Em entrevista, autor diz que novela sofreu "julgamento moral" de uma sociedade conservadora.
Ricardo Linhares, um dos autores de Babilônia, ao lado de Gilberto Braga e João Ximenes Braga, concedeu entrevista ao jornalista Daniel Castro, do site Notícias da TV sobre o atual folhetim das nove que se encerra nessa sexta, 28. "É importante não confundir audiência com qualidade. Senão, Chaves seria uma obra-prima. Nós tivemos um julgamento moral, como se o tema pudesse abalar os valores tradicionais familiares", afirma.
Para Linhares, o telespectador brasileiro é conservador, sem interesse em ver duas senhoras se beijando afirmando que a TV aberta brasileira está muito defasada. "Tratamos de assuntos relevantes como corrupção, impunidade, mistura de política e religião, racismo, homossexualidade, intolerância, novas formações familiares, conflitos sociais. Foi uma trama ousada e anticonvencional. Uma novela forte e marcante, líder de audiência no país. Tivemos um público fiel e entusiasmado e uma excelente repercussão nas redes sociais", disse o autor.
Segundo ele, os telespectadores ouvidos no grupo de discussão afirmaram que a novela era boa ou forte. “Ninguém dizia que a novela era ruim, mal escrita ou mal realizada. Diziam que a vida estava muito difícil e que preferiam uma diversão mais leve. Esta parcela do público dizia não querer assistir aos mesmos assuntos tratados pelo noticiário (a sinopse foi escrita em 2013; fomos premonitórios, na época não havia Petrolão nem Lava-Jato), tampouco ver o beijo gay de Teresa [Fernanda Montenegro] e Estela [Nathalia Timberg], pois eles não poderiam assistir à novela com filhos pequenos”.
Linhares ponderou as derrotas sucessivas sofridas por I Love Paraisopolis, alegando que Babilônia é o produto mais assistido da TV aberta e reconhecendo as qualidades da novela das sete global.
“A TV aberta brasileira está defasada. O público brasileiro é conservador. Não é por isso que devemos ter medo de ousar. Eu acho que a telenovela deve entreter, mas a história deve também propor a discussão de temas importantes, refletindo o momento que a sociedade vive. A temática forte misturando corrupção, religiosidade, hipocrisia, gays, prostituição e racismo incomodou uma parcela pequena mas ruidosa do público. Porém, foi aprovada pela maioria. Curtir ou não um folhetim é uma coisa subjetiva, que depende do gosto de cada um. Mas é importante não confundir audiência com qualidade. Senão, Chaves seria uma obra-prima. Nós tivemos um julgamento moral, como se o tema pudesse abalar os valores tradicionais familiares, não tivemos rejeição artística. Em meio a tantas polêmicas, Babilônia foi marcante. Mas, no frigir dos ovos, uma novela é apenas uma novela”, afirmou o autor.