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"Eu luto pra ser um ator à altura da Praça é Nossa", diz Pedro Cardoso

Em entrevista á Gugu, ator voltou a falar de sua demissão da Globo: "Eu, se fosse eles, pensava melhor”.

por Sergio Gustavo, em 30/06/2016

Com mais de 30 anos de serviços prestados, Pedro Cardoso deixou a Globo justamente depois de dedicar quase metade desse tempo ao seu personagem mais popular, o Agostinho de A Grande Família, que rendeu indicação ao Emmy Internacional de melhor ator. Em entrevista a Gugu, exibida ontem (29), ele falou sobre a saída da emissora, entre outros assuntos.

Humor na televisão

Gugu logo falou de TV pirata, um dos primeiros trabalhos de Pedro na Globo. “O Jô Soares foi para o SBT e abriu um horário de humor (na Globo). Foi quando a minha geração teve uma oportunidade na televisão. Comandados pelo Guel (Arraes) e pelo Cláudio (Paiva), fizemos aquele programa que tinha pela primeira vez como assunto a própria televisão”, disse o ator, que ainda relembrou o Programa Legal. “Seria bom para esse momento do Brasil. Era um programa que tentava reportar as coisas boas do país”. Questionado por Gugu sobre a razão desses programas terem chegado ao fim, o ator respondeu: “Essa pergunta é tão boa que eu não tenho resposta pra ela”.

Gugu, então, destacou a longevidade de A Praça é Nossa e perguntou ao ator sua opinião sobre o humorístico. “Tudo que existe tem valor pra mim. Tudo que o público gosta, eu gosto. A Praça é Nossa é algo muito diferente daquilo que eu faço e essa diferença me encanta. Eu teria o maior prazer em sentar no banco da Praça pra ficar assistindo eles trabalharem”, disse ele, que revelou ter acompanhado várias gravações da Escolinha do Professor Raimundo por admirar os colegas. Mas os elogios ao programa apresentado por Carlos Alberto de Nóbrega no SBT não terminaram por aí: “Eu acho que A Praça é Nossa é absolutamente atual! Quem me dera ser um ator tão simples, tão verdadeiro, tão próximo ao povo como aquelas pessoas naturalmente são. Eu luto pra ser um ator à altura da Praça é Nossa. É isso que eu quero ser!”.

Fama de temperamental

Seja por sua aversão aos paparazzi ou por rumores de dificuldade de relação com colegas de trabalho, o fato é que Pedro Cardoso ganhou fama de temperamental. “Só quando existe uma estrutura de poder em cima da minha cabeça”, disse o ator, que usou o futebol para exemplificar o seu comportamento: “Se você me convidar pra jogar um futebol e ninguém ficar me dando uma ordem em campo, eu distribuo a bola mas se tem alguém que se acha o dono do time e fica me dizendo ‘vai pra esquerda, passa a bola’... Eu tenho que escolher um jogo. Se você não me pedir a bola eu vou te dar a bola, se você mandar eu dar, provavelmente vou tentar fazer o gol sozinho. Nesse sentido sou uma pessoa que pode trazer um conflito para uma estrutura de poder”.

O desligamento da Globo

Pedro revelou que sua demissão aconteceu por telefone. “Foi uma coisa gentil. A pessoa responsável me ligou e até perguntou se eu não queria ir lá conversar, mas eu falei: não precisa, já sei o que tá acontecendo”, disse o ator, que explicou a Gugu o momento em que notou que seria dispensado: “Há um ano e meio, quando apresentei os projetos e eles não ganharam curso, eu falei: bom, há um desinteresse no meu trabalho, seja pela direção artística ou pela direção administrativa, eu não sei bem. E sei que a minha personalidade e as ideias que eu defendo causam esse conflito, embora eu não seja uma pessoa belicosa ou que queira brigar. Mas eu realmente acho que o respeito pela criação do ator é fundamental para a liberdade. A Globo precisa de mim como eu da Globo, a Record precisa de você como você da Record. Até o Silvio Santos precisa do SBT! E isso tem que ser um acordo, tem que ser mais de igual para igual, não pode haver soberania de nenhum dos lados”.

O ator mostrou entender um pouco o lado da empresa. “É difícil falar ‘a Globo’... Também acho um pouco injusto. Durante o tempo que estive lá, a Globo teve três ou quatro administrações artísticas. E também não se pode pedir à Rede Globo, coitada, que ela tenha a obrigação de contratar a totalidade da classe artística. Ela está no direito dela de se interessar mais por alguém ou por outra pessoa”, disse ele, que expôs o sentimento de ser demitido: “Tristíssimo! Eu tinha contato com 50, 60 milhões de pessoas, agora não tenho mais. Eu gostava de fazer televisão, gostava de falar com o público, influenciar o meu país, o meu povo... Eu também compreendo, são coisas da vida. Mas eu não achei bom, eu achei ruim”.

Apesar disso, Cardoso voltou a falar sobre a recusa da direção ao que ele queria oferecer: “Queria estar no ar, queria ter um programa meu. Eu acho que eu merecia a chance de ter desenvolvido um projeto meu, acho que eles fizeram uma má avaliação empresarial. Deviam ter olhado pra mim e dito: ‘esse cara está aqui há tanto tempo, olha o resultado do trabalho dele, vamos ver se ele não é capaz de capitanear um projeto’”.

Gugu perguntou ao ator sobre uma recente declaração dele na rádio Jovem Pan, quando disse ter sido desprezado pela Globo: “A parte administrativa não se interessou em negociar e a parte artística também não se interessou em dar prosseguimento (aos projetos), então eles me desprezaram, não levaram em conta o que ainda tenho pra oferecer . Fiquei chateado!”. Gugu perguntou, então, se Pedro não teme que as portas da emissora se fechem após tais declarações: “Se o preço da minha liberdade for esse, eu vou pagar feliz! Se não me querem pelo que penso e pelo que digo, não me querem por um boa razão. Mas o que eu penso e o que eu digo, dá um certo dinheirinho. Eu, se fosse eles, pensava melhor”.             

Futuro na TV

Depois de lembrar que nunca teve "muita relação com novelas", o ator falou sobre sua volta à televisão: "Não sei. A televisão talvez eu faça, talvez eu não faça. Quem sabe daqui a pouco eu tô com uma barba bíblica, uma peruca bíblica!”, brincou o ator, em referência às obras baseadas na Bíblia exibidas pela Record.


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