Novela das 9 retrata comunidade tradicional que vive em área costeira de Angra dos Reis.
Em Mania de Você, um dos protagonistas da novela das 9 é Rudá, personagem de Nicolas Prattes. O mocinho da história foi apresentado ao público como um caiçara, ativista ambiental, morador da comunidade do Sururu, criado com o irmão, Iberê (Jaffar Bambirra), pela tia, Moema (Ana Beatriz Nogueira) - uma grande protetora do povo da região, que vive no local desde que nasceu.
Mas o que significa o termo "caiçara"? Segundo Marta Rangel, pesquisadora do folhetim de João Emanuel Carneiro, a palavra tem origem na língua tupi-guarani, onde "caá" significa "mata" e "içara" ou "sara" se refere a uma cerca ou barreira de galhos.
"Originalmente, a palavra era utilizada para descrever uma cerca feita de troncos e galhos usada pelos povos indígenas do Brasil para cercar áreas de pesca ou cultivo. Com o tempo, o termo passou a ser associado às comunidades tradicionais que vivem nas áreas costeiras do sudeste e sul do Brasil, especialmente em regiões como o litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina", explicou.
As comunidades caiçaras têm origem na época colonial brasileira, quando se formaram através da interação entre diferentes grupos culturais. "As vilas surgiram em locais estratégicos, como enseadas protegidas e áreas de fácil acesso ao mar e à mata", afirmou Martha.
Os caiçaras desenvolveram um modo de vida baseado na economia de subsistência. Suas atividades econômicas incluem a pesca artesanal, a agricultura de pequeno escala e a coleta de produtos da mata. A pesca, em particular, é uma atividade central, realizada em técnicas que foram aprimoradas ao longo dos séculos através da combinação dos conhecimentos indígenas e africanos com as práticas portuguesas.
"Com o passar do tempo, especialmente a partir do século XX, as comunidades caiçaras enfrentaram novos desafios, como a expansão do turismo, a criação de áreas de proteção ambiental que restringiram suas atividades tradicionais, e a modernização. Essas mudanças trouxeram novas pressões, mas também impulsionaram o movimento de valorização e preservação da cultura caiçara", analisou a pesquisadora.
A função de um pesquisador em uma equipe de novela é fundamental para garantir a autenticidade e a precisão dos elementos que compõem a trama. Esse profissional é responsável por fazer um levamento para que os detalhes históricos, culturais, geográficos e sociais retratados na novela estejam corretos.
O pesquisador também ajuda a construir a ambientação da trama, garantindo que os cenários, figurinos e objetos de cena correspondam à época e ao lugar retratados na história. Quando a obra aborda um tema específico como no caso de uma comunidade caiçara, o profissional fornece informações detalhadas e precisas para garantir a verossimilhança.
"Primeiramente, quando o autor pensa em um personagem, a nossa missão é procurar elementos para compor o perfil dessa figura ficcional. Mergulhamos em costumes, práticas, modo de falar e outras curiosidades que façam esse personagem representar um grupo de maneira crível e respeitosa. O meu ponto de partida para qualquer tipo de pesquisa é sempre a leitura de livros, reportagens e artigos de fontes confiáveis. Assistir a documentários também foi fundamental para eu visualizar a realidade vivida pelos caiçaras", explicou Martha.
O segundo passo foi procurar pessoas que tem propriedade no assunto. Martha conversou com nomes como Henrique Cardin, um caiçara de Ubatuba que divulga seus modos e costumes em manifestações artísticas; Gerson Vieira, capelão e representante caiçara de Várzea do Corumbê, em Paraty, e com Fernando Alcântara, pesquisador da cultura popular caiçara e um dos organizadores da festa do Divino e da ciranda de Paraty, entre outros especialistas no assunto.
Um dos cenários da novela é a Costa Verde do Rio de Janeiro, mais precisamente a cidade de Angra dos Reis. Com a construção da BR-101, surgiram na região os grileiros, a especulação imobiliária e os grandes condomínios fazendo com que as caiçaras que viviam por ali perdessem território.
"Essa é uma realidade que será mostrada na novela. Os caiçaras são conhecidos por seu estilo de vida simples e sustentável. A vida nas comunidades é orientada pela coletividade e a cultura é profundamente ligada ao meio ambiente. Rudá, um dos protagonistas, será um ferrenho defensor das causas ambientais".
Vale ressaltar que, como toda obra de ficção, a abordagem é criativa e é feita uma adaptação para caber dentro da obra. A religiosidade e a figura da benzedeira que tem grande conhecimento sobre ervas e plantas medicinais será representada na personagem de Ana Beatriz Nogueira.
"O João Emanuel Carneiro incorporou todas essas características em Moema, uma típica caiçara com orgulho das suas origens. Ela também prepara pratos típicos da culinária caiçara, que tem o peixe e a mandioca como protagonistas", afirmou.