

Já Adriano está quase casando com Paula, quando são surpreendidos por um rapaz que se diz pai do filho da vilã. Sem opção, a megera é obrigada a se casar com o homem. Assim como começou, Adriano pode enfim ser feliz com Rosália, lhe desejando: Feliz 1904, 1905, 1906...” durante um baile de mascaras durante a virada do ano.

Direito de Amar foi uma adaptação de Walter Negrão baseado em uma rádio novela de Janete Clair: Noiva das Trevas, escrita em 1950. A trama original se passava em 1800, mas o autor preferiu modificar para 1900, e contava a história de uma  noiva que andava pelas ruas a noite, mas nessa adaptação tal fato foi abolido e somente os nomes dos personagens originais foram mantidos, além da espinha dorsal da trama.

A cidade cenográfica da novela foi construída em Guaratiba,na zona oeste do Rio de Janeiro e contava com detalhes que caracterizavam a capital carioca do inicio do século XX, em especial a Rua da Saúde, que ganhou forte reconstituição. Em outros destaques estão a pensão de Esmeralda, o consultório de Dr. Ramos e a confeitaria, que era livremente inspirada na Confeitaria Colombo, que ficava no centro da cidade. Na trama o local era palco de aspirações para os modernistas no novo século. As cenas iniciais, do baile de mascaras foram gravadas no Palácio de Cristal em Petrópolis e contou com uma luz difusa para melhor reproduzir a época.

A equipe de figurino e caracterização, sob a responsabilidade de Paulo Louis vestiu mais de 500 figurantes nas cenas iniciais do baile de mascaras. O figurinista revelou que para essas sequências os trabalhos começavam as 8 da manhã para que estivesse todo pronto as 22h, o momento de gravar. Paulo ainda ressalta que a personagem Rosália mostrava muito bem o amadurecimento da mulher da época: quando jovens cabelos soltos e tecidos leves, já adultas ou casadas o penteado deveria manter o cabelo preso, além de usar roupas mais fechadas.

Na época, a Rede Globo voltava a produzir novelas das 18h, depois de três meses de interrupção devido a uma ameaça do Sindicato dos Artistas e Técnicos em  Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro, que exigia no máximo  6 horas de trabalhos diários para seus afiliados.  Entre a novela anterior Sinhá Moça e Direito de Amar foi exibida de maneira compacta a novela Locomotivas de Cassiano Gabus Mendes.

A novela possuía um excelente enredo, uma produção de época caprichosa e uma direção segura, que fizeram da novela um sucesso arrebatador. As cenas de réveillon do primeiro capítulo que mostravam as mudanças da virada do século eram repletas de requinte e bom gosto.

O ator Carlos Vereza foi o grande destaque da obra em sua interpretação como Francisco de Monserrat, chegando ao ponto de ser querido pelo público.  O personagem sedutor fez com que o público feminino torcesse por ele e o ator chegou a receber inúmeras cartas de telespectadoras apaixonadas. Com o vilão ganhando a simpatia do público, Walter Negrão aumentou as maldades de Monserrat, a fim de que odiassem o personagem.

Foi de Carlos Vereza a ideia final da morte de Monserrat, inspirada no duelo do livro A Montanha Mágica, de Thomas Mann. O autor Walter Negrão aceitou a sugestão e a cena continua na mente dos telespectadores.

A trilha sonora de Direito de Amar foi composta por musicas nacionais ou instrumentais e contou com musicas de: Ivan Lins / “Iluminados” (tema de abertura), Maria Bethânia/ “Sei de Cor”, João Bosco/ “Das dores do Oratório” e Milton Nascimento / “Olha” (tema de Monserrat). Curiosamente, as atrizes Carla Daniel e Claudia Raia cantavam duas musicas na trama: Bougainvilles e Fada Noturna. A capa trazia Glória Pires caracterizada de seu personagem.

Inspirada na vida da avó de Dias Gomes, A Noiva das Trevas de Janete Clair se transformou em Direito de Amar, grande sucesso de 1987, escrito por Walter Negrão com a colaboração de Marilu Saldanha, Alcides Nogueira e Ana Maria Morethzsohn. Com a direção de José Carlos Pieri e Jayme Monjardim, a novela foi exibida entre novembro de 1993 e fevereiro de 1994 no Vale a Pena Ver de Novo.

Exibida em mais de 50 países, Direito de Amor teve 172 capítulos que merecem ser revistos e acompanhados pelo telespectador que gosta de uma boa história de amor e que retrate ao mesmo tempo uma parte da história de seu pais. Uma boa novela, que todos tem o direito de assistir e voltar a amar.


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