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Maria Eduarda de Carvalho fala sobre seu documentário autoral

Maria Eduarda de Carvalho fala de documentário autoral 'Nós por todas', que surgiu a partir da angústia de chegar aos 40.

por Micael Constantino, em 05/12/2022

Maria Eduarda de Carvalho fala sobre seu documentário autoral

De acordo com informações da jornalista Patricia Kogut, do O Globo, Maria Eduarda de Carvalho termina de gravar “Cara e coragem” na próxima semana. Ela vem conciliando o trabalho na novela com a direção do documentário autoral “Nós por todas”, que trata de mitos sobre o universo feminino. A atriz entrevistou recentemente a autora Martha Medeiros.

Também estão previstas entrevistas com a filósofa Camila Lima, a poeta Vanessa Madureira, a psicanalista Vera Laconelli, a cartunista Laerte, as atrizes Olivia Araujo e Itala Nandi, a estilista Day Molina e a artista visual Camila Cavalcante. A direção de arte é de Ronald Teixeira, e a produção, de Bia Goldenberg e Rômulo Rodrigues.

A atriz, que completou 40 anos em março, diz que a proximidade dessa idade começou a levantar uma série de questionamentos. Foi daí que nasceu o projeto:

— Comecei a me indagar sobre um certo checklist de desejos que, segundo minhas expectativas, eu deveria realizar até esta data. Uma grande angústia se instaurou sobre mim ao perceber que grande parte ainda não havia sido alcançada. Essa constatação, somada ao início da pandemia, me colocou diante de uma grande crise pessoal e me pus a refletir sobre quais daqueles desejos ainda me representavam neste momento da vida e quais deles eu queria simplesmente porque aprendi que fazia parte da minha construção como mulher ocidental.

A partir disso, ela diz ter mergulhado numa pesquisa sobre a História da mulher ao longo dos séculos:

— Me surpreendi imensamente com o fato de ainda colocarmos na conta da biologia construções sociais e culturais que endossam um lugar de inferiorização da mulher na sociedade. Inicialmente, produzi um ciclo de lives para dividir com o público feminino minhas pesquisas. O retorno foi tão bacana que achei que o projeto merecia ir além. Então surgiu a ideia do documentário. Minha condição de artista vê na arte, assim como na educação, possibilidades preciosas de transformação social. Sabemos que nossa história tem sido contada a partir da perspectiva masculina de gênero: história escrita pelos homens e sobre os homens. “Nós por todas” busca desconstruir mitos relacionados à existência de uma essência ou de um instinto feminino, argumento que ao longo dos séculos foi usado como justificativa para manter a mulher num lugar de subordinação.

Mãe de Luiza, de 12 anos, Maria Eduarda comenta que a maternidade será um dos temas tratados no filme:

— Acho muito importante compreender que este lugar onde a mãe foi colocada na sociedade ocidental contemporânea nada tem a ver com instinto. No século XVII, as mães pertencentes à nobreza europeia entregavam seus bebês recém-nascidos às amas mercenárias e só voltavam a vê-los depois de alguns anos, sem que as mães fossem consideradas más por conta disso. Se a ideia de instinto em humanos fizesse sentido, deveria, ao menos, garantir um comportamento que se impusesse independentemente dos contextos sociais. Acho que, quando conseguimos nos separar dos efeitos da cultura sobre a nossa História, fica mais possível palpar nossos desejos genuínos.

Ela acrescenta que os dias têm sido de grande agitação:

— Além da novela e do documentário ainda tenho uma filha pré-adolescente para criar e uma casa para organizar minimamente. Meu cotidiano tem sido uma verdadeira loucura. Mas como diz Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".


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