Todas as novas novelas da Globo terá um protagonista negro
Atualmente em cartaz no Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado (1996) não possui nenhum ator no elenco principal da novela. Nesse período e até bem pouco tempo, atores negros eram escalado, em grande maioria, para papéis secundários ou trabalhadores domésticos. Quando havia tramas de época, muitos somente eram escalados na pele de personagens escravizados. Em 2023, a Globo escalará atores negros para papéis centrais em todas as faixas de novelas, segundo informações do Notícias da TV, do Uol.
A primeira novela do ano, Vai na Fé, que substituirá Cara e Coragem, que conta com Taís Araújo e Paulo Lessa no quarteto principal, terá um família negra na trama central. A família será encabeça por Sheron Menezzes, a protagonista da história, com marido, duas filhas e uma mãe que serão interpretados por atores negros.
"Tem um mundo contemporâneo acordando, né? Estou adorando o momento em que estou vivendo. Teve momentos da preparação que eu chorei muito de ver aquele monte de gente preta, competente, no seu lugar, sendo respeitada. Há 30 anos algumas de nós só teríamos a possibilidade de entrar numa novela de época para fazer o papel de escravo", emociona-se Elisa Lucinda, que será a mãe de Sheron na trama escrita por Rosane Svartman.
A nova novela de Walcyr Carrasco que substituirá Travessia em Maio, terá Bárbara Reis e Paulo Lessa, nos personagens centrais. Ela será a segunda protagonista negra seguida de uma novela no horário nobre. Atualmente, a atriz negra é Lucy Alves que interpreta Brisa na trama de Gloria Perez.
"Como mulher, nordestina, preta e bissexual, é importante, neste momento do Brasil, estar no horário nobre falando para milhares de pessoas e outras mulheres brasileiras. É importante ser o espelho para outras", celebrou Lucy, na época do lançamento da novela, em outubro.
O protagonista da nova novela das 18h, Amor Perfeito, será interpretado por um ator negro. Trata-se de Elzio Vieira, que foi escolhido para viver Orlando, o grande amor da mocinha Maria Elisa, personagem de Camila Queiroz. Orlando e Maria Elisa serão pais de um menino, personagem do ator mirim Levi Assaf.
A Globo está procurando se redimir com os erros de escalação em novelas dos anos anteriores. O exemplo mais recente foi em Segundo Sol (2018), que foi bastante criticada pela falta de negros pois a trama era ambiente na Bahia, estado majoritariamente composta por negros. Desde então, a emissora passou a dar mais atenção para a representatividade dos personagens nas novelas. Walcyr Carrasco teve que mudar o perfil da protagonista de sua novela, uma exigência da direção da dramaturgia para que a personagem fosse interpretada por uma atriz negra.
Desde novembro, a Globo estruturou os estúdios em três pilares: Conteúdo, Produção e Talentos, com uma área transversal de Diversidade e Inovação em Conteúdo, liderada por Samantha Almeida. Nascida na favela da Rocinha, ela foi diretora de Criação de Conteúdo e figura importante nesse movimento. A diretora, atualmente é a responsável por diversificar, representar e incluir a maior quantidade possível de comunidades nas telas e nos times de Entretenimento da Globo.
"A questão da representatividade é muito importante. Uma família preta protagonista é uma coisa que a gente vê pouco. As pessoas vão se identificar por poder se ver. Quando eu era menor, quando era adolescente, eu não me via na TV. Eu via uma pessoa fazendo tudo que eu fazia, mas sempre branca. Eu não conseguia me enxergar, e acho importante a gente se enxergar em vários personagens", fala Samuel de Assis, que será Ben, um advogado bem-sucedido que se envolverá com Sol, personagem de Sheron Menezzes, em Vai na Fé.