Vetada pela Globo, sinopse de Gloria Perez teria Grazi Massafera como protagonista

Gloria Perez e Grazi Massafera. Foto: Divulgação

A renomada autora Gloria Perez confirmou sua saída da TV Globo após mais de quatro décadas de parceria. O rompimento foi motivado pela rejeição da emissora à sinopse de sua próxima novela, provisoriamente intitulada Rosa dos Ventos. A obra traria como ponto central o tema do aborto forçado — considerado por Gloria como o motor principal de toda a trama.

Segundo a escritora, a proposta da novela girava em torno de uma mulher que, ao engravidar de um homem casado, enfrentaria uma forma brutal de violência: o aborto induzido sem seu consentimento. A personagem Cibele, vivida por Grazi Massafera, seria dopada pelo amante Murilo (Murilo Benício), que desejava evitar um escândalo que comprometesse os planos políticos de sua esposa Mabel (Giovanna Antonelli). Para Gloria, a abordagem visava jogar luz sobre uma realidade cruel e silenciosa. “É uma forma de violência que acontece com frequência e que muitas vezes termina em feminicídio. Está o tempo todo nos noticiários”, justificou.

A trama também abordaria, de maneira indireta, a trajetória de uma mulher com pretensões políticas. Mabel, a esposa do empresário, se lançaria como candidata no Rio Grande do Sul — Estado onde o marido possui negócios. A escolha da região visava explorar a diversidade cultural e os cenários ainda pouco retratados da dramaturgia brasileira. No entanto, a ideia de inserir uma personagem aspirante à política também causou desconforto na emissora, segundo especulações. Gloria, no entanto, fez questão de ressaltar que não havia qualquer intenção de promover polarizações ou explorar campanhas partidárias. “Não existe sequer um personagem político. A ideia era mostrar a ambição e o esforço dessa mulher, mas sem falar de partidos, comícios ou ideologias. Eu não divido plateia — eu uno”, afirmou.

A Globo chegou a sugerir que Gloria reescrevesse a história, retirando o elemento do aborto da narrativa. A autora recusou. “Era impossível atender. O aborto é o ponto de partida da história. Tirar isso seria como tirar o macaco do King Kong”, declarou, numa metáfora enfática sobre a centralidade do tema na construção dramatúrgica da obra.

Apesar das divergências criativas, a saída de Gloria Perez da Globo ocorreu de maneira amigável. Seu contrato atual era por obra e previa a entrega da novela após o remake de Vale Tudo. Com o cancelamento da produção, a emissora propôs uma prorrogação para que ela desenvolvesse uma nova ideia — proposta que foi recusada. “Preferi não assinar. Era uma decisão natural”, comentou.

Gloria também lamentou a onda de especulações nas redes sociais em torno da sinopse e fez questão de esclarecer a história ao jornal O Estado de S. Paulo. Na trama, Murilo reencontra sua antiga musa dos tempos de juventude, agora uma balconista (Cibele), e inicia um caso extraconjugal. Quando a gravidez indesejada ameaça expor o romance e prejudicar os planos da esposa, ele arma para interromper a gestação sem o consentimento da amante. A partir desse acontecimento, Cibele inicia uma jornada de vingança, mirando o herdeiro do empresário (Romulo Estrela), o que dá início ao núcleo romântico principal com a guarda-costas vivida por Ísis Valverde.

“Como nas histórias de gato e rato, entre implicâncias e desafios, os dois acabam se apaixonando”, detalha a autora. E completa: “O que nunca faltou nas minhas novelas foi representatividade. E o que sempre busquei foi mostrar o lado humano dos conflitos”.

Mesmo fora da Globo, Gloria Perez reafirma seu compromisso com histórias relevantes e socialmente provocadoras, defendendo que a dramaturgia não deve se furtar de tocar em feridas abertas da sociedade.