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Eta Mundo Bom! aposta na essência humana e fisga o telespectador

Trama que termina na sexta cativou o público com histórias simples.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Quando Eta Mundo Bom! estreou em janeiro desse ano, em muitos aspectos a obra relembrava antigas novelas de Walcyr Carrasco em dobradinha com Jorge Fernando. Tínhamos uma vilã linda e loira vivida por Flávia Alessandra, um núcleo caipira, animais com nome de gente e uma história ágil e repleta de reviravoltas. Mas quem esperava uma colcha de recortes das antigas novelas do autor se enganou.

Em tempos de crise econômica e com o pessimismo tomando conta das maiorias das pessoas, a trama das 18h veio com uma proposta simplória e bem humorada que segue a cartilha do mantra dito a exaustão por Candinho (Sérgio Guizé) e Pancrácio (Marco Nanini): “Tudo que acontece de ruim na vida da gente, é pra gente melhorar...”.  A trama de Walcyr Carrasco veio em contrapartida levando a simplicidade e a comicidade que fez o telespectador acreditar em sua trama, tão distante da realidade vivida. Em tempos difíceis na rua, tempos alegres na TV.

Com belíssima reconstituição de época, a atual trama das 6 apresentou um texto correto, sem exageros e erros de concordância, hoje tão em baixa devido a modismos. Os atores souberam construir seus personagens sem cair na caricatura natural. Candinho e todo o seu otimismo tinha tudo para ser rejeitado por ser considerado pedante e obsoleto, mas o ator deu um tom tão real ao personagem que ele cativou o telespectador, que o adora. Flávia Alessandra era outra que logo de cara foi comparada a Cristina de Alma Gêmea, outra vilã interpretada por ela em 2005, mas não. Enquanto Cristina movia por inveja de Luna e raiva por amar Rafael (Eduardo Moscovis) e ser preterida, Sandra só pensa em uma fortuna que sabe que não é dela e que nem julga ser digna. Quer a grana e ponto. Estão ai as diferenças.

Entre um dos maiores destaques da trama está o núcleo caipira da fazenda Dom Pedro II. Quem esperava um monte de cenas de personagens sendo arremessados no chiqueiro, quebrou a cara. O chamariz foi o “cegonho” , que durante vários capítulos foi tema das conversas entre Mafalda (Camila Queiroz) e Eponina (Rosi Campos). Vale ressaltar que todos nesse núcleo brilharam a sua maneira, entre eles Elizabeth Savalla, Ary Fontoura, Dhu Moraes, Anderson Di Rizzi, Rosi Campos, Flávio Migliaccio, Camila Queiroz e Marco Nanini.

Marco Nanini que retornava as novelas depois de anos dedicados A Grande Família  também roubou a cena com seus personagens divertidíssimos em busca de donativos para alguma obra carente. O personagem foi uma metáfora a situação dos professores no pais, que tem que conseguir outros empregos para se manter.  O trabalho sempre se sobressaindo ao conhecimento, sempre sendo suprimido em razão do produto final: o dinheiro. Cultura e caráter não valem nada perto dele. Um personagem de profundidade enorme e que poderia levar a grandes debates, mas que talvez o horário não permitisse.

Aquem do esperado ficaram a interpretação de Debora Nascimento fraca ainda para ser protagonista e com seu sotaque bipolar, igual o cabelo de Morena de Salve Jorge. David Lucas que fez um personagem que perdeu a função da metade da trama em diante e Rômulo Arantes Neto, que tinha o grande personagem dúbio da trama, mas que sem inexpressividade o transformou em algo corriqueiro. Em uma trama com grandes acertos, pequenos erros são relevantes.

O maior mérito de Eta Mundo Bom! foi na verdade explorar os melhores sentimentos humanos em seus personagens: a abnegação de Araújo (Flávio Tolezani) que foi enganado por Sandra, mas que tinha intenção de pagar a operação do filho cadeirante; a esperteza de Maria (Bianca Bin) diante de uma sociedade machista na personificação do próprio pai, o chato Severo (Tarcisio Filho); a ingenuidade quase infantil de Candinho diante de um mundo que fazia de tudo para que ele se tornasse mais crédulo, sério, mesmo quando conheceu a mãe rica, o que poderia ter lhe obrigado a ser uma pessoa que não era somente para se adequar a sociedade.

Vários personagens assim como os citados tinham qualidades que não foram perdidas, nem corrompidas no decorrer da trama. Manter a essência, foi  a aposta do autor, mesmo que para isso usasse e abusasse do maniqueísmo muitas vezes explorados em telenovelas. Os personagens de bons sentimentos foram os que se sobressaíram, preste atenção. Parece façanha boba, mas numa época em que personagens maus são os queridos, torcer para os heróis não é tarefa das mais fáceis para quem escreve e em Eta Mundo exaltar o bom foi o grande destaque da obra.

A trama de Candinho chega ao fim nessa sexta e após levar o telespectador por um caminho simplório, conhecido, porem otimista deixará saudade para o telespectador habitual das 18h, afinal a mensagem já foi dada: Eta Mundo Bom!


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