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Entenda a realidade dos transgêneros, um dos temas de A Força do Querer

Tudo o que você precisa saber para embarcar na trama de Glória Perez.

por Sergio Gustavo, em 03/04/2017

Silvero Pereira, da peça BR-Trans, participará da novela

Nova aposta da Globo para o horário nobre, A Força do Querer vai investir nas características elementares do folhetim, mas sem abrir mão da ousadia, uma das marcas de Glória Perez

Como a própria autora ressalta, os temas escolhidos por ela não pertencem ao futuro, são contemporâneos. O trabalho que Gloria faz se diferencia no tratamento profundo e humanizado dos assuntos. Foi assim com a inseminação artificial em Barriga de Aluguel (1990) e o tráfico de pessoas em Salve Jorge (2012), por exemplo. Dessa vez, porém, a novelista se arrisca em um campo ainda mais sensível e que conta com ampla resistência social. Ao escolher entrar no universo dos transgêneros, a autora pisa em um terreno especialmente espinhoso para um país tão apegado às raízes religiosas.

Clareando as diferenças

Ainda há muita confusão em tudo o que diz respeito à população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). A própria imprensa reitera diariamente esse conflito ao escolher os termos inadequados. OPTV preparou uma cartilha para clarear essas diferenças, baseada em trabalhos divulgados pela Rede Trans Brasil e pela ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais)

- Orientação Sexual refere-se à capacidade de cada pessoa em ter atração por outros indivíduos. Basicamente, há quatro orientações: pelo mesmo sexo/gênero (homossexualidade), pelo sexo/gênero oposto (heterossexualidade),  pelos dois sexos/gêneros (bissexualidade) ou por nenhum sexo/gênero (assexualidade). O termo opção sexual não é adequado, pois indica escolha e não uma condição. Homossexualismo também não, já que denota uma doença.

- Identidade de Gênero diz respeito à percepção que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de uma combinação dos dois, independente do sexo biológico.  Nesse campo, o termo transgênero abrange o grupo diversificado de pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com comportamentos e/ou papéis esperados do gênero que lhes foi determinado no nascimento. Os transexuais e as travestis são, portanto, transgêneros. Já cisgênero é o conceito guarda-chuva que abarca todas as pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi determinado no nascimento.

- Transexualidade não é uma doença mental, não é uma perversão sexual e nem uma doença debilitante  ou  contagiosa. Mulher trans é a pessoa que reivindica o reconhecimento como mulher. Homem trans é a pessoa que reivindica o reconhecimento como homem – esta é Ivana (Carol Duarte), que vai adotar um nome masculino no decorrer de A Força do Querer (Aqui, Glória explica a razão de escolher uma mulher para interpretar Ivana, e não um homem trans). Ao contrário do que alguns pensam, o que determina a condição transexual é como as pessoas se identificam e não necessariamente um procedimento cirúrgico. 

Antonieta Uhebe interpreta Ivana na infância Foto: Divulgação/Globo

- Travestis são as pessoas que vivenciam papéis de gênero feminino, mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, e sim como membros de um terceiro gênero ou de um não-gênero. É importante ressaltar que as travestis devem ser tratadas no feminino. Já os Transformistas são indivíduos que se vestem com roupas do gênero oposto movido por questões artísticas. Ainda são poucas as informações sobre Nonato (Silvero Pereira), mas sabe-se que ele vai trabalhar como motorista de Eurico (Humberto Martins), escondendo a identidade que adota à noite. “Mais pra frente, seu patrão vai descobrir que ele não é Nonato, que ele é Elis Miranda, um artista transformista", adiantou Silvero. Sendo assim, a princípio, Nonato não seria uma travesti.

Dada a diferença entre orientação sexual e identidade de gênero, Gloria Perez tem absoluta liberdade para escolher com quem Ivana irá se relacionar - se é que vai. Como a atração emocional, afetiva ou sexual independe do gênero, a personagem poderá interessar-se por homens, mulheres, ambos ou, ainda, nenhum deles.

Um recorde vergonhoso

Carol Duarte será uma transexual em A Força do Querer. Foto: Globo

Quando Gloria Perez diz que vai “salvar vidas”, ela não está exagerando. A inclusão dos dramas pessoais de um indivíduo trans no produto de maior audiência da TV indica, de fato, uma possível diminuição do preconceito. “Ao criar uma empatia entre o público e os transgêneros, desejo permitir que essas pessoas sejam olhadas com compreensão”, disse a autora.

Os transgêneros compõem um dos grupos mais vitimizados do Brasil. O risco de uma pessoa trans ser assassinada é 14 vezes maior que o de um homem gay, e a chance dessa morte ser violenta é 9 vezes maior.

Segundo a organização internacional Transgender Europe, foram registrados 295 homicídios de pessoas trans entre outubro de 2015 e setembro de 2016 em 33 países. A maioria foi no Brasil: 123 casos; em segundo lugar está o México, com 52 casos. Vale lembrar que essas mortes aconteceram por transfobia, ou seja, foram crimes de ódio pela condição de gênero.

Ao longos dos próximos meses, o público vai poder acompanhar os dilemas de Nonato e Ivana e as suas lutas por respeito - o mesmo respeito que esperamos para as Ivanas e Nonatos da vida real.

A Força do Querer estreia nesta segunda (03), logo após o Jornal Nacional.


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