O Planeta TV

Diretor fala da nova fase de Velho Chico: “Apelidei como admirável mundo novo”

Luiz Fernando Carvalho diz que novela não precisa parecer com seriado americano.

por Sergio Gustavo, em 08/04/2016

Luiz Fernando Foto: Divulgação/Globo

Diretor artístico da novela que apresenta os melhores resultados iniciais do horário das nove em anos, Luiz Fernando Carvalho está entusiasmado com os temas da nova fase de Velho Chico. “É um corte brutal, de tempo, espaço e questões em relação ao Brasil. Algumas continuam as mesmas, outras foram abandonadas, outras avançaram. A essência está muito clara nas páginas dos jornais de hoje: houve uma grande decepção com a classe política, independentemente dos partidos. Houve um abandono das questões brasileiras”, disse o diretor, em entrevista ao jornalista Maurício Stycer.

O coronel Afrânio, que passa a ser interpretado por Antônio Fagundes, representa a discussão proposta pela novela, sobre o poder. “Embora não seja um político, ele é um empreendedor à moda antiga. Reproduz aquele modelo da Casa Grande & Senzala, com todas as suas contradições, discrepâncias… Ele existe. Ele está aí até hoje. Ele ajuda o país a emperrar, a retroceder em momentos fundamentais, mesmo de transições naturais do Brasil”, disse Luiz Fernando.

Diretor orientando Rodrigo Santoro. Foto: Divulgação

Como oposição aos métodos ultrapassados de Saruê estão as novas gerações, representadas pela filha Maria Tereza (Camila Pitanga), o neto Miguel (Gabriel Leone), seus amigos e conhecidos. “O país ainda não está preparado para promover mudanças consistentes na sua estrutura cultural. Essas mudanças terão que vir de uma nova geração, de fora para dentro”, acredita o diretor, que assume a visão progressista: “Há um posicionamento da minha parte, muito claro. Estou querendo falar do país, dessa estrutura oligárquica, deste atraso, que é sedutor. Essas reflexões sobre o país, infelizmente, foram abandonadas. Por isso, acho que é um momento oportuno. Sou um cara que acredita no país. Não tenho cinismo. Muito ao contrário. Tenho uma seriedade e uma fé nas histórias brasileiras que estão todas aí para serem contadas”.

Luiz Fernando também destacou que, em sua quinta parceria com Benedito Ruy Barbosa, pretende ir mais fundo na linguagem. “Guardo comigo um certo amadorismo em relação às novelas. Não me considero um noveleiro. Talvez por isso tenho um espírito corajoso e curioso, e guarde uma fé em relação a este conteúdo, onde muita gente já desprezou ou acha que tem que fazer uma revolução para parecer um seriado americano. Não acho que precisa disso. Acho que precisa fazer uma reflexão para parecer novela brasileira de boa qualidade, com as coordenadas e temas brasileiros. Quanto mais a gente se desvia disso, mais a gente perde essa interlocução com o público”.

Antonio Fagundes em cena de Velho Chico. Foto: Divulgação/Globo

A fase definitiva de Velho Chico estreia na segunda-feira (11). “A novela, na nova fase, mostra mais camadas contraditórias, embates. Enquanto o romance é mais plano, agora terá mais contradições. Esse pai agora, ao mesmo tempo, está destruindo o rio São Francisco”, resume o diretor. 


Deixe o seu comentário