Confira uma entrevista com Manuela Dias e Paulo Silvestrini, autora e diretor do remake.
Vale tudo para vencer na vida? É a questão que separa mãe e filha na próxima novela das nove da TV Globo, escrita por Manuela Dias com direção artística de Paulo Silvestrini. Com estreia marcada para 31 de março, a nova versão de ‘Vale Tudo’, um dos maiores títulos da teledramaturgia brasileira, escrito por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, e exibido originalmente em 1988, promete conduzir o público a uma jornada emocionante e atual sobre caráter, ética, honestidade, com enfrentamentos morais e romance.
A relação entre mãe e filha com visões opostas sobre o caminho a se vencer na vida desencadeia um embate sobre se vale tudo para ser bem-sucedido e, ao mesmo tempo, honesto no Brasil. Enquanto Raquel (Taís Araujo), uma mulher batalhadora, típica mãe brasileira, acredita que é possível ganhar a vida com integridade e de forma honesta, sua filha, Maria de Fátima (Bella Campos), se dispõe a fazer qualquer coisa para alcançar o sucesso e abandonar a vida simples que leva em Foz do Iguaçu, no Paraná. O conflito entre essas duas mulheres está no centro da trama de ‘Vale Tudo’.
“A questão da honestidade é o assunto principal de ‘Vale Tudo’. É possível ser bem-sucedido sendo honesto? Esse é um tema que permeia toda a novela e que segue atual. E ser honesto é algo atemporal, porque a ética não muda. É uma questão que continua totalmente pertinente e que precisa ser debatida”, declara Manuela Dias.
Com a essência da obra que conquistou o Brasil, 'Vale Tudo’ apresenta diversas atualizações - desde tecnológicas até morais e comportamentais - na abordagem de temas e em desdobramentos da trama, que prometem causar novo frisson e fazer o país voltar a se perguntar: “Quem matou Odete Roitman?”. “Estamos fazendo a novela para o público de hoje. Para quem assistiu à primeira versão e para quem vai conhecer a história. Tivemos que acomodar as transformações, algumas discussões evoluíram. Hoje, ressignificamos e aprendemos muita coisa. Acatamos as mudanças desejosos de ter uma obra contemporânea, mas a história estará lá na íntegra”, afirma o diretor artístico Paulo Silvestrini.
Raquel (Taís Araujo) foi criada por seu pai, Salvador (Antonio Pitanga), segundo as mais rígidas regras de ética e moral, e, tenta educar Maria de Fátima (Bella Campos) da mesma maneira. Mas a jovem não vê a hora de conquistar a vida glamourosa que tanto sonhou, custe o que custar.
Um ensaio fotográfico realizado em Foz do Iguaçu pela Tomorrow, uma das maiores agências de conteúdo da América Latina, marca o primeiro avanço de Maria de Fátima rumo a sua mudança de status social. A sessão de fotos realizada no hotel onde Raquel trabalha como guia de turismo parece a chance ideal para Maria de Fátima cavar uma oportunidade como modelo.
Aberta a todas as possibilidades para mudar de vida, ela não só consegue um “bico” no ensaio, como também conhece César (Cauã Reymond), um charmoso modelo quem tem um quê de mau-caratismo que lhe é familiar e vai se mostrar o parceiro ideal para sua ambição.
Ela só tinha dois contatos, dinheiro que não era seu e um sonho
Depois da morte repentina do avô, Fátima (Bella Campos), como prefere ser chamada, vende a casa em que moravam, sem a mãe saber, e se muda para o Rio de Janeiro com todo o dinheiro que embolsou. Mais próxima de conquistar a vida dos sonhos, ela desembarca na cidade com apenas dois contatos: o do seu pai, Rubinho (Júlio Andrade), que não vê há dez anos, e o de César (Cauã Reymond).
Como não consegue encontrar o pai, que é músico e vive de tocar seu piano em bares e restaurantes, Fátima acaba se hospedando num hotel simples e tenta a sorte com César. Não demora muito para ela ver que o modelo é tão interesseiro quanto ela. Logo, Fátima entra no jogo sujo, se passa por rica e conquista a atenção dele.
“A Maria de Fátima é uma mulher movida pela ambição, determinada a conquistar seus objetivos a qualquer custo. Ao mesmo tempo, é uma personagem cheia de camadas, que carrega suas dores e vulnerabilidades, o que a torna tão fascinante. E o que mais me encanta nela é essa força, essa coragem de seguir em frente, mesmo que isso signifique enfrentar julgamentos. Acho que, como mulher, também me identifico com essa garra de querer mais, de não me contentar com o que está estabelecido, mas sempre buscando me manter fiel aos meus princípios”, revela Bella Campos.
Com a ajuda de César (Cauã Reymond), Fátima (Bella Campos) dá os seus primeiros passos como modelo na Tomorrow, agência de Renato Felipelli (João Vicente de Castro). Seu olhar afiado encontra brechas em todas as situações para se dar bem. Fazendo-se passar por uma ingênua menina do Interior que é sustentada pela mãe rica, Fátima se aproxima de Solange (Alice Wegmann) e do seu fiel escudeiro, Sardinha (Lucas Leto), que conheceu no ensaio de fotos em Foz do Iguaçu.
Solange é diretora criativa da agência e a pessoa certa para Fátima ter por perto. A carinha de anjo e a percepção aguçada sobre a natureza – e insegurança - das pessoas leva Fátima longe. Logo, é convidada para morar com Solange e Sardinha. Com participações discretas e um tanto cansativas, Fátima não demora a descobrir que a vida de modelo não é só glamour e decidir que a solução mais rápida para sua ascensão social é se casar com um homem rico.
Sua mira ardilosa se volta para Afonso Roitman (Humberto Carrão), namorado de Solange e filho da poderosa Odete Roitman (Débora Bloch), dona do Grupo Almeida Roitman. Além de ter César (Cauã Reymond) como aliado no esquema, ela também contará com a ajuda da própria Odete para conquistar esse objetivo, pois passa a ter um papel importante nos planos da vilã para os filhos.
Unidas por interesses complementares, assim que se conhecem, Odete e Fátima se tornam parceiras e mostram que vale tudo para se ter o que se deseja. No caso de Fátima, até negar a própria mãe.
Enquanto Fátima (Bella Campos) segue focada na sua mudança de status social, Raquel (Taís Araujo) chega ao Rio de Janeiro machucada, mas certa de que a filha foi enganada pelo modelo.
“A Raquel é essa mulher que vive no ‘corre’, e que tem a honestidade, a dignidade e a ética como um norte na vida dela. É uma mãe solo, uma mulher típica brasileira, que trabalhou muito para criar sua filha, inclusive, renunciando aos seus próprios desejos. Eu me identifico com essa mulher essencialmente brasileira em muitos lugares, especialmente, por também querer dar o melhor exemplo para os meus filhos”, destaca Taís.
Sua chegada à cidade é logo cruzada por Ivan (Renato Góes), um executivo de São Paulo que está no Rio atrás de uma oportunidade de emprego que o ajude a se manter. Em pouco tempo, ele se vê apaixonado pela garra e a honestidade de Raquel, e passa a ser um apoio na sua reconstrução de vida, que só é possível também graças à ajuda e acolhimento de Poliana (Matheus Nachtergaele) e Aldeíde (Karine Teles).
“O Ivan é uma balança, está no meio, entre a personalidade da Raquel e da Maria de Fátima. Ele é o reflexo daquilo que eu enxergo como uma pessoa possível. É um equilíbrio entre o certo e o errado, o bem e o mal. Para ele, vale quase tudo para subir na vida. E, no meio dessa aventura de se dar bem, surge um grande amor para o coração quase frio dele. Ele e Raquel têm um encontro bem maduro, e logo percebem que precisam fazer concessões para permanecerem juntos, sempre com paixão”, analisa Renato.
Antes mesmo de achar Rubinho (Júlio Andrade), seu ex-marido e único contato na cidade, Raquel encontra pouso e morada na casa de Aldeíde e Poliana, em Vila Isabel, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Esse apoio e acolhimento é tudo o que ela precisa para dar um rumo à sua vida, que ficou de cabeça para baixo depois da morte do pai e da fuga da filha. Com a ajuda do pai de Ivan, Seu Bartolomeu (Luís Melo), Raquel descobre que cozinhar é mais do que um dom, pode ser uma profissão. Sem medo de trabalho, ela investe em seu talento de cozinheira e passa a vender sanduíches na praia. A partir daí e com muito esforço, toda sua vida profissional deslancha, pautada sempre pela honestidade.
No alto de uma mansão na zona central do Rio, vivem os Junqueira-Roitman, uma das famílias mais ricas e poderosas do Brasil. Se, para uns, o sobrenome é símbolo de poder e requinte, para outros, é sinônimo de ambição, manipulação e falta de escrúpulos. Isso graças à fama de Odete Roitman (Débora Bloch), uma viúva intrigante, de uma frieza extrema, que faz de tudo para conseguir o que deseja, muitas vezes usando métodos cruéis e antiéticos.
Dona do Grupo Almeida Roitman, Odete é a soberba em pessoa. Mesmo já tendo vencido na vida, a vilã sente necessidade de odiar tudo o que tenha ar popular e detesta o Brasil, que julga um país subdesenvolvido. A empresária joga o jogo sujo dos que não têm caráter, dá seus golpes com muita classe e é temida por muitos. Até pelos próprios filhos.
“A Odete tem um certo complexo de vira-lata como brasileira. Ela subestima tudo o que é nacional e acha que o mundo civilizado está na Europa. Não sabe reconhecer o valor do Brasil e despreza tudo o que é daqui. Talvez, porque é onde estão os filhos dela, que considera um problema”, afirma Débora.
Como Odete nunca teve tempo nem paciência para a maternidade, coube a sua irmã, Celina Junqueira (Malu Galli), criar Afonso (Humberto Carrão), Heleninha (Paolla Oliveira) e o filho mais velho, morto tragicamente num acidente de carro.
Completo oposto de Odete, Celina vive uma vida tranquila e dedica o tempo que tem de sobra ao cuidado dos jardins da casa. Sempre presente e permissiva com os sobrinhos, faz todas as vontades de Afonso e Heleninha para compensar a ausência dos pais na vida deles e conta com a primorosa ajuda de Eugenio (Luis Salem), mordomo da família, que está sempre pronto para servir e cuidar dos seus patrões.
O público vai levar cerca de um mês para ver a vilã no ar. Sua primeira aparição em cena será no capítulo 24, previsto para ir ao ar no dia 26 de abril, data do aniversário de 60 anos da TV Globo, quando volta ao Brasil para acompanhar de perto os negócios da TCA. Na ocasião, Odete se vê envolta em questões familiares que sempre evitou. A começar por Afonso (Humberto Carrão) e sua insistência em assumir os negócios da empresa no Brasil e não no Exterior, como ela sempre desejou.
Depois da morte do filho mais velho, é em Afonso (Humberto Carrão) que Odete (Débora Bloch) deposita todas as esperanças de um sucessor no Grupo Almeida Roitman, mesmo achando que falta ambição e sobra consciência social nele. Na condição de quem sempre teve tudo que quis na vida, a forma que Afonso encontrou de se desafiar foi como triatleta. Mas seu maior desafio mesmo é no campo profissional. Ao voltar ao Brasil, Afonso tenta convencer Odete a tornar a TCA uma empresa mais justa, inclusiva e, sobretudo, ecológica. A namorada do filho, Solange (Alice Wegmann), também é um problema para a empresária, que a vê como uma ameaça ao controle que tem na vida do filho.
"Ser filho de Odete significa ter falta em vários sentidos. O Afonso é uma pessoa que tem muito, mas que, desde cedo, conviveu com buracos grandes de amor, de escuta. A empresa é o foco central dos conflitos dele com a mãe com quem tem embates constantes e de quem herdou, em alguma medida, um humor ácido e uma certa estabilidade na ironia”, conta Humberto.
Filha mais velha de Odete, Heleninha Roitman (Paolla Oliveira) é a personalidade mais frágil da família. Dona de um talento único para pintura, ela vive entre idas e vindas em clínicas de reabilitação para alcoolistas e se mostra despreparada para os desafios da vida, marcada por tragédias e uso excessivo de álcool. De volta de um longo período de reabilitação, Heleninha começa a trama determinada a reconquistar a guarda do filho Tiago (Pedro Waddington), fruto do seu casamento com Marco Aurélio (Alexandre Nero), diretor na TCA e homem de confiança de Odete.
“A Heleninha é uma personagem bastante complexa que faz parte dessa família disfuncional que são os Roitman. A relação dela com a mãe é conturbada. A Odete é rígida, tem um amor frio. E a Heleninha tenta preencher isso nas artes, no amor pelo filho, amando tudo em volta com muita intensidade. E, por ser alcoolista, todos os problemas dela giram em torno disso. Quero contar como a Heleninha sobrevive ao alcoolismo todos os dias por meio das brechas que essa doença dá quando não aparece”, diz Paolla.
Para conseguir se manter cada vez mais tempo fora do Brasil, Odete (Débora Bloch) confia a TCA a Marco Aurélio Catanhede (Alexandre Nero), ex-marido de Heleninha (Paolla Oliveira). Apesar de não ser um Roitman, Marco Aurélio aprendeu a olhar tudo de cima. Como diretor da TCA, impõe o medo, estabelecendo relações abusivas com os funcionários, sobretudo com Freitas (Luis Lobianco), seu assistente, que usa da submissão para sobreviver.
“O Marco Aurélio é um homem de pulso firme, bastante autoritário, que trata as pessoas com extrema arrogância. Apesar de ser corrupto, ele é muito competente. Essas características o aproximam muito da Odete. Não à toa, ela colocou a empresa nas mãos dele. Para o Marco Aurélio, vale tudo para se manter no topo. Ele só não abre mão do filho. A única coisa que o toca, se existe, é o amor pelo Tiago. Ele é um pai que tenta acertar e erra”, explica Alexandre Nero.
Manuela Dias nasceu na Bahia em 1977. Estudou Jornalismo e Cinema e foi aluna de Gabriel García Márquez e Orlando Senna, em Cuba. A partir de sua estreia como autora de teatro aos 19 anos, foi convidada para atuar na Globo como pesquisadora do programa ‘Sandy & Júnior’, onde logo virou colaboradora, com Maria Carmem Barbosa. De lá para cá, roteirizou oito longas metragens e inúmeros programas de TV, entre eles ‘A Grande Família’ (2001-2014) e ‘Falas Negras’ (2020) e da minissérie ‘Ligações Perigosas’ (2016). Foi colaboradora de novelas de sucesso, como ‘Cordel Encantado’ (2011) e ‘Joia Rara’ (2014). Por duas vezes, foi indicada ao Emmy Internacional. A primeira, em 2017, com a série ‘Justiça’ (2016) e, a segunda em 2021, com ‘Amor de Mãe’ (2019-2021), sua primeira novela. Paralelamente, ‘Justiça’ ganhou o prêmio de melhor série no APCA de 2016 e ‘Amor de Mãe’ foi eleita a melhor novela no Venice TV Awards 2021. Em 2022, a autora estreou na literatura com o romance “Tilikum” e abriu a Editora Vante. Em 2023, lançou ‘O Diário da Dona Lurdes’ no cinema, e ‘Justiça 2’, série Original Globoplay, que ganhou a principal categoria do Seoul International Drama Awards. ‘Vale Tudo’ é segunda novela que escreve para o horário das nove da TV Globo.
O que está na essência da trama de ‘Vale Tudo’?
‘Vale Tudo’ é uma novela que questiona a possibilidade de se dar bem no Brasil sendo honesto. A história vai ser contada por meio da trajetória da Raquel, que é a personagem da Taís Araujo e da Maria de Fátima, interpretada pela Bella Campos. As duas são mãe e filha e têm visões opostas sobre o caminho para se dar bem na vida, uma reflexão que permanece muito atual.
Por que recontar essa história?
É da natureza das histórias que elas sejam recontadas. As histórias que não foram recontadas nós nem conhecemos. É uma honra e um aprendizado para mim adaptar um texto do Gilberto Braga, do Aguinaldo Silva e da Leonor Bassères para os dias de hoje. Os remakes provocam encontros de gerações, de pessoas que viram com pessoas que não viram, e fazem a gente se repensar como sociedade.
Sempre que um remake é anunciado, cria-se uma expectativa e curiosidade sobre como será a adaptação. O que você pode adiantar sobre a nova versão de ‘Vale Tudo’?
Toda a essência da novela original se mantém. Além disso, mantive todos os personagens e os arcos longos, que é o que acontece com o personagem no decorrer da trama. O que posso garantir é que quem viu a novela original vai se deliciar com fan services e diversos easter eggs e, ao mesmo tempo, se surpreender com a nova narrativa. Os que não assistiram à primeira versão, vão ter contato com a potência dessa obra, fenômeno da dramaturgia brasileira completamente ancorada nos dias de hoje - nas tecnologias, questões éticas e conceitos atuais.
Você ficou dois anos estudando a novela, reescrevendo, entendendo os personagens. Nesse período, qual foi o seu maior desafio?
O maior desafio da novela é a estreia, é o encontro com o público. Está chegando este momento, e queremos um encontro lindo!
Como foi o processo de escolha o elenco?
A escalação do elenco foi um processo longo, porque tudo é muito pensado em conjunto. Não é só ter um intérprete bom, é preciso que ele case com aquele papel, que encaixe nessa família que você quer construir. Acho o elenco a coisa mais importante de tudo. A gente tenta ter todo o cuidado na escalação. Mas tem uma parte incrível que é quando parece que o personagem já vem junto com o ator. Nesse caso, não tem como não ser aquela pessoa. Com a Bella Campos foi assim. Quando a gente viu a Bella, todas as dúvidas sobre Maria de Fátima caíram.
Como foi escalar a Odete Roitman dessa nova versão?
Sempre esteve claro que não estávamos escalando uma pessoa para ser a Beatriz Segall, e sim, para interpretar a Odete Roitman, um personagem antológico e muito potente. E a Débora Bloch foi uma escolha quase incontornável. A sensação que eu tenho é que ela veio até aqui para fazer a Odete Roitman. Ela é uma atriz incrível, uma parceira de trabalho absurda e que qualquer autor quer ter perto.
Por que você acha que as pessoas devem assistir a ‘Vale Tudo’?
‘Vale Tudo’ é uma novela com vontade de comunicação. Queremos esse encontro com o público. A gente vai matar a saudade não só da Maria de Fátima, da Raquel, da Odete, da Heleninha, do César, e de todos aqueles personagens maravilhosos, mas também desse folhetim que é muito clássico. É uma novela acessível, intensa, mas com humor espalhado dentro da trama. Acho que as pessoas vão se emocionar e se divertir, ao mesmo tempo que são convidadas a refletir sobre questões centrais da nossa identidade nacional.
E a pergunta que não quer calar: você já sabe quem vai matar a Odete Roitman?
Eu vou matar o Odete Roitman, isso é um fato (risos). Acho que eu já sei quem vai matar o Odete na trama. Descobri isso há um tempo, mas não ousei falar em voz alta. Nem a minha equipe sabe. Mas também me reservo o direito de mudar de ideia. Vamos ver.
Há mais de 30 anos na TV Globo, dirigiu, entre outros, ‘Malhação’ (1997), ‘Torre de Babel’ (1998), ‘Seriado Sandy e Júnior’ (1999 a 2002), ‘Da Cor do Pecado’ (2003), ‘Bang Bang’ (2005), ‘A Favorita’ (2008), ‘Avenida Brasil’ (2012), ‘Joia Rara’ (vencedora do Emmy Internacional 2014), ‘O Rebu’ (2014), ‘A Regra do Jogo’ (2015). Como diretor artístico, foi finalista do Prix Jeunesse 2018 em Munique e vencedor do Emmy Internacional 2019 com ‘Malhação : Viva a Diferença’ (2017/18). Em 2022, dirigiu a série ‘Eu, a Vó e a Boi’ para o Globoplay e, com a novela ‘Vai na Fé’ (2023), foi vencedor do prêmio APCA 2024.
Por que refazer um clássico?
Grandes histórias merecem ser recontadas. ‘Vale Tudo’ é o maior clássico da teledramaturgia brasileira, a grande história, os grandes personagens. Um clássico, sempre que relido, continua fazendo sentido. Estamos fazendo a novela para o público de hoje, para quem viu e quem não viu. Buscamos acomodar as transformações tecnológicas e realinhar as questões discutidas pela novela à luz da contemporaneidade. Sobre muitas coisas, o entendimento mudou, a agenda também. Queremos contemplar essas mudanças.
O que motivou a escolha da Taís Araujo e da Bella Campos para serem as intérpretes de Raquel e Maria de Fátima, respectivamente, nessa nova versão?
Buscamos intérpretes que dialogassem com o Brasil de hoje. Eu desejava um elenco jovem, inquieto, disposto a aproveitar todas as oportunidades do texto. O processo de escalação do elenco levou quase um ano. Foram muitos testes, experiências e ambientações. A leitura da Bella Campos foi definitiva. Digo sempre que Maria de Fátima escalou a Bella. Taís é uma atriz generosa e corajosa. Sua interpretação da Raquel é de uma entrega rara, uma sinceridade comovente.
Assim como na primeira versão, ‘Vale Tudo’ é ambientada no Rio de Janeiro. A diferença é que a obra atual tem como destaque Vila Isabel, na zona norte do Rio. Como o bairro vai ser retratado na novela?
Vila Isabel é o oposto do individualismo, do cada um por si. É o lugar onde os personagens criam uma rede de apoio mútuo, de solidariedade, de afeto. Simboliza o melhor do brasileiro.
Como foi o processo de construção da trilha sonora?
A trilha sonora traz embarcado um charme vintage, uma sensação de reconhecimento e pertencimento. Procuramos juntar novidades e homenagens, criando uma atmosfera envolvente e sedutora. Artistas internacionais fazem parte da trilha, mas há uma aposta no Brasil. Os temas incidentais compostos exclusivamente para a novela, por exemplo, foram executados por músicos brasileiros, como o produtor musical Eduardo Queiroz faz sempre questão.
‘Vale Tudo’ vai tratar de temas sérios, atuais e relevantes, como a falta de ética, o racismo, a corrupção e o machismo. O que pretendem com isso?
Nossa história é uma ficção, mas o nosso desejo é que, através dos personagens e situações criadas, possamos promover um ambiente de discussão de questões relevantes para a sociedade brasileira de hoje. Sobre muitas dessas questões, nosso entendimento mudou, às vezes, para melhor, às vezes para pior, muitas coisas foram renomeadas e ressignificadas. Queremos estimular o diálogo.
'Vale Tudo’ é escrita por Manuela Dias, com colaboração de Aline Maia, Luciana Pessanha, Sérgio Marques, Claudia Gomes, Márcio Haiduck e Pedro Barros, baseada na obra de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. A pesquisa é de Luciane Reis. A novela tem direção artística de Paulo Silvestrini, direção geral de Cristiano Marques e direção de Augusto Lana, Fábio Rodrigo, Isabella Teixeira, Matheus Senra e Thomaz Cividanes. A produção é de Luciana Monteiro, a produção executiva, de Lucas Zardo e a direção de gênero, de José Luiz Villamarim.