Humorista trabalha na TV aberta e fechada.
Dia desses, Rafael Portugal recebeu um profissional que instalaria internet em sua casa. Enquanto fazia o serviço, o homem confessou ao ator: "Meu filho é seu fã, curte tudo o que você faz. Mas um comentário dele me pegou de surpresa. E eu disse: 'Pelo amor de Deus, meu filho, a situação está passando dos limites'. Ele disse: 'Pai, também quero morar em Realengo'". Em meio a gargalhadas, o comediante, nascido e criado no bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, se lembra da história ao admitir que reverenciar com naturalidade sua origem, seja na TV (ele está no ar no "Domingão com Huck", da Globo) ou na internet, cria empatia e identificação:
— A fala desse rapaz parece simples, mas foi muito especial para mim. E não sou só eu. Acho muito maneiro o Lennon, um dos maiores rappers do Brasil, também dizer sempre que é de Realengo. Diogo Defante, um dos maiores comediantes do país, também é de lá. E daqui a pouco vamos começar a vender condomínio lá, no Parque Real, na Praça do Periquito (risos)...
Participante fixo do programa de Luciano Huck, Portugal também pode ser visto no streaming (no programa "Coração suburbano", da Paramount+) e na TV fechada (em "A culpa é do Cabral", do Comedy Central). Logo ele também vai explorar outro filão: protagonizará um filme com referências de sua vida. Na comédia brasileira, são representantes bem-sucedidos de apostas do tipo Paulo Gustavo (com "Minha mãe é uma peça") e Samantha Schmütz (com "Tô rica").
— Vou fazer em parceria com o Ian SBF, do Porta dos Fundos. Vai ser um filme meu, não sobre a história da minha vida, mas todo pensado por mim, pelo Ian e por uma equipe de roteiristas. Haverá referências do Rio porque o personagem vai passar por algumas situações. O que posso dizer é que vai ser diferente de muita coisa que a gente vê na comédia. Quero contar uma história com cenas de ação, com referências internacionais. É algo meio sério, mas com piadas dentro disso. Vamos explorar recursos que no humor normalmente não são usados — explica Portugal, de 37 anos.
De acordo com informações da jornalista Patricia Kogut, para a televisão aberta, o humorista negocia novos quadros com Luciano Huck. Juntos, os dois têm tido conversas para definir o que será feito nas semanas de Copa do Mundo. Portugal comenta:
— Lá no "Domingão" eu comecei na "Batalha do Lip Sync" apresentando os artistas que iam competir. Tenho feito participações esporádicas. Luciano e eu temos uma relação ótima. Agora estamos com umas ideias para a Copa. O que sei é que vai ter música. Esse formato funciona bem ali, como tenho feito agora. Estou com Pedrinho do Cavaco, ele entende meu humor, meu tempo. Acho que vai ser por esse caminho. Tem sido bacana!
No Rio de Janeiro, o carioca também está em cartaz com a peça "Eu comigo mesmo", no Teatro Multiplan, no Village Mall, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Mesmo com o setor cultural numa fase de reaquecimento, o espetáculo já superou 70 mil espectadores em 2022. O ator lembra que, cerca de sete anos atrás, para fazer apresentações no Rio, contava com ajuda de pequenos patrocinadores, como o dono de uma creperia em Campo Grande, também na Zona Oeste. Por isso, Portugal, que já distribuiu panfletos no Centro do Rio e foi repositor de supermercado, faz questão, ainda hoje, de dar uma força a quem o ajudou no passado:
— Quando eu comecei a fazer meu show, sete anos atrás, eu não era do Porta nem nada. E ele foi o primeiro cara a botar um dinheiro no meu espetáculo. O amigo que produziu foi oferecendo para umas lojas locais de Campo Grande. Nem era tanto dinheiro assim, mas guardei aquilo com o maior carinho.
Enxergar a arte e a cultura como caminhos profissionais faz Portugal sonhar com um projeto que abre caminhos para novos talentos. Ele explica:
— Em Realengo, eu tenho muita vontade de abrir um espaço cultural para colocar teatro, música, tudo isso de graça para a galera. A ideia é eu ir lá dar aula durante a semana ou convidar gente como Diogo Defante, Lennon... Vou até conversar com eles esta semana sobre isso. Olhar para olhinhos brilhando e pessoas dizendo que a gente conseguiu e que é possível que elas consigam também é importante, sabe? Por exemplo, eu tive como referência o Mumuzinho. Quando eu estava querendo apostar na arte, eu o via e pensava: "É possível. O cara está trabalhando com isso". Ter referências é fundamental.
A fama e o dinheiro possibilitam que Rafael Portugal ponha sonhos em prática e financie viagens e planos da família, mas não o deixam livre de riscos. Há um ano, ele perdeu R$ 1,2 milhão após um golpe realizado pela empresa do Faraó dos Bitcoins. O investimento estava atrelado a esquema de pirâmide, descoberto pela Operação Kryptus da Polícia Federal em outubro de 2021. O ator e a mulher, Vanelli Portugal, processam a empresa. Ele lamenta:
— O processo está na Justiça até hoje. Graças a Deus, estou trabalhando para caramba, tenho recebido pelos projetos. Mas é difícil. Não só para mim, mas para uma galera que nisso colocou tudo o que tinha e travou. Essas criptomoedas caíram muito no mundo todo, não só na empresa que eu coloquei. Muita gente que investiu nisso perdeu muita coisa. Para mim, foi uma questão delicada. Grande parte desse meu dinheiro, quase tudo, era para ajudar pessoas. Recebo para continuar ajudando e não deixei de fazer, claro. Mas é difícil perder assim. Vida que segue, né? Importante é a gente ter saúde para continuar trabalhando.