Novela das nove, de Aguinaldo Silva, promete várias emoções.
Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]
Mal começou e Império, atual trama das nove, já está dando o que falar. Sinceramente achei que a novela de Aguinaldo Silva seria como Amor à Vida, de Walcyr Carrasco. Não que as duas tenham alguma história parecida, mas por sucederem um fiasco. A trama de Paloma conquistou o público depois da mal falada Salve Jorge, mesmo não tendo nada de especial. Para mim, a novela dava audiência pelo público estar carente de uma boa trama e demorou para conquistar realmente o telespectador. O sucesso mesmo só veio quando Félix (Mateus Solano) foi vender cachorro quente depois de perder tudo.
Acreditei que Império conquistaria o público de cara por acomodação, afinal seria melhor assistir qualquer outra novela em invés de Em Família que por ser tão sonolenta deixaria o maior sonífero do mundo no chinelo. Mas não, Império vai além da acomodação do público. É uma trama carismática daquelas que gostamos de ver.
Quando uma novela começa dividida em fases a sensação que tenho é de que vão enrolar para as coisas acontecerem (como foi Em Família), mas Império mostrou uma primeira fase ágil, mas não muito, a ponto de nos deixar tontos e sem entender como tudo aconteceu. Depois do primeiro capítulo vi muita gente elogiando Marjorie Estiano e Chay Suede, mas para mim os grandes destaques foram a Vanessa Giácomo e o Tiago Martins. Ela, por fazer uma mulher submissa ao marido, mas disposta a ser amada e fugir para a sua felicidade apesar das possíveis dificuldades. Já Evaldo é o típico marido que se acha dono da esposa. Acreditem, eles existem aos montes e sua agressividade costuma ser pauta de telejornais como o Cidade Alerta. Os personagens chegaram o mais próximo possível do comum e humano que tanto fascinam as pessoas. Olhando de perto eles poderiam ter sido meus vizinhos. Isso sim conquista o público.
A respeito dessa primeira fase muitos podem me dizer que Marjorie Estiano foi tão boa atriz e que não passo de um recalcado, mas demorei em entender um pouco mais da complexidade do personagem Cora. A vilã da trama de Aguinaldo Silva me pareceu na primeira fase uma pessoa má, que só quer ver o próximo se ferrar, tudo a beira do estereótipo do vilão habitual. Se nos primeiros capítulos Cora se mostrasse apaixonada por José Alfredo e que separou a irmã dele por isso, eu entenderia melhor. Mas Cora só se abriu para mim na segunda fase ao ser vivida pela excelente Drica Moraes. Foi ai que entendi quem é Cora.
Cora não é má, daquelas vilãs caricatas que quer ver os inimigos se ferrar. Cora é aquele parente, amigo e colega de trabalho parasita que quer o que você tem: o amor, o emprego, a família, mas que não se mostra disposto a mudar a própria vida. É aquela pessoa que recrimina e aponta o próximo, mas se esconde atrás de uma falsa moral, que ela mesma não segue. Cora é o exemplo de pessoas que nos rodeiam. Olhe ao redor e verifique quantas Coras você conhece. Talvez os dedos sejam poucos para enumerá-lo. Talvez venha daí o carisma do personagem, ela está entre nós.
Outro destaque da trama é a novela por ela mesma. Nada de direção e efeito de cinema, Império tem cara do velho folhetim e não tenta subverter o gênero. Império quer ser chamada de novela e não admite o contrário. Mas engana-se que Império é a repetição de velhas tramas do autor (muitos disseram que seria uma releitura de Suave Veneno) ou que veremos velhas histórias recontadas. Império apresenta tramas do nosso cotidiano em linguagem de novela: Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) é sustentada por José Alfredo (Alexandre Nero) e seus pais ficam com todo dinheiro. Apesar de não ser escrachado e escrito de maneira talentosa pelo autor, a trama nos leva a questões de pais que vendem suas filhas nas estradas do país. Pode não ser evidente, pode não ser tão direto, mas leva a reflexão.
José Pedro (Caio Blat) e o atropelamento levam a questão de jovens ricos que não são punidos por que seus pais o protegem, João Lucas (Daniel Rocha) é o típico caso de filho de ricos que se envolvem com drogas e praticam as maiores bobagens. Apesar de pensarem o contrário, há mais drogas entre ricos do que entre pobres. Téo (Paulo Betti) é a cara da imprensa disposta a vender mais do que contar a verdade. Império é o nosso cotidiano, o que lemos em jornais.
A trama das nove é a prova viva de que o novela não vai acabar, só precisa ser contada do jeito certo. A audiência é ascendente e talvez não termine com o mesmo número de Senhora do Destino, outro sucesso do autor, mas com certeza já conquistou o público e os números serão consequência de como a novela for conduzida.
Respondendo ao título, Império é isso tudo sim. Uma novela que merece ser vista. Trama boa nós nunca deixamos passar.
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